A técnica da terceirização do trabalho surge nos Estados Unidos, logo após



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CAPÍTULO III TERCEIRIZAÇÃO: a estratégia fundamental do capital 3.1 Terceirização: onde e como surgiu A técnica da terceirização do trabalho surge nos Estados Unidos, logo após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, com o desenvolvimento acelerado das indústrias que tinham que concentrar a sua produção em armamentos atividades consideradas essenciais e passaram a delegar algumas atividades atividades de suporte à produção armamentista a empresas prestadoras de serviços (este fenômeno ganhou rapidamente destaque no cenário internacional, sendo adotado, em maior ou menor medida, por todas as grandes empresas). 146 No Brasil, a terceirização do trabalho chegou à década de 1950 junto com as grandes indústrias automotivas que com o discurso de qualidade, produtividade e competitividade introduziram o conceito de se dedicar apenas à essência do negócio, neste caso, a montagem de veículos, sendo as demais atividades 147 transferidas a terceiros, inclusive a produção de peças 148 (Alvarez, 1996, p. 85; Cavalcante Junior, 1996, p. 70; DIEESE, 1994, p. 7; Giosa, 1993, p. 12; Leiria, 1992, p. 24; Leiria, Saratt e Souto, 1992, p. 19-20; Oliveira, 1994, p. 33; Pagnoncelli, 1993, p. 20; Queiroz, 1992, p. 34 e 36). Cabe destacar que a técnica da terceirização do trabalho começou a avançar no Brasil com maior intensidade no final dos anos de 1980 e início de 1990 - foi neste período que o programa neoliberal ganhou espaço e força nos governos da América Latina. 149 146 Esta introdução é freqüentemente encontrada na bibliografia que aborda a terceirização do trabalho enquanto tema central, especialmente nos livros da área de Administração. 147 Entre elas: serviços de limpeza, jardinagem, vigilância, refeitório etc.; todas estas atividades são consideradas atividades-meio. 148 As antigas fábricas de automóveis são - na atualidade - apenas compradoras, em sua grande maioria, de produtos (peças) já pré-montados (Fontanella, Tavares e Leiria, 1995, p. 94). 149 No Brasil, especialmente a partir da década de 1990, observou-se o aumento dos índices de desemprego, a estagnação ou depreciação nos salários dos trabalhadores, o aumento do trabalho informal, 91

Sabe-se, no entanto, que as pequenas e médias empresas sempre utilizaram serviços de terceiros (pessoas físicas ou jurídicas) para suprirem as suas carências, ou seja, sempre procuraram evitar o aumento dos custos fixos e, ao mesmo tempo, obter o apoio de serviços especializados. As grandes empresas, ao contrário, tentaram durante um longo período cercar-se de todos os serviços necessários a sua sobrevivência criando com isto inúmeras áreas, divisões, departamentos, entre tantos outros segmentos - com as novas estratégias competitivas, frente à crise estrutural iniciada em meados da década de 1970, a grande empresa (tipicamente fordista) perdeu espaço para a empresa enxuta e flexível. Logo, a técnica da terceirização do trabalho não traz nenhuma novidade quanto a sua essência, isto é, o seu destaque ganha contornos, na atualidade, em função de sua intensidade e dos novos tipos de contratação e utilização do trabalho terceirizado, especialmente nas empresas de grande porte (Fontanella, Tavares e Leiria, 1995, p. 91-2). Cabe ressaltar que uma das formas mais recorrentes, datada desde os primórdios da Revolução Industrial no século XVIII, é o chamado trabalho domiciliar 150. Nas palavras de Druck (1999a, p. 153), é uma forma de trabalho que surge juntamente com o estabelecimento das grandes fábricas, utilizada naquelas atividades em que a indústria mais se desenvolve na época, a produção têxtil. Os trabalhadores realizam o trabalho em suas casas, com máquinas e ferramentas próprias ou alugadas e, em geral, são pagos por produção encomendada e realizada. No Brasil, ainda segundo esta autora (1999a, p. 153-7), este tipo de trabalho nunca deixou de ser utilizado, mesmo com a adoção de modernas tecnologias, embora precário, temporário, terceirizado etc. (Alves, 1998, p. 137-149; Boito Jr., 1999, p. 86-110; Pochmann, 2001 e 2001a). 150 O trabalho domiciliar, junto a outras formas de subcontratação/terceirização, sob nossa análise, e em consonância com outros autores, é parte do processo de descentralização das empresas, resultado da forte pressão por redução de custos e que vem crescendo, muito rapidamente, desde a década de 1970. Ver: Delgado, 1994; Paiva e Sorj, 1994; Thébaud-Mony e Druck, 2007. 92

de forma muito pontual e específica em algumas regiões do país. É o caso das chamadas indústrias tradicionais destacando-se têxtil/confecções e calçados -, dentre os casos mais estudados recentemente. Portanto, o que muda é a generalização deste tipo de trabalho, tornando-se uma prática justificada pelas empresas como inserida no processo de reestruturação e modernização organizacional. Por certo, o que se observou, nas últimas décadas, frente à necessidade de elevação da produtividade do capital, da mundialização dos mercados, das inovações tecnológicas, da exigência de novas práticas produtivas e organizacionais, entre tantos outros reflexos do receituário toyotista de produção em escala global 151 (e que, naturalmente, salvo as suas particularidades, também afetou o Brasil), foi à redução do número de trabalhadores/as (modelo da empresa enxuta e flexível), a intensificação da jornada de trabalho (combinadamente, em muitos casos, com o seu prolongamento), o surgimento dos CCQ`s (Círculos de Controle de Qualidade) atrelado a produção, os sistemas de produção just-in-time e kanban, o aumento das formas de contratação via terceirização da força de trabalho etc. Nesse âmbito, a contratação via terceirização - um neologismo criado para indicar, essencialmente, que se transfere a um terceiro, a um outro, uma atividade que vinha sendo feita pela empresa ou que poderia ser feita por ela ganhou destaque; entre outros: (1) Pela velocidade com que veio se difundindo, em escala global, nos mais variados setores de atividades, tanto na esfera pública quanto na esfera privada; 151 Entre eles: programas de qualidade total e gestão participativa; programas de remuneração variável e distintos contratos de trabalho; rotação das funções que exigem maior polivalência do trabalhador para o exercício de múltiplas tarefas; combinação das atividades de execução com as de controle; constituição de grupos de trabalho com alguma capacidade de decisão sobre os problemas e as soluções no imediato desenvolvimento das operações; redução de níveis hierárquicos; adoção de programas voltados para o envolvimento do trabalhador com os interesses da empresa; diversificação dos produtos; flexibilidade produtiva; focalização das atividades; desmonte de parte da estrutura produtiva etc. 93

