CARRAPATOS: SUAS IMPLICAÇÕES E IMPORTÂNCIA BIOECOLÓGICA NA SAÚDE DOS CANINOS DOMÉSTICOS EM CAMPINA GRANDE-PB



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Transcrição:

CARRAPATOS: SUAS IMPLICAÇÕES E IMPORTÂNCIA BIOECOLÓGICA NA SAÚDE DOS CANINOS DOMÉSTICOS EM CAMPINA GRANDE-PB TICKS: IMPLICATIONS AND IMPORTANCE OF HEALTH BIOECOLOGICA IN HOUSEHOLD IN CANINE CAMPINA GRANDE-PB Everaldo Oliveira Costa¹, Helder Neves de Albuquerque² 1. Graduado em Biologia (UVA/NAVIDA). 2. Prof. e Biólogo da UVA/NAVIDA. E-mail: helderbiologo@gmail.com RESUMO: Os carrapatos considerados de importância econômica e para a saúde pública, são artrópodes da classe Arachnida, ordem Acari e famílias Ixodidae e Argasidae. Os Ixodideos, frequentemente denominados carrapatos duros, apresentam um escudo rígido, quitinoso, que cobre toda a face dorsal do macho adulto e os argasídeos, também conhecidos como carrapatos moles, recebem esta denominação porque não possuem escudo. Todas as espécies requerem obrigatoriamente sangue de vertebrados e possuem significativo grau de especificidade podendo utilizar hospedeiros alternativos, incluindo o homem. Tem como objetivo analisar a importância bioecológica dos carrapatos e suas implicações na saúde dos caninos domésticos em Campina Grande-PB. Durante o período de novembro 2010 a fevereiro de 2011 foi levantado, junto ao Centro de Zoonoses de Campina Grande-PB e aos veterinários que atendem os caninos na cidade, o número de cães que sobrevivem na cidade, bem como as espécies de carrapatos e as possíveis zoonoses que por eles são transmitidos, com a aplicação de um questionário semi-estruturado, além de um levantamento bibliográfico para correlacionar as informações obtidas. Foi constatado que, não rara é a ocorrência de carrapatos descritos como vetores de doenças. Especificamente o Rhipicephalus sanguineus ou carrapato vermelho do cão, típico de cães principalmente nos adultos, que costuma subir pelas cercas, muros e espalham-se pelo canil, é de difícil controle e também pode transmitir rickettsiose, babesiose para o cão e humanos. Estes agravos estão relacionados aos fatores fundamentais da expansão urbana, bem como ao aumento populacional de carrapatos e hospedeiros em contato com a população humana. As áreas sob risco em potencial para transmissão de zoonoses recomendam-se a imediata elaboração de estratégias de controle para as espécies encontradas, envolvendo os setores de saúde. O aprimoramento da articulação com os serviços regionais, criadores e profissionais veterinários são de fundamental importância. Além disso, a estruturação dos serviços de saúde, adequação da área física, recursos humanos e materiais, são indispensáveis para redução dessas transmissões de rickettsioses. A implementação de uma prática baseada em evidências é fundamental para a melhoria dos processos e resultados na área da saúde, também com a integração dos serviços, universidades e usuários, já que esta integração promove o dialogo entre pesquisadores, clínicos e administradores de saúde para destes extrair os melhores resultados para a prevenção e controle da problemática. Palavras-chave: Zoonoses, Rickettsias, Ixodes, Rhipicephalus sanguineus, Argasideos. ABSTRACT: Ticks considered important as to economic as to public health, are arthropods of the class Arachnida, order Acari and families Ixodidae and Argasidae. The Ixodidae, often called hard ticks, have a hard shell, chitinous, which covers the entire dorsal surface of adult male and argasids, also known as soft ticks, given this name because they have no shield. All 40

species require vertebrate blood and possess a significant degree of specificity. Also, may utilize alternative hosts, including humans. This research focuses on the academic analysis of bioecological importance of ticks and its implications for the health of domestic canines in Campina Grande-PB. During the period November 2010 to February 2011 was raised, with the Center of Zoonoses de Campina Grande-PB and veterinarians who serve the canines in the city, the number of dogs that survive in the city, as well as the species of ticks and possible zoonoses that they might transmitted, all by applying a semi-structured questionnaire, and a bibliography to correlate the information obtained. It was found that is not a rare occurrence of ticks described as vectors of disease. Specifically, the Rhipicephalus sanguineus or red dog tick, typical of dogs especially in adults, who often climb the fences, walls and spread across the kennel, it is difficult to control and can also transmit rickettsial disease, babesiosis for dog and human. These issues are related to fundamental factors of urban sprawl, also to the population increase of ticks and hosts in contact with the human population. In areas under potential risk of transmission of zoonoses, it is recommended the immediate development of control strategies for the species founded, involving the sectors of health. The improvement of articulation with the regional services, breeders and veterinary professionals are crucial. Moreover, the structuring of health services, adequacy of physical space, human and material resources are essential for reducing such transmissions of rickettsiosis. The implementation of an evidence-based practice is fundamental to improving the processes and outcomes in health, also with the integration of services, universities and users, since this integration promotes dialogue between researchers, clinicians and health managers for these obtain the best results for the prevention and control issues. Keywords: Zoonosis, Rickettsias, Ixodes, Rhipicephalus sanguineus, Argasideos. 1. INTRODUÇÃO Os carrapatos considerados de importância econômica e para a saúde pública, são artrópodes da classe Arachnida, ordem Acari e famílias Ixodidae e Argasidae. Os Ixodideos, frequentemente denominados carrapatos duros, apresentam um escudo rígido, quitinoso, que cobre toda a face dorsal do macho adulto e os argasídeos, também conhecidos como carrapatos moles, recebem esta denominação porque não possuem escudo. Todas as espécies requerem obrigatoriamente sangue de vertebrados e possuem significativo grau de especificidade podendo utilizar hospedeiros alternativos, incluindo o homem. No ambiente rural brasileiro e na periferia da zona urbana é comum a presença de cães e o parasitismo por Amblyomma Ovale, A. Aureolatum, Rhipicephalus Sanguineus e Amblyomma spp. Nas extensas áreas destinadas à pecuária bovina brasileira, com rebanho constituído de mais de 169 milhões de cabeças, predomina o Boophilus Microplus. Na pecuária eqüina constituída de aproximadamente 6 milhões de cabeças, predomina Amblyomma Cajennense e Anocentor Nitens. Nas áreas de florestas nativas no Brasil (ainda a maior reserva do planeta), reflorestamentos, cerrados, agrestes, bem como nas regiões de 41

lavouras primitivas e descampados, existe um potencial do parasitismo para mais de 25 espécies conhecidas, pertencentes ao gênero Amblyomma, 6 espécies de Ixodes, 3 espécies de Haemaphysalis, além de um número desconhecido de espécies do gênero Ornythodorus. Todas estas espécies são potencialmente parasitas de roedores, lagomorfos, marsupiais, carnívoros, cervídeos, répteis, aves e do homem. Os carrapatos dos gêneros Boophilus e Anocentor, ao fixarem nos hospedeiros, neles permanecem por cerca de três semanas, ocorrendo então, as fases de larvas, ninfas e adultos em um único repasto. Nos demais, as mudas para ninfa e adulto, ocorrem no meio ambiente. A postura dos ovos ocorre depois de ter sido a fêmea fecundada e após o ingurgitamento. A postura é única e o número de ovos em algumas espécies, pode ultrapassar a 8.000 ovos, como no caso de carrapatos do gênero Amblyomma (FLECHTMANN, 1990). O número de gerações por ano varia, dependendo da espécie, da abundância de hospedeiros e das condições climáticas da região, ocorrendo até 5 gerações nas áreas de clima tropical úmido. As espécies do gênero Amblyomma e Ixodes, assumem grande importância na transmissão de patógenos, por serem heteróxenos e possuírem ampla distribuição geográfica no continente Americano. Trata-se de carrapatos de parasitismo eclético, cujas larvas podem ser encontradas sobre qualquer mamífero doméstico, silvestre, aves e no homem. O maior potencial e risco para transmissão de patógenos para seres humanos ocorre nas regiões de florestas, cerrados nativos, descampados e pastagens. A menor relação parasito/hospedeiro, menor grau de especificidade dos carrapatos, longos períodos de jejum, são fatores que favorecem a transmissão de patógenos. Dessa forma, este objetivou analisar a importância bioecológica dos carrapatos e suas implicações na saúde dos caninos domésticos em Campina Grande-PB. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. Caracterização da pesquisa Durante o período de novembro 2010 a fevereiro de 2011 foi levantado junto ao Centro de Zoonoses de Campina Grande-PB (Figura 1), o número de cães que sobrevivem na cidade, bem como as espécies de carrapatos e as possíveis zoonoses que por eles são transmitidos, além de um levantamento bibliográfico para correlacionar as informações obtidas. 42

