_O MOVIMENTO Saiba mais sobre as novas propostas de atuação da Finep, na ENTREVISTA com Glauco Arbix entre outros objetivos, ele quer que a agência seja reconhecida como instituição financeira pelo Banco Central. Sempre EM MOVIMENTO, o empreendedorismo inovador está repleto de novidades, no Brasil e no mundo. A economia criativa promete transformar vidas e negócios no Rio de Janeiro, gerando OPORTUNIDADE. Em um artigo, a gerente de cultura do Instituto Gênesis destaca a importância das incubadoras sociais para apoiar empresas criativas. OPINIÃO de quem conhece. 7
João Luiz Ribeiro/Finep A Finep mais abrangente Integrar instrumentos de fomento e ter a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) reconhecida como instituição financeira pelo Banco Central são os principais objetivos do sociólogo Glauco Arbix, que assumiu a presidência da instituição em janeiro deste ano. Arbix recebeu a Locus em Brasília (DF) para falar sobre a proposta de alterações no marco legal da agência, que inclui, além da criação da chamada FinepPAR, mecanismos para potencializar o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Com a experiência de ter presidido o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entidade que tem o planejamento estratégico como foco, Arbix alerta que os programas da Finep devem ser mais bem avaliados, de modo que os resultados dos investimentos sejam aferidos. POR CORA DIAS 8
LOCUS > Qual o papel desempenhado pela Finep no sistema brasileiro de inovação? Glauco Arbix > A Finep é uma agência nacional de inovação, com foco em fomentar toda atividade inovadora que se desenvolve no país, nos mais diferentes domínios: universidade, centros de pesquisa, ONGs, empresas. Apesar da inovação ocorrer em toda parte, nós temos muita clareza de que a empresa é o centro, por excelência, mais apropriado para transformar uma ideia em produto, processo, novo negócio, nova forma de logística. Inovação não diz respeito exclusivamente à tecnologia, mas diz respeito à engenharia, ao novo que é lançado no mercado e que assim o movimenta. Ou seja, que gera postos de trabalho, renda, empregos de melhor qualidade. A Finep tem como tarefa premente que a economia do país seja mais inovadora. Por economia brasileira, entende-se o conjunto de seus agentes, principalmente as empresas grandes, médias, pequenas e micro. Todas elas têm o seu lugar nesse processo. Então, a Finep com os seus instrumentos, tem que contribuir para elevar o padrão de competitividade e produtividade da economia brasileira. A Financiadora não faz somente isso, pois estimula também a produção de conhecimento novo nas universidades e centros de pesquisa. Assim, a Finep desempenha um papel essencial. Encontrar um equilíbrio entre a ciência básica e o desempenho das empresas é fundamental. A economia nacional precisa dar um salto e transformar o Brasil em um país mais inovador em todas as dimensões. De que forma a Finep está atuando e pretende atuar para melhorar essa intersecção entre universidade e empresa, para transferência de conhecimento. Quais são os instrumentos que a Finep dispõe para isso? Estamos buscando aquilo que se chama de integração dos instrumentos. Hoje, a Finep tem três formas de recurso a oferecer: o não reembolsável, que são transferências realizadas para universidades e centros de pesquisa e que não têm retorno; o crédito, a partir do qual a Finep funciona de forma parecida com um banco: empresta dinheiro a juros subsidiados, em condições excepcionais; e a terceira que é a subvenção econômica a empresas, possível a partir da Lei da Inovação, de 2006. Subvencionar uma empresa significa transferir recursos para ela com condicionalidades, de forma a obter o resultado na área de tecnologia que compense não somente o investimento da empresa, mas também traga retorno para o público. Ao analisar o perfil de atuação da Finep, veremos que, apesar de ser a mesma instituição que controla e coordena os três instrumentos, ainda existe muita dificuldade para integrá-los. A gente não parte dos problemas das empresas, dos centros de pesquisa, das incubadoras e dos parques tecnológicos, para realizar os investimentos. Aqui a posição é contrária, uma posição que, de forma vulgar, podemos chamar de ofertista. O governo oferece uma série de instrumentos e as universidades, as empresas e as incubadoras tentam se encaixar nos editais. Com isso, não temos conseguido otimizar o investimento, que perde qualidade, e muitas vezes, se sobrepõe. ENCONTRAR UM EQUILÍBRIO ENTRE A CIÊNCIA BÁSICA E O DESEMPENHO DAS EMPRESAS É FUNDAMENTAL. A ECONOMIA NACIONAL PRECISA DAR UM SALTO E TRANSFORMAR O BRASIL EM UM PAÍS MAIS INOVADOR E como alterar esse modelo? A nossa ideia é tentar fazer o contrário: sentar com as empresas e discutir com elas os problemas que enfrentam para inovar. E não trabalhamos com esse recorte de pequena, média e grande empresa, mas com o recorte das que fazem uso maior e menor de conhe- 9