(2) Porque deixou de ser realizada apenas nos serviços de apoio/áreas consideradas periféricas (alimentação, limpeza, transporte, vigilância etc.) para atingir a produção/áreas consideradas centrais / nucleares (produção/operação, manutenção etc.) a atividade-fim - das empresas; e (3) Porque trouxe conseqüências políticas importantes, isto é, do enfraquecimento dos laços de solidariedade entre os trabalhadores a fragilidade de suas representações e práticas sindicais. 152 Assim sendo, e frente ao dinamismo desse fenômeno, inúmeras foram às definições que surgiram na literatura brasileira, segundo a visão administrativa e empresarial, a respeito da técnica da terceirização do trabalho; e é sobre esta visão, e definições, que iremos discorrer na parte seguinte. 153 Por fim, e antes de ingressar nas discussões acima referidas, é importante esclarecer que o termo terceirização, uma criação brasileira, foi pela primeira vez publicada pela revista Exame da segunda quinzena de janeiro de 1991. Esta matéria registrava as transformações ocorridas na forma de contratação da Riocell - empresa produtora de papel e celulose no RS que, através de seu diretor Aldo Sani, criou o neologismo. 154 152 Trataremos destes três pontos em destaque no transcorrer deste capítulo. 153 É evidente que existem outras áreas do conhecimento (Direito, Ciências Sociais) que abordam a técnica da terceirização do trabalho em suas análises e pesquisas, entretanto optamos por iniciar a nossa explanação a partir da visão da área de Administração, especialmente porque esta área reproduz o maior número de conceitos referentes a este fenômeno, a partir dos quais, em geral, a área do Direito se apóia para problematizar ou legalizar tal prática. 154 Em 1989, a Riocell tinha 3.600 funcionários, número que caiu para apenas 1.100 em menos de três anos depois. Dos 2.500 postos de trabalho desativados na empresa, neste período, cerca de 800 foram extintos e 1.700 absorvidos por empresas prestadoras de serviços e atividades à Riocell esta transferiu para terceiros o transporte de funcionários, o transporte da madeira, a limpeza, o refeitório, a jardinagem, o corte da madeira, o plantador da árvore, o reflorestador etc. (DIEESE, 1993, p. 14; Leiria, 1992; Oliveira, 1994, p. 33). 94

E que o termo subcontratação, também utilizado no Brasil embora secundariamente, é utilizado mundialmente para expressar tal fenômeno (cabe frisar que ambos os termos são retratados nesta dissertação enquanto sinônimos). Assim, nos Estados Unidos é entendido como outsourcing, na França como sous-traitance, na Itália como subcontrattazione, na Espanha como subcontratación, e em Portugal como subcontratação (Carelli, 2003; Fontanella, Tavares e Leiria, 1995; Leiria, 1992; Leiria, Saratt e Souto, 1992; Oliveira, 1994; Pagnoncelli, 1993). 3.2 A visão empresarial e a terceirização no Brasil O discurso hegemônico no meio empresarial tem como tema central a busca por competitividade/rentabilidade, a necessidade de inserção na nova ordem globalizada da economia, a sobrevivência e a superação das crises econômicas. Deste modo, e para atingir tais objetivos, define-se a urgência em modernização organizacional, através da adoção dos novos padrões de gestão, contratação e organização da produção, do trabalho e dos trabalhadores - influência do receituário toyotista de produção em escala global -, e que inegavelmente ganhou destaque nas últimas décadas. 155 É natural, portanto, observarmos que o empresariado em escala global sustenta esta modernização através do discurso da qualidade, da produtividade e da competitividade, que agora se combina, especialmente frente aos desdobramentos da crise experimentada pelo capital desde a década de 1970, com a eficiente redução da estrutura operacional, a economia de recursos e a diminuição de custos modelo da empresa enxuta e flexível, capaz de absorver com um quadro reduzido de funcionários 155 Ver: item II. 1 desta dissertação. Cabe destacar que embora a nossa exposição neste item tenha como referência o setor automotivo, isso em nada descaracteriza o processo de reestruturação produtiva que também atingiu, salvo as suas particularidades, outros setores da indústria (têxtil, calçados etc.), o setor de serviços etc. 95

as oscilações e inconstâncias do mercado cada vez mais dinamizado, globalizado, mundializado 156. Para tanto, e é o que se tem observado nas últimas décadas, particularmente no Brasil desde o final da década de 1980 e com mais vigor a partir da década de 1990, a eliminação das atividades (ditas não essenciais) que não agregam valor ao seu negócio, as atividades-meio, torna-se fundamental e passa a ser um dos procedimentos mais aceitos e utilizados, a chamada terceirização de atividades e serviços 157. Este fenômeno que aparece como técnica moderna administrativa designa o processo de descentralização das atividades da empresa 158, sendo, estas, a partir de então e através de parcerias estabelecidas, desempenhadas em conjunto com diversas empresas (e/ou pessoas físicas) prestadoras de serviços e atividades e não mais de modo unificado em uma só instituição (Nascimento, 1993, p. 20-5). Este crescente processo de descentralização, por sua vez, no Brasil, assume várias formas, lembrando-se que estas modificações no regime de contratação da força de trabalho enfatizavam o acirramento da competição intercapitalista, e que aqui retratamos em linhas gerais, entre elas: [...] contratos de trabalho domiciliar, contratos de empresas fornecedoras de componentes, contratos de serviços de terceiros (empresas ou indivíduos) e contratos de empresas cuja mão-de-obra realiza a atividade produtiva ou serviço na planta da contratante (Druck, 1999a, p.126). 156 Optamos, nesta apresentação, por não diferenciar e/ou abordar possíveis diferenciações e distintas caracterizações referentes aos termos globalização e mundialização. No entanto, é importante indicar que, aqui, estes retratam o processo de expansão do capital para além das fronteiras nacionais; entre outros, no âmbito financeiro, através da abertura do mercado de créditos aos operadores estrangeiros, da abertura da Bolsa às empresas estrangeiras etc.; e no âmbito produtivo, através da concorrência entre as grandes corporações transnacionais por novos mercados. Ver: capítulo II desta dissertação. 157 Terceirização: ato ou efeito de terceirizar. 1- forma de organização estrutural que permite a uma empresa transferir a outra suas atividades-meio, proporcionando maior disponibilidade de recursos para sua atividade-fim, reduzindo a estrutura operacional, diminuindo os custos, economizando recursos e desburocratizando a administração. 2- contratação de terceiros, por parte de uma empresa, para a realização de atividades ger. não essenciais, visando à racionalização de custos, à economia de recursos e à desburocratização administrativa (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2001, p. 700). 158 Em outras palavras, observa-se a [...] diminuição dos excessos de capital fixo das grandes estruturas produtivas por meio da descentralização produtiva, via redes de subcontratação [...] (Colli, 2000, p. 110). 96

