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Ponto Focal de Barreiras Técnicas às Exportações Portal: http://www.inmetro.gov.br/barreirastecnicas Contato: barreirastecnicas@inmetro.gov.br Modelo de Mensuração de Impactos Econômicos Relacionado com Barreiras Técnicas no Comércio Internacional Alves, Flávia C.L; e Corrêa, Rogerio de O. 1 1 Introdução Desde o fim da Segunda Guerra Mundial e a criação do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT em inglês) a redução de barreiras tarifárias tem sido tema da pauta das negociações entre os países, sea no âmbito bilateral ou multilateral. Esta preocupação continua presente nas negociações comerciais, entretanto, com mecanismos de controle e diminuição das tarifas, surgem novas formas de protecionismo, ou sea, as barreiras não-tarifárias. Dentre os diversos tipos de barreiras não tarifárias que podem ser utilizadas como uma prática desleal de comércio, neste trabalho serão destacadas as barreiras técnicas. Essas barreiras surgem quando regulamentos técnicos e procedimentos de avaliação da conformidade são utilizados de forma mais restritiva que o necessário, quando não se baseiam em normas internacionalmente aceitas, quando não estão fundamentados em um dos obetivos legítimos mencionados no Acordo sobre Barreiras Técnicas da Organização Mundial do Comércio (OMC), ou ainda, propiciam inspeções muito rigorosas ou procedimentos muito dispendiosos. Delimitar o que pode ser considerado uma barreira técnica e ao mesmo tempo quantificar o impacto da mesma no comércio internacional é um grande desafio. Muitos autores vêm trabalhando com obetivo de desenvolver modelos para mensurar os reais 1 Flávia Cristina Lima Alves, Economista (UFF), Mestre em Economia (UERJ) e Assessora Técnica da Divisão de Superação de Barreiras Técnicas do Inmetro. Rogerio de Oliveira Corrêa, Engenheiro Químico (UFRJ), Doutor em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos (UFRJ) e Chefe da Divisão de Superação de Barreiras Técnicas do Inmetro.

impactos ao comércio dos regulamentos técnicos e procedimentos de avaliação da conformidade, após sua implementação 2. Assim, o obetivo deste trabalho é fazer um retrospecto sobre as metodologias aplicáveis para quantificar o efeito das barreiras técnicas ao comércio internacional, mais especificamente sobre equações de gravidade, e propor uma função em que uma empresa, de qualquer setor, poderá medir o custo de adequação de sua produção quando for exportar para um país que impõe algum tipo de exigência técnica. Permitir o empresário conhecer esse valor é de extrema importância para o planeamento da exportação, de modo que tal custo não torne a comercialização do produto economicamente inviável. 2 - Metodologias Aplicáveis para Quantificar o Efeito das Barreiras Técnicas A literatura relacionada com esse tema apresenta alguns modelos analíticos desenvolvidos para interpretar e quantificar os efeitos das barreiras técnicas no comércio. No entanto, ainda não se chegou a uma conclusão quanto à sistemática mais adequada a ser adotada para avaliar os impactos econômicos das mesmas. Um possível motivo é que as bases de dados empíricos adequados ao teste dos modelos teóricos ainda são escassas (Thornsbury; 1998). Os quatro grandes grupos de metodologias utilizadas nos modelos são: Pesquisa (questionários e entrevistas); Análise de Equilíbrio Parcial; Análise de Equilíbrio Geral: Análise Econométrica (Modelo Gravitacional) Na metodologia da Pesquisa, são realizadas entrevistas e aplicados questionários em empresas, entidades de classe, órgãos governamentais e outros especialistas. As pesquisas são 2 Vale destacar que também existe interesse do Governo de que as agências regulamentadoras quantifiquem o impacto desses documentos antes mesmo da sua elaboração. Um exemplo disso é o Guia de Boas Práticas Regulatórias, documento desenvolvido no âmbito do Comitê Brasileiro de Regulamentação do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (CONMETRO) que está baseado nas recomendações do Acordo sobre Barreiras Técnicas e do Comitê de Barreiras Técnicas da OMC, e no Guia de Boas Práticas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Este guia fornece orientações e recomendações para a elaboração, adoção e implementação de regulamentos técnicos e procedimentos de avaliação da conformidade, com o propósito de contribuir para a melhoria e aperfeiçoamento das práticas regulamentadoras brasileiras. 2

úteis na identificação de barreiras não constatadas previamente, bem como no preenchimento de lacunas de informação, e na promoção de reflexões sobre questões atuais relacionadas com acesso a mercados. Entretanto, alguns problemas associados com essa metodologia podem ser destacados, tal como o baixo retorno dos questionários respondidos e o fato de que os mesmos podem conter um viés devido aos interesses dos agentes consultados. A Análise de Equilíbrio Parcial utiliza-se da representação microeconômica de oferta e demanda para verificar o efeito das exigências técnicas no equilíbrio, ou sea, preço, quantidade e bem estar. Três fatores são determinantes para avaliar efeitos de uma exigência técnica, são estes: poder de mercado, custos de adaptação do produto (fixo e variável), escopo e escala. Esse modelo apresenta resultados satisfatórios, entretanto, devido à dificuldade de obter informações relacionadas aos custos, o mesmo não é muito utilizado. A Análise de Equilíbrio Geral, além de mostrar os efeitos, tanto negativos quanto positivos das exigências técnicas, pode capturar interações intrasetoriais de uma economia. Entretanto, de maneira geral não fornece detalhes de indústrias específicas. Esse modelo utiliza uma metodologia complexa e geralmente provê pouca informação adicional sobre o setor afetado diretamente, motivo pelo qual o mesmo não é muito utilizado. O uso de método da Análise Econométrica, exemplificada pelo Modelo Gravitacional, testa a existência ou não de causalidade e correlação entre exigências técnicas e fluxos de comércio, isolando a influência de outros fatores, tais como políticas macroeconômicas, comerciais, dentre outras. Este modelo vem sendo muito utilizado para medir o impacto de uma barreira técnica ao comércio devido sua fácil aplicação e por apresentar resultados satisfatórios. As metodologias utilizadas não são isoladas, ou sea, pode haver interação entre elas. Por exemplo, a pesquisa pode fornecer dados ao teste econométrico; o teste econométrico pode identificar as variáveis mais relevantes a serem utilizadas na análise de equilíbrio parcial; e análise de equilíbrio parcial pode fornecer detalhes imperceptíveis a análise de equilíbrio geral. 2.1 O Modelo Gravitacional e suas Primeiras Aplicações 3

A primeira aplicação de um modelo baseado na força gravitacional, Lei de Newton, foi utilizada nas ciências sociais como forma de explicar os fenômenos migratórios. A equação da gravidade ou força gravitacional de Newton pode ser escrita da seguinte forma: m m F = G (1) d 1 2 2 12 em que F = força gravitacional entre dois obetos; m 1 = massa do primeiro obeto; m 2 = massa do segundo obeto; d = distância entre os centros de massa dos obetos; G = constante universal da gravitação. Segundo essa equação os corpos se atraem com uma força gravitacional em que o mesmo seria diretamente proporcional as suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que os separa. A equação (1) pode ser escrita como uma função de logaritmos a partir da aplicação deste operador nos dois lados de sua igualdade, sendo apresentada na forma da equação (2): LnF = LnG + Lnm (2) 2 1 + Lnm2 Lnd12 Ao longo da década de 60 o modelo gravitacional, que recebe esse nome por sua relação com o modelo Newtoniano, começou a ser usado para analisar e quantificar a dinâmica dos fluxos econômicos internacionais. A principal característica, que incentivou seu uso, foi a facilidade de ser explicado e sua aplicação que era simples e intuitiva (Piermartini e Teh, 2005). Esse modelo, para o comércio internacional, foi desenvolvido inicialmente por Tinbergen (1962) e Poyhonen (1963) sem uma teoria que o sustentasse e com seus resultados ustificados de forma intuitiva. O modelo correlaciona o comércio entre dois países com a força que é diretamente proporcional ao tamanho dos países e inversamente proporcional aos custos de comércio entre eles. Estes custos de comércio dificultam o fluxo de mercadorias e podem ser: transporte, diferenças de idiomas, barreiras tarifárias e não tarifárias, entre outros. 4

A forma mais genérica da equação gravitacional aplicada ao comércio internacional (semelhante com a equação logaritmo da força gravitacional) pode ser expressa como: LnX = 0 + β1lnyi + β 2Ln Yi / N i ) + β3lny + β 4Ln( Y / N ) + β5 β ( LnD + ε (3) em que X = comércio bilateral, quer sea em importações ou exportações nominais ou a soma de ambas, do país i para o país ; Y = PIB nominal dos países i e ; N = população dos países i e ; D = distância entre os países i e ; β 0 até β 5 = são parâmetros cuo sinal esperado é positivo, exceto β 5 ; ε = erro. A proposta inicial dada para o modelo gravitacional (equação (3)) foi sendo modificada de forma a melhorar a capacidade de explicar as trocas comerciais e seu fluxo. Com esse obetivo, vários autores como: McCallum (1995), Helliwell (1998), Nitsch (2000), Anderson e van Wincoop (2003), Silva et al. (2007) e Leusin Jr e Azevedo (2008) fizeram adaptações na equação inicialmente proposta adicionando novas variáveis ou realizando diferentes regressões relacionadas com a equação. Estas adaptações podem ser exemplificadas pelo trabalho de McCallum (1995) que visando comparar o comércio entre províncias no Canadá e as exportações do Canadá para os Estados Unidos propôs uma equação da forma: LnX = β 0 + β1lnyi + β 2LnY + β 3LnD + β 4Dummy + ε (4) em que X = exportações nominais do país i para o país ; Y = PIB nominal dos países i e ; D = distância entre os países i e ; Dummy = assume o valor de 1 no caso de exportações intra-províncias do Canadá e zero para exportações de províncias canadenses para estados norte-americanos; β 0 até β 4 = são parâmetros cuo sinal esperado é positivo, exceto β 3 ; ε = erro. 5

A regressão estimada por McCallum (1995), por meio do Método de Mínimos Quadrados Ordinários, gerou resultados que evidenciaram tendência interna nos fluxos de comércio canadense. Observou-se que o comércio entre duas províncias é 22 vezes superior ao comércio entre províncias canadenses e estados americanos de tamanho e distância similares. Helliwell (1998) aplicou o mesmo modelo de McCallum (1995), visando analisar o comércio de Quebec (província canadense) com outras províncias do país e estados americanos. Por meio do Método de Mínimos Quadrados Ordinários, o autor confirmou o resultado de McCallum (1995), ou sea, que o comércio entre Quebec e as outras províncias é 26 vezes superior que o comércio com os estados americanos de semelhante tamanho e distância. Anderson e van Wincoop (2003) utilizaram o mesmo exemplo da relação comercial entre Canadá e Estados Unidos em uma abordagem por Regressões Aparentemente Não Relacionadas (SUR - Seemingly Unrelated Regressions) e encontraram um resultado inferior daqueles encontrados por McCallum (1995) e Helliwell (1998), entretanto, confirmam a mesma teoria, ou sea, que o comércio entre províncias é 16 vezes maior do que com estados americanos de tamanho e distância parecidos. Nesse estudo os autores propuseram uma equação gravitacional mais elaborada, adicionando variáveis que captam o custo de oportunidade de exportar do estado i para o estado, assim como o custo de oportunidade do estado comprar de i. Nitsch (2000) fez uma análise diferente, ou sea, por meio da abordagem por Regressões Aparentemente Não Relacionadas (SUR), comparou o comércio entre países integrantes de um mesmo bloco, no caso a União Europeia, e o comércio destes países com outras nações não integrantes do bloco. O resultado mostrou que o fluxo comercial entre os países da União Europeia era 10 vezes maior que o fluxo comercial com países que não fazem parte do bloco. Silva et al. (2007) compararam o fluxo de comércio entre os estados brasileiros com o fluxo entre o Brasil e 40 outros países. Vale destacar que o modelo utilizou variáveis como a diferença entre os PIBs percapita dos estados e países, assim como a variável dummy que assume o valor unitário no caso da adacência entre estados brasileiros ou países e zero caso 6

