AULA IX DIREITO PENAL II TEMA: MEDIDA DE SEGURANÇA E REABILITAÇÃO PROFª: PAOLA JULIEN O. SANTOS MEDIDA DE SEGURANÇA 1. Conceito: sanção penal imposta pelo Estado, na execução de uma sentença, cuja finalidade é exclusivamente preventiva, no sentido de evitar que o auto de uma infração penal que tenha demonstrado periculosidade volte a delinqüir. 2. Finalidade: é exclusivamente preventiva, visando tratar o inimputável e o semi-inimputável que demonstram, pela prática delitiva, potencialidade para novas ações danosas. 3. Sistemas a) Vicariante: pena ou medida de segurança; b) Duplo binário: pena e medida de segurança. Nosso Código Penal adotou o sistema vicariante, sendo impossível a aplicação cumulativa de pena e medida de segurança. Aos imputáveis, pena; aos inimputáveis, medida de segurança; aos semi-imputáveis, uma ou outra. Conforme recomendação do perito. Pressupostos: a) Prática de crime. b) Potencialidade para novas ações danosas. Prática do crime: não se aplica em medidas de segurança: a) Se não houver prova da autoria; b) Se não houver prova do fato; c) Se estiver presente causa de exclusão da ilicitude; d) Se o crime for impossível; e) Se ocorreu a prescrição ou outra causa extintiva da punibilidade. Periculosidade: é a potencialidade para praticar ações lesivas. Revela-se pelo fato de o agente ser portador de doença mental. Na inimputabilidade, a periculosidade é presumida. Basta o laudo apontar a perturbação mental para que a medida de segurança seja obrigatoriamente imposta. Na semi-imputabilidade, precisa ser constatada pelo juiz. Mesmo o laudo apontando a falta de higidez mental, deverá ainda ser investigado, no caso concreto, se é caso de pena ou medida de segurança. Mo primeiro caso, tem-se a periculosidade presumida. No segundo, a periculosidade real. 4. Espécies de medida de segurança a) Detentiva: internação de hospital de custódia e tratamento psiquiátrico (CP, art. 97). b) Restritiva: sujeição a tratamento ambulatorial (CP, art. 97). Características da Medida de Segurança Detentiva: a) É obrigatória quando a pena imposta for a de reclusão; 1
b) Será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação da periculosidade; c) A cessação da periculosidade será averiguada após um prazo mínimo, variável entre um e 3 anos; d) A averiguação pode ocorrer a qualquer tempo, mesmo antes do término do prazo mínimo, se o juiz da execução determinar (LEP, art. 176). Desinternação: Será sempre condicional, devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes do decurso de um ano, pratica fato indicativo de sua periculosidade (não necessariamente crime). Local da internação: Internado será recolhido a estabelecimento dotado de características hospitalares (art. 99 do CP). Na falta de vaga, a internação pode dar-se em hospital comum ou particular, mas nunca em cadeia pública, inclusive o STF já se manifestou pela possibilidade de internação em hospital particular. Desta forma, constitui constrangimento ilegal a manutenção de réu por inexistência de vaga em hospital. Características da Medida de Segurança Restritiva: a) Se o fato é punido com detenção, o juiz pode submeter o agente a tratamento ambulatorial; b) O tratamento ambulatorial será por prazo indeterminado até a constatação da cessação da periculosidade; c) A constatação será feita por pericia médica após o decurso do prazo mínimo; d) O prazo mínimo varia de um a três anos; e) A constatação pode ocorrer a qualquer momento, até antes do prazo mínimo, se o juiz da execução determinar (LEP, art. 176). Critério para fixar o prazo mínimo: Será fixado de acordo com o grau de perturbação mental do sujeito, bem como segundo a gravidade do delito. Com relação a este último ponto, deve-se ressaltar que, embora a medida de segurança não tenha finalidade retributiva, não devendo, por isso, estar associada à repulsa do fato delituoso, a maior gravidade do crime recomenda cautela na liberação ou desinternação do portador de periculosidade. Liberação: Será sempre condicional, devendo ser restabelecida a situação anterior se, antes do decurso de um ano, o agente praticar fato indicativo de sua periculosidade (não necessariamente crime). Possibilidade de aplicação de medida de segurança detentiva (internação em hospital de custódia e tratamento) em crime apenado com detenção: 2