Pode-se dizer, portanto, que frente a esse processo de reestruturação produtiva nas empresas brasileiras, combinadamente com os impactos das políticas neoliberais - com destaque para o movimento de privatizações das empresas e serviços, desregulamentações (ou novas regulamentações cujo objetivo é a precarização das - já frágeis - proteções ao trabalho) dos mercados e flexibilizações nas relações e contratos de trabalho, que ganhava espaço e força nos governos da América Latina, e diante um ambiente macroeconômico desfavorável, marcado pela estabilização monetária (Plano Real), e, em contrapartida, influenciado decisivamente pela abertura comercial e financeira, altas taxas de juros, valorização cambial e elevação da carga tributária, os empresários brasileiros (ratificando o discurso) justificaram a contratação da força de trabalho via terceirização como mecanismo necessário para enfrentar a concorrência interna e externa, manter os seus níveis de rentabilidade/produtividade e, por conseguinte, a sua própria sobrevivência (Belluzzo e Batista Jr., 1994; Pochmann, 2008, 45-50; Fleury e Fleury, 2004, p. 113-5 e 118-120). O resultado natural deste processo evidentemente é a tentativa, por parte dos empresários brasileiros, de sair ilesos diante a crise, utilizando-se de todo o tipo de recurso - inclusive o discurso - para transferir as perdas para os trabalhadores, aqueles que devem, de fato, sustentar os prejuízos decorrentes desta 159. Logo, o que se evidencia nos últimos anos, no Brasil, é o avanço significativo deste novo fenômeno, e embora implementado em um período relativamente recente, os seus efeitos já são muito expressivos e demonstram a sua rápida generalização. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que assumiu o principal posto de geração de novas ocupações no país 160, a técnica da terceirização do trabalho trouxe consigo um interminável número de definições, cuja ênfase e recorte, aqui, serão dados a área de 159 Ver: item 3.5 desta dissertação. 160 Ver: Pochmann, 2008, especialmente cap. 1 e 2. 97

Administração de empresas, em outras palavras, a visão empresarial a respeito deste novo (e, ao mesmo tempo, velho) fenômeno. Segundo Leiria (1992, p. 85), [...] terceirização é a agregação de uma atividade de uma empresa (atividade-fim), na atividade-meio de outra empresa. Nas palavras de Davis (1992, p. 11): terceirização é a passagem de atividades e tarefas a terceiros. A empresa concentra-se em suas atividades-fim, aquela para a qual foi criada e que justifica sua presença no mercado, e passa a terceiros (pessoas físicas ou jurídicas) atividades-meio. Segundo definição de Fontanella, Tavares e Leiria (1995, p. 19): a terceirização é uma tecnologia de administração que consiste na compra de bens e/ou serviços especializados, de forma sistêmica e intensiva, para serem integrados na condição de atividade-meio à atividade-fim da empresa compradora, permitindo a concentração de energia em sua real vocação, com intuito de potencializar ganhos em qualidade e competitividade. Para Queiroz (1992, p. 31), a terceirização é uma técnica administrativa que possibilita o estabelecimento de um processo gerenciado de transferência, a terceiros, das atividades acessórias e de apoio ao escopo das empresas que é a sua atividade-fim, permitindo a estas se concentrarem no seu negócio, ou seja, no objetivo final. Walmir Costa (apud Cavalcante Junior, p. 72) define o processo de terceirização (...) pelo qual a empresa tomadora contrata a empresa prestadora de serviço para executar uma tarefa que não esteja relacionada ao seu objetivo principal. Segundo Oliveira (1994, p. 13), [...] a terceirização é um tipo de ação administrativa que busca reduzir custos e aumentar a eficiência nas operações das empresas, visando à competitividade num mundo em que a concorrência torna-se cada vez mais acirrada. 98

Para Vieira (apud Oliveira, 1994, p. 129), terceirizar é buscar racionalmente os melhores resultados em escala de produção, a maior flexibilidade operacional e uma adequada redução de custos administrativos, juntamente com a concentração e a maximização de oportunidades para enfrentar o mercado. Terceirizar é uma escolha consciente, que leva a empresa a aumentar sua eficiência e a melhorar seus resultados. Segundo Giosa (1993, p. 14), terceirização é a tendência de transferir, para terceiros, atividades que não fazem parte do negócio principal da empresa, ou é uma tendência moderna que consiste na concentração de esforços nas atividades essenciais, delegando a terceiros as complementares, ou é um processo de gestão pelo qual se repassam algumas atividades para terceiros com os quais se estabelece uma relação de parceria ficando a empresa concentrada apenas em tarefas essencialmente ligadas ao negócio em que atua. Em suma: a técnica da terceirização do trabalho é apresentada como sinônimo de eficiência, especialização, produtividade, redução de custos, competitividade, parceria, foco, flexibilidade, agilidade, qualidade, entre outros. Adotá-la, portanto, na lógica empresarial, é adequar-se a esse novo cenário, de novos tempos e novos ritmos. Este, por sua vez, corrobora com os apontamentos apresentados acima, e que, assim sendo, são respaldados neste leque de definições. Nesse sentido, se, por um lado, as definições na área de Administração, majoritariamente, ressaltam o uso da terceirização do trabalho enquanto técnica moderna administrativa, cuja [...] palavra de ordem é parceria em todo fluxo produtivo, nas relações para frente, com o mercado, [e] para trás com os fornecedores e também com os empregados. [No qual] o posicionamento comportamental adotado é o do ganha-ganha, [pensando-se sempre] no longo prazo. [E] [objetivando] 99

