UM ESTUDO ANALÍTICO DA CONDIÇÃO SOCIAL DO NEGRO NO BRASIL



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Transcrição:

UM ESTUDO ANALÍTICO DA CONDIÇÃO SOCIAL DO NEGRO NO BRASIL Anelita Maluf Caetano Silva Historicamente, a discriminação e exploração do negro no Brasil mostram-se claramente aos olhos de toda a sociedade. Afinal, não se pode continuar a tratá-lo em nossa sociedade como tem sido ao longo da história, marcado pela desigualdade social e pelas atitudes racistas e preconceituosas. Na realidade, o negro no Brasil, como na maior parte do mundo, tem histórico de abusos e explorações sofridas durante mais de meio milênio, o que torna indispensável a criação de políticas sociais de inclusão do negro na sociedade, pois o pensamento anti-racista nunca esteve tão evidente, num momento importante em que a sociedade civil discute mais o tema, como é o caso de cotas para negros, no Brasil, em vigor desde 2001, ela visa a garantir espaço para negros e pardos nas instituições de ensino superior, vem gerando amplas discussões em vários níveis, contra ou a favor. Se existe a desigualdade racial, comprovada não apenas no discurso do movimento negro, mas também pelos institutos de pesquisas, é fundamental que haja ações políticas para debelar a segregação racial. Ao desenvolver Um estudo analítico da condição social do negro no Brasil como objeto de pesquisa, tentaremos verificar a situação do negro na sociedade. Analisando assim até onde ele reproduz o processo de exclusão racial, descobrir e analisar como se sente em relação a sua cor e a forte discriminação a que é submetido, pois se percebe a forma em que o negro foi inserido na sociedade brasileira, bem como continuam atracados na luta pela ascensão social e melhores condições de vida, tanto nas salas de aula quanto no mercado de

trabalho, ignorância e injustiça separam brancos e negros no Brasil. O racismo sempre esteve associado à dominação de um povo sobre o outro. A partir de uma análise histórica da presença do negro na sociedade brasileira, pudemos perceber a ideologia do branqueamento presente em nossa sociedade. Pois premiava a mulher branca com maior número de filhos, o que o leva o negro a sentir-se inferiorizado ao ver sua identidade: cultura, valor humano, força de trabalho, menosprezados, e ainda uma tentativa de sua total destruição. No Brasil, segundo Emília Viotti, desde o começo não houve dúvidas sobre o status do africano: ele havia sido importado para ser escravo. De acordo com Jacob Gorender, os africanos chegaram ao Brasil destribalizados, arrancados do meio social originário e convertidos à força em indivíduos dessocializados. Entretanto, durante séculos a existência da escravidão incutiu na cabeça dos brasileiros livres que aqueles seres humanos de outra cor eram simples instrumentos de trabalho comparável a um animal de carga que, quando envelhecia ou desgastava, deveria ser substituído e quando não trabalhava a contento, deveria ser estimulado com o chicote. Nascendo assim, na sociedade brasileira, a exclusão do negro que entra como cultura dominada e esmagada. Nota-se a intenção da manutenção do negro como classe proletária, novamente escravos, agora no sistema capitalista. Contemporanizando percebemos que todos os preconceitos e discriminações que permeiam a sociedade brasileira são encontrados na escola. O corpo docente, via de regra, não vê as graves diferenças existentes nos resultados escolares de crianças negras e brancas, não estabelece relações entre pertencimentos raciais, étnicos ou gênero e desempenho escolar, e ainda não percebe como isso interfere na sua própria conduta, pois o preconceito surge em atitudes que podem parecer inocentes e casuais, mas que trazem disfarçada, uma forte carga de exclusão, contribuindo para o alto índice de evasão escolar de alunos negros.

Crianças estão sempre tentando se fazer percebidas por todos dentro da escola. Porém, as negras são rejeitadas nas brincadeiras, não conseguem formar pares nas festas e não recebem o mesmo carinho que as brancas da professora, com isso elas ficam mais retraídas, porque sabem que a qualquer momento podem ser ofendidas, com alguém destacando suas características de negritude de forma negativa. A criança prefere ficar à parte para evitar o conflito, os xingamentos (Eliane Cavalheiro) De acordo com Eliane Cavalheiro, precisa-se compreender a particularidade da condição racial do cidadão e assim dar um passo rumo à promoção da igualdade. Portanto, a exclusão escolar é o início da exclusão social das crianças negras. As cotas para negros são apenas uma das soluções para o racismo, no entanto, estão longe de ser uma solução definitiva. É preciso punir as manifestações de racismo, garantir que crimes cometidos por negros não sejam julgados mais severamente nem que eles virem alvo de violência policial. Portanto, posicionar-se, criticamente, sobre o artigo da Constituição Brasileira referente ao preconceito e discriminação racial. A prática de racismo, de acordo com a Constituição Federal, constituiu crime inafiançável e imprescritível. Mas, segundo a lei 7716, de janeiro de 1989, que define crimes resultantes de preconceito de raça ou cor, as penas para quem incitar, praticar ou induzir discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional é de uns três anos de reclusão. O caso é que mesmo sendo o racismo um crime inafiançável na Constituição, o preconceito continua camuflado diante da sociedade brasileira. Segundo Kabengele Munanga, nascido na República Democrática do Congo, antigo Zaire, professor Titular do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP), autor de vários trabalhos na área de antropologia da população negra africana e afro-brasileira, entre outros, mora no Brasil desde 1980, a diferença entre brancos e negros não é apenas socioeconômica. Isso já foi desmistificado pelos institutos de pesquisa. O aspecto econômico traz o racial por trás.

