UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR BRUNA MOURA ESTEBON A ADOÇÃO DO MAIOR DE IDADE E A PATERNIDADE SOCIOAFETIVA

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Transcrição:

UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR BRUNA MOURA ESTEBON A ADOÇÃO DO MAIOR DE IDADE E A PATERNIDADE SOCIOAFETIVA Umuarama- Paraná 2016

BRUNA MOURA ESTEBON A ADOÇÃO DO MAIOR DE IDADE E A PATERNIDADE SOCIOAFETIVA Artigo apresentado ao curso de Direito, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientadora: Dra. Tereza Rodrigues Vieira Umuarama-Paraná 2016

UNIVERSIDADE PARANAENSE Curso de Direito Umuarama Unidade - Sede FICHA DE AVALIAÇÃO DO TRABALHO DE CURSO Critérios: Considerando que a supressão da apresentação oral do Trabalho de Curso (TC) não significa critérios aleatórios para atribuição da nota pelo Professor Orientador, relacionase as questões de avaliação de acordo com o Art. 18 do Regulamento Geral das Atividades de Elaboração do Trabalho de Curso do Curso de Graduação em Direito, as quais deverão servir de parâmetros orientadores para atribuição da nota. I Etapa - análise do levantamento bibliográfico (mínimo de cinco obras) realizado pelo aluno em consonância com o tema proposto e discutido com o Professor Orientador, com peso de até 1,0 (um vírgula zero) na composição da nota final; II Etapa - linhas gerais do desenvolvimento do trabalho com base no levantamento bibliográfico, elaboração do Resumo Expandido e apresentação na Mostra de Trabalhos Científicos do Curso de Direito, com peso de até 3,0 (três vírgula zero) na composição da nota final; III Etapa - término do desenvolvimento do trabalho conforme item anterior, com peso de até 2,0 (dois vírgula zero) na composição da nota final; IV Etapa - introdução e conclusão do trabalho, com peso de até 2,0 (dois vírgula zero) na composição da nota final; V Etapa - análise geral do trabalho: conteúdo e apresentação escrita (organização seqüencial, relevância do tema e correção gramatical) do trabalho, de acordo com as normas para publicação, com peso de até 2,0 (dois vírgula zero) na composição da nota final;

NOTA FINAL DO TC APROVADO(A) REPROVADO(a) TÍTULO DO ARTIGO A ADOÇÃO DO MAIOR DE IDADE E A PATERNIDADE SOCIOAFETIVA O trabalho será encaminhado para publicação pelo(a) professor(a) orientador(a)? SIM NÃO ACADÊMICO(A): BRUNA MOURA ESTEBON R.A. 01055656 SÉRIE PERÍODO 5 ANO 10 PERÍODO ORIENTADOR(A): TEREZA RODRIGUES VIEIRA Observações: Umuarama, 10/11/2016. Assinatura do(a) Prof.(a) Orientador(a)

AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a todos os professores que me auxiliou durante o decorrer do curso, também aos coordenadores da instituição. Enfatizo também um agradecimento aos colegas de curso, que fizeram parte dessa minha trajetória, dividindo momentos de descontração, estudos, discussões, desesperos, experiências e conquistas. Em especial a minha orientadora Tereza Rodrigues Vieira, pelo suporte, pelas correções e incentivos. E aos meus pais, pelo amor, paciência e apoio que tiveram ao longo de todo esses anos. E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação.

Autor: Nome: Bruna Moura Estebon Curso: Direito RA: 01055656 CPF: 062.848.699-59 RG: 10.587.954-7 End. Res.: Rua Amambai, n 3633 Fone: (44) 9967-9482 E-mail: brunamestebon@hotmail.com Professor Orientador: Nome: Tereza Rodrigues Vieira Titulação: PhD em Direito pela Université de Montreal, Canadá End.Residencial: Av. Paulista 2239/152 Fone e wattsapp 11 99995-4364 E-mail: terezavieira@uol.com.br

