O LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS NO PROCESSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO Resumo SANTOS, Renata Cristina dos Acadêmica do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UNEMAT/CUAF PASUCH, Márcia Cristina Machado Profª. Drª. do Departamento de Ciências Biológicas da UNEMAT/CUAF O laboratório de ciências configura importante ferramenta para reflexão e melhor atuação no processo didático-pedagógico, podendo ser um local de ilustração, observação, demonstração de aulas teóricas ou de experimentação, onde o aluno pode adquirir a oportunidade para resolver problemas, elaborar hipóteses e analisar resultados. Nesta pesquisa, tem-se o objetivo de compreender o papel do laboratório de Ciências no processo didático-pedagógico do ensino de Ciências e Biologia na Escola Estadual Jayme Veríssimo de Campos Júnior, em Alta Floresta-MT. Fundamenta-se nos textos legais que favorecem e incentivam a utilização dos Laboratórios de Ciências como importantes espaços pedagógicos para a inserção de inovações no processo ensino aprendizagem, perspectivando aproximá-los do atual desenvolvimento científico e tecnológico. Trata-se de uma abordagem de cunho qualitativo em que, para a coleta de dados, lançou-se mão de revisão bibliográfica, análise documental, entrevista semiestruturada, observação e acompanhamento de aulas práticas. A investigação teve como sujeitos quatro docentes atuantes na área de Ciências Biológicas na referida escola. Sua realização ocorreu no período de maio de 2012 a agosto de 2013. A análise dos dados evidenciou infraestrutura inadequada do Laboratório de Ciências, uso infrequente deste espaço, além de despreparo da maioria dos professores para sua utilização numa perspectiva investigativa. Por fim, verificou-se que a utilização do Laboratório de Ciências como instrumento pedagógico não consta na pauta de discussão do coletivo escolar no momento de elaboração do planejamento anual, o que fragiliza sua inserção posterior nos planos de aula. Apresenta-se aqui o resultado da análise parcial dos dados. Palavras-chave: Laboratório de Ciências. Aulas práticas. Ensino. Introdução A reforma do ensino ocorrida com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei 9.394/96, deu início a um novo ciclo na Educação Básica. Essas mudanças objetivavam, por exemplo, a compreensão e inserção dos fundamentos científico-tecnológicos nos processos educativos, relacionando a teoria com a prática. Neste debate, colocou-se em questão o significado dos espaços escolares e sua utilização didático-pedagógica (BRASIL, 1996). Ao refletirem sobre o ensino de ciências, Campos e Nigro (2009) afirmam que sua realização, apenas com o objetivo de provocar mudanças conceituais, apresentou a falha de não estimular os alunos a avançarem no campo da investigação. 03151
Importante destacar que os tipos de atividades, mas, sobretudo sua articulação com a prática constitui um dos traços diferenciais que determinam a especificidade de muitas propostas didáticas (ZABALA, 1998). Frutos deste debate surgiram projetos com a finalidade de subsidiar práticas educativas inovadoras. Um desses projetos é o Programa de Melhoria e Expansão do Ensino Médio Projeto Escola Jovem, criado em 2000 pelo Ministério da Educação (MEC). Uma das metas deste Projeto era equipar progressivamente as escolas de ensino médio com bibliotecas, laboratórios de informática e ciências e kit tecnológico (BRASIL, 2000). Neste contexto, a Escola Estadual Jayme Veríssimo de Campos Júnior conquistou o laboratório de ciências. Diante das situações apontadas, este trabalho objetiva compreender o papel do laboratório de Ciências no processo didático-pedagógico do ensino de Ciências e Biologia na Escola Estadual Jayme Veríssimo de Campos Júnior, em Alta Floresta- MT. Trata-se de uma abordagem qualitativa que busca compreender e interpretar dados qualitativos e quantitativos em seu contexto histórico (BICUDO; ESPÓSITO, 1997). Como instrumentos para a coleta de dados utilizou-se a entrevista semiestruturada, observação de práticas no laboratório e análise documental de roteiros. Foram entrevistados quatro professores, todos atuantes na área de Ciências Biológicas. Objetivando resguardar a identidade dos entrevistados, optou-se por distingui-los mediante as letras A, B, C e D. Análise parcial dos dados Do ponto de vista físico o laboratório em questão não atende às necessidades pedagógicas por ser um local pequeno, e não observar ao disposto na legislação. Segundo as orientações técnicas, um laboratório de ciências, dentre outras coisas, deve dispor de um espaço mínimo de três metros quadrados (3m 2 ) por aluno (KRASILCHIK, 2004). Para além desse limitante, os entrevistados ressaltaram a importância deste espaço para realização de aulas práticas. Argumentaram que as atividades nele realizadas são estimulantes, provocam interesse coletivo, unem a teoria à prática ocasionando maior aprendizagem. 03152