contrário. O resultado mostrou que o fluxo de comércio entre os estados brasileiros é 38 vezes maior do que para fora do país. Leusin Jr e Azevedo (2008) repetiram o trabalho de Silva e al. (2007) utilizando dados de corte seccional e o resultado também foi um fluxo de comércio entre os estados brasileiros 33 vezes superior do que o fluxo Brasil-outros países. Com estes resultados é possível afirmar que as fronteiras nacionais e as exigências que ocorrem nas fronteiras são obstáculos consideráveis para o fluxo de comércio internacional. 3 Apresentação da Função Preço de Produção A partir das revisões bibliográficas foi possível identificar que mais importante do que utilizar metodologias capazes de quantificar o impacto das barreiras técnicas ao comércio, é apresentar uma função, baseada no modelo gravitacional, em que uma empresa possa medir os custos relacionados com estas barreiras antes de iniciar o processo de exportação. Neste caso, o fluxo de comércio deixa de ser uma variável dependente para ser independente, ou sea, deixa de ser o cálculo do seu valor futuro a partir de outras variáveis que afetam as relações comerciais para ser o somatório dos valores das exportações e importações por linhas do sistema de harmonização de classificação de mercadorias Foram consideradas barreiras técnicas qualquer exigência feita por um país importador, entre elas: ensaio, calibração, certificação, embalagem, rotulagem, etc. Além disso, é importante perceber que essas barreiras incidem de forma diferente para cada empresa, logo, possibilitar que uma empresa conheça o custo para exportar é muito importante. Seguindo a forma mais genérica da equação da gravidade, que foi proposta na década de 60, e suas adaptações para realizações dos estudos empíricos, utilizada na década de 90, chega-se a seguinte expressão: LnX = a0 + a1lnpibi + a2lnpib + a3lnd + a4lnt a5bti + a6pp + ε (5) em que 7

X = fluxo de comércio de produtos químicos entre os países i e ; α 0 até α 6 = coeficiente; PIB i = produto interno bruto do país importador; PIB = produto interno bruto do país exportador; D = distância entre o país importador e exportador; T = tarifa do país importador ao exportador; BT i = barreiras técnicas do país importador; PP = preço de produção do país exportador; ε = erro. Dentre as possíveis variáveis que podem fazer parte desse modelo, na equação proposta, foram consideradas as seguintes: PIB; distância entre os países; tarifa; barreira técnica e preço de produção. Foi considerado a variável PIB, pois representa o tamanho da economia de um país. Quanto maior for a economia de um país, maior é a variedade de produtos de sua exportação e maior também será a sua demanda por produtos variados. A distância entre dois países também foi considerada, pois se espera que países adacentes tenham maior interesse em manter comécio, á que os custos com transportes são reduzidos, ao contrário do que ocorre entre países distantes um do outro. A tarifa é uma variável fundamental quando considera-se os fluxos de comércio, pois representa o imposto cobrado sobre bens e produtos importados podendo assumir duas formas: tarifa consolidada ou tarifa ad valorem. Geralmente, nas aplicações empíricas, são utilizadas as tarifas ad valorem, ou sea, tarifas cobradas em bases percentuais sobre o valor da mercadoria. A variável barreiras técnicas representa todas as restrições que um país pode fazer sobre os produtos importados. Sendo assim, foi considerado negativo o coeficiente dessa variável por se entender que as barreiras técnicas têm um impacto negativo ao comércio internacional. Por fim, a variável preço de produção foi considerada, pois representa o somatório de todos os custos envolvidos no processo de produção, sem o ganho esperado do produtor, e que também tem forte relação com o comércio. 8

