Pneumonia: Qual antibiótico eu escolho?

Documentos relacionados
O ESTUDO. Pneumonias: monoterapia com β-lactâmico ou terapia combinada a macrolídeo?

Faculdade de Medicina de Botucatu

Aperfeiçoar o diagnóstico e tratamento das pneumonias adquiridas na comunidade em crianças e adolescentes. Espécie ASSISTENCIAL.


CASO 7 PNEUMONIA COMUNITÁRIA

PERFIL DE SENSIBILIDADE APRESENTADO POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE CULTURAS DE SECREÇÃO TRAQUEAL

PAC Pneumonia Adquirida na Comunidade

Infecção em doença estrutural pulmonar: o agente etiológico é sempre Pseudomonas?

Pneumonia Comunitária no Adulto Atualização Terapêutica

Brasil : Um retrato da Pneumonia Comunitária

PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE NA INFÂNCIA (PAC)

PEDIATRIA INFECÇÕES DE VIAS AÉREAS INFERIORES PNEUMONIAS

Infecções Associadas aos Cuidados de Saúde - particularidades na criança

Maria Barros 8 Novembro 2017 PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE E HOSPITALAR

TÓRAX: infecções pulmonares 2. R3 Carolina Reiser Dr. Rubens Gabriel Feijó Andrade

Pneumonia (Pneumonia Humana) (compilado por Luul Y. Beraki)

Boletim Informativo INFLUENZA

PERFIL MICROBIOLÓGICO DOS LAVADOS TRAQUEAIS DE PACIENTES EM VENTILAÇÃO MECÂNICA NA UTI PEDIÁTRICA

Princípios de Antibioticoterapia. Valdes R Bollela

Evolução de Resistências e Carta microbiológica 2018

O Problema da Doença Pneumocócica na América Latina

Síndromes clínicas ou condições que requerem precauções empíricas, associadas às Precauções Padrão.

Infecções Respiratórias Bacterianas

Infecções por Gram Positivos multirresistentes em Pediatria

Avaliação do impacto clínico da infecção do líquido ascítico por bactéricas multiresistentes

Informe Epidemiológico Influenza

Incidência de hospitalização por PAC

Infecções causadas por microrganismos multi-resistentes: medidas de prevenção e controle.

Informe Epidemiológico Influenza

INFECÇÃO HOSPITALAR. InfecçãoHospitalar. Parte 2. Profª PolyAparecida

Informe Epidemiológico Influenza

Informe Epidemiológico Influenza

Informe Epidemiológico Influenza

Seguem os números da gripe no Estado do Mato Grosso do Sul, considerando os três tipos de vírus de maior circulação (Influenza A, H1N1, Influenza A

PNEUMONIAS BACTERIANAS AGUDAS ADQUIRIDAS NA COMUNIDADE

Declaração de Conflitos de Interesse. Nada a declarar.

tratamento antimicrobiano das infecções do trato respiratório inferior e superior marcos tanita uti-hurp

10 ANOS DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DA INFEÇÃO NOSOCOMIAL DA CORRENTE SANGUÍNEA ADRIANA RIBEIRO LUIS MIRANDA MARTA SILVA

PNEUMONIA ASSOCIADA À VENTILAÇÃO MECÂNICA PAV IMPORTÂNCIA, PREVENÇÃO CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E NOTIFICAÇÃO

PNEUMONIA ASSOCIADA A VENTILAÇÃO MECÂNICA

Marcos Carvalho de Vasconcellos Departamento de Pediatria da FM UFMG

Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP Acesso Direto

PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE EM CRIANÇAS: RELATO DE UM CASO

Elevado custo financeiro: R$ 10 bilhões/ano Elevado custo humano: 45 mil óbitos/ano 12 milhões de internações hospitalares Dados aproximados,

Diagnóstico etiológico das pneumonias - uma visão crítica

Informe Epidemiológico Influenza

Controvérsias: FIM da vigilância para MRSA, VRE, ESBL

Projeto Recém-Ingresso

Biossegurança Resistência Bacteriana. Professor: Dr. Eduardo Arruda

Influenza A H1N1: Manejo do paciente Vigilância Epidemiológica Biossegurança

Informe Influenza: julho COVISA - Campinas

NOTA TÉCNICA. Vigilância da Influenza ALERTA PARA A OCORRÊNCIA DA INFLUENZA E ORIENTAÇÃO PARA INTENSIFICAÇÃO DAS AÇÕES DE CONTROLE E PREVENÇÃO

Serviço de Pediatria HU-UFJF. Versão preliminar

Pneumonias. Classificação. Conceito. Prof. João Luiz V Ribeiro. PAC Pneumonias Adquiridas na Comunidade. Pneumonias Nosocomiais

Informe Epidemiológico Influenza

A Microbiologia no controlo das IACS. Valquíria Alves Coimbra 2014

Ddo. Odirlei J. Titon Dda. Monique Marinho

Infecções do Sistema Nervoso Central. FACIMED Disciplina DIP. Prof. Ms. Alex Miranda Rodrigues

Quando Suspender as Precauções?

Afinal, quem tem medo da KPC?

As opções para tratar Grampositivos:

UTILIZAÇÃO DAS DIFERENTES VACINAS PNEUMOCÓCICAS CONJUGADAS

SERVIÇO DE CONTROLE DE INFECÇAO. revisão: 12/2016 Elaborado por: Patricia de Almeida Vanny, Daiane Santos, Ivete I. Data da criação: 23/10/2015

PROTOCOLO DE TRATAMENTO ANTIMICROBIANO EMPÍRICO PARA INFECÇÕES COMUNITÁRIAS, HOSPITALARES E SEPSE

INFLUENZA: PREPARAÇÃO PARA A TEMPORADA 2016

Estudos de eficácia da vacina contra pneumococo. Ana Lucia S S de Andrade Universidade Federal de Goiás

Síndrome de Insuficiência Respiratória Aguda Grave (SARS)

ORIENTAÇÕES SOBRE USO DE OSELTAMIVIR (TAMIFLU ) NO MANEJO DE PESSOAS COM SÍNDROME GRIPAL OU PROFILAXIA DE INFLUENZA

03/07/2012. Pneumonia nosocomial:

COMPARAÇÃO SOBRE A INCIDÊNCIA E A LETALIDADE DE MENINGITE BACTERIANA E VIRAL NA FAIXA ETÁRIA PEDIÁTRICA NO ESTADO DE MATO GROSSO:

PROTOCOLO DE ATENDIMENTO

Informe Epidemiológico Influenza

Influenza (gripe) 05/07/2013

Compartilhe conhecimento: 2ª parte de nossa análise do mais recente guideline da Academia Americana de Pediatria sobre Sinusite Bacteriana.

Pneumonia na Pediatria

A Otite Média na América Latina

SUPERBACTÉRIAS: UM PROBLEMA EMERGENTE

Antibióticos. O impacto causado pelo mau uso no desenvolvimento de resistência bacteriana. Caio Roberto Salvino

Meningite. Introdução. Serão abordados os dois tipos de meningite, bacteriana e viral. Bacteriana: Definição:

Informe Epidemiológico Influenza Semanal

Prefeitura do Município de Bauru Secretaria Municipal de Saúde

PNEUMONIA. Dra.Luisa Siquisse

Febre sem sinais localizatórios

IDENTIFICAÇÃO E SUSCEPTIBILIDADE BACTERIANA DE UMA UNIDADE HOSPITALAR PÚBLICA

Doenças de animais que podem ser transmitidas ao homem. Brucella

Antimicrobianos: Resistência Bacteriana. Prof. Marcio Dias

Vigilância Epidemiológica da Infecção Resultados de Inquéritos de Prevalência num Hospital Pediátrico

11. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1

Análise dos casos de meningites em residentes do município do Rio de Janeiro, 2014.

SALA DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA EM SAÚDE DOS IMIGRANTES

Glicopeptídeos Cinara Silva Feliciano Introdução Mecanismo de ação

23/04/2013. Infecções Respiratórias agudas: Antibioticoterapia combinada é necessária? Mara Figueiredo Comissão de Infecção Respiratória e Micose-SBPT

TERAPÊUTICA ANTIBIÓTICA DA PNEUMONIA NOSOCOMIAL

Histórias de Sucesso no Controle da Infecção Hospitalar. Utilização da informática no controle da pneumonia hospitalar

Prevenção e controlo de infeção e de resistências a antimicrobianos

PERFIL DE SENSIBILIDADE DE AGENTES CAUSADORES DE MASTITE BOVINA NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Transcrição:

Pneumonia: Qual antibiótico eu escolho? Maria de Fatima Bazhuni Pombo Profa Titular de Pediatria da UFF Profa Associada de Pediatria da UFRJ Pneumologista Pediátrica 1

DESAFIO Hospedeiro X Agente etiológico Tratamento empírico na grande maioria das vezes Atitude X Consensos Idade do Paciente Cartão de vacina não atualizado Maior virulência do patógeno Exposição ao surgimento de novos sorotipos de pneumococos e outros microorganismos Estado imunológico comprometido-imunodeficiência. Condições clínicas do paciente Pneumonias que complicam- por quê?