O preconceito existe e é muito forte. Alguns acreditam que a discriminação acontece apenas por razões econômicas, porque o negro, no Brasil, é pobre. Munanga afirma o contrário: o negro continua pobre e marginalizado, justamente por causa do preconceito. As pesquisas comprovam: um cidadão brasileiro branco e um cidadão brasileiro negro com o mesmo nível de formação têm uma diferença salarial em torno de 30%. Já uma mulher negra ganha, em média 46% a menos que o homem branco. O Brasil é o país com a segunda maior população negra do mundo. Contudo, analisando o mercado de trabalho, percebe-se que a quantidade de negros em setores "elitizados" é muito baixa. O que se verifica é que há uma dificuldade de inserção do negro e sua ascensão em áreas do mercado de trabalho de maior status social. Logo, há racismo na sociedade brasileira. E a primeira condição para se lutar contra ele é assumi-lo. Todo brasileiro traz na alma e no corpo a sombra do indígena ou do negro, retrata Gilberto Freyre. O governo federal sancionou, em março de 2003, a Lei nº 10.639/03, que altera a LDB (Lei Diretrizes e Bases) e estabelece as Diretrizes Curriculares para implementação da mesma. A 10.639/03 instituiu a obrigatoriedade do ensino da História da África e dos africanos no currículo escolar do ensino fundamental e médio. Essa decisão resgata historicamente a contribuição dos negros na construção e formação da sociedade brasileira. Você já pensou sobre o que é ser negro no Brasil? Qual a condição social do negro no sudoeste goiano?qual a situação do negro em nossa cidade? Por que a sociedade discrimina o negro? Por que o negro, depois de abolida a escravidão, não conseguiu ascender socialmente? Este projeto de pesquisa pretende demonstrar que dentre as várias causas que impossibilitam o ingresso e ascensão do negro em algumas áreas do mercado de trabalho, uma das principais e menos explícitas é a

existência do racismo na sociedade brasileira e levantar dados que tratem do problema e comprovem os questionamentos acima elencadas. Um estudo analítico da condição social do negro no Brasil, foi justamente a percepção de que apesar do Brasil ser o segundo país do mundo a ter a maior concentração de afros-descendente, perdendo apenas para a Nigéria, a população negra vive em condições precárias. Escondem-se diferenças brutais entre as condições de vida das populações negra e branca, em relação à mortalidade infantil, expectativa de vida, níveis de educação e de renda, taxa de desemprego, sendo que a maioria ainda sofre as conseqüências do passado. Verifica-se que há uma dificuldade de inserção do negro e sua ascensão em áreas de trabalho de maior prestígio social. Reserva-se a ele apenas a ocupação das áreas de menor remuneração e projeção social. Este fato é bastante sério e gera problemas sociais graves, demonstrando a presença de vários fatores que impedem essa inserção: problemas históricos, educacionais, governamentais, e ainda o racismo presente em nossa sociedade. A situação desfavorável do negro na sociedade brasileira é comprovada nas pesquisas realizadas pelo PED Pesquisas de Emprego e Desemprego, IBGE e dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) que prova nos números a exclusão do negro em nossa sociedade, pois tanto nas salas de aula quanto no mercado de trabalho, ignorância e injustiça separa brancos e negra no Brasil. Partindo desta observação decidiu-se pesquisar a questão do racismo no Brasil em suas mais variadas regiões proporcionando a oportunidade de reflexão do papel desempenhado pelo negro em nossa sociedade, bem como informações que comprovem a exploração, dominação e subjugação a que é submetido desde a sua entrada e ao longo de todo o processo de desenvolvimento econômico e social de nosso país, marcado pela discriminação racial, onde se observa o preconceito presente em nosso meio.