A ADOÇÃO DO MAIOR DE IDADE E A PATERNIDADE SOCIOAFETIVA Resumo: A Constituição Federal de 1988 apresenta princípios que regem novas mudanças na entidade familiar, permitindo o reconhecimento da filiação socioafetiva, e ainda trazendo melhorias com relação à adoção do maior de idade. Contudo, esta ainda é pouco conhecida, pois muitos adotantes preferem crianças com pouca idade. Uma das grandes formas de adoção do maior de idade é baseada no vínculo socioafetivo, o qual não está previsto na lei, mas vem se fortalecendo na doutrina e nos tribunais. O número de pessoas que criam um vínculo com o maior de idade aumenta dia a dia, uma vez que esse liame é criado pelo padrasto que cria a criança desde pequena, ou até mesmo alguém muito próximo que participou de forma ativa e integral na criação, estando por vezes, mais presente que os próprios pais. A paternidade fundada nos laços de afeto, mais conhecida como paternidade socioafetiva, proclama a dedicação de uma pessoa para com a outra por meio do amor e da realização dos deveres de pai e mãe voluntariamente. Antes da mudança do Código Civil era possível a adoção da pessoa maior de idade por escritura pública, porém a alteração trouxe a necessidade desse indivíduo cumprir todos os requisitos legais, pois ainda que não precise da anuência dos pais biológicos, é colocado em primeiro lugar o seu interesse. A adoção do maior de 18 anos é, em geral, fundada na paternidade socioafetiva, constituída com base no carinho, amor, atenção e dedicação, requisitos essenciais para o êxito da relação filial, protegendo sempre os interesses do adotando. Palavras-Chave: Adoção; Socioafetividade; Maior de Idade; Direito de Família. THE ADOPTION OF ADULTHOOD AND THE SOCIO-AFFECTIVE PATTERNITY Abstract: The 1988 Federal Constitution presents principles that govern new changes on the family entity, allowing the recognition of socio-affective filiation, and still bringing improvements about the adoption of adulthood. This kind of adoption is a bit unknown, since many adopters prefer to adopt children of a very young age. One of the greatest ways to adopt adulthood it is based on the socio-affective bond, which it is not provided by law, but is getting stronger in doctrine and in the courts. The number of people that raise a bond with the adulthood increase day by day, once this bond is created by the stepfather which raises the child from an early age, or even someone very close who participated in an affective and integral way in rearing, sometimes being more present than the parents themselves. The paternity founded on the bonds of affection, better known as socio-affective paternity, proclaims the dedication of a person to the other through love and fulfillment of duties of father and mother voluntarily. Before the change in the Civil Code, was possible to adopt an adulthood by public deed, but the changes brought the individual's need to comply with all legal requirements, since even though he does not need the consent of the biological parents, his interests are placed first. The adoption of the greater of 18 years old is generally settle on socio-affective paternity, constituted on the basis of affection, love, attention and dedication, essential requirements for the success of the filial relationship, always protecting the interests of the adopted. Key-worlds: Adoption; Socio-affective; Adulthood, Family Law.

1 1 INTRODUÇÃO Há alguns anos, somente o casamento legitimava a família, e a união estável era considerada de extrema irregularidade, e caso dessa união gerasse filhos, esses não eram considerados filhos legítimos. Nesta época, a paternidade era constituída pela presunção da verdade jurídica. A promulgação da Constituição Federal Brasileira de 1988 abarcou ao direito de família inovações acerca do instituto da adoção e do surgimento da filiação dentro de uma família. A Constituição confere em sua sistemática que os filhos que fossem havidos fora do casamento, também seriam considerado legítimos, e teriam igualdade com qualquer outro. Essa previsão encontra-se no artigo 227, 6 da Constituição Federal, em que prevê: filhos concebidos dentro ou fora do casamento, por meio de adoção ou qualquer outra coisa do gênero são considerados apenas filhos, não fazendo distinção sobre a sua origem. Diante disso, acabou-se com o conceito de que paternidade somente era constituída pela presunção de verdade jurídica, que era obtida mediante identificação consanguínea do genitor. Com o passar do tempo, após a promulgação da Constituição Federal Brasileira de 1988, deu-se mais espaço a paternidade fundada por laços afