Influência das épocas de cultivo na produção de alface em consórcio com a cultura da cebola Luan Mateus Silva Donato 1, Wagner Ferreira da Mota 1, Arley Danilo Rocha 1, Dayana Lucia Mota P. Bernadino 1, Marina Borges de Oliveira 1 Leandro da Silva Santos 1 1- Unimontes Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas Departamento de Ciências Agrárias, 39440-000, Janaúba MG; e-mail: luanjaiba@yahoo.com.br, wagner.mota@unimontes.br, arleydanilorocha@yahoo.com.br, dayanalucy@yahoo.com.br, mariunim@yahoo.com.br, lean.agro@yahoo.com.br. RESUMO O presente trabalho teve por objetivo determinar época(s) agronomicamente recomendada(s) para o estabelecimento do consórcio entre alface e cebola no sistema convencional. O experimento foi conduzido na Horta de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES, Campus de Janaúba-MG. Foi utilizado delineamento em blocos casualizados em esquema fatorial 2 (sistema de cultivo consórcio e monocultivo) x 4 (épocas de transplantio da alface 0; 20; 40; e 60 dias após o plantio da cebola) com quatro repetições. As características avaliadas foram: Massa fresca total e média; Massa fresca comercial e média; Número de cabeças; Diâmetro da cabeça das plantas; Número de folhas total, comercial e não comercial; e Produtividade. As variáveis analisadas apresentaram maiores médias no cultivo solteiro. O número de folhas comerciais, número de folhas total, número médio de cabeças por parcela e o número médio de folhas não comerciais em cultivo consorciado apresentaram comportamento quadrático. Já o diâmetro médio da cabeça, massa fresca total, massa fresca total média, massa fresca comercial, massa fresca comercial média e produtividade apresentaram redução linear em função do avanço das diferentes épocas de transplantio. Foi possível concluir que o rendimento agronômico é maior no sistema de cultivo solteiro. No sistema de cultivo consorciado o transplantio da alface na época zero apresenta melhor rendimento agronômico. Palavras-chave: Lactuca sativa, Allium cepa, rendimento agronômico. ABSTRACT Influence of the planting dates on lettuce production in association with the onion crop This study aimed to determine time agronomically recommended the establishment of the consortium between lettuce and onions in the conventional system. The experiment was conducted at Horta Teaching, Research and Extension of State University of Montes Claros UNIMONTES, Campus de Janaúba-MG. Has been used a randomized block design in factorial 2 (cropping system consortium and monoculture) x (times of transplanting lettuce - 0, 20, 40, and 60 days after planting the onion), with four replications. The characteristics evaluated were: Total fresh mass and mean, commercial fresh mass and mean, number of heads, head diameter plants, total number of leaves, commercial and not commercial and Productivity. The variables studied showed the highest mean in monocrop system. The number of commercial leaves, full number of leaves, mean number of headsper experimental unit and number of leaves not commercial in intercropped cultivation presented quadratic behavior. Since the diameter of the head, Total fresh mass and mean, commercial fresh mass and mean and Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2751
Productivity presented linear decreasing according to the advance of the different epochs of transplanting. It was concluded that the performance is higher in the agronomic monocrop system. In the mixed cultivation the transplanting of the lettuce at the time zero has better agronomic performance. Keywords: Lactuca sativa, Allium cepa, agronomic performance. O Brasil possui uma área de aproximadamente 35.000 hectares plantados com alface (Lactuca sativa), caracterizados pela produção intensiva, pelo cultivo em pequenas áreas e por produtores familiares, gerando cerca de cinco empregos diretos por hectare (Costa & Sala, 2005). O brasileiro consome em média 1,2 kg de alface por ano, o que é pouco por instituições públicas. Uma das maneiras de produzi-la é através do uso da prática da consorciação de culturas (Bezerra Neto et al., 2003) O consórcio proporciona um melhor aproveitamento de recursos disponíveis, resultando em elevação da renda familiar (Silva, 1983), podendo representar ganhos em produtividade e nos valores nutricional, econômico e ambiental, bem como contribuir com a diversificação da oferta de alimentos e matérias primas e, consequentemente, reduzir os riscos de insucesso (Oliveira et al., 2004) No sistema de consórcio de alface e rabanete, quando o rabanete foi semeado aos sete dias após o transplante da alface, foi encontrado por Cecílio Filho & May, (2002) a complementaridade temporal anteriormente citada por Willey (1979) como determinante para a eficiência do consórcio. A eficiência e as vantagens de um sistema consorciado fundamentam-se, principalmente, na complementaridade entre as culturas envolvidas, sendo que esta será tanto maior, à medida que se consegue minimizar os efeitos negativos estabelecidos de uma cultura sobre a outra (Ceretta, 1986). Neste contexto, o trabalho teve por objetivo determinar época(s) agronomicamente recomendada(s) para o estabelecimento do consórcio entre alface e cebola (Allium cepa) no sistema convencional. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Horta de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES, Campus de Janaúba-MG, no período de agosto a outubro de 2011. O solo onde foi instalado o experimento é um solo do tipo Neossolo Flúvico. O preparo do solo foi o convencional e adubação de acordo com a Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2752
interpretação da análise de solo (Tabela1), com adubação organo-mineral de plantio: 40 kg/ha de esterco curtido, 280 kg/ha de Super Simples, 26 kg/ha de Cloreto de Potássio e 80 de kg/ha Uréia; e adubação de cobertura aos 40 dias após semeadura: 60 kg/ha de Cloreto de Potássio e 186 kg/ha de Uréia. Para análise das características da alface, a análise de variância seguiu o modelo de blocos casualizados, em esquema fatorial 2 (sistema de cultivo consórcio e monocultivo) x 4 (épocas de transplantio da alface 0; 20; 40; e 60 dias após o plantio da cebola). A alface, cultivar Grand Rapids TBR, foi previamente plantada em bandejas, sendo transplantada para os canteiros quando estas apresentaram 3 folhas definitivas. A cultivar de cebola utilizada foi a Texas Early Grano 502 PRR, plantada diretamente nos canteiros experimentais. Para a alface e a cebola, as populações recomendadas no cultivo foram de 250.000 plantas/ha (espaçamento de 0,20 m x 0,20 m) e 1.000.000 plantas/ha (0,20 m x 0,05 m), respectivamente. Cada parcela no sistema consorciado foi constituída por quatro fileiras de alface e cinco fileiras de cebola, sendo a alface transplantada entre as fileiras de cebola. No monocultivo as parcelas de cebola e alface foram constituídas por cinco e quatro fileiras, respectivamente, seguindo os espaçamentos pré-estabelecidos. As parcelas apresentaram largura de 1,00 m e comprimento de 2,00 m, com área total de 2,00 m 2. Para a avaliação da alface foram consideradas as duas fileiras centrais. Desprezando-se ainda a primeira e a última planta em cada linha, assim a área útil foi de 0,64 m 2 para a alface. Desta forma, cada bloco constituiu-se em um canteiro com 1,00 m de largura por 18 m de comprimento, desconsiderando os espaços entre parcelas. A eliminação de plantas daninhas foi realizada através de capinas manual. Sendo utilizada irrigação por microaspersão. Os demais tratos fitossanitários foram realizados de acordo com as recomendações para as culturas da cebola e alface, em manejo convencional. A colheita da cebola foi realizada quando as plantas apresentaram sinais avançados de maturação, como amarelecimento, seca das folhas e 80% das plantas apresentando o estalo, ou seja, tombamento da parte aérea da planta sobre o solo. A cura foi realizada em viveiro por 12 dias. A colheita da alface foi realizada quando as plantas apresentaram-se completamente desenvolvidas, aproximadamente 48 dias da semeadura e 25 dias após transplantio. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2753
Foram avaliadas as seguintes variáveis agronômicas para a cultura da alface: a) Massa fresca total (massa de todas as plantas da área útil, expressa em gramas) e média; b) Massa fresca comercial (massa fresca das folhas de todas as plantas da área útil, expressa em gramas) e média; c) Número de cabeças (total de parte aérea de todas as plantas da área útil); d) Diâmetro da cabeça das plantas (média de todas as plantas da área da útil, medindo-se a distância entre as margens opostas da cabeça, por ocasião da colheita, expressa em cm); e) Número de folhas (média de todas as folhas das plantas da área útil), total, comercial e não comercial; e f) Produtividade (matéria fresca da parte aérea de todas as plantas da área útil, em t/ha). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e de regressão pelo programa estatístico SAEG. Os modelos dos fatores quantitativos foram escolhidos com base na significância dos coeficientes de regressão utilizando-se o teste de t de Student ao nível de 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Verificou-se que as variáveis Matéria Fresca total (MFT), Matéria Fresca total Média (MFTM), Matéria Fresca Comercial (MFC), Matéria Fresca Comercial Média (MFCM), Número Médio de Cabeças (NDCAB), Produtividade (PDT), Número de Folhas Total (NFT), Número de Folhas Comercial (NFC), Número de Folhas Não-comerciais (NFNC), e Diâmetro Médio de Cabeça (DMCAB) apresentaram maiores médias no cultivo solteiro (Tabela 2). Negreiros et al. (2005), trabalhando com diferentes cultivares de alface crespa repolhuda, em monocultivo e consórcio com cenoura, observou maior número de folhas por planta no sistema de cultivo solteiro, o que deve ter ocorrido, provavelmente, em função de menor competição intraespecífica entre plantas de alface no sistema solteiro. O NFC e NFT em cultivo consorciado apresentaram comportamento quadrático, já o DMCAB apresentou comportamento linear, reduzindo com o avançar das épocas de transplantio da alface na cebola (Figuras 1A e 1B). No monocultivo, os valores de número de folhas comerciais e número de folhas total não diferiram quanto as diferentes épocas de transplantio da alface. Já o diâmetro médio da cabeça apresentou comportamento quadrático, com valores máximos e mínimos de 24,33 cm e 17,21 cm, para as épocas de zero e 60 dias, respectivamente (Figura 1B). Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2754
Leite et al. (2011), trabalhando com consórcio de alface com cebola, para uma única época de cultivo (48 dias após semeadura da alface), não observaram diferença significativa para o diâmetro de plantas, entre o monocultivo e consórcio para a alface. A MFT, MFTM, MFC e MFCM apresentaram redução linear em função das diferentes épocas de transplantio (Figuras 2A e 2B). Com esses resultados, pode-se constatar que tais variáveis têm melhor desempenho na 1ª época, em detrimento das épocas seguintes, isso demonstra que nas épocas posteriores, houve competição por água, nutrientes e luminosidade com a cebola, tanto no consórcio quanto em monocultivo. O NDCAB e o NFNC apresentaram comportamento quadrático em função das diferentes épocas de transplantio, com valores máximos na 1ª época (Figura 3A). Já a produtividade de massa fresca da parte aérea (PDT), apresentou redução linear em função das diferentes épocas de transplantio (Figura 3B). O rendimento agronômico foi maior no sistema de cultivo solteiro, apresentando maiores médias nas variáveis avaliadas em relação ao cultivo consorciado. O transplantio da alface em conjunto ao plantio da cebola (época zero) apresenta menor efeito de competição da cebola sobre a cultura da alface em consórcio, com maior rendimento agronômico. AGRADECIMENTOS A UNIMONTES pelo apoio e a FAPEMIG pela concessão, ao segundo autor, de Bolsa de Incentivo a Pesquisa ao Desenvolvimento Tecnológico do Estado de Minas Gerais, e aos primeiro e quarto autores de Bolsa de Iniciação Científica. REFERENCIAS BEZERRA NETO F; ANDRADE FV; NEGREIROS MZ; SANTOS JÚNIOR JS. 2003. Desempenho agroeconômico do consórcio cenoura x alface lisa em dois sistemas de cultivo. Horticultura Brasileira, 23: 635-641. CECÍLIO FILHO AB; MAY A. 2002. Produtividade das culturas de alface e rabanete em função da época de estabelecimento do consórcio. Horticultura Brasileira. 20: 501-504. CERETTA CA. 1986. Sistema de cultivo de mandioca em fileiras simples e duplas em beterraba em função da época de estabelecimento do consórcio com rúcula monocultivo e consorciadas com girassol. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 122p. (Dissertação Mestrado em Fitotecnia). Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2755
COSTA CP da; SALA FC. 2005. A evolução da alfacicultura brasileira. Horticultura Brasileira, 23: 1(artigo capa). LEITE HMF; MOTA LHSO; TAVELLA LB; ALMEIDA FA; DIAS JRM; BRAVIN MP. 2011. Cultivo consorciado de olerícolas em sistema agroecológico. Revista Ciências Agrárias, 54: 12-19. NEGREIROS MZ; SALDANHA TRFC; BEZERRA NETO F; GUIMARÃES RAS. 2005. Cultivares de alface crespa em sistemas solteiro e consorciado com cenoura. Caatinga, 18: 176-184. OLIVEIRA EQ; BEZERRA NETO F; NEGREIROS MZ; BARROS JUNIOR AP. 2004. Desempenho agroeconômico do bicultivo de alface em sistema solteiro e consorciado com cenoura. Horticultura Brasileira, 22: 712-717. SILVA NF. 1983. Consórcio de hortaliças. In: HEREDIA MCV; CASALI VWD. (eds.). Seminários de Olericultura. Viçosa: UFV. p.1-19. WILLEY RW. 1979. Intercropping: its importance and research needs. Part 1. Competition and yield advantages. Field Crop Abstracts, 32: 1-10. Tabela 1. Características do solo para implantação do experimento. (Characteristics of soil for establishment of the experiment.) UNIMONTES, Janaúba, MG, 2011. Composição Química ph MO P K Na Ca Mg Al H+ Al B Cu Fe Mn Zn Dag/Kg..mg/dm 3.....cmol c /dm 3...... mg/dm 3... 6,4 1,2 55,9 128 0,1 4,3 1,0 0,0 1,3 0,3 1,8 49,1 30,6 6,7 Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2756
Tabela 2. Matéria fresca total (MFT), total média (MFTM), comercial (MFC), comercial por planta (MFCM), diâmetro médio da cabeça (DMCAB), número de cabeças por parcela (NDCAB), número de folhas total (NFT), de folhas comercial (NDFC), de folhas não comercial (NDNC) de alface, variedade Grand Rapids TBR, em função de 2 tratamentos (consórcio-1 e monocultivo-2) e 4 épocas de transplantio (zero, 20, 40 e 60 dias após plantio da cebola). UNIMONTES, Janaúba, MG, 2011. TRATAMENTOS VARIÁVEIS Consórcio* Monocultivo* MFT g 798,39 b 1729,60 a MFTM g 54,48 b 119,62 a MFC g 723,41 b 1365,70 a MFCM g 49,72 b 94,70 a DMCAB cm 14,19 b 20,77 a NDCAB 12,94 a 14,04 a NFT 138,92 b 236,77 a NDFC 116,28 b 207,27 a NFNC 22,54 b 29,50 a Médias seguidas pelas mesmas letras, nas linhas, não diferem estatisticamente, entre si, pelo Teste F, a 5% de probabilidade. * Médias de 4 repetições por época (0, 20, 40 e 60) para cada variável em cada tratamento. A Figura 1A e 1B Número de folhas Total (NFT) e Comerciais (NFC) de alface no consórcio e, Diâmetro médio da cabeça de alface (DMBC) no consórcio e monocultivo, em função de diferentes épocas de transplantio após plantio direto da cebola. (Total number of leaves (NFT) and Commercial (NFC) of lettuce in the consortium and, Mean diameter of head lettuce (DMBC) in the consortium and monoculture, in function of different times transplanting after planting of onion.) UNIMONTES, Janaúba-MG, 2012. B Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2757
A B Figura 2A e 2B Produção de massa fresca total (MFT) e média (MFTM) e, Produção de massa fresca comercial (MFC) e média (MFCM) de alface no consórcio, em função de diferentes épocas de transplantio após plantio da cebola. (Production of total fresh mass (MFT) and medial (MFTM), and Production of commercial fresh mass (MFC) and medial (MFCM) of lettuce in the consortium, in function of different times transplanting after planting of onion.) UNIMONTES, Janaúba-MG, 2012. A B Figura 3A e 3B Número de cabeças de alface (NDCAB) e número médio de folhas não comerciais (NFNC) e, Produtividade (PDT) de alface em função de diferentes épocas de transplantio após plantio da cebola. (Number of heads of lettuce (NDCAB) and number of leaves not commercial (NFNC) and Productivity (PDT) of lettuce in function of different times transplanting after planting of onion.) UNIMONTES, Janaúba-MG, 2012. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2758