cimento, ou seja, quanto mais conhecimento mais tem a ver com a atividade da Finep. Nessa conversa com as empresas, devemos oferecer várias soluções: olha, uma parte dos seus problemas pode ser resolvido com crédito, outra parte subvenção, outra parte programas cooperativos com universidades. Assim conseguiremos essa intersecção do centro de pesquisa e da academia com o mundo empresarial, o mundo dos negócios. Esse casamento nem sempre é fácil, ele é difícil, porque são entes institucionais muito diferenciados nos seus objetivos, missões e temporalidade. A FINEP TEM TRADIÇÃO DE PROMOVER PROGRAMAS PARA AS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS E NÃO HÁ INTENÇÃO ALGUMA DE DESCONTINUÁ-LOS Existe uma discussão sobre o marco legal da Finep na Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado. Quais os avanços previstos, nesse sentido? Essa discussão está avançada. As mudanças são no sentido de viabilizar uma FinepPAR, que seria uma agência a exemplo do BndesPAR. Seria uma Finep em condições de participar de forma associativa com empresas privadas de base tecnológica, orientadas para a inovação. Nós dicutimos isso em várias emendas e também como orientar e dar uma base de sustentação mais clara para a Finep a partir do FNDCT [Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico]. São medidas que discutimos com os legisladores, para formação de emendas às leis existentes. Há também uma preocupação em montar o marco regulatório dos parques tecnológicos. O objetivo é transformar a Finep em uma instituição financeira? Na verdade, a Finep precisa ser reconhecida pelo Banco Central como instituição financeira. Ao emprestar dinheiro e receber recursos de volta com juros, operamos como um banco. Mas o debate sobre essa nova instituição ainda está aberto. Ela pode ser um banco um banco especial evidentemente, uma agência nacional de fomento, uma agência de inovação, desde que tenhamos a oportunidade de operar as mais diferentes modalidades de operações financeiras. Nós gostaríamos de continuar operando o crédito, a subvenção e o não reembolsável, instituindo a FinepPAR, para poder investir em fundos de venture capital e de seed capital. A inovação exige essa maleabilidade, que permitiria à Finep uma abrangência de atuação muito maior. Por isso estamos tentando valorizar essa flexibilidade e dotar a Finep de meios e recursos para que ela faça diferença na economia. Quando começamos a discutir esse tema, a ideia central era a seguinte: temos hoje uma Finep que investe R$ 4 bilhões por ano e queremos uma Finep que invista R$ 30 bilhões, R$ 40 bilhões. Então, toda nossa preocupação também com o marco legal é pensar o FNDCT, como otimizá-lo, de forma que possa ser potencializado. Estamos pensando na criação de vários novos fundos, para tornar o FNDCT mais robusto. Na última década a Finep desenvolveu uma série de programas voltados para as micro e pequenas empresas. Como o senhor avalia esses programas e resultados até hoje? Eu acho que a discussão de MPE se coloca em um patamar diferente, mais focada em empresas mais ou menos intensivas em conhecimento. Então, o recorte de pequena, média e grande não é tão importante em um primeiro momento. Evidentemente nós levamos em conta que uma pequena empresa tem necessidades, dinâmica e estrutura bem diferentes de uma grande companhia e, por isso, deve receber uma atenção especial. A Finep tem tradição de promover programas para as pequenas e médias empresas e não há intenção alguma de descontinuá-los. O que temos intenção, sim, é de fazer uma avaliação muito fina de onde 10
estamos acertando e errando. Por exemplo, um dos programas que lançamos foi o Prime [Primeira Empresa Inovadora], que atingiu um número grande de empresas. Nas suas diferentes fases já houve um certo aprimoramento nos critérios e na eficiência, mas, mesmo assim, queremos fazer uma avaliação do impacto desses programas. Não é nossa intenção, para nenhuma modalidade de empresa, dar sustentação para o processo de modernização dessa empresa, ou apenas de gestão. Não quer dizer que eles não sejam importantes para a inovação. São super importantes e são prioritários, mas não é o nosso negócio. Expandir suas atividades, investir em infraestrutura, financiar importações são preocupações importantes das empresas, mas essas atividades não são o foco da Finep. Temos que ter o foco na inovação. As MPEs que nos interessam são as de base tecnológica, com potencial de inovação, que geram conhecimento novo, processo novo e negócio novo, mas não necessariamente melhorias de gestão ou de modernização. Como muitas vezes os programas não são claramente delineados, muita gente entende de forma um pouco distorcida a missão e o foco central da Finep. Então, fazer o balanço dessas atividades, dos programas, é o mínimo que nós podemos exigir de uma instituição séria como a Financiadora. E como fazer essas avaliações? É fundamental avaliar onde os recursos foram aplicados. Temos casos ultra positivos e outros nem tão positivos assim. Os relatórios das incubadoras, parceiras da Finep no Prime, trazem informações-chave e questões que, acredito, devem ser discutidas com a maior tranquilidade e não com base em preconceitos. Se você fala em avaliar o programa, alguém já torce o nariz e diz que, na verdade, você está querendo suspendê-lo. Temos de fazer uma avaliação com todo o rigor possível, ouvindo os agentes, as empresas, os técnicos da Finep, todos aqueles que foram envolvidos nos processos a partir