Paralelo a esses dados, foram entrevistados de forma livre por meio de questionários junto aos veterinários e as instituições que mantém/cuidam da população canina na cidade de Campina Grande, para levantar o máximo de dados sobre os carrapatos e as possíveis notificações de doenças transmitidas por eles. Figura 1: Mapa do Estado da Paraíba e sua localização no mapa do Brasil (mapa superior). A região grafada em vermelho no mapa da Paraíba corresponde ao município de Campina Grande-PB. 2.2. Tipo de pesquisa O trabalho, porém, compreendeu uma pesquisa empírica e de caráter qualitativo conforme Lüdke e André (1996), que ocorreu junto ao Centro de Zoonoses e profissionais da área de saúde pública e animal na cidade de Campina Grande-PB. 2.3. Coleta de dados Para se realizar um levantamento dos dados, foi aplicado um questionário semiestruturado, junto ao Centro de Zoonoses e a todos profissionais da área de saúde pública e animal na cidade de Campina Grande-PB. Para cumprir os requisitos da Bioética em conformidade com o que preconiza Celistre (2002), os profissionais foram identificados por códigos conforme a seqüência de coleta de dados (P1, P2,..., P19, P20) e os locais ou instituições, também pela seqüência de coletas dos dados por E1, E2, E3 e E4. 43

O período de aplicabilidade do questionário ocorreu nos meses de novembro de 2010 a fevereiro de 2011, utilizando como corte amostral todas as instituições mantenedoras de cães da cidade de Campina Grande-PB. Foi, portanto, entregue a cada profissional, um questionário semi-estruturado o qual estão contidas as questões anteriormente citadas. Os questionários foram aplicados e recolhidos no intervalo de uma semana, tempo necessário para os informantes apresentarem suas respostas. Em seguida será feito a tabulação dos dados obtidos e conseqüentemente, a elaboração dos gráficos para fins de demonstração percentual dos resultados adquiridos. Os questionários, transcritos literalmente, foram aplicados conforme cronograma, nas respectivas instituições e profissionais. Antes do início da aplicação dos questionários foi explicado aos informantes o objetivo da pesquisa, e apresentado o Termo de Esclarecimento e Termo de Consentimento da liberdade em participar deles, a garantia do anonimato. 2.4. Análise dos dados A pesquisa prioriza a abordagem qualitativa, entendendo que esta oferece maior possibilidade de percepção da realidade em estudo. De acordo com Minayo (2000) a pesquisa qualitativa possibilita aos entrevistados expressar-se livremente acerca de um determinado tema, expondo suas idéias, sendo aquela capaz de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos. O método empregado utiliza um conjunto de instrumentos, as figuras metodológicas, que viabilizam discriminar os principais temas do discurso apresentado pelo aluno no que se refere ao presente objeto de estudo. As informações dos questionários foram transcritas e inseridas para apresentação em tabelas. 2.5. Apresentação dos resultados Os resultados foram apresentados através da estatística descritiva e expostos em gráficos e tabelas. De acordo com variáveis intimamente ligadas aos objetivos do trabalho e as perguntas formuladas nos questionários. 44