Com o obetivo de encontrar uma função para quantificar o preço de produção de uma empresa exportadora, torna-se necessário fazer algumas considerações a partir da equação (5). Inicialmente as variáveis BT i e PP são arbitradas como valores não logarítmicos, além disso, assume-se que as BT i representam uma porcentagem do preço de produção, ou sea: BT = X PP (6) i BT em que X BT é a porcentagem do preço de produção do país exportador. Logo obtem-se a equação (7) LnX = a0 + a1lnpibi + a2lnpib + a3lnd + a4lnt a5 X BT PP + a6pp + ε (7) Considerando ε = 0 tem-se que LnX = a + a LnPIB + a LnPIB + a LND + a LnT + PP a a X ) (8) 0 1 i 2 3 4 ( 6 5 BT PP ( a6 a5 X BT ) = LnX a0 a1lnpibi a2lnpib a3lnd a4 LnT (9) Fazendo Tem-se que Y LnX a0 a1lnpibi a2lnpib a3lnd a4 = LnT (10) Y = PP a a X ) (11) ( 6 5 BT PP Y = (12) a a X 6 5 BT Apenas para visualização do efeito da variação do preço de produção conforme a variação da barreira técnica foram arbitrados valores para as variáveis da função, ou sea, foram considerandos valores entre 0 e 90% para a porcentagem de X BT, Y como sendo uma constante de valor 100 e a 6 e a 5 iguais a 1. Assim, é possível verificar diferentes 9

comportamentos do preço de produção em função do percentual de barreiras técnicas (X BT ), como demonstrado na Figura 1. Figura 1: Comportamento da função preço de produção em relação a barreira técnica X BT PP 0 100 0,1 111 0,2 125 0,3 143 0,4 167 0,5 200 0,6 250 0,7 333 0,8 500 0,9 1000 Fonte: Alves (2009) No gráfico X BT vs PP, a curva tem um comportamento crescente, ou sea, um aumento da porcentagem do preço de produção do país exportador, devido a imposição de uma barreira técnica, geraria um acréscimo do preço de produção. É importante ressaltar, que a curva da Figura 1 é um bom exemplo da forma como uma barreira técnica impacta no preço de produção do produto, forma esta em seu sentido espacial, pois os coeficientes a 5 e a 6 mudariam apenas a inclinação da curva. Por outro lado, variáveis como: PIB, distância entre países, tarifas, e o fluxo de comércio para um caso específico podem ser consideradas constantes, não afetando o comportamento da curva. Caso uma empresa utilize os dados de seu caso específico utilizando a equação (12), pode encontrar o impacto da barreira para seu produto. Outra utilização interessante para a função proposta, é que a mesma, ao ser utilizada recorrentemente para um setor (todas as linhas de classificação de produtos da tabela de classificação de mercadorias) e pelas empresas de cada linha, resultará no impacto da exigência para o setor no país. Esse cálculo poderia ser feito, por exemplo, por uma associação de produtores ou mesmo por uma federação de indústrias e ser utilizado durante o processo de prova do efeito deletério da barreira técnica para o setor em uma negociação comercial. 10