essencialmente a plena satisfação do cliente, através da revolução da qualidade (Faria, 1994, p. 43). Por outro lado, e as pesquisas e análises têm demonstrado, majoritariamente, que a terceirização do trabalho possui como foco a busca incessante por redução de custos, isto é, redução de custos com força de trabalho, o seu entrelaçar com a precarização e/ou flexibilização nas relações de trabalho e/ou contratuais, cujos antagonismos com os empregados e com o movimento sindical é sistemático, onde impera a desconfiança generalizada desconfia-se dos empregados, dos fornecedores e do mercado (Faria, 1994, p. 43). E no qual o posicionamento comportamental adotado é o do ganha-perde. Em outras palavras, a chamada terceirização do trabalho [...] tem sido apenas mais um expediente para reduzir custos a qualquer preço, em que especialização e qualidade são retórica vazia, e a degradação do trabalho, do trabalhador, e também do produto se renovam como meios espúrios de competitividade empresarial (Bresciani apud Oliveira, 1994, p. 138). Assim, concretamente, e por hora (abordaremos estes elementos com mais detalhes adiante), a técnica da terceirização do trabalho tem, entre outros, conduzido à redução salarial, à perda de benefícios sociais, à piora das condições de trabalho, à fragmentação da representação sindical, ao ataque às organizações e às conquistas sindicais (DIEESE, 1993, 1994 e 2007). Simultaneamente, pode-se afirmar também que se, por um lado, o discurso inicialmente apresentado pelo meio empresarial, como destacado acima, era o de que tudo aquilo que não fosse atividade essencial/atividade-fim de uma empresa poderia e deveria ser transferido para terceiros (pessoas físicas ou jurídicas), isto é, os 100

responsáveis, a partir de então, pelas atividades de suporte/atividades-meio da empresa contratante 161. Por outro lado, foi justamente apegando-se nesta nebulosa distinção entre a atividade-fim e atividade-meio de uma empresa, que rapidamente as atividades ditas essenciais foram também transferidas às empresas (ou pessoas físicas) prestadoras de serviços, isto é, foram também terceirizadas 162. Este movimento, por sua vez, proporcionou o desdobrar e a expansão deste novo fenômeno, cujos dados são impactantes. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) entre 1995 e 2005, os postos de trabalho terceirizados formais 163 (com carteira de trabalho assinada) foram os que mais cresceram no total da ocupação do país. O seu ritmo de expansão médio anual foi quase quatro vezes maior que as ocupações como um todo 164. Outro dado relevante, apontado em pesquisa realizada pelo Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, da Unicamp) 165, a partir de informações da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) e do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), ambos do Ministério do Trabalho, indica que a força de trabalho terceirizada, entre 1995 e 2005, correspondeu a um terço das vagas criadas nas 161 [...] Tudo o que não é vocação de uma empresa deve ser entregue para especialistas (Leiria, Saratt e Souto, 1992, p. 19). Dito de outra maneira, [...] tudo o que não constitui atividade essencial de um negócio pode ser confiado a terceiros (Leiria, 1992, p. 22). 162 [...] Verifica-se que muitas empresas não respeitam esse limite [isto é, transferir a terceiros as atividades-meio], ou seja, partilham com terceiros até mesmo suas áreas-fim (Alvarez, 1996, p. 14). 163 Pochmann (2008), nesta pesquisa, agrupou cinco categorias ocupacionais para classificar os trabalhadores terceirizados: serviços não especializados prestados às empresas especializadas; atividades prestadas por empresas de asseio e conservação; alocação temporária de mão-de-obra; serviços de segurança e vigilância e ocupados em empresas individuais. 164 Ver, Pochmann, 2008, p. 18, Gráfico 11: Brasil: variação média anual das ocupações terceirizadas com carteira assinada, 1995 2005 (em %). 165 Empregos terceirizados crescem 127% em dez anos. Folha de São Paulo (28/08/2006). Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u110555.shtml; acesso: 12/09/2009. 101

empresas do país, ou seja, dos 6,9 milhões de postos de trabalho abertos pelo setor privado, neste período, 2,3 milhões foram ocupados por terceirizados. O estudo indicou ainda que em 1995 o número de trabalhadores terceirizados formais no país chegava a 1,8 milhão; número que chegou a 4,1 milhões em 2005 o que representa uma expansão de 127%. Cabe ressaltar que destes 4,1 milhões de terceirizados, 1,47 milhão de trabalhadores o que corresponde a 36% - são microempreendedores, isto é, os chamados PJs (Personalidades Jurídicas), que prestam serviços às empresas contratantes - especialmente, voltado às atividades-fim com destaque para as atividades de supervisão, inspeção de qualidade, analistas, técnicos, entre outros. Hoje, o Brasil tem mais de 31 mil empresas de serviços terceirizáveis, sendo que 15,3 mil estão localizadas nos Estados de São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro é o que indica o levantamento realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário (Assertem), a partir do estudo encomendado ao Instituto de Pesquisa Manager (Ipema), no período de abril de 2009 a abril de 2010 166. Em relação à empregabilidade, diz o estudo, o Brasil tem hoje mais de 8 milhões de trabalhadores terceirizados, o que representa quase 9% da população economicamente ativa (PEA); e que se comparado aos dados de 2005, representa uma expansão de 95%. Em relação ao Estado de São Paulo, por exemplo, e de acordo com a pesquisa encomendada pelo Sindeepres (Sindicato dos Empregados em Empresas de Prestação de Serviços a Terceiros, Colocação e Administração de Mão-de-Obra, Trabalho 166 Setor de terceirização e trabalho temporário registra forte recuperação, revela pesquisa. O Globo (15/06/2010). Disponível em: http://oglobo.globo.com/economia/boachance/mat/2010/06/14/setor-deterceirizacao-trabalho-temporario-registra-forte-recuperacao-revela-pesquisa-916878102.asp; Pesquisa setorial 2009/2010 - trabalho temporário e terceirização no Brasil. Disponível em: http://www.administradores.com.br/informe-se/economia-e-financas/pesquisa-setorial-2009-2010- trabalho-temporario-e-terceirizacao-no-brasil/34537/; acesso: 25/06/2010. 102

