UMA INVESTIGAÇÃO NA AGRICULTURA FAMILIAR UTILIZANDO A MODELAGEM MATEMÁTICA



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Transcrição:

Comunicação Científica UMA INVESTIGAÇÃO NA AGRICULTURA FAMILIAR UTILIZANDO A MODELAGEM MATEMÁTICA Emanuella Filgueira Pereira - UFRB Joana Angelina dos Santos Silva- UFRB Núbia de Andrade Santos - UFRB Silmary Silva dos Santos - UFRB Leandro do Nascimento Diniz - UFRB RESUMO Este trabalho tem como objetivo relatar as experiências obtidas durante o desenvolvimento do Projeto de Modelagem Matemática na pespectiva da Educação. O tema escolhido para a pesquisa foi Agricultura Familiar, com a finalidade de investigar as concepções de lucro dos agricultores da cidade de Amargosa. Para isso, foram selecionados quatro agricultores que comercializavam a farinha de mandioca na feira, sendo que um deles participa do Programa de Aquisição de Alimentos PAA. A investigação consistiu em levantamentos de dados na feira e na prefeitura, entrevistas com agricultores e responsáveis pelo PAA e estudos bibliográficos que nos permitiram relacionar a Etmomatemática com as diferentes concepções de lucro que os agricultores possuem. Palavras-chave: Modelagem Matemática; Agricultura Familiar; Etnomatemática. INTRODUÇÃO Graduandas em Licenciatura em Matemática na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia UFRB. Mestre em Educação Matemática, Profº de componentes curriculares da área de Educação Matemática do Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia UFRB.

2 Relatamos uma experiência que aconteceu no ano de 2009, enquanto desenvolvíamos estudos sobre Modelagem Matemática. Um dos autores era o docente da disciplina Componente Curricular e os demais eram alunos regularmente matriculados. A proposta da disciplina era abordar a Modelagem nas perspectivas da Matemática Aplicada e da Educação Matemática. Abordaremos uma atividade proposta da segunda perspectiva. No início do curso, o docente convidou os licenciandos em Matemática para desenvolverem um Projeto de Modelagem, nomeado por Barbosa (2001) de caso 3. Nele, os alunos são reunidos em grupos e escolhem um tema do cotidiano para desenvolverem pesquisas durante o semestre, em que o professor é co-participante do Projeto de Modelagem. Apresentamos a experiência de um dos grupos, que escolheu o tema Agricultura Familiar. Consideramos o tema pertinente à comunidade onde estamos, na cidade de Amargosa, estado Bahia. É uma região onde a cooperativa de Agricultura Familiar tem um papel muito importante para famílias, pois elas plantam para subsistência ou para venderem suas pequenas produções na Feira e na Prefeitura. Assim, fomos convidados pelo professor da disciplina a investigar, na tentativa de tentar compreender (mais e melhor), sobre o tema escolhido. Durante o semestre, o docente agendou algumas reuniões para orientar os graduandos e tomar contato das pesquisas realizadas por eles. Em data préagendada, os licenciados teriam que organizar uma apresentação oral e entregar a primeira versão do relatório escrito. Após essa apresentação, a platéia (composta por outros graduandos matriculados na disciplina e por docentes do curso de Licenciatura em Matemática convidados) poderia esclarecer suas dúvidas e fazer sugestões para melhorar o Projeto de Modelagem. O docente, que tinha lido o relatório escrito antecipadamente, poderia dar outras contribuições também. Relataremos a vivência num Projeto de Modelagem, focando na coleta de informações, que inclui a visita às feiras da cidade, na prefeitura e a realização de entrevistas. Assim, tentaremos ter um olhar de cima crítico-descritivo para poder refletir sobre o que ocorreu na atividade. A ESCOLHA DO TEMA

3 A escolha do tema Agricultura Familiar surgiu numa aula de Modelagem Matemática a qual o docente solicitou que os graduandos se organizassem em grupos e escolhessem um tema não-matemático para a realização de uma pesquisa. O tema já tinha nos inquietados durante uma reunião realizada pela Secretaria de Agricultura da cidade Amargosa, no primeiro semestre de 2009, durante a apresentação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) para a comunidade, em que um dos representantes da Secretaria relatou a importância do programa para melhoria de vida dos agricultores, uma vez que era a garantia de obtenção de lucro para o Agricultor. Também ocorreu uma conversa com o Secretário de Agricultura do município. Ele expôs que, a partir da convivência com os agricultores, pode observar que estes possuíam uma grande dificuldade em estabelecer uma relação entre lucro e prejuízo. Acrescentou ainda, que além de não compreenderem bem essas palavras, os agricultores não possuem noções de planejamento para plantio dos produtos. Diante de diversos questionamentos, sendo que o principal deles era entender como os agricultores entendiam o lucro e o prejuízo obtido em sua produção, se o PAA poderia, de fato, garantir para os agricultores o lucro na comercialização de produtos, ficamos ansiosos em desenvolver uma pesquisa. Por outro lado, não encontrávamos tempo para aprofundar os estudos nesse tema, devido às sobrecargas de atividades acadêmicas e/ou profissionais. No segundo semestre de 2009, como citado anteriormente, surgiu à oportunidade em realizarmos a nossa investigação. Após a escolha do tema, agendamos uma reunião para levantar e discutir referenciais bibliográficos, com o intuito de verificar se, de fato, era possível realizar uma investigação abrangente sobre o tema e que contribuísse para aquele grupo de agricultores. Nesta reunião, percebemos a importância da temática escolhida, pois durante a pesquisa, constatamos que os agricultores familiares ocupam um lugar de destaque no processo de produção primária e transformação de produtos, que movimenta a economia local, gerando postos de trabalho, promovendo ocupação e inclusão social no meio rural e gerando novas alternativas econômicas e sociais, com respeito à diversidade cultural e ambiental.

