CARTA DE PORTO ALEGRE 2009



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Transcrição:

CARTA DE PORTO ALEGRE 2009 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA EXTENSÃO Apresentação Nós, membros do Fórum Nacional de Extensão e Ação Comunitária das Universidades e Instituições de Ensino Superior Comunitárias ForExt, em seu XVI Encontro e XI Assembléia, realizados em Porto Alegre, entre 21 e 23 de setembro de 2009, nos reportamos aos dirigentes de nossas Instituições, aos parceiros que atuam no campo da extensão e aos responsáveis pela educação em nosso país para tratarmos de um tema necessário e urgente, intimamente vinculado à identidade e à missão da educação superior no Brasil: a institucionalização da Extensão Universitária As reflexões, sugestões e desafios que apresentamos aqui são fruto de nossa trajetória histórica (Carta de Campo Grande ForExt 2008) e emergem agora como consequência do que temos vivenciado no papel de gestores da extensão e, por conseguinte, colaboradores na construção da identidade e missão de nossas Instituições e da própria educação superior nacional. A publicação desta Carta se deve à certeza, manifestada permanentemente em nossos documentos, de que, assim como nós, gestores da extensão universitária, somos corresponsáveis pela pesquisa e pelo ensino, também os colegas que privilegiam as atividades de pesquisa, ensino e a gestão em nossas Instituições e órgãos reguladores da educação superior são corresponsáveis pelo que acontece com a extensão e conscientes de que sem ela nenhuma instituição acadêmica conseguirá efetivar sua identidade e missão. Ou seja, mas do que a corresponsabilidade é necessário perceber que A questão da extensão não é um problema técnico, mas de fundamento da IES (...) É preciso desconstruir o mito cultivado de que gestão de universidades é um problema genérico e extensão um problema específico.(garcia, 2008), assim é importante desmistificar esta disputa entre elementos do mesmo tripé.

Contextualização do Tema: A perspectiva histórica da regulação da extensão no Brasil Em diversos momentos temos insistido na necessidade da extensão no Brasil avançar em institucionalidade, alertando sobre sua importância como vetor para a efetivação da identidade e missão da Universidade (Carta de Florianópolis, 2002), indicando o papel que ela deve cumprir no processo de avaliação institucional (Carta de Brasília, 2003), insistindo em seus atributos como efetivadora do compromisso social da universidade (Carta de Campinas, 2004), ou alertando para a necessidade de estabelecimento da extensão como Política Pública de Estado (Carta de Passo Fundo, 2005). Ao lado de nosso documento de referência 1, esses documentos caracterizam a extensão como atributo acadêmico, mas também como estrutura institucionalizada nas Universidades e IES brasileiras, nas quais se encontram instaladas Pró-Reitorias ou Coordenações de Extensão, salvo raras exceções. Por sua vez, também outros agentes e espaços de articulação têm insistido nesse processo de institucionalização. Ainda em 1988, o recém-criado Fórum de Pró- Reitores de Extensão das Universidades estatais brasileiras, o hoje denominado FORPROEX, apresentava ao MEC, como uma de suas reivindicações, a criação de um órgão de caráter representativo que fosse responsável pela extensão, na estrutura organizacional do Ministério. Em 2002, o I Congresso Brasileiro de Extensão Universitária igualmente apresentava a proposição de criação do mesmo órgão, com um caráter representativo, responsável pela extensão, capaz de articular os diferentes segmentos do ensino superior na formulação de uma Política Nacional de Extensão Universitária, proposição essa repetida em 2006, no 3º. CBEU, desta vez, aprovada por unanimidade por uma plenária com centenas de extensionistas. O 4º CBEU, por sua vez, retomou o debate sobre a institucionalização da Extensão em mesa-redonda formada por integrantes do MEC e CNE. Na oportunidade, o debate versou sobre a necessidade de se institucionalizar a extensão através de seu efetivo registro, normatização e instauração de um processo de avaliação, acompanhado de uma política que lhe possibilite a visibilidade necessária e o fomento para sua sustentabilidade. 2 1 Referenciais Teóricos 2 Mesa-redonda do dia 29/04/2009 sobre o tema: Importância da Extensão do Contexto da Educação Superior. Debatedores: Edson Norberto Cáceres (Coordenador Geral de Relações Acadêmicas da Graduação/Departamento de Modernização e Programas de Ensino Superior (MEC/SESu); André Lázaro (MEC/SECAD) e Clélia Brandão Alvarenga Craveiro (Presidente do Conselho Nacional de Educação). Anais,