A medida de segurança de tratamento ambulatorial nos crimes apenados com detenção é facultativa, ficando condicionada ao maior, ou menor, potencial de periculosidade do inimputável, de modo que pode o juiz optar pela sua internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, mediante exame do caso concreto e da periculosidade demonstrada. Dessa forma temos a seguinte regra: a) Crime apenado com reclusão: a internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico é obrigatória (CP, art. 97), não podendo ser aplicada a medida de segurança restritiva (tratamento ambulatorial). b) Crime apenado com detenção: o tratamento ambulatorial é facultativo (CP, art. 97), podendo, conforme o caso, o juiz aplicar a medida de segurança detentiva (internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico). Conversão do tratamento ambulatorial em internação: O 4º do art. 97 prevê que poderá o juiz, em qualquer fase do tratamento ambulatorial, determinar a internação do agente, se essa providencia for necessária para fins curativos. O contrário não ocorre, uma vez que não previu a lei a possibilidade de o juiz converter a medida de internação em tratamento ambulatorial. A lei de Drogas e a inaplicabilidade do art. 97 do CP: A nova lei de drogas (Lei n 11.343/2006) deixa a cargo do juiz a avaliação quanto á necessidade ou não de internação, independente da natureza da pena privativa de liberdade. Semi-Imputável O juiz deve optar entre pena e medida de segurança. Essa escolha deve ser fundamentada. Se optar pela pena, essa será diminuída de 1/3 a 2/3. Essa redução é um direito público subjetivo do acusado. Medida de segurança e reformatio in pejus (Súmula 525 do STF): O STF pronunciou-se no sentido que com a reforma de 1984, a medida de segurança passou a ser aplicada somente aos inimputáveis e aos semi-inimputáveis, podendo substituir a pena privativa de liberdade quando for o caso, conforme inteligência do art. 97 e 98 do CP. Logo a súmula 525 editada antes da reforma serve apenas para vedar a reformatio in pejus no caso especifico da medida de segurança. Inimputabilidade do menor de 18 anos: Não se aplica medida de segurança, sujeitando-se o menor à legislação própria (Lei n. 8.069/90 Estatuto da Criança e do Adolescente). Competência para revogar a medida de segurança: Com o advento da Lei n 7.210/84 (art. 176), a competência para conhecer o pedido de revogação da medida de segurança, por cessação da periculosidade, é do juiz da execução e não mais da segunda instância, ficando, nesse passo, revogado o art. 777 do CPP. 3
Medida de segurança e a detração: O juiz deve fixar na sentença um prazo mínimo de duração da medida de segurança, entre um e 3 anos. Computa-se nesse prazo mínimo, pela detração, o tempo de prisão provisória, o de prisão administrativa e o de internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou estabelecimento adequado (CP, art. 41 e 42). Relatório psiquiátrico do estabelecimento penal: Não supre o exame de cessação de periculosidade. Laudo sem fundamentação e impreciso: Não tem valor, sendo necessário que seja fundamentado e conclua expressamente se cessou ou não a periculosidade. Procedimento para execução da medida de segurança: Comporta os seguintes passos: a) Transitada em julgado a sentença, expede-se a guia de internamento ou de tratamento ambulatorial; b) É obrigatório dar ciência ao ministério Público da guia referente à internação ou ao tratamento ambulatorial; c) O diretor do estabelecimento onde a medida de segurança é cumprida, até um me antes de expirar o prazo mínimo, remeterá ao juiz um minucioso relatório que o habilite a resolver sobre a revogação ou a permanência da medida; d) O relatório será instruído com o laudo psiquiátrico; e) O relatório não supre o exame psiquiátrico; f) Vista ao Ministério Público e ao defensor do sentenciado para manifestação dentro do prazo de 3 dias para cada um; g) O juiz determina novas diligências ou profere decisão em 5 dias; h) Da decisão proferida caberá agravo, com efeito suspensivo (LEP, art. 179). Aplicação provisória da medida de segurança: É inadmissível. Não há suporte legal. A Lei n. 7.209/84, que modificou o Código Penal, tirou do Código de 1940 o art. 80 e, por conseguinte revogou os arts. 378 e 380 do CPP, que tratavam da aplicação provisória da medida de segurança. Prescrição da medida de segurança: Prescrição aplicada ao inimputável a) Só se aplica a prescrição da pretensão punitiva: porque para a executória exige-se fixação da pena, o que não acontece no caso de medida de segurança. Portanto, antes da decisão, é possível haver prescrição, depois não; b) Aplicam-se ambas as prescrições (pretensão punitiva e pretensão executória): no caso da executória porque não há pena e sim medida de segurança, calcula-se a prescrição da pena em abstrato fixada ao crime; c) Aplica-se, normalmente, a prescrição da pretensão punitiva: quando antes da decisão; após, diante do silencio da lei, o melhor a fazer é verificar, antes de efetivar a medida de segurança de internação ao foragido, se o seu estado permanece o mesmo, ou seja, se continua perigoso e doente. Obs: a melhor posição no entendimento de Guilherme Nucci é a segunda (b). Prescrição aplicada ao semi-imputável Leva-se em conta a pena fixada e depois convertida em internação (art. 98 do CP) para o cálculo da prescrição executória. A prescrição da pretensão punitiva ocorre normalmente, como nos demais casos. 4
