Teatro de fantoches no ensino de ciências para a compreensão de conteúdos ecológicos ¹



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Transcrição:

Teatro de fantoches no ensino de ciências para a compreensão de conteúdos ecológicos ¹ Puppet theater in science education for understanding ecological content Tatiana Pereira da Silva 1, Luís Paulo de Carvalho Piassi 2 1 Universidade de São Paulo/Escola de Artes, Ciências e Humanidades, tatianasilva@usp.br 2 Universidade de São Paulo/Escola de Artes, Ciências e Humanidades, lppiassi@usp.br Resumo Este trabalho apresenta resultados da aplicação de uma atividade que vincula a apresentação de um teatro de fantoches e a possibilidade de desenvolver os conteúdos de ciências. O publico alvo da aplicação foi uma turma de 2º ano do Ensino Fundamental em uma escola pública municipal de Guarulhos / SP. Foram analisadas as compreensões dos alunos das séries iniciais frente as relações alimentares entre animais, introduzindo os conceitos de cadeia alimentar e presa e predador. Palavras-chave: teatro de fantoches, literatura infantil, ensino de ciências, ecologia. Abstract This paper presents results the application an activity that links the presentation of a puppet theater and the possibility of developing the science content. The target audience of the application was a class of 2nd year of elementary school in a public school in Guarulhos / SP. We analyzed the comprehension of students in early grades before the relationship between food animals, introducing the concepts of food chain and predator and prey. Key words: puppet theater, children's literature, science teaching, ecology. Introdução Neste trabalho pretende-se investigar qual a contribuição do teatro de fantoches para favorecer o aprendizado, levando em consideração, desde os aspectos cognitivos até o trabalho com outras habilidades - motoras e afetivas. Tendo em vista essa possibilidade, passa-se a verificar sua relação com o processo de alfabetização nas séries iniciais do ensino fundamental conectada ao desenvolvimento de conteúdos de Ciências Naturais. Em relação à alfabetização cientifica nas séries iniciais Delizoicov e Lorenzeti (2001), afirmam que junto à escola, espaços e meios que diferenciem do modelo tradicional de sala de aula podem auxiliar na efetivação desse processo. Nesse sentido, os mais variados mecanismos podem ser citados, como a literatura, os vídeos, músicas, museus, inclusive o teatro de fantoches. O teatro de fantoches é uma atividade lúdica, ou seja, é um tipo de atividade que: facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, ¹ Parte do projeto Lendo Ciência: A ficção como estímulo à leitura na aprendizagem das ciências naturais, financiado pelo CNPq.

colabora para a saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento (SANTOS 1997, tñâw GOMES et al, 2006, p.12). Assim, a criança participa ativamente e constrói os significados a partir das vivências proporcionadas, por meio desta metodologia a criança no contexto escolar fica a frente de ampliar a imaginação, criatividade e concentração. A encenação de um teatro de fantoches coloca a disposição algumas medidas de interação e comunicação, como as diferentes formas da linguagem, o encantamento com a entonação de voz, a imagem e ação de personagens lúdicos, entre outros. Essas ações e relações são semelhantes ao que é vivenciado pelos alunos através de momentos do seu cotidiano como em filmes infantis, desenhos animados ou brincadeiras. Isso se torna relevante, pois, segundo Vigotski (2003, p.110), qualquer situação de aprendizado com a qual a criança se defronta na escola tem sempre uma história prévia, a partir da qual irá contribuir na construção dos significados. Para Stoltz e Oliveira (2010), as dimensões proporcionadas pelo teatro configuram um universo peculiar de interação social e de manifestação da cultura que podem cumprir diferentes objetivos. Considerando o ensino de ciências como um desses objetivos, o teatro de fantoches assume um processo no qual o indivíduo irá reunir e compor os significados para seu aprendizado. As obras de literatura infantil se articulam ao teatro de fantoches tornando possível a conexão de meios para oferecer às crianças em fase inicial de alfabetização a possibilidade de desenvolver a competência leitora e os saberes escolares das diversas áreas de conhecimento, sendo neste caso, os conteúdos relacionados ao ensino de ciências que sobressaem. Portanto, iremos verificar parâmetros e trajetórias proporcionados pela realização de uma peça de teatro de fantoches em termos de aprendizado em ciências, no que se refere aos conceitos de cadeia alimentar dos animais e presa e predador. Por conseguinte, observar o quanto essa metodologia desperta o interesse das crianças por ciências, auxilia o aprendizado conceitual, facilita a abordagem de temas sociais e culturais conexos com a ciência, entre outros estímulos. O roteiro O roteiro da peça de teatro de fantoches foi elaborado baseado no livro de literatura infantil Enquanto a mamãe galinha não estava (YEONG-SO e BYEONG-HO, 2006). Nesta história a mamãe galinha sai e deixa seus ovos sozinhos no ninho por um determinado período. Durante esse passeio surgem alguns personagens que aprontam travessuras com os ovos. Em primeiro lugar, duas crianças curiosas e, em seguida, outros animais, o desajeitado papai galo, a tia pata atrapalhada e até o perigoso lobo mau fazem parte do episódio enquanto a dona do ninho não retorna. Antes desta escolha, foram verificados aproximadamente 30 livros de literatura infantil de editoras e autores diferentes que são oferecidos aos alunos das escolas públicas. Com o propósito de elaborar uma peça de teatro de fantoches alguns critérios foram estabelecidos quanto a seleção da obra, sendo eles: o envolvimento de animais como personagens e enredo com situações semelhantes às relações e condições de sobrevivência de animais reais. Delimitamos esses critérios pois tais características aparecem como um tema comum nas obras literárias infantis, ocupando considerável espaço no cotidiano das crianças