Trata-se, portanto, de uma reivindicação antiga, vinda dos que estão no cotidiano da extensão no país e têm consciência da importância de sua institucionalização. Essa consciência advém da própria história da extensão na universidade brasileira. Com efeito, diferente da graduação, cuja institucionalização traduz a própria criação da educação superior no Brasil e da pesquisa, cuja implementação durante o Governo Militar experimentou um intenso processo de avanço institucional 3, a extensão foi realmente institucionalizada em âmbito nacional por um curto espaço de tempo, mais precisamente entre 1969, com a criação do CINCRUTAC, e 1979, com o fim da CODAE. 4 Marcos regulatórios: O que estamos propondo A Extensão Universitária no Brasil possui um frágil marco regulatório, isto é, caso se busque hoje a normatização para nortear a extensão em nossas IES, poucas referências são encontradas na forma de leis, portarias e instruções normativas do MEC, a exemplo do SINAES, ou do Decreto 5.773 (Decreto Ponte) de 2006, os quais, via de regra, citam a extensão em conjunto com a pesquisa e o ensino. Na Constituição Federal, a extensão é citada no artigo 207 que aborda o tema da indissociabilidade. Se procurarmos a definição de extensão, encontramos no Plano Nacional de Extensão assumido pelo MEC a expressão de uma concepção de extensão que não leva em conta, ainda, os diversos segmentos das universidades brasileiras. A necessidade de regulação oficial sobre o que é extensão, obviamente, não parte de nenhuma proposição que veja no Estado o agente regulador por natureza, capaz de controlar possíveis crises na sociedade ou no mercado; mas parte de três razões fundamentais: as exigências sociais propostas à instituição acadêmica; as confusões página 15. 3 Entre 1969 e 1979, o número de cursos de mestrado e doutorado no país pulou de 135 para 974 (Silva, Alberto C. Alguns problemas do nosso ensino superior. Fonte:http://www.caalunicamp.com.br/portal/noticias/131- problemas-do-ensino-superior.html. Consultado em Setembro de 2009) 4 A criação da Coordenação de Atividades de Extensão (CODAE) no MEC, em 1974 (GURGEL, 1986), marcou o ápice de um processo histórico de avanço da Extensão Universitária no Brasil em que se viram imbricadas iniciativas extensionistas da sociedade civil, anteriores ao Golpe de 1968, tais como o Centro de Cultura Popular (CPC) da UNE e ações do Governo Militar na busca de subsumir tais iniciativas como a criação da Comissão Nacional dos Centros Rurais Universitários de Treinamento e Ação Comunitária (CINCRUTAC) e do Projeto Rondon. Até 1979, quando foi extinta, a CODAE acompanhou as atividades de extensão no país, sendo nossa última referência institucional no MEC.

conceituais entre filantropia, assistência social e ação suplementar ao Estado por parte da universidade e a necessidade de fomento, visibilidade e financiamento da extensão. A regulação da Extensão Universitária como consequência das exigências da sociedade à instituição universitária Os editais publicados por diversos Ministérios, entre eles o Ministério do Desenvolvimento Social e do Desenvolvimento Agrário; a busca de parceria entre Organizações Não-Governamentais e Organizações Sociais e a busca de empresas por serviços são indicadores das exigências da sociedade para a instituição acadêmica que revelam o papel da extensão como referência científica, técnica, ética e política para a construção dos novos rumos da sociedade brasileira. Por sua vez, as IESs procuram responder a tais exigências não só por meio da produção de conhecimento e da formação de profissionais cidadãos, mas também por meio de ações diretas, nas quais se envolvem seus profissionais (docentes, pesquisadores e gestores) estudantes e técnicos. E são essas ações diretas, moduladas em ensino, serviços, eventos ou intervenções sistêmicas que necessitam de regulação. Regular tais ações implica orientar quais são seus limites e possibilidades, contribuindo para que, ao mesmo tempo em que as realize, a Universidade não se perca em seu papel e mantenha o princípio da indissociabilidade, isto é, seguindo o princípio de fazer a extensão com repercussões e incidências na formação integral dos estudantes e na produção socialmente engajada de conhecimento (Carta Brasília ForExt, 2003). A Regulação da Extensão Universitária e a necessidade de superar confusões conceituais A construção de paradigmas no mundo acadêmico é um processo históricosocial complexo, cuja maturidade tem o consenso da comunidade como sinal. Assim nos dizem os temas relativos ao ensino e à aprendizagem, com suas múltiplas faces e aspectos que vão da diversidade pedagógica à concepção das finalidades ulteriores de um curso de graduação. Assim nos dizem os temas relativos à produção do conhecimento científico e à discussão sobre a epistemologia, o método e legitimidade