Conversão da pena em medida de segurança É possível que no curso da execução da pena privativa de liberdade sobrevenha doença mental ou perturbação da saúde mental ao condenado. A LEP autoriza o juiz, de oficio, a requerimento do MP ou da autoridade administrativa, a conversão da pena privativa em medida de segurança (LEP, art. 183). A conversão só pode ocorrer durante o prazo de cumprimento da pena, e exige pericia médica. Realizada a conversão, a execução deverá persistir enquanto não cessar a periculosidade do agente. Não mais se cogita o tempo de duração da pena substituída. Há posicionamento do STJ no sentido de que, se, encerrado o prazo da pena, ainda persistir a necessidade de tratamento, deverá o condenado ser encaminhado ao juízo cível nos termos do art. 682, 2º do CPP. REABILITAÇÃO Conceito: Benefício que tem por finalidade restituir o condenado à situação anterior à condenação, retirando as anotações de seu boletim de antecedentes. Mirabete: é a declaração judicial de que estão cumpridas ou extintas as penas impostas ao sentenciado, que assegura o sigilo dos registros sobre o processo e atinge outros efeitos da condenação. É um direito do condenado, decorrente da presunção de aptidão social, erigida em seu favor, no momento em que o Estado, através do juiz, admite o seu contato com a sociedade. Natureza jurídica: Trata-se de causa suspensiva de alguns efeitos secundários da condenação (CP, art. 92) e dos registros criminais. Cabimento: Só cabe reabilitação em existindo sentença condenatória com trânsito em julgado, cuja pena tenha sido executada ou esteja extinta. Consequências: a) Sigilo sobre o processo e a condenação: é assegurado o registro do reabilitado, que não serão mais objetos de folhas de antecedentes ou certidões dos cartórios. Ressalta-se que o sigilo não é absoluto, pois as condenações anteriores deverão ser mencionadas quando requisitadas as informações pelo juiz criminal (CPP, art. 748). b) Suspensão dos efeitos extrapenais específicos: é suspensa a perda do cargo ou função pública, a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela e a inabilitação para dirigir veículo. A lei veda a recondução ao cargo e a recuperação do pátrio poder, ficando a conseqüência da reabilitação limitada à volta da habilitação para dirigir veículo. Pressupostos: a) Decurso do prazo de 2 anos da extinção da pena, ou da audiência admonitória no caso de sursis ou livramento condicional. O prazo é o mesmo para reincidentes ou primários. b) Domicílio no país durante aquele prazo (acima referido). c) Bom comportamento público (vida pública, escolar etc.) ou privado (junto com a família) durante estes dois anos; d) Reparação do dano, salvo a impossibilidade de fazê-lo (ex.: se a dívida já prescreveu), ou renúncia comprovada da vítima; Revogação: Pode ser decretada de oficio ou a requerimento do MP. Ocorre se sobrevier condenação que torne o reabilitado 5
reincidente, a não ser que essa condenação imponha apenas pena de multa. Competência para a cessação: Compete ao juízo da condenação, uma vez que a reabilitação só se concede após o término da execução da pena (CPP, art. 743). Recurso cabível: Cabe recurso de apelação (CPP, art. 593, II). Provimento n 5/81 da Corregedoria-Geral de Justiça: Concedida a reabilitação, os distribuidores criminais emitirão certidões com a anotação nada consta, exceto em casos de requisições judiciais. Morte do reabilitado: Extingue o processo por falta de interesse jurídico no prosseguimento. Reincidência: Não é apagada pela reabilitação, pois só desaparece após o decurso de mais de 5 anos entre a extinção da pena e a prática do novo crime (prescrição da reincidência). Negada a reabilitação: Poderá ser requerida a qualquer tempo, desde que com novos elementos (CP, art. 94, parágrafo único). Postulação: Pode ser feita por meio de advogado. Direito a certidão criminal negativa: Tem direito a certidão criminal negativa o réu que teve ação penal trancada por falta de justa causa. 6