Temporário, Leitura de Medidores e Entrega de Avisos do Estado de São Paulo) 167, o número de trabalhadores terceirizados aumentou sete vezes em 20 anos, isto é, entre 1985 e 2005, o total de trabalhadores terceirizados no Estado passou de 60,4 mil para 423,9 mil. Só na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, entre 1995 e 2005, o assalariamento direto aumentou 15,2%, enquanto a subcontratação da força de trabalho (terceirização) cresceu 82,8%, é o que diz Alexandre Loloian, coordenador da Fundação Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados SEADE) 168. O estudo indicou ainda que, nestes 20 anos, o crescimento das empresas de terceirização aumentou quase 25 vezes, passando de 257 para 6.308 169. Pode-se dizer, portanto, que é a partir da segunda metade da década de 1990 que a proliferação da terceirização do trabalho avançou significativamente. Localizada prioritariamente nas atividades (consideradas não essenciais) de limpeza, segurança, transporte, alimentação, entre outras (atividades-meio), a técnica da terceirização do trabalho, a partir de então, começou a se destacar por atingir especialmente as atividades centrais (operação, produção, manutenção etc. atividades consideradas essenciais), isto é, as atividades-fim das empresas. Se em 1985, por exemplo, as ocupações pertencentes à terceirização das atividades-meio respondiam por 97,1% do total de trabalhadores subcontratados no Estado de São Paulo, em 2005, este número caiu para 58,1%. Já em relação à terceirização das atividades-fim, os números indicam que em 1985 está correspondia a 167 Número de trabalhadores terceirizados aumentou sete vezes em 20 anos em SP. Folha de São Paulo (16/04/2007). Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u116124.shtml; acesso: 12/09/2009. 168 Empregos terceirizados crescem 127% em dez anos. Folha de São Paulo (28/08/2006). Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u110555.shtml; acesso: 12/09/2009. 169 Em 2005, por exemplo, quase 1/3 das empresas de terceirização de mão-de-obra não tinham empregados [PJs] [...] (Pochmann, 2008, p. 61). 103

2,9%, e em 2005, atingiu 41,9% do total de trabalhadores subcontratados no Estado de São Paulo 170. Em outras palavras, entre 1985 e 2005, constatou-se não somente o avanço da técnica da terceirização do trabalho no país, mas no transcorrer deste período, particularmente a partir da segunda metade da década de 1990, observou-se o avanço significativo da terceirização cada vez mais vinculada ao exercício de atividade-fim das empresas. Frente a esta expansão cujo cerne encontra-se no entrelaçar das atividades-fim das empresas, combinadamente com a velocidade com que vem se difundindo, nos últimos anos, nos mais variados setores de atividades, e sob a luz dos processos de precarização e flexibilização que marcam as novas formas de organização e contratação deste trabalho, na chamada era do capitalismo globalizado/mundializado, observar as principais formas deste novo fenômeno, bem como alguns de seus impactos no cenário brasileiro é o que se pretende realizar a seguir. 3.3 As principais formas de terceirização e os seus desdobramentos no cenário brasileiro Observamos, acima, que dentre as novas estratégias utilizadas no competitivo mercado globalizado, a externalização de atividades, isto é, a descentralização das empresas 171 ganhou destaque, pois esta, segundo o discurso empresarial, assegura o máximo de flexibilidade às grandes empresas, adequando-as às oscilações e incertezas 170 Estes dados foram obtidos a partir de uma pesquisa realizada com 8.717 empresas identificadas com o segmento dos estabelecimentos formais envolvidos com atividades de terceirização no Estado de São Paulo (Pochmann, 2008, cap. 2). 171 Esta externalização assume várias formas, entre as quais podemos destacar: [...] contratos de trabalho domiciliar, contratos de empresas fornecedoras de componentes, contratos de serviços de terceiros (empresas ou indivíduos) e contratos de empresas cuja mão-de-obra realiza a atividade produtiva ou serviço na planta da contratante (Druck, 1999a, p. 126). 104

do mercado, permitindo, deste modo, a focalização nas atividades essenciais do processo produtivo, isto é, a concentração de esforços na atividade-fim 172, e, por conseguinte, transferindo os riscos e as incertezas a terceiros (pessoas físicas ou jurídicas), isto é, aqueles, a partir de então, responsáveis pela realização das atividadesmeio. Ao mesmo tempo, foi justamente apegando-se nesta nebulosa distinção entre atividade-meio e atividade-fim das empresas que a técnica da terceirização do trabalho avançou significativamente especialmente, no Brasil, a partir da segunda metade da década de 1990, proporcionando, deste modo, não somente a expansão deste novo fenômeno, mas a sua expansão combinado com o entrelaçar das atividades-fim das empresas. Nesse sentido, Pochmann (2008, cap. 2), em estudo recente, apresenta a evolução e o perfil dos trabalhadores terceirizados formais, isto é, aqueles que têm contrato e carteira de trabalho assinada. E embora os dados desta pesquisa não abarquem a totalidade dos trabalhadores terceirizados, já que a informalidade não é contemplada nessas estatísticas, a evolução e as principais características deste segmento são fortes indicações do que ocorre no país corroborando com os apontamentos anteriormente apresentados 173 ; dentre os quais podemos destacar, por um lado: 1- A difusão das ocupações no setor terciário das atividades econômicas. Esta difusão, entre outros, pode ser atribuída à expansão da terceirização do trabalho, uma vez que o movimento de terceirização sempre se encontrou 172 [...] Focalizar é concentrar as atividades naquilo que é o segredo do negócio da empresa, no que ela faz bem, no que a diferencia frente à concorrência, frente aos consumidores, frente à população. O que estiver fora do foco, em princípio, pode ser terceirizado (DIEESE, 1993, p. 6). 173 Ver: item 3.2 desta dissertação. 105