A situação do negro reclama uma ruptura e não um compromisso. Ela passará pela revolta, compreendendo que a verdadeira solução dos problemas não consiste em macaquear o branco, mas em lutar para quebrar as barreiras sociais que o impedem de ingressar na categoria dos homens. (MUNANGA, 1988, p.32) O negro, no Brasil como na maior parte do mundo, ao longo de sua história, foi vítima da exploração, dominação, abusos e submetido às formas mais vis de escárnios e subjugações. A partir de uma análise histórica da presença do negro na sociedade brasileira, podemos perceber a ideologia do branqueamento presente na sociedade, o que o leva a sentir-se inferiorizado ao ver sua identidade: cultura, valor humano e força de trabalho menosprezados, e, ainda, uma tentativa de sua total destruição. Nota-se a intenção da manutenção do negro como classe proletária, novamente escravos, agora no sistema capitalista. É importante que a temática História e Cultura Afro-brasileira seja muito bem trabalhada e discutida com os nossos alunos e, principalmente, com os educadores; não só porque existe uma legislação que obriga a trabalhar a cultura afro e as contribuições desse importante e significativo grupo étnico para a nossa sociedade, mas, principalmente, pela necessidade urgente em traçar ações práticas e viáveis para erradicar o preconceito racial; especificamente em nossa cidade, vencendo a vergonhosa discriminação racial que condena essa parcela da população a condições inferiores de vida, salário, educação, moradia, emprego. Quando se analisa de forma mais detalhada a questão do racismo no Brasil, até mesmo a maneira como se observa a questão da cor/raça na ficha, alguns de forma camuflada demonstraram a questão do preconceito racial. Detalhe como perguntas: Esta pesquisa é só para usar o negro para se promover e, também, Tem gente que gosta de usar o negro como desculpa de defendê-lo.

Infelizmente, percebemos através de dados analisados, a existência do racismo em nossa sociedade e verificamos a quantidade de negros nas áreas profissionais como: médicos, dentistas, advogados, enfermeiros e professores. Observamos que a participação em cargos e funções diretivas e administrativas de empresas públicas e privadas, no cenário político e no meio acadêmico, ainda está muito distante da igualdade entre brancos e negros. As pesquisas comprovam o que está estampando em números, ou seja, há dificuldade de inserção do negro e sua ascensão em áreas do mercado de trabalho de maior status social. Reserva-se a ele apenas a ocupação das áreas de menor remuneração e projeção social. Tantos anos se passaram após a abolição dos escravos e ainda hoje vivemos em uma sociedade marcada por inversões de valores, na qual governo, ONGs, associações, voluntários precisam criar leis, mecanismos para demonstrar algo que é bem claro, aos que querem ver, ou seja, papel fundamental do negro na construção da sociedade brasileira, tanto socialmente quanto economicamente. Precisamos reescrever a nossa história sob a ótica da presença e participação da população negra em nossa sociedade. Podem-se observar algumas mudanças na sociedade como, por exemplo, a indicação feita pelo Presidente Lula, do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa Gomes, o primeiro negro ministro, que ao comemorar sua indicação reconheceu a importância e o simbolismo de sua ascensão Vejo como um ato de grande significação que sinaliza para a sociedade o fim de certas barreiras visíveis e invisíveis. Para o povo brasileiro tal medida foi primordial para desmistificar o papel que geralmente ocupa a população negra do nosso país. Mas é preciso começar a conscientização das pessoas, pois não é ocupando um cargo de alto escalão que o negro vai deixar de ser discriminado. Faz se necessário um entrosamento maior entre negros e brancos num todo,

onde negros possam ocupar cargos em todos os setores tanto público quanto privado no Brasil. Sabemos que o preconceito não desaparece com decretos-lei, mas há a esperança de que ele possa ser extirpado por meio de uma educação democrática e igualitária, que não se esconda atrás do mito da suposta democracia racial brasileira. O cidadão consciente de seu papel revolucionário e de seu papel na sociedade será o pilar na transformação de seus concidadãos, fazendo-os seres reflexivos, justos e acima de tudo responsáveis por suas atitudes, pelas ações necessárias na transformação de uma sociedade, onde mestiços, brancos, indígenas e negros possam conviver livres, de fato, de todo o tipo de discriminação e preconceito. Pois, segundo Paulo Freire, é preciso descolonizar as mentes, a fim de que o nosso jeito de ser e a nossa cultura possam ser valorizados. BIBLIOGRAFIA ARNT, Ricardo. A cara de Zumbi. Revista Superinteressante. Editora Abril ano 9 nº 11m Novembro 1995. Páginas 32 a 42. BRASIL, Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgada em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais nº 1 a 6/94. Brasília: Senado Federal, Subscretaria de Edições Técnicas,2001. BENCINI, Roberta. Educação não tem cor.revista Nova Escola.Ano XIX nº 177,Novembro de 2004.Páginas 46 a 53. BORGES,Edson. Racismo, preconceito e intolerância São Paulo: Atual, 2002. CARNEIRO, Sueli. O racismo começa na infância. In: Revista Educação. Ano 25. Nº 206, Junho de 1998. Página 24

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