4 A COLETA DAS INFORMAÇÕES E O OBJETIVO DO PROJETO DE MODELAGEM Para realização deste estudo foram realizadas, inicialmente, coletas de dados na Secretaria de Agricultura da cidade de Amargosa, com intermédio de um Engenheiro Agrônomo, Secretário de Agricultura do município, um dos responsáveis pela implantação do PAA na cidade. Ele forneceu ao grupo os contatos de alguns membros da Cooperativa da Agricultura Familiar e Economia Solidária do Vale do JEQUIRIÇA (COOAMA). Isso nos permitiu um primeiro contato com agricultores do PAA e a escolha do agricultor a ser entrevistado. A partir de informações coletadas, selecionamos os produtos alface, banana da prata, banana da terra, batata doce e laranja para realizar uma comparação entre os preços de comercialização destes produtos na feira livre da cidade de Amargosa e para a prefeitura. Durante a pesquisa de campo, realizada na feira livre, encontramos uma grande variação de preços e unidade de medida (quilo, dúzia, rede, cacho) de comercialização dos produtos escolhidos. Tal verificação aliada à indisponibilidade e incompatibilidade de horário do agricultor pré-selecionado com os nossos, impossibilitaram a análise aprofundada dos dados. Ao conversarmos com um vendedor de farinha, durante a pesquisa de campo, observamos uma menor variação de preço na comercialização deste produto, bem como diversas concepções de lucro entre os agricultores, o que nos chamou a atenção e nos fez mudar o produto a ser pesquisado. Por estes motivos, decidimos alterar os produtos selecionados anteriormente e analisar a concepção de lucro a partir da venda da farinha. Assim, realizamos entrevistas com quatro agricultores que comercializam a farinha na feira, sendo que dois destes produzem a mercadoria e comercializam e os outros dois compram de terceiros para comercializar. Um deles participa do PAA. Analisamos, durante as entrevistas, algumas concepções de lucro, que apresentamos a seguir. Uma delas atribui o lucro à venda total da mercadoria comprada, sem considerar as despesas. Uma segunda concepção considera também a venda total, mas não se limitando a revender somente na feira livre. Vende, também, para comerciantes

5 locais e de cidades circunvizinhas. Notamos que este agricultor não restringiu seu lucro somente à venda total, mas a revenda do produto para outros comerciantes. A terceira visão de lucro está relacionada ao fato de vender o que produzir. Na última concepção, identificamos a compreensão dos gastos obtidos. Este agricultor participa do PAA e faz um planejamento para a venda e/ou compra da mercadoria. Com estas diferentes concepções de lucro, começamos a aprofundar a coleta de informações teóricas que se aliassem às concepções de lucros dos agricultores. Dentre as diversas revisões teóricas realizadas, percebemos que a Etnomatemática é a Tendência Matemática que mais se adequava para buscarmos entender como abordar as diferentes concepções de lucro dos agricultores. Segundo D Ambrosio: Etnomatemática é a matemática praticada por grupos culturais, tais como comunidades urbanas e rurais, grupos de trabalhadores, classes profissionais, crianças de uma certa faixa etária, sociedades indígenas, e tantos outros grupos que se identificam por objetivos e tradições comuns ao grupo (D AMBROSIO, 2001, p. 9). Outro conceito de etnomatemática foi dado por Huntig (2005 apud. BENÍCIO, 2007, p. 15) como: é a matemática usada por um grupo cultural definido na solução de problemas e atividades do dia a dia. Assim, consideramos que etnomatemática é a matemática presente no nosso cotidiano, a qual é vivida e praticada por um determinado grupo de pessoas, que, no nosso estudo é a matemática que é construída e vivenciada por produtores de farinha para atender suas necessidades. Aprofundamos também as leituras e discussões sobre Agricultura familiar que segundo Schneider (2002, p. 3): [...] ainda há muita divergência entre os estudiosos quanto ao conceito de agricultura familiar, por se tratar de um tema recente, porém, podem-se evidenciar algumas características comuns: famílias que residem no espaço rural e que são proprietários de pequenos lotes, possuem um sistema de produção majoritariamente composta por explorações, e o trabalho da família assume uma importância decisiva; a produção agrícola está condicionada, na maioria das vezes, às necessidades do grupo familiar. Já para Abramovay (2003, p. 20), agricultura familiar é aquela em que a gestão, a propriedade e a maior parte do trabalho vêm de indivíduos, que mantêm entre si laços de sangue ou casamento. Concordando com os dois autores entendemos agricultura familiar como pequenas propriedades rurais que têm como gestores as famílias proprietárias da