2.6. Considerações Éticas De acordo com o Conselho Nacional de Saúde, através da Resolução n 196, de 10 de novembro de 1996, aprovou as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos e, incorporou sob a ótica do individuo e das coletividades, as quatro referencias básicas da Bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, visando assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado. Sendo assim, e obedecendo à resolução acima especificada foram contatados, com antecedência, os órgãos envolvidos na pesquisa que expelirão concordância documentada de autorização da pesquisa através de documentos. Ao término da investigação, os resultados foram comunicados aos estabelecimentos envolvidos, bem como, foi preservada a identidade dos sujeitos. A pesquisa não trouxe ônus financeiro para as entidades participantes, e a coleta de dados como propõe o projeto, possibilita a obtenção de conhecimento científico relevante e novo, e não poderia ser conseguido de outra forma. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com os parâmetros que regem a pesquisa, ocorreu a aplicação de um questionário semiestruturado, com 12 profissionais que cuidam ou atendem os caninos na cidade de Campina Grande-PB, foi possível traçar um perfil das doenças transmitidas por carrapatos. Contudo, os dados coletados foram analisados e tabulados obtendo os resultados da Tabela 1. Tabela 1. Formação superior dos pesquisados, 2011. Formação Quantidade Pós Graduação Área Especialização Saúde Pública e Zoonoses Médico Veterinário 01 Medicina Preventiva: Mestrando Leishmaniose Médico Veterinário 01 Especialização Clínica e cirurgia de pequenos animais Médico Veterinário 01 Especialização Clínica e cirurgia de cães e gatos Médico Veterinário 01 Desenvolvimento e Meio Especialização Ambiente Médico Veterinário 02 - - Ciências Biológicas (em curso) 01 - - 45

Geografia 01 - Não indicado Não possui formação 04 - Não indicado Dos 12 pesquisados, de acordo com a Tabela 1, 05 (41,7%) não possuem e 07 (58,3%) possuem curso superior. Dos 7 com curso superior, 06 (85,7%) possuem graduação em medicina veterinária e 01 (14,3%) é graduado em Geografia. Os únicos pós-graduados na área objeto da pesquisa são 04 (57,1% dos que possuem curso superior). Dentre os profissionais pesquisados existe 01 (8,3%) com o curso superior incompleto (ou cursando) em Ciências Biológicas e os demais 04 (33,3%) não possuem formação superior. Estes resultados se contrapõem aos dados publicados por Vasconcellos (2010), onde expõem que nos últimos 50 anos houve o crescimento permanente do conhecimento disponível do tema zoonoses, apoiados em reuniões de especialistas internacionais voltadas tanto para os aspectos técnicos específicos de zoonoses de etiologia diversa bem como para o ensino deste assunto nos cursos de graduação de Medicina Veterinária, únicos responsáveis aptos para acompanhar nos cães estas problemáticas. Quando indagados sobre o número de cães na cidade de Campina Grande-PB, apenas 5 (41,7%) afirmaram saber e apresentaram o valor, conforme pode ser visto na Figura 2, abaixo. Figura 2. Esquema das informações dos pesquisados sobre os locais onde são registrados os números de cães que existe na cidade de Campina Grande, 2011. Ministério da Saúde Centro de Zoonoses Não soube a origem/não respondeu 0 1 2 3 4 5 6 7 As respostas foram as seguintes: 80 mil, 50 mil e 40 mil, todos sem apresentar a origem desses dados. 46

