Juventude, política e educação: alteridade, ética e estética

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Transcrição:

Juventude, política e educação: alteridade, ética e estética Abrimos essa edição falando da diferença. Na busca por horizontes mais e mais amplos de compreensão sobre os processos que potencializam a existência humana, motor da educação, compartilhamos um artigo que nos faz pensar e (so) pesar nossas práticas, que nos incita a buscar caminhos para saltar amarras e muros que nem sempre nos deixam ver a belezura, como diria Paulo Freire, que é ser participante de projetos construídos e vividos por quem faz do conhecimento um vetor da vida. A temática deste Dossiê nos trouxe Carlos Skliar, que de forma profunda e poética, constrói uma análise consistente acerca da educação e de estereótipos socialmente construídos. O autor faz de um filme o material de onde brotam questionamentos sobre o sentido da educação e da incompletude, sobre a transformação da larva feia (a oruga) em uma linda borboleta uma metáfora. Toda a estrada é feita em curvas; nada é simples, tudo é belo. São duas personagens dando corpo às diferenças na vida e na educação. Um velho e uma menina; dois saberes, duas vidas, dois aprendentes dois ensinantes. A amorosidade salta das cenas, amorosidade como sinônimo de cuidado (e a falta como seu inverso); há uma legalidade ética e há uma pergunta necessária: o que se aprende na escola? Nada é simples tudo é poético. Como afirma o autor, as relações marcadas pela alteridade são um conjunto intrincado e permanente de dilemas - um desafio.

Esta visão lastreia a sequencia de artigos do Dossiê Temático. A discussão se desenvolve nas experiências relatadas, em que política, ética e estética são indissociáveis. A simbiose se apresenta nas discussões sobre as políticas públicas para a juventude, em que o protagonismo se tornou síntese de mudança do eixo dos programas e ações governamentais. Do Estado para o sujeito, da responsabilidade social das instituições públicas para o cidadão em si e por si mesmo. Um terceiro trabalho, cuja temática está na ordem do dia, suscita questionamentos: escola com ou sem partido? A resposta nem é simples, nem é linear. Muito menos pode ser construída sem o aporte de uma densa leitura sobre o significado da educação, da cidadania e da democracia. É o que traz o artigo. De Moçambique nos chega uma análise da escola que, mesmo em suas especificidades, muito se aproxima de nossas realidades, tanto em rupturas quanto em continuidades, levando-nos a pensar os processos históricos e as marcas eurocêntricas deixadas pela subalternização das culturas locais de países colonizados, negando a alteridade. Uma outra discussão está presente e envolve gênero e sexualidade no relato de um projeto de formação continuada. Também aí o cinema é start para reflexões sobre a educação e o sujeito que educa. A narrativa deixa vir à tona os sinais de transformação dos docentes quando se deparam com o outro e a diversidade, seja ela qual for. Outras diferentes narrativas dão corpo às experiências vividas, compondo seção Experiências Instituintes. O primeiro artigo apresenta um relato sobre o uso do portfólio como registro e compartilhamento de um projeto exitoso. Ao pensar o cuidar sob a perspectiva dos profissionais da

escola, especialmente o professor, o segundo artigo institui uma proposta de educação humanizadora, integradora, afetiva, criativa e autônoma. A narrativa sugere respostas para um fenômeno extensamente estudado: o mal-estar docente. Bons ventos estes que nos vêm do Sul que, certamente, vão espraiar aspirações de retomada da escola com um lugar para ser feliz. Assim é quando nos deparamos com o relato sobre o impacto do uso de revistas científicas no processo de aprendizagem de alunos da educação básica. O foco muda, mas é a educação para a cidadania que está presente, sempre. E por falar em educação para cidadania, nada mais potente do que encerrar essa seção com um projeto instituinte - Programa de Educação Tutorial (PET) - cujas bases teóricas se alimentam das palavras de Paulo Freire. Um projeto que tem na interdisciplinaridade o movimento que dá materialidade a uma formação ético-política de caráter processual e coletivo na produção de conhecimentos necessários à prática docente. A seção Pulsações e Questões Contemporâneas está composta por um conjunto de trabalhos que fazem jus à sua denominação. Com diferentes matrizes teóricas em diferentes abordagens, os artigos trazem provocações que instalam inquietações, mas também apresentam análises que merecem leitura. O campo, no primeiro artigo, é o cotidiano de trabalho na escola. A conjuntura são os movimentos de greve em uma Instituição Federal de Ensino, no Espírito Santo. O segundo texto se constitui de uma revisão bibliográfica reunindo as principais características de facilitação do ensino mediatizada pela Teoria da Aprendizagem Significativa. O próximo trabalho que compõe a seção é um relato sobre pesquisa realizada com jovens

surdos. São tratadas as tensões entre histórias e políticas da educação desses jovens, fundamentando-se no conceito de Literatura Menor, um dispositivo instituinte de histórias menores. Um convite ao pensamento torna o próximo artigo, sobre o corpo na educação infantil, uma leitura indispensável. O foco é o trabalho docente e o cuidar como uma tarefa indissociável à educação. Transitando pela educação inclusiva, outra reflexão se apresenta: as Altas Habilidades e a tímida presença dos alunos assim identificados no ensino técnico e profissionalizante. Fecham a seção dois artigos que guardam entre si uma similaridade: a indisciplina. O primeiro analisa a dimensão social, ética e política que envolve a memória do vivido na escola multisseriada na década de 1960 e o que é vivido no presente. A narrativa traz uma grande questão: a indisciplina era tratada por meio de castigo físico. Hoje, sem respostas para o que permeia o cotidiano, os professores se valem de suas próprias reminiscências, afirmando: ontem dava certo. Finalizando, o último artigo aborda as transgressões, a violência, a indisciplina e a exclusão do aluno, tecendo proposições com base em dimensões que nos convidam a refletir sobre a violência contra, da e na escola. Flores encerram nossas páginas. Um ornato para Ana Waleska Mendonça, educadora que magistralmente conjugava conhecimento e doçura, competência e respeito ao outro, seriedade no exercício profissional e sorriso no acolhimento e convivência institucional. É para Ana Waleska, grande educadora, reconhecida pesquisadora, a nossa doce homenagem, porque só assim poderia ser.