da ciência, de maneira mais intensa numa área, ou mais consensuada em outra. Mesmo a concepção e gestão do que venha a ser Universidade não se diferencia nesse cenário. Também a universidade, apesar das fórmulas consensuadas, como a indissociabilidade entre pesquisa, ensino e extensão como parâmetro para definir a identidade universitária, ainda traz consigo diversidades e discussões em torno do que poderia ser a definitiva fórmula da instituição universitária. Toda essa complexidade e nuances também integram o universo da extensão Na historicidade da universidade brasileira, sucedem-se diversos modelos de extensão num processo que, lido com otimismo, apresenta alguns avanços. Por outro lado, não raro, numa leitura histórica mais heterodoxa, encontram-se ciclos que se repetem. Então, por que falar em necessidade de regulação para superar as confusões conceituais? A questão é menos por buscarmos um fim para os dissensos e mais para delimitar minimamente os contornos que definem as ações nominadas de extensão. O fato é que terminamos por encontrar a extensão quase sendo definida por negação: é tudo que na instituição acadêmica não pode ser denominado de ensino, pesquisa ou gestão. Obviamente não é uma situação confortável, principalmente quando identificamos na extensão um atributo acadêmico fundamental para se definir a universidade. A extensão é a atividade acadêmica que tem a função de legitimar os conhecimentos que existem fora dos muros da universidade. A extensão busca a constituição de uma educação problematizadora que provoca nos estudantes e na população potencialização de sua capacidade de pensar sobre os seus próprios problemas na busca de soluções conjuntas, alimentando um conhecimento baseado na participação e mobilização social. Assim considerada, a identidade universitária tem na extensão um instrumento decisivo para sua participação na sociedade. Assim sendo, de igual modo à produção científica e à formação discente, se faz necessário que tenhamos uma delimitação mínima sobre esta forma peculiar de sua participação social. Numa palavra, é necessário que tenhamos uma delimitação sobre o que é a extensão na universidade brasileira. Contudo, se as razões históricas não são suficientes para construirmos modelos consensuais para denominar as ações diretas de interlocução entre a universidade e a sociedade 5, devemos observar, no presente, as confusões geradas na gestão interna das 5 Se faz necessário notar que as relações entre totalidade social (compreendida em sua tríplice lógica de regulação como Estado, Sociedade e Mercado (SANTOS, 1996) e Universidade, por meio da pesquisa e ¹Se faz necessário notar que as relações entre totalidade social (compreendida em sua tríplice lógica de

instituições, onde, não raro se confunde trabalho voluntário ou cursos extracurriculares para graduandos com extensão. Se não pelo fato de que tenhamos o máximo de consciência sobre o que somos, como existimos e o que fazemos, na qualidade de instituições universitárias, mas, com certeza, pelo fato de que tal delimitação, como só acontece com a pesquisa e o ensino, subsidiam determinantemente a construção e a execução de políticas públicas A regulação da Extensão Universitária: exigência de fomento e financiamento da ação institucional Partamos então destas constatações: 1) a extensão é o canal que possibilita a intervenção direta e de maior efetividade das instituições universitárias na sociedade; 2) a extensão necessita de ações que a fomentem e a financiem; ganhar visibilidade. 3) a extensão precisa As constatações acima se articulam e nos dizem que aquelas ações (de extensão) não podem ser realizadas unicamente por demandas, isto é, elas devem ser materializadas em programas, projetos ou ações isoladas, não podem ser construídas mediante a solicitação de organizações sociais, setores estatais ou empresas. Não que deixemos de atendê-las, mas não podemos agir apenas pelas respostas; ao contrário, precisamos de pró-atividade. E como tê-la se não houver autonomia financeira, autonomia para decidir que caminhos seguir quando se trata da extensão? Nessa perspectiva, acreditamos que a autonomia universitária também se aplica à extensão e, como nos outros casos (da pesquisa e do ensino), deve constar nas regulação como Estado, Sociedade e Mercado (SANTOS, 1996) e Universidade, por meio da pesquisa do ensino se dão de maneira indireta e, via de regra, por demanda. No caso da pesquisa, o conhecimento produzido é oferecido à sociedade e esta irá aplicá-lo ou não e serão os seus resultados que poderão gerar ou não mudanças ou conservações de modelos sociais; o mesmo acontece com o ensino: a formação de profissionais em todas as áreas, não é garantia de efetividade das concepções e opções da academia. Com efeito, os resultados produzidos pelos profissionais egressos da academia possuem muitos vetores incidentes, desde os projetos pessoais, até o direcionamento que opções político-ideológicas e mercantis possam fazê-lo. Assim, resta à Universidade como expressão direta e efetiva de suas concepções a extensão, por meio de intervenções (mediadoras de modelos teóricos e realidade) intencionais e pragmáticas.