Dos que responderam o arquivo ser no Centro de Zoonoses, 2 afirmaram ser 20 mil e o outro respondeu não saber o número; dos que responderam ser o Ministério da Saúde, 1 afirmou ser 45 mil e o outro respondeu não saber o número. Os demais que totalizaram 7 não soube/não respondeu dizer a origem do arquivo sobre o número de cães existentes em Campina Grande-PB. Esses percentuais não podem ser discutidos tendo em vista que não há, segundo os próprios pesquisados, uma normatização para registro e notificação de quantitativo de cães na cidade de Campina Grande-PB, assim como, para todo o Brasil. Quando indagados sobre o conhecimento individual sobre as doenças que são transmitidas pelos carrapatos para os cães e/ou os humanos, os pesquisados responderam o seguinte, conforme visualizado na Figura 3, a seguir. Figura 3. Doenças transmitidas pelos carrapatos segundo os pesquisados, Campina Grande-PB, 2011. Paralisia Febre Maculosa Anemia Doença de Lyme Anaplasmose Pirosplasmose Erliquiose Babasiose 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Estes dados estão de acordo com Rey et. al., (1991) quando descreve que a paralisia por picada de carrapato é rara, mas de distribuição mundial, no Brasil ainda não foi assinalada no homem, mas sim em aves e animais domésticos, evidencia-se que as richettsioses transmitidas por carrapatos são a Febre Maculosa e a Doença de Lyme. O Rhipicephalus sanguineus, conhecido como carrapato vermelho do cão, que é seu principal hospedeiro, pode transmitir a Babesia canis e Ehrlichia canis, que provocam anemias graves e às vezes, a morte de cães. Já foi encontrado parasitando humanos, segundo 47

Moraes (1998). Em relação a doenças nos humanos podemos dizer que essas rickettsias como Babesiose, Doença de Lyme e Febre Maculosa são também transmitidas a humanos. Quando indagados sobre quais as doenças são notificadas em Campina Grande-PB, as respostas foram que nos cães são Erlichiose e Babesiose (33,3%), já nos humanos, todos afirmaram não terem conhecimento. Esses dados correspondem aos estudos de Moraes et. al., (1998) e Sequeira et al., (2002) que apresentam a Babesiose e a Anaplasmose como doenças endêmicas no Brasil, bem como, a anemia e a erliquiose patogênos de freqüente transmissão. Quando indagados sobre as sugestões para o acompanhamento das doenças transmitidas por carrapatos em campina Grande-PB, as sugestões foram as mais diversas possíveis, conforme expressas na Tabela 2, a seguir. Tabela 2. Sugestões para acompanhamento dessas doenças em Campina Grande-PB, 2011. Entrevistado P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 Sugestão Para evitar possíveis doenças, fiscalizar sempre os canis; mantê-los limpos e arejados sempre Exames periódicos por amostras de sangue e fezes de animais suspeitos ou com quadro parecido dessas doenças Controle dos carrapatos sobre os cães. Vassoura de fogo de 8/8 dias 4 vezes. Conscientizar as pessoas que o carrapato não é apenas um parasita que deva ser combatido, más um vetor de doenças graves que pode levar não só o animal à morte, más também picar pessoas causando sérios problemas. Manter os ambientes isento de carrapatos. Em casos confinados tratálos. Inicialmente uma prevenção através de carrapaticidas no ambiente e no animal banhos a cada 20 dias independente de ter ou não carrapatos. Informar às pessoas que observem sempre os canis e seus animais. O criador deve procurar o veterinário pelo menos duas vezes por ano, com o seu animal para consultar, mesmo que o animal esteja sadio, o proprietário do animal deve mantê-lo sempre com bom aspecto de saúde, boa alimentação, fazer uma boa profilaxia (vacinação, vermifugação), fazer higienização do local (canil). Ambiente higienizado. Vigilância em cima do animal. Não respondeu. Não respondeu. 48