0 28 dias 1 3 meses 3m 5 anos 5 15 anos Bacilos gram - (enterobactérias) Streptococcus do grupo B Staphylococcus aureus Listeria monocytogenes Vírus: citomegalovirus, VSR, herpes simples Chlamydia trachomatis Streptococcus pneumoniae Staphylococcus aureus Virus: VSR, parainfluenza, adenovirus, influenza, rinovirus Streptococcus pneumoniae Haemophilus infleunzae não tipável Staphylococcus aureus Virus: VSR, parainfluenza, adenovirus, influenza, rinovirus Mycoplasma pneumoniae Chlamydophila pneumoniae Streptococcus pneumoniae Mycoplasma pneumoniae Chlamydophila pneumoniae 3

Streptococcus pneumoniae Cada CPS define o sorotipo 1 91 sorotipos foram identificados 1 Prevalência de sorotipo difere por faixa etária e área geográfica 3 No Brasil: Resistência bacteriana- por diminuição da afinidade pelas PBP principalmente os sorotipos: 6B, 14, 23F, 19A, 9V, 19F Bar = 100 nm Sorotipo 19F; Fotografado por Rob Smith (Wyeth) 1. Park IH, et al. J Clin Microbiol. 2007;45:1225-1233. 2. Peter G, Klein JO. Streptococcus pneumoniae. In: Long SS, Pickering LK, Prober CG, eds. Principles and Practice of Pediatric Infectious Diseases. 2nd ed. Philadelphia, PA: Churchill Livingstone; 2003:739-746. 3. CDC. Epidemiology and Prevention of Vaccine-preventable Diseases. 8th ed. 2004:233-245. Slide courtesy of Dr. Carlos Grijalva. 4

J Med Microbiol 2009 Oct; 58 (10): 1390-2 Nascimento-Carvalho CM e Caribe Group 5

MIC (mcg/ml) Suscetível (S) Intermediário (I) Resistente (R) Antigo* 0,06 0,12 1,0 2 Atual 2 4 > 8 *MIC para meningite pneumocócica segue critério antigo Fonte: IDSA News 2008;18(4) 6

Estudo CARIBE. Resistência plena do pneumococo à penicilina em crianças com pneumonia. 1998-2002 59% 14% 27% 7

Estudo CARIBE. Resistência plena do pneumococo à penicilina em crianças com pneumonia. 1998-2002 59% Revisão dos valores de MIC > 8 (2008) 0 % 27% 8

Artigos resultantes do Estudo Caribe 9

10

Metodologia Estudo longitudinal com dados prospectivos coletados de 1996 a 2011 Incluídos 860 pacientes com idades entre 1 mês e 12 anos Estudadas características demográficas, clínicas, etiológicas e o tratamento inicial As variáveis associadas a óbito foram determinadas por análise bivariada e multivariada com regressão logística. 11

RESULTADOS AGENTES ETIOLÓGICOS ISOLADOS TABELA 2: Agentes etiológicos isolados em 860 pacientes internados com pneumonia adquirida na Agente etiológico n % S. pneumoniae 70 50.4 H. infuenzae 4 2.9 S. aureus 16 11.5 K. pneumoniae 3 2.2 M. tuberculosis 9 6.5 P.jiroveci 3 2.2 * MARSA 2 1.4 P. aeruginosa 2 1.4 Acinetobacterspp 1 0.7 ** MAC 1 0.7 E. coli 1 0.7 Enterobacter cloacae 1 0.7 Micrococos 1 0.7 Outros 25 18.0 12

ESTUDO DA LETALIDADE POR PNEUMONIA Tabela 8: Análise multivariada para as variáveis relacionadas ao óbito e ao tratamento com penicilina. Modelo de regressão logística. IPPMG-UFRJ. 1996 a 2000 Óbito OddsRatio IC 95% Penicilina inicial 0.4 1.08 0.1 Desnutrição grave 1.9 0.7-5.02 Comorbidade 1.8 0.3-8.7 Derrame pleural 0.1 0.02-1.2 Idade em meses 0.9 0.9-1.0 Doença grave 3.2 1.2-8.9 13