Políticas Públicas de Estado para o seu fomento e financiamento, como alternativa para superarmos qualquer tipo de dependência que subjugue a extensão aos interesses políticos próprios da arena política do Estado ou aos interesses privados próprios da arena do mercado. Ora, para se implantar tais políticas, insistimos, como nos casos da pesquisa e do ensino, que o primeiro passo é ter um paradigma consensuado do que venha a ser extensão. Mais que isso, que tenhamos critérios bem definidos sobre a que prioridades estratégicas devemos submeter a ação de extensão para que ela seja desenvolvida não sob a lógica individualista de projetos pessoais ou institucionais, mas sob a lógica de concertação das Políticas Públicas, condição fundamental para o enfrentamento de desafios sistêmicos em nosso país. Ela precisa igualmente ganhar visibilidade. Enquanto canal de interlocução entre a universidade e a sociedade, ela precisa ser conhecida e reconhecida por seus interlocutores, precisa ser acessada e identificada também por aqueles que dela não participam diretamente. Para o seu reconhecimento, é preciso haver a aceitação social de que extensão é campo de coesão e afinidades estratégicas entre a sociedade e a universidade. Da mesma forma, internamente, na própria universidade, a extensão necessita ser reconhecida e ganhar visibilidade para ocupar seu lugar no processo de ensino-aprendizagem de forma diferenciada e singular. Considerações Finais Assim, amparado em sua curta, mas firme trajetória de instância militante dedicada à reflexão e construção constante da extensão como Política Pública de Estado em nosso país, o FOREXT reafirma a certeza da urgente necessidade de o MEC encaminhar, em estreito diálogo com os parceiros estatais, comunitários e empresariais do cenário da extensão da educação superior do Brasil, as seguintes ações: 1. A criação de uma instância responsável pela extensão no Sistema de Educação Superior Brasileiro, constituída em diálogo com os agentes do campo do ensino superior e com atribuições de normatização, regulação, e execução de

Políticas Públicas de Estado para o fomento e financiamento da extensão no Brasil. 2. A formulação de uma Política Nacional de Extensão, a ser construída de maneira participativa, integrando agentes acadêmicos, sociais e econômicos para compor o próximo Plano Nacional de Educação 2011-2020. 3. A rediscussão sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais, juntamente com o CNE, objetivando a institucionalização da extensão como componente indispensável para a formação dos profissionais egressos das IES brasileiras. 4. A criação de espaços e de instrumentos de interlocução sobre as políticas de pós-graduação e pesquisa na sua articulação com a extensão,em consonância com a CAPES e o CNPQ.que avaliem a pesquisa e os cursos de pós-graduação stricto senso na sua articulação com Projetos de Extensão. 5. A construção de políticas públicas voltadas ao estreitamento das relações entre a Educação Superior e a Educação Básica, como exemplo, o Programa Nacional de Docentes, PIBID e outros considerando a extensão como vetor imprescindível para a consolidação dos vínculos entre tais níveis de educação. Por fim, nesta Carta, o Forext reitera a importância de se estabelecer uma ampla discussão da institucionalização da extensão como pauta da agenda nacional da educação superior no Brasil. ForExt Fórum Nacional de Extensão e Ação Comunitária das Universidades e IES Comunitárias. Porto Alegre, outubro de 2009.

Referências FOREXT. Carta de Florianópolis. Florianópolis/SC, 2002. FOREXT. Carta de Brasília. Brasília/DF, 2003. FOREXT. Carta de Campinas. Campinas/SP, 2004. FOREXT. Carta de Passo Fundo. Passo Fundo/RS, 2005. FOREXT. Carta de Campo Grande. Campo Grande/MS, 2008. GARCIA, Gilberto Gonçalves. A Ação Comunitária e Extensional e a Gestão Acadêmica da Universidade Comunitária. Encontro de Extensão das Universidades Comunitárias, Campinas, pp. 5-10, 2008. GURGEL, Roberto Mauro. Extensão Universitária: Comunicação ou domesticação. São Paulo: Cortez Autores Associados e Universidade Federal do Ceará, 1986. SANTOS, Boaventura de Souza. Pela mão de Alice. O social e o político na Pós- Modernidade. Porto: Afrontamentos, 1994. SILVA, Alberto C. Alguns problemas do nosso ensino superior. Fonte: http:// www. caalunicamp.com.br/portal/noticias/131-problemas-do-ensino-superior.html. Consultado em Setembro de 2009)