O uso de carrapaticidas sobre o corpo dos animais, através de banhos, aspersões, polvilhamento etc. é ainda o mais amplo e disponível método no combate aos ixodídeos. Todavia o impacto de resíduos acaricidas em produtos animais e no meio ambiente, ao lado da plasticidade genética dos carrapatos, tornando-os resistentes contra os carrapaticidas, tem criado uma necessidade premente de desenvolvimento de métodos alternativos de controle. Assim além de ecdisteróides, que aceleram atividades de muda, grandes avanços têm sido conseguidos com vacinas anticarrapato. Elas são feitas com proteínas de membranas de células digestivas dos ixodideos e provocam sua morte através da ruptura dos intestinos quando sugam em animais vacinados (MELO. LINARD e VITOR, 2005). Quanto ao risco de transmissão de zoonoses como doenças acima citadas recomendam-se elaboração de estratégias de controle das espécies vetores encontrados e avaliações permanentes dos riscos por profissionais veterinários e criadores. 4. CONCLUSÕES De acordo com a avaliação e a dinâmica das infestações por carrapatos em cães e as conseqüências de possíveis irradiações em Campina Grande-PB, constatou-se que a falta de informações e cumprimento de um programa pré-estabelecido pelos responsáveis da área no que se refere a um acompanhamento de rickétsias como Babesia canis, ehrlichiose, doença de lyme, febre maculosa e anaplasmose tendo como vetor os carrapatos. Verificou-se que os problemas surgidos por conta de patógenos por eles transmitidos, são ocasionados entre outros pelo abandono do animal pelo proprietário, quando estes às vezes mantêm seus cães bem alimentados, no entanto, são esquecidos quanto às formas de higienização necessárias dos ambientes com vistas a minimizar os índices de infestações nos locais onde vivem os animais. Na cidade de Campina Grande-PB, a espécie de carrapato que parasita os cães domésticos é a Rhipicephalus sanguineus ou carrapato do cão e o também chamado carrapato micuim. O conhecimento destes riscos contribui para a proposição de ações eficazes de prevenção e controle que, programadas, modifiquem os fatores ambientais relacionados ao aumento do risco de infestações citados. Nas áreas com destaque quanto à situação de risco iminente ou moderado de infestação por carrapatos e sua transmissão de zoonoses recomenda-se que os serviços de 49

saúde locais mantenham uma vigilância acarológica, manutenção de rotina de vigilância e orientações à população. Também é de fundamental importância, avaliações dos riscos potenciais, o aprimoramento da articulação com os serviços regionais e profissionais veterinários. A relação homem/animal é de importância fundamental, podendo trazer grandes benefícios ao homem e, portanto, os cuidados inerentes à posse responsável de um animal não devem ser relegados ao segundo plano, quer seja de utilidade econômica ou de estimação. Da mesma forma é importante a adoção de posturas corretas pela população para um convívio saudável com os mesmos. 5. REFERÊNCIAS BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 196, 10 de out.1996. CELISTRE, S. S. Os ciclos de formação no ensino público de Pernambuco. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação), Recife, UFPE, 2002. FLECHTMANN, C. A. W. Ácaros de importância médico veterinária. 3. ed. São Paulo: Nobel, 1990. 192 p. LÜDKE, M; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MELO, A. L.; LINARD, P. M.; VITOR, R. W. A. Parasitologia Humana. 11. ed. São Paulo: Atheneu, 2005. MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 78. ed. São Paulo: Hucitec, RJ, Abrasco, 2000. MORAES, R. G.; LEITE, I. C.; GOULART, E. C.; BRAZIL, R. Parasitologia & Micologia Humana. 4. ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 1998. REY, L. Parasitologia. 2. ed. Rio de Janeiro: GUANABARA KOOGAN, 1991. SEQUEIRA, T. C. G. O.; AMARANTE, A. F. T. Parasitologia Animal: Animais de Produção. 1. ed. Rio de Janeiro: EPUB, 2002. p. 2-40. VASCONCELLOS, S. A. Zoonoses: conceito. 2010. Disponível em:<http://www.praiagrande.sp.gov.br/arquivos/cursos_sesap2/zoonoses%20conceito.pdf>. Acessado em: 21 jan., 2011. 50