Conclusões Comparando-se os períodos de 1996-2000 e 2001-2011: redução significativa na taxa de letalidade (TL) no último período. Estes achados podem estar relacionados à melhora na situação socioeconômica da população O uso de penicilina não influenciou a TL. 14

Lembrar da importância do Haemophylus influenza não-tipável nas otites médias agudas e infecções do trato respiratório inferior 15

Resistência bacteriana do S. aureus Evolução temporal 1944 S.aureus resistente à Penicilina 1961 MRSA - S. aureus resistente à Meticilina 1975 1997 MRSA - S.aureus multiresistente GISA - S.aureus intermediário aos Glicopeptídeos 2002 GRSA - S.aureus resistente aos Glicopeptídeos CA MRSA- considerar em casos especiais Tratamento com sulfametoprim 16

17

18

19

20

Conduta nos casos de PAC com suspeita de influenza. Proposta de rotina para o IPPMG-UFRJ Menores de 2 anos com febre de início súbito, sat O2<95% ou fatores de risco para Síndrome Gripal. Além dos medicamentos sintomáticos e da hidratação é indicado o antiviral fosfato de oseltamivir (Tamiflu ). O tratamento com o antiviral, de maneira precoce, pode reduzir a duração dos sintomas e, principalmente, a redução da ocorrência de complicações da infecção pelo vírus influenza. 21

Beta-Lactam versus Beta-Lactam/Macrolide therapy in pediatric outpatient pneumonia Estudo retrospectivo de coorte com crianças de 1 a 18 anos, com CAP, em atendimento externo(2008 a 2010) nos EUA 717 crianças: 570 (79.4%) receberam beta-lactâmico e 147 (20.1%) receberam ambos <6 anos: falha de tratamento em 17 (4.9%) recebendo beta-lactâmico e 6 (8.3%) com ambos >6 anos: falha de tratamento em 29 (12.9%) recebendo beta-lactâmico e 3 (4.0%) com ambos Pediatric Pulmonology 2016;51:541 548

Impact of a Guideline on Management of children hospitalized with CAP Newman RE et al, Pediatrics 2012; 129; e597-604 1033 crianças internadas com PAC em hospital universitário em Paris. 12 meses antes e 12 meses após a aplicação de um guideline para manuseio de PAC na rotina do hospital. 2007 a 2009. 23

Resultados ANTES DO GUIDELINE 530 (51%) pacientes Ceftriaxone (72%) Ampicilina (13%) Falha de tratamento= 1,5% APÓS O GUIDELINE 503 (49%) pacientes Ampicilina (63%)- p< 0,001 Aumentou o uso de amoxicilina (p< 0,001) Diminuiu o uso de cefalosporina e clavulanato (p< 0,001) Falha de tratamento= 1% 24

Pneumonia Nosocomial Classificação CDC 2015 PNM comunitária PNM nosocomial após 48 h de admissão PNM nosocomial associada à ventilação mecânica (PAV) após 48 horas de intubação ou 24 horas após a extubação 25

Pneumonia Nosocomial Microbiologia S. aureus é o principal microrganismo. Kollef MH et al. Chest, 2005;128:3854. 26

Início tardio (> 5 a 7 dias) Fator de risco Etiologia Antibiótico inicial Não grave Não VAP Sem imunossupressão Grave VAP leve, moderada ou grave Neutropenia S. pneumoniae H. influenzae S. aureus MSSA Enterobacter Enterobactérias P. aeruginosa S. aureus MSSA Enterobacter Enterobactérias S. pneumoniae H. influenzae Acinetobacter Am/Clav ou Amp/Sul ou Cefuroxima ou Ceftriaxone Cefalosporina de 4ª ger. ou Piperacilina/tazob. ou Carbapenêmico + Amicacina Claritromicina ou Azitromicina 28

Dúvida- Seria pneumonia? 29

Menina, 4 anos, pneumonia grave complicada, foi drenada e teve alta com pneumotórax HTE. Conduta expectante. Maio de 2016. 30

31

Assintomática no período. Abril de 2017. 32

Pneumonia em lactente, grave, dispneico, com hipoxemia. Relato de piodermite há 1 semana. Conduta? Etiologia provável? 33

Lactente, grave, PAC complicada com derrame e pneumatoceles. 34

Paciente infectado por HIV, 5 anos, tosse, febre, dispnéia há 5 dias. Conduta? Etiologia provável? 35

Após 1 ano 36

37