das atividades que definimos. O Prime é só um exemplo. Há várias outras modalidades que contemplam MPEs em nossos editais, mas fundamentalmente sabemos que as pequenas empresas têm problemas para conseguir crédito, pois nem sempre têm uma estrutura para sustentar, no médio prazo, um financiamento. Por excelência, as atividades que ajudam essas empresas mais frágeis a florescerem são ligadas à subvenção econômica, recursos que têm que retornar de alguma forma, como empregos de melhor qualidade e novos produtos no mercado. É dessa forma que a Finep pretende mensurar os resultados dos programas? Claro. Nós investimos R$ 500 milhões em editais de subvenção. Então, temos que ver qual o retorno público desses investimentos. Se não conseguimos aferir, alguma coisa está errada. Geração de emprego, de riqueza e de novos processos são resultados efetivos. Quando a Finep transfere recursos para uma empresa, tem que saber o que ela vai fazer com o dinheiro. Se a empresa investiu em um processo absolutamente interno, os resultados serão percebidos no longo prazo, e podem ser importantes, mas teremos dificuldade de aferir. Há casos de empresas que não têm o produto ou o serviço para mostrar, não têm inovação, não têm impacto na geração de emprego ou transferiram recursos públicos para outra em- Arbix: retorno público dos investimentos deve ser considerado no apoio a empresas João Luiz Ribeiro/Finep 11
presa, especialmente consultorias, fazer aquilo em que elas deveriam inovar. Então, temos que avaliar isso. Se não, como zelar pelo recurso público? No caso do Prime, há uma disposição da Anprotec em nos ajudar nesse processo de avaliação, na identificação de problemas e virtudes, de forma que, nas próximas tentativas, façamos melhor. Agora, o que eu disse para os representantes da Anprotec, repito aos leitores da revista: não haverá programa novo sem que tenhamos clareza da avaliação e do balanço, porque significa, mais uma vez, fazer um voo às cegas e o setor público é mestre em fazer isso. Nós não temos tradição, no Brasil, de fazer avaliações. Há um aprendizado nesse processo, porque o estatuto da subvenção é muito novo no Brasil. Vários países executam a subvenção há muito tempo e o fazem intensamente. No Brasil, a primeira experiência foi em 2006. Estamos tateando, é um trabalho muito exploratório e, por isso, a avaliação é essencial. E fazê-la em conjunto com associações, como a Anprotec, e também com empresas é fundamental, pois não se trata de uma análise do ponto de vista exclusivo do staff da Finep, ou da entidade que deu suporte. Temos que fazer em conjunto, porque há coisas que não enxergamos e outras que os demais não enxergam. O Brasil tem uma cultura de pulverizar os investimentos. Precisamos traçar investimentos direcionados para setores específicos? Por setores ou áreas, traçar prioridades é essencial. Por exemplo, parque tecnológico não é setor, certo? Mas pode ser uma prioridade. Se é prioridade não pode ter um edital de R$ 40 milhões, temos que olhar o orçamento. Energia é prioridade? Energia é pré-sal, é etanol, é heólica, é nuclear. É prioridade? É um problema do mundo. Assim, temos que ter 20%, 30% do orçamento da Finep dedicado à energia. Priorizar não quer dizer tornar exclusivo, vamos sempre atender tudo que diz respeito à inovação. Temos que saber, porém, como orientar a maior parcela do fomento, quais são as áreas que têm ponto de contato com o futuro. O que se espera de uma agência é que potencialize a capacidade de um país. Aqui, temos de formar conhecimento onde não há, e em outras áreas, mais evoluídas, dar um salto para equiparar ao que existe de mais avançado no mundo. Definir prioridades é delinear critérios para alocar recursos. Qual o papel dos parques tecnológicos e das incubadoras nesse processo de inovação? O primeiro passo é haver uma definição muito clara do que são parques e incubadoras. Eu considero esses dois agentes essenciais para qualquer sistema nacional de inovação. São peças-chave, pois oferecem não apenas infraestrutura, mas também a possibilidade de sinergia para as empresas que querem inovar. Essa aglomeração é virtuosa. O fato de estarem juntos atrai novas atitudes, novas maneiras de pensar. As análises e pesquisas mostram isso. Essa concentração gera sinergia. Saber se os parques são focados ou não, se são temáticos ou não, é uma discussão muito circunstancial. Não há receita para isso. Concentrar empresas de áreas diferentes gera integração de modo muito virtuoso. Em outros casos, é preciso ter empresas semelhantes, focadas, como acontece no Vale do Silício, experiência que todo mundo quer imitar. Seja como for, uma coisa é certa: essa concentração de esforços gera incentivos, atitudes diferentes por parte das empresas e das universidades. São experiências que merecem ser apoiadas em todos os sentidos. No Brasil, acho fundamental potencializar esses laços, pois eles podem contribuir para o país dar o salto de tecnologia que é necessário. Isso pode abrir uma esperança, principalmente se normatizarmos os parques, criando um marco regulatório mais específico do que o existente hoje, permitindo colocar à disposição formas de apoio e financiamento mais apropriados do que os atuais. L 12