fortemente concentrado no setor terciário das atividades econômicas 174. No Brasil, em 2005, os serviços e o comércio representavam 72,4% do total dos postos de trabalho abertos, enquanto em 1985 eram 63,8%. Já o setor primário e secundário juntos teve queda de 36,2% para 27,6% entre 1985 e 2005. Cabe destacar que na medida em que alguns trabalhadores deixam de ser empregados diretos ( efetivos ) de uma indústria, por exemplo, e passam a trabalhar ( terceirizados ) para uma empresa que fornece serviços para esta indústria (sejam estes serviços realizados dentro ou fora da planta da empresa contratante), via subcontratação, estes mesmos trabalhadores deixam de pertencer ao setor secundário e se integram ao setor terciário 175 ; 2- A perda de importância relativa da grande empresa em comparação com a pequena e micro empresa 176. Este movimento se evidencia frente ao forte impulso decorrente da abertura de empresas sem empregados, mais conhecidas como PJs (Personalidades Jurídicas), que passaram a realizar atividades anteriormente desenvolvidas por empregados assalariados formais. Trata-se, portanto, de uma forma de terceirização que tem ganhado importância no cenário brasileiro. Em 2005, por exemplo, quase 1/3 das empresas de terceirização não tinham empregados (PJs), enquanto em 1985, menos de 5% do total das empresas eram constituídas por PJs. Cabe destacar 174 No Estado de São Paulo, por exemplo, a evolução da distribuição dos trabalhadores nas empresas de terceirização por setor de atividade econômica entre 1985 e 2005 são fortes indicadores que ratificam este perfil; em 2005, o setor terciário correspondia a 94,9% do total destes trabalhadores, enquanto em 1985 este segmento representava 94,7%. Já em relação ao setor primário e secundário juntos, indicavam 5,3% caindo para 5,1% entre 1985 e 2005 (ver: Pochmann, 2008, p. 73, Gráfico 23). 175 Esta diferenciação também se evidencia no âmbito político-sindical, uma vez que na economia de serviços (onde majoritariamente encontram-se os trabalhadores terceirizados), os sindicatos são muito diferentes dos sindicatos de indústria (com destaque para os metalúrgicos). No Brasil, segundo Oliveira (1994), não raro aquelas são entidades muito novas, recentes, sem força junto à categoria, com poucos trabalhadores sindicalizados e sem maior expressão junto às centrais sindicais a que se filiam. 176 No Brasil, em 2005, os estabelecimentos com 500 e mais empregados foram responsáveis por 33,7% do total dos postos de trabalho, enquanto em 1985 respondiam por 40,5%. No caso dos estabelecimentos com até 19 empregados, houve um aumento significativo na participação no total das ocupações de 17,5% para 26,5% entre 1985 e 2005 (Gráfico 2: Brasil - Composição do total dos postos de trabalho ocupados em 1985 e 2005 em%; ver: Pochmann, 2008, p. 48). 106

que esta forma de contratação altera significativamente os custos com a força de trabalho. Segundo Pochmann (2008, p. 62), na comparação com o emprego assalariado formal (público ou privado), o peso da cunha fiscal do contrato PJ (empresa) chega a ser 56,5% inferior; e 3- A transformação no perfil educacional dos trabalhadores, isto é, o aumento da presença dos mais escolarizados no interior do conjunto dos trabalhadores ocupados 177. Este aumento, entre outros, pode ser atribuído à expansão (e incorporação) da terceirização do trabalho, sobretudo nos últimos anos, atrelada as atividades-fim das empresas com destaque para as atividades de supervisão, inspeção de qualidade, logística, técnicos, gerentes, entre outros. Estas atividades, na maior parte das vezes, identificam-se com ocupações que exige maior escolaridade. No Estado de São Paulo, por exemplo, a evolução da distribuição dos trabalhadores nas empresas de terceirização por anos de estudos ratificam este perfil; em 2005, 54,7% destes trabalhadores apresentavam 9 e mais anos de estudos, enquanto em 1985 este segmento de escolaridade representava somente 11,1%. Já em relação a até 4 anos de estudos, os índices correspondiam a 72,2% caindo para 11,3% entre 1985 e 2005 178. 179 177 No Brasil, em 2005, 42% dos ocupados apresentavam 9 e mais anos de estudos, enquanto em 1985 este segmento de escolaridade representava 19,8%. Já em relação a até 4 anos de estudos, os índices correspondiam a 59,3% caindo para 33,3% entre 1985 e 2005 (Gráfico 2: Brasil - Composição do total dos postos de trabalho ocupados em 1985 e 2005 em%; ver: Pochmann, 2008, p. 48). 178 No Estado de São Paulo, em 2005, 56,2% dos ocupados apresentavam 9 e mais anos de estudos, enquanto em 1985 este segmento de escolaridade representava 26,1%. Já em relação a até 4 anos de estudos, os índices correspondiam a 50,3% caindo para 21,2% entre 1985 e 2005 (Gráfico 4: Estado de São Paulo Composição do total dos postos de trabalho ocupados em 1985 e 2005 em %; ver: Pochmann, 2008, p. 56). 179 Cabe destacar que esta pesquisa abarcou em sua totalidade a evolução da distribuição dos trabalhadores nas empresas por tipo de terceirização (atividade-meio ou atividade-fim); por tamanho de estabelecimento; por anos de estudos; por gênero; por faixa etária; por cor/raça; por remuneração; por tempo de serviço; e, por setor de atividade econômica (primário secundário ou terciário). Lembrando que destacamos no corpo do texto, alguns destes dados que indicam os desdobramentos da terceirização do trabalho no cenário brasileiro, para mais detalhes, ver: Pochmann, 2008. 107