6 terra. Ela possui grande importância, pois é fonte geradora de alimentos, emprego e renda. Destacamos um aspecto quantitativo utilizado na pesquisa, que foram os estudos das fórmulas citadas por Fogaça e Ponte (2006, apud. Brantd, et al 1973), com o intuito de compreendermos o lucro entre o produto vendido na feira e na prefeitura. Tendo que a margem total de comercialização (MTC) é a diferença entre o preço pago pelos consumidores ou preço no varejo (PV) e o preço pago aos produtores (PP). A MTC quantifica remuneração de todas as operações realizadas ao longo do canal de comercialização do produto. A fórmula é dada por: E a margem do atacadista (MCA) é a diferença entre o preço pago em nível de atacado (PA) e o preço recebido pelos produtores (PP), representa a remuneração das operações de comercialização do produtor de farinha até ao nível de atacado, a fórmula utilizada para seu cálculo é: Por fim, realizamos um relatório descrevendo nossa pesquisa entregue ao docente e uma apresentação oral expondo a mesma para nossos colegas de sala. AVALIAÇÃO DA EXPERIÊNCIA Portanto a realização desta pesquisa foi de fundamental importância para nos futuros professores de matemática, pois podemos perceber que mesmo sem ter escolaridade os agricultores possuem uma visão de lucro associada as suas vivências cotidianas, vale salientar que estas vivências não são valorizadas na escola. A presente pesquisa nos possibilitou tambem a entender como o PAA tem influenciado os agricultores a saírem da pecuária e monocultura e irem para o sistema de policultivo, isto é, para a agricultura diversificada. Devido à necessidade de cumprir o cronograma de entregas, estabelecido pela Secretaria de Agricultura Municipal, os agricultores recebem estímulos para o plantio de diversos tipos de produtos. Constatou-se, também, que o PAA modificou a rotina de trabalho dos agricultores, pois muitos passaram a trabalhar de maneira coletiva, ou seja,

7 começaram a trabalhar através de cooperativas ou associações, possibilitando a todos os envolvidos neste programa uma estruturação, organização e planejamento tanto no plantio como na oferta dos produtos. De acordo com os relatos dos agricultores, o PAA tem contribuído muito para melhorar a alimentação da família e também a remuneração de cada produtor. Isso vem ocorrendo, pois eles sabem que todo mês terão uma renda fixa. Isto permite que tenham tranqüilidade, uma vez que podem se organizar, possibilitando que não saiam do campo para vir à cidade a procura de trabalho. Quanto ao repasse dos produtos para o PAA, estes agricultores têm consciência que estão repassando os produtos por um preço inferior ao comercializado na feira livre. Mas, quando perguntados se isto era viável muitos disseram que sim, pois ao fornecerem os produtos para o programa eles não precisariam despender muito tempo com a venda dos produtos e, assim eles evitavam os prejuízos, os quais eram constantes com a venda dos mesmos em certas épocas na feira livre. No entanto, ao tentarmos responder a questão da nossa pesquisa foi possível constatar que cada agricultor possui sua concepção de lucro, e esta muda de acordo com sua comunidade, costumes, experiências, dentre outros. Ficando bastante visível que de acordo com a escolaridade do indivíduo a concepção de lucro sofre alterações. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, R. Agricultura familiar: Conceitos. Disponível em: http://gipaf.cnptia.embrapa.br/temas/conceitos/index.html. Acesso em 13/10/2009 BARBOSA, J. C. Modelagem Matemática: concepções e experiências de futuros professores. Tese (Doutorado em Educação Matemática) Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2001. BENÍCIO, L. P. A etnomatemática na agricultura: estudo de casos com agricultores do povoado de Novo Horizonte Moraújo - CE. Monografia (Licenciatura Plena em Matemática), Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral Ceará. 2007. D AMBROSIO, Ubiratan. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. (Coleção Tendências em Educação Matemática). FOGAÇA, Josué Júnior Novaes Ladeia; CARDOSO Carlos Estevão Leite; VIANA, Anselmo Eloy Silveira; PONTE Célia Maria de Araújo. Estudo da margem de

comercialização nos preços de farinha de mandioca no município de Vitória da Conquista Ba. XIII Congresso Brasileiro de Mandioca (Inovações e Desafios).Botucatu-SP. 2009. 8