4 Conclusões A partir deste trabalho é possível concluir que o tema está longe de se esgotar e que tentar dividir com as empresas que são as principais interessadas em saber e mensurar os efeitos negativos das barreiras técnicas é uma boa tática para se chegar a melhores resultados. Outra conclusão possível, é que para que seam completados os cálculos baseados no Modelo de Gravidade ou qualquer outro, mais e melhores bases de dados sobre comércio exterior são necessárias. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior através do serviço AliceWeb vem tentando divulgar uma grande quantidade de dados sobre comércio exterior, mas ainda não é suficiente. A base Trade Analysis and Information System (TRAINS) da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD - sigla da expressão em inglês United Nations Conference on Trade and Development) também é uma fonte importante de dados, entretanto, não contém informações atualizadas e não disponibiliza dados essenciais para esse tipo de modelo que seria os custos associados com as exigências técnicas. Assim, é fundamental que as empresas participem do processo de divulgação desses custos, assim como, monitorem mais fortemente o processo de negociação comercial relacionado aos assuntos do Comitê de Barreiras Técnicas da OMC, fórum multilateral de discussão sobre questões relacionadas ao Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio. Uma forma de fazer este monitoramento é por meio do serviço Alerta Exportador, disponibilizado pelo Ponto Focal Brasileiro do Acordo sobre Barreiras Técnicas da OMC, representado pela Coordenação-Geral de Articulação Internacional do Inmetro. O Alerta Exportador é um serviço no qual o empresário ou interessado se inscreve definindo produtos e países aos quais desea receber informações, que serão enviadas automaticamente por correio eletrônico conforme o perfil cadastrado, sobre as notificações de novos regulamentos técnicos e procedimentos de avaliação da conformidade encaminhados à OMC. Alertados antecipadamente, é possível solicitar a íntegra da proposta do documento para análise. A partir dessa análise, as empresas podem adaptar seus produtos antes mesmo que as novas exigências passem a vigorar, evitando atrasos em suas entregas ou problemas nos portos de destino. Finalmente, pode se concluir ainda que com a função proposta é possível visualizar os impactos negativos que uma barreira técnica, imposta por um país, causa no processo de 11

produção de uma empresa exportadora. Custo de produção elevado pode inibir a entrada ou tirar uma empresa do cenário internacional. Neste sentido, é possível relacionar e ratificar os trabalhos desenvolvidos por McCallum (1995), Helliwell (1998), Nitsch (2000), Anderson e Wincoop (2003), Silva et al. (2007) e Leusin Jr. e Azevedo (2008) quando estes concluem que o fluxo de comércio entre países são menores que os fluxos internos aos países em decorrência das barreiras encontradas nas fronteiras, incluindo-se entre elas, as barreiras técnicas. 5 Bibliografia ALVES, Flávia Cristina Lima; Quantificação do Impacto do Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos às Exportações Brasileiras. Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado) Universidade do Estado do Rio Janeiro; 2009. ANDERSON, James E.; WINCOOP, Eric van.; "Gravity with Gravitas: A Solution to the Border Puzzle," American Economic Review, AEA, vol. 93(1), pages 170-192; 2003. HELLIWELL, John F.; How Much Do National Borders Matter? Washington DC: Brookings Institution Press, v. 156; 1998. LEUSIN JR., Sérgio; e AZEVEDO, André F. Z.; O efeito fronteira das regiões brasileiras: uma aplicação do modelo gravitacional. Anais do XXXVI Encontro Nacional de Economia; 2008. Disponível em: http://www.anpec.org.br/encontro2008/artigos/200807211358570-.pdf McCALLUM, John.; National Borders Matter: Canada-U.S. Regional Trade Patterns; The American Economic Review, Vol. 85, No. 3, pp. 615-623; 1995. NITSCH, Volker.; "National Borders and International Trade: Evidence from the European Union," Canadian Journal of Economics. 33 (November): 1091-1105; 2000. PIERMARTINI, Roberta; TEH, Robert; Demystifying Modeling Methods for Trade Policy, WTO Discussion Papers, No.10; 2005. Disponivel em: http://www.wto.org/english/res_e/booksp_e/discussion_papers10_e.pdf. POYHONEN, P.,.A Tentative Model for the Volume of Trade Between Countries,. Weltwirtschaftliches Archive 90, 93-100; 1963. 12

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