Simultaneamente, por outro lado, o crescimento da contratação via terceirização do trabalho, neste período, foi acompanhado de uma massificação do desemprego 180 combinado com a generalização (e a criação, especialmente nos últimos anos) de ocupações precárias, dentre as quais a terceirização se enquadra; assim, podemos destacar, entre outros: 1- O salário médio de um trabalhador terceirizado formal é inferior ao salário médio de um trabalhador não terceirizado formal 181. No Brasil, em 2005, a remuneração dos trabalhadores terceirizados formais representou, em média, cerca de 2/3 da remuneração dos empregados formais 182. Esta diferença cresce quando se analisa o emprego feminino, pois as mulheres terceirizadas recebem 60,4% dos rendimentos médios das mulheres com emprego formal, enquanto os homens terceirizados recebem 64,6% dos rendimentos médios dos empregados masculinos formais 183. Nesse sentido, a expansão da contratação via terceirização do trabalho atrelada a baixos salários implica, evidentemente, na expansão dos postos de trabalho de baixa remuneração em relação à composição do total dos postos de trabalho no país. Em 2005, no Brasil, 66,5% dos ocupados recebiam até dois salários mínimos, enquanto em 1985 este segmento representava 57,7%; 180 O Brasil vive, a mais grave crise do emprego de sua história (Pochmann, 2006, p. 59). 181 Um exemplo ilustrativo desta diferenciação salarial encontra-se, entre outras, na pesquisa realizada pelo Cesit em 2005. Para calcular quanto às empresas economizam com a terceirização, o estudo comparou a soma de salários pagos aos terceirizados (com base no salário médio pago a cada terceiro) com a soma de salários que eles receberiam se trabalhassem diretamente para as empresas (com base no salário médio pago ao não terceirizado), nas mesmas funções. O estudo mostrou que a diferença salarial pode chegar quase à metade entre um efetivo e um terceirizado. Um segurança contratado diretamente por uma empresa teve rendimento médio mensal de R$ 1.692, em 2005. Um subcontratado, R$ 789. Na área de limpeza, os salários eram de R$ 670 (efetivo) e de R$ 445 (terceirizado) (Empregos terceirizados crescem 127% em dez anos. Folha de São Paulo (28/08/2006). Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u110555.shtml; acesso: 12/09/2009). 182 No Estado de São Paulo, por exemplo, esta diferença é ainda maior. Em 2005, segundo Pochmann (2008, p.76), o rendimento médio do trabalhador terceirizado formal foi de apenas 50% da remuneração média do conjunto dos empregados formais. 183 Ver: Pochmann, 2008, p. 20, Gráfico 14: Brasil: remuneração média real em dezembro de 1995 e 2005 do total dos empregados formais e dos terceirizados (em R$). 108

2- O indicador de rotatividade dos empregados chega a ser bem mais elevado para o empregado terceirizado formal do que para o empregado não terceirizado formal. Em 2005, no Estado de São Paulo, por exemplo, a taxa de rotatividade do empregado terceirizado correspondeu a 83,5%, enquanto a do trabalhador não terceirizado correspondeu a 49,1% 184. Este movimento de rotatividade se combina com os contratos de curto prazo (inferiores a um ano de serviço na empresa), majoritariamente ocupados por trabalhadores terceirizados. Em 2005, no Estado de São Paulo, por exemplo, 60,2% dos trabalhadores terceirizados possuíam menos de um ano de serviço na empresa, ao contrário dos trabalhadores não terceirizados que correspondiam a 32,1% deste segmento. Já em relação a 10 e mais anos de serviço, os índices indicavam 15,4% para os trabalhadores não terceirizados e somente 1,2% para os trabalhadores terceirizados 185 ; e 3- Os efeitos da terceirização sobre as condições de trabalho, para além dos baixos salários e os altos índices de rotatividade, indicam também: diminuição dos benefícios sociais; perda dos direitos trabalhistas; trabalho menos qualificado; aumento de acidentes; trabalho sem registro (informalidade); perda de representação sindical; jornada mais extensa, entre outros (DIEESE, 1993, 1994 e 2007). Assim sendo, o que se evidencia a partir destes últimos dados é que o processo de precarização trazido pela terceirização do trabalho não se situa apenas no âmbito da informalidade, mas se difunde, também, nas atividades formais. Esta precarização, por 184 Ver: Pochmann, 2008, p. 77, Gráfico 27: Estado de São Paulo salário médio e taxa de rotatividade para trabalhadores terceirizados e não terceirizados em 2005 (em%). 185 Ver: Pochmann, 2008, p. 79, Gráfico 31: Estado de São Paulo tempo de serviço e remuneração dos trabalhadores terceirizados e não terceirizados em 2005 (em%). 109

sua vez, se agrava quando se refere às trabalhadoras, pois, como observado acima, o segmento feminino vale duplamente menos, como terceirizadas e como mulheres. Cabe destacar que, segundo Thébaud-Mony e Druck (2007, P.42), é dentro desta lógica e comportamento, no sentido de se desobrigar dos custos e da responsabilidade de gestão do trabalho, que a terceirização passa a ocupar, cada vez mais, um lugar central na organização do trabalho, reunindo o que há de pior em termos de precarização, seja no que é coberto pela nova legislação, seja no recurso às formas ilegais e à informalidade, contribuindo fortemente para aprofundar a flexibilização do mercado de trabalho no Brasil, no qual a informalização [...] passa a ser a regra não só demonstrada como tendência ou como horizonte, mas comprovada pelas estatísticas oficiais. Essas estatísticas, assim como o seu crescimento no Brasil marcam o período caracterizado pelo receituário neoliberal e as suas principais diretrizes estratégicas, entre as quais podemos destacar as políticas de liberalização, desregulamentação (e/ou nova regulamentação cujo objetivo é a precarização das - já frágeis - proteções ao trabalho) e privatização 186, tendo em vista a expressão da vitória do projeto neoliberal através do resultado eleitoral para a presidência do país (Fernando Collor de Mello: 1990-92) e, em maior ou menor medida, dos governos seguintes (Fernando Henrique Cardoso: 1995-2002 e Luiz Inácio Lula da Silva: 2003-2010) ao ampliar estas políticas que, para serem sustentadas no âmbito das relações de trabalho, implementaram mudanças significativas na legislação trabalhista (e/ou ampliaram as já existentes) 187. Estas alterações, por sua vez, tinham como objetivo [...] garantir maior liberdade às empresas para admitir e demitir os trabalhadores conforme suas necessidades de produção. Ou seja, a ampliação da flexibilização da força de trabalho (Thébaud-Mony e Druck, 2007, p. 41; grifo nosso). Tal dinâmica será efetivada 186 Ver: item II. 2 desta dissertação. 187 Ver: item 3.4 desta dissertação. 110