Importante considerar que as propostas de atividades podem resultar em um ensino centrado na transmissão de informações, na vivência do método científico ou na análise das implicações sociais da ciência, uma coisa ou outra vincula-se ao planejamento realizado pelo professor (KRASILCHIK, 2004). Nesse sentido, considerando o planejamento das aulas para o laboratório, perguntou-se aos sujeitos se preparam e testam com antecedência as atividades propostas aos alunos. Um professor afirmou realizar tais práticas; uma professora respondeu colocá-las no planejamento, mas não ser ela quem realiza o teste o qual fica a cargo do técnico do laboratório; e as outras duas disseram ter experiência com as práticas que realizam em razão destas já terem sido testadas, em anos anteriores, no decurso de suas carreiras docentes. Isso remete ao que Krasilchik (2004) afirma, ao aludir, que tão prejudicial quanto não dar aulas práticas é o planejamento elaborado de forma desorganizada, em que os estudantes, sem orientação, não sabem como proceder. Complementando esta ideia, Giani (2010) pondera que uma atividade mal conduzida pode confundir e desanimar os alunos. Assim, diante da importância de um bom planejamento para a execução de aulas práticas, nota-se a ausência do planejamento como um limitante a uma boa utilização dos laboratórios de ciências. Essa fragilidade se anuncia também quando a questão remete aos resultados alcançados, decorrentes das atividades realizadas com os alunos. A professora A respondeu que o laboratório atende às necessidades no processo ensino-aprendizagem, no entanto esse aprendizado é parcial: muitos alunos não levam a aula a sério, mas outros são extremamente interessados. Por sua vez, professores B e C responderam que os alunos têm mais aproveitamento na aprendizagem com as atividades no laboratório: por ser uma disciplina que trata de questões por vezes microscópicas, a utilização do laboratório torna plausível o estudo nesses casos (professor C ). A professora D respondeu que o laboratório não atende às necessidades do processo ensino-aprendizagem, porém é um espaço que media e que dá oportunidade de visualização quanto aos aspectos didático-pedagógicos no ensino de ciências. Nesse âmbito, para além dos limitantes estruturais já apontados, é importante considerar que o laboratório é um instrumento auxiliar do professor em sua atividade docente, ou seja, sua função será mais ou menos desafiadora ou promotora 03153
de aprendizagens, de acordo com o planejamento do professor e sua articulação com o técnico responsável por este ambiente (KRASILCHIK, 2004). Observa-se que cada prática apresenta uma característica diferente e depende muito de como o professor prepara essa atividade e da visão e envolvimento dos alunos. Nesta perspectiva Schmidt et al. (2008) buscam estabelecer relações no ensino de ciências com a fenomenologia do cotidiano na interpretação das atividades de laboratório e Cunha (2004) afirma que é preciso compreender o conteúdo das representações que o professor faz sobre a sua prática pedagógica. No contexto de realização das atividades percebeu-se que os alunos tiveram interesse pelo conteúdo e pela prática, onde puderam manipular os equipamentos com o auxílio do professor, do técnico e algumas vezes de estagiários de regência. Quanto ao atendimento do técnico do laboratório, de forma generalizada todas responderam ser bom, que os técnicos que atuam e atuaram no laboratório são pessoas preparadas, com curso técnico ou que cursam biologia ou áreas afins. Isso vem ao encontro com o que estabelece a Portaria Nº. 306/12/GS/Seduc/MT do Estado de Mato Grosso. Considerações preliminares As aulas práticas desenvolvidas no laboratório de Ciências precisam ser cuidadosamente planejadas para que as atividades experimentais tenham significado efetivo no ensino e na aprendizagem. Para isso se faz necessário um enfoque cuidadoso na formação de professores e técnicos, a fim de garantir preparo e qualificação adequada para esse tipo de atendimento, visando segurança, garantia na promoção do conhecimento, condições dignas de trabalho com equipamentos à disposição e de qualidade, espaço adequado e demais oportunidades que viabilizem a utilização desse espaço. Durante a pesquisa, percebeu-se que o laboratório é pouco frequentado em relação ao conteúdo programático das disciplinas de Biologia e Ciências; quando utilizado, as aulas são norteadas com dificuldades na problematização de alguns conteúdos trabalhados de forma prática. Entre as hipóteses encontradas na dificuldade da utilização dos laboratórios, verifica-se que há pouco diálogo sobre a importância das atividades experimentais, da utilização deste espaço no planejamento coletivo, em 03154
alguns casos, deixando de fazer parte do plano pedagógico anual de alguns professores. Referências BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Presidência da República. Casa Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ civil_03/leis/l9394.htm> Acesso em 01 jul. 2013.. Programa de Melhoria e Expansão do Ensino Médio Projeto Escola Jovem. Ministério da Educação (MEC). Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Síntese. Fevereiro. 2000. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/escola%20jovem.pdf>. Acesso em: 07 nov. /2013. BICUDO, M. A. V.; ESPÓSITO, V. H. C. A pesquisa qualitativa em educação: um enfoque fenomenológico. 2 ed. rev.. Piracicaba: Unimep, 1997. 231 p. CAMPOS, M. C. C.; NIGRO, R. G. Teoria e prática em ciências na escola: o ensinoaprendizagem como investigação. São Paulo: FTD, 2009, volume único: livro do professor. CUNHA, M. I. O bom professor e sua prática. 16. ed. Campinas: Papirus, 2004, 184 p. GIANI, K. A experimentação no Ensino de Ciências: possibilidades e limites na busca de uma Aprendizagem Significativa. 2010. 190 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de Ciências) - Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências da Universidade de Brasília, Brasília, 2010. Disponível em: <http://ppgec.unb.br/images/sampledata/dissertacoes/2010/versaocompleta/ kellen%20giani.pdf> Acesso em: 06 nov. 2013. KRASILCHIK, M. Prática de Ensino de Biologia. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004. 197 p. MATO GROSSO. Portaria Nº. 306/12/GS/Seduc/MT. Dispõe sobre critérios e procedimentos a serem adotados para o processo de atribuição. Secretaria de Estado de Educação (SEDUC). disponível em: <http://www.seduc.mt.gov.br/download_file.php?id=15530> Acesso em 05 nov. 2013. SCHMIDT, M. A. et al. (Org.). Diálogos e perspectivas de investigação. Ijuí: Unijuí, 2008. 336 p. ZABALA, A. A prática educativa; como ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 1998. 03155