por meio de jogos, desenhos animados etc. Além disso, como destaca Zancani (2006), a leve antropomorfização presente no texto oferece a oportunidade da criança identificar-se com o personagem garantindo maior nível de afinidade. A adaptação da obra de literatura infantil foi realizada a fim de evidenciar os conteúdos a serem trabalhados, principalmente os que se referem as Ciências, a viabilidade de produção e aplicação escolar e a influência ativa entre a história e a criança, sendo esta uma estratégia baseada na teoria sócio-histórica de Vigotski (2007), para funcionar como mecanismo de ação na constituição de interações. A partir da adaptação do livro de literatura infantil, a história se desenvolve com número menor de personagens, reduzindo à duas crianças e três animais, o que proporcionou incorporarmos competências cognitivas, afetivas, sociais e culturais, por meio das novas relações de interação e aspectos conceituais. Os animais apresentados na história são comuns em livros infantis, como galo, galinha e lobo. No novo enredo, esses e os outros personagens, durante o desenrolar da história, irão passar por variadas situações com o mesmo propósito, de manter seguros os ovos da galinha. Em cada detalhe da nova história alguns conceitos das diversas áreas dos saber sobressaem trazendo a eminente possibilidade de trabalho em sala de aula para complementar o processo de ensino-aprendizagem. Dentre eles, no que se refere às Ciências Naturais, destacam-se conceitos ecológicos (relação entre presa e predador e cadeia alimentar), e zoológicos (classificação dos seres vivos), além das outras áreas, como Português e Matemática (noções de quantidade) e temas transversais (relações e desempenho de papéis sociais). A adaptação utilizando obras literárias infantis para um roteiro de teatro de fantoches carrega a eventualidade do desempenho de outras habilidades e competências que não são tão evidenciadas apenas com o livro. Todavia, não o substitui, mas funciona, em um mesmo nível, como mecanismo que poderá despertar a curiosidade para outras leituras de histórias semelhantes ou distantes da realidade evidenciada numa primeira implementação. Metodologia Para verificar as possibilidades do teatro de fantoches como recurso para a aprendizagem dos conteúdos que se referem à ciências, foi elaborada e aplicada uma atividade em sala de aula com uma turma de alunos de 2º ano do Ensino Fundamental, com crianças entre seis e oito anos de idade. Esta atividade teve como objetivo tratar do assunto cadeia alimentar e a relação presa e predador, incluindo a fundamentação destes dois últimos conceitos. Em aula anterior a atividade os alunos assistiram a peça de teatro de fantoches elaborada (Fig. 1). O teatro apresentado aos alunos foi usado para dar impulso às discussões acerca dos temas pretendidos. Para a coleta de dados, foram tomadas notas pelo aplicador junto ao professor responsável pela turma, sendo incluídas qualquer informação relevante que os alunos observavam durante a roda de conversa, como dúvidas, problematizações, manifestações sentimentais, pontos de vistas e respostas diretas às perguntas. Antes de iniciar a atividade, os alunos foram questionados sobre a peça de teatro de fantoches apresentada em aula anterior, a fim de relembrar o conteúdo da história, os personagens e suas respectivas relações. A primeira parte da atividade foi uma roda de conversa com os alunos em que o professor questionava-lhes sobre as ações dos animais do enredo. Assim, foram feitas