fundamentalmente através do recurso à terceirização, demonstrado - como observado até o presente momento - por seu expressivo crescimento e ampliação nas últimas décadas, apoiando-se nas formas de trabalho e de contrato já existentes, assim como no surgimento de novos formatos. Nesse âmbito, as principais formas de terceirização, sob nossa análise, hoje, no Brasil, são: 1- As Personalidades Jurídicas (PJs): são empresas individuais, em geral, incentivadas pela ideologia do empreendedorismo, que, de fato, sustenta a liberdade das empresas de se desobrigar dos compromissos de gestão do trabalho, de encargos sociais e direitos trabalhistas, pois forçam os trabalhadores a alterar sua personalidade, registrando uma empresa em seu nome. Tal situação transforma o assalariado em empresário e, portanto, faz com que perca todos os seus direitos trabalhistas, sendo o contrato entre empresas regido pelo direito comercial, numa relação entre iguais. Tratase, como observado anteriormente, de uma forma de terceirização que tem ganhado importância no cenário brasileiro; 2- O trabalho domiciliar, que recorre a trabalhadores/as autônomos, em geral, sem contrato formal, e que são remunerados por produção. Prática mais recorrente nas empresas dos setores mais tradicionais da produção industrial (têxtil/confecções e calçados), e que são constituídos em sua maior parte por mulheres; 3- As empresas fornecedoras de componentes e peças, que possuem as suas próprias instalações, máquinas e força de trabalho, cuja produção, quase exclusivamente, está voltada para as grandes empresas contratantes. Prática 111

mais recorrente no setor automotivo, em geral, constituído por empresas de pequeno e médio porte, mas também por transnacionais; 4- As empresas de prestação de serviços de apoio e periféricos, a exemplo do transporte, limpeza, jardinagem, alimentação, entre outros, e que são realizados no interior das plantas das empresas contratantes. Prática que pode ser encontrada no setor público ou no setor privado, na indústria ou no comércio; 5- As empresas ou trabalhadores autônomos em áreas centrais, a exemplo da produção, manutenção, operação, administração, entre outros, e que são realizados no interior das plantas das empresas contratantes, e, também, fora, nas empresas contratadas. Prática que pode ser encontrada no setor público ou no setor privado, na indústria ou no comércio, cuja expansão ocorreu, especialmente, a partir da segunda metade da década de 1990; 6- As cooperativas de trabalhadores que, em geral, realizam serviços dentro da planta da empresa contratante, mas que também podem realizá-los fora. Prática que pode ser encontrada no setor público ou no setor privado 188 ; 7- A quarteirização, constituída, em geral, por empresas contratadas para gerir os contratos da contratante com as subcontratadas, evidenciando a terceirização em cascata (Druck, 1999a, p. 153-7; Thébaud-Mony e Druck, 2007, p.46-7). Consideramos, ainda, o trabalho temporário, Lei n 6.019 189, de 03/01/1974, como uma forma de terceirização, independentemente do período estabelecido nestes 188 Ver: Gimenez, Krein e Biavaschi, 2003; Lima, 2006 e 2007; Martins, 2005, cap. 10. 189 Presidência da República Federativa do Brasil. Lei n 6.019, de 03/01/1974. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6019.htm; acesso 07/05/2010. 112

contratos, e da especificidade de sua utilização 190. Bem como no caso da empreitada e subempreitada 191, que também, sob nossa análise, caracterizam-se como formas de terceirização. Segundo Martins (2005, cap.7), a empreitada regulada no Código Civil, nos artigos 610 a 626 192 - é o contrato em que uma das partes (empreiteiro; este pode ser pessoa física ou jurídica) obriga-se a realizar trabalho a outra (dono da obra), sem subordinação, com ou sem fornecimento de material, mediante pagamento de remuneração global ou proporcional ao serviço feito. Cabe destacar que a empreitada é um contrato de resultado, pois envolve a construção de um muro, a pintura de uma casa etc. Assim sendo, e ainda segundo este autor, a empresa terceirizante poderá contratar um empreiteiro (neste caso, a terceirizada) para prestar serviços tanto por um prazo determinado, para a construção de uma obra, como apenas para um evento, como para consertar sua instalação elétrica, já que não possui eletricistas como empregados. Fenômeno este que pode ser encontrado no setor público ou no setor privado. Por fim, é importante destacar, conforme já apontado no texto, que apresentamos, em linhas gerais, as principais formas de terceirização que, sob nossa análise, hoje, se apresentam no Brasil. Estas formas, por sua vez, indicam que o leque do que pode ser chamado de terceirização é amplo e diversificado. O que, 190 Esta lei permite às empresas contratarem outras empresas especializadas em trabalho temporário (isto é, fornecedoras de força de trabalho temporária), somente para situações justificadas, tais como a substituição de empregados regulares por motivo de afastamento (licença-maternidade, férias, entre outros) e em casos de necessário aumento de produção ou serviços em determinados períodos atípicos. Esse contrato não poderá exceder três meses, salvo autorização prévia do Ministério do Trabalho e Emprego; neste caso, a prorrogação poderá ocorrer para até seis meses, limitada a uma única vez. 191 As empresas de construção civil [empreiteiros] costumam utilizar-se de outras empresas para fazer serviços na obra, principalmente de partes da obra ou em certos serviços. É o que ocorre quando do chamamento de terceiro para fazer serviços de fundações, hidráulica, colocação de azulejos, de pastilhas, pintura etc. Nesses casos, estaremos diante de subempreitada (Martins, 2005, p. 54). 192 Presidência da República Federativa do Brasil. Código Civil. Lei n 10.406, de 10/01/2002, Cap. VIII Da Empreitada. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm; acesso 07/05/2010. 113