perguntas como porque o lobo não consegue pegar os ovos, porque ele queria os ovos da galinha, porque a galinha pediu para tomar cuidado com o lobo. Esses tipos de questionamentos direcionavam aos conceitos de presa e predador, dando a possibilidade de analisar se os alunos percebiam como uma relação da natureza destes animais ou os denotavam com adjetivos de bom ou mau, por exemplo. Fig.1. Apresentação do teatro de fantoches para os alunos. Em geral, os questionamentos foram desde a investigação sobre a avaliação da peça de teatro de fantoches até o início das compreensões, como um todo, e dos temas de Ciências. Tinham como objetivo obter respostas no que se refere a aprendizagem conceitual, assim, as questões eram do tipo problematizadoras em que os alunos pudessem pensar nos acontecimentos da história e nos temas de Ciências ampliando a cada questão a mudança dos elementos de transformação do aprendizado de Vigostski (2007), portanto, migrando da Zona Desenvolvimento Proximal para a Zona de Desenvolvimento Real. Assim, além de funcionarem como mecanismo de descoberta dos conhecimentos prévios pelo professor, ainda funcionavam como processo para que o aluno organizasse seu próprio conhecimento, ao fazê-los falar sobre suas ideias elas se tornam claras para o próprio sujeito (BIZZO, 2009, p. 64). Buscamos compor na atividade a possibilidade de que as crianças pudessem compartilhar experiências factuais de forma à integrá-las aos elementos lúdicos presentes na peça de teatro de fantoches. Como propõe Vigotski (2007), quando uma criança age em conjunto a um momento de ação imaginário, o seu comportamento é dirigido além da percepção ou da situação imediata, ela consegue também agir pelo significado de toda a situação. Ainda, para o autor, é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, em vez de apenas uma esfera visual externa (VIGOTSKI, 2007, p.113). Assim, após a primeira parte discursiva, os alunos tiveram contato com figuras de animais reais, tanto os que faziam parte do enredo da peça (galo, galinha e lobo), quanto outros animais que se relacionavam de maneira ecológica com estes. Logo, a junção dos elementos presentes no enredo da peça de teatro de fantoches e na atividade realizada em sala de aula, possibilitou trabalhar e colaborar para o progresso do nível de desenvolvimento da criança.

No fim da atividade, foi solicitado aos alunos a produção de um desenho. O tema sugerido para essa segunda parte da atividade foi que esse registro envolve-se os conceitos de presa e predador, utilizando os animais apresentados em figuras durante a discussão, os animais presentes no teatro de fantoches ou mesmo outros animais conhecidos por eles, criando uma espécie de cadeia alimentar. Em geral, a atividade tenta evitar que a aprendizagem dos temas de Ciências fique reduzida a conceitos e enunciados apenas memoráveis. Ao invés disso, foi desenvolvida com a finalidade de problematizar todo o conteúdo e usar as versões conflitantes para encontrar soluções a partir de elementos oferecidos pelas próprias crianças. Resultados Como a primeira parte da atividade se deu em uma roda de conversa, os dados foram analisados por meio das anotações das observações e falas dos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental e depois através do registro em forma de desenho feito por eles. Quando iniciada a conversa sobre a peça de teatro de fantoches os alunos espontaneamente recontavam a história e entre os primeiros comentários sobre situações diversas, se identificavam com um ou com outro personagem. A peça consistia num total de seis personagens, entretanto, o que apresentou maior destaque foi o lobo, os alunos justificavam dizendo que o lobo tem cara de mau e o lobo é grande. Segundo Barros (1967), quando a criança escolhe o personagem que mais lhe agrada ela se deixa conhecer intimamente, portanto, foi possível perceber que esse contato concretizou de forma direta a relação do discurso do professor com as percepções do aluno. Ao relembrar toda a história a maioria da turma destacou o relacionamento entre o lobo, os ovos e os pintinhos, a partir disso a discussão foi iniciada tratando da relação presa e predador existente entre eles. Nesse momento, os alunos foram questionados quanto a atitude do lobo frente aos ovos da galinha, sendo possível perceber que eles conseguem previamente entender a relação alimentar entre os animais. Mas, num primeiro momento, os alunos levantam essas atitudes como certas ou erradas, podendo claramente perceber que são ações boas para uns e ruins para outros e não fica definido como certo ou errado. As diferenças de opiniões dos alunos foram fatores que influenciaram diretamente na compreensão e na construção do significado, a comunicação estabelecida possibilitou visualizar diferentes pontos de vista, fazendo-os em alguns casos mudar as ideias. Como no primeiro contato com esse assunto os alunos atribuíram valores morais à relação presa e predador existente entre o lobo e os pintinhos, o professor passou a problematizar as afirmações das crianças. A partir do questionamento do professor algumas crianças passaram a oferecer outras possibilidades de alimentação para o lobo, enquanto outras concordaram dizendo que se o lobo não comer os pintinhos ele vai morrer de fome, portanto, eles conseguem compreender a relação existente como fundamental para a sobrevivência de um predador. O grupo de alunos teve contato com figuras coloridas de animais reais, assim os alunos tiveram a disposição um número maior de animais que pudessem trabalhar que em alguns casos, não era conhecido por eles. Enquanto o professor lhes apresentava os animais eles estabeleciam espontaneamente as possíveis relações alimentares. Neste momento foi possível perceber que com animais não tratados ainda, a quantidade de dúvidas foi se tornando maior, por isso o professor problematizou alguns casos para que as compreensões fossem se ordenando.

Ao final da discussão foram apresentados para os alunos os conceitos de presa e predador. No entanto, pelo que já se havia discutido foi percebido que os alunos conheciam o significado mas não com esses respectivos nomes. Quando finalizada a atividade, o desenho entregue com a cadeia alimentar produzida representou a compreensão dos alunos, pois trouxe a possibilidade de notar que eles conseguem montar uma cadeia alimentar e aplicarem os conceitos de presa e predador. Conclusão A adaptação do livro de literatura infantil configurou uma possibilidade de aumentar o nível de interação entre as crianças e os personagens da história proporcionando maior nível de interesse e identificação, além disso favoreceu a aplicação em sala de aula por ter curto tempo de apresentação e se encaixar no tempo de aula oferecido aos alunos. Apesar disso, é possível perceber que a história, em certos momentos, contribui para a percepção de denotações morais à alguns personagens, podendo ser um fator que influencia as crianças em suas observações, logo, adaptações futuras poderiam ser feitas com o objetivo de descentralizar essas generalizações. Pela aplicação dessa atividade, foi possível observar que a apresentação do teatro de fantoches auxiliou os alunos a tratarem dos temas propostos posteriormente em sala de aula. De forma geral, o teatro de fantoches, o professor e os outros colegas, funcionaram como uma combinação para promover os conceitos pretendidos, a partir da interação e das identificações proporcionadas por ele. Isso foi possível perceber pelas interações dos alunos, estes quando solicitados a estabelecer as relações entre os animais da atividade conseguem organizar as ideias e usar o conhecimento compreendido para fazer outras aplicações equivalentes. Por fim, no que se refere a sua contribuição ao ensino de ciências, podemos ressaltar que quando entre o indivíduo que aprende e o indivíduo que ensina há uma relação levada a um processo de problematização como o gerado na atividade, ampliam-se os espaços que conduzem a construção do conhecimento entre essas pessoas. Nas próximas etapas da pesquisa, pretende-se utilizar outras obras infantis para a produção de enredos, bem como a aplicação de outras atividades que tratem dos temas possíveis, como os já mencionados. Referências Bibliográficas AMARAL, A. M. Teatro de formas animadas: máscaras, bonecos, objetos. São Paulo: Edusp, 1991. BARROS, M. A. F.; BLOIS, M. M. Teatro de fantoches na escola dinâmica. São Paulo: Ao livro técnico S.A., 1967. BIZZO, N. Ciências: fácil ou difícil? São Paulo: Biruta, 2009 GOMES, A. C. L; et al. Atividades Lúdicas: Distração ou promoção do desenvolvimento cognitivo e afetivo? In: Anais do XI Encontro Nacional dos Grupos PET. Documento eletrônico em formato PDF. Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina, 2006. Disponível em: <http://www.enapet.ufsc.br/anais/atividades_ludicas_distracao_ou_promod CAO_DO_DESENVOLVIMENTO_COGNITVO_E_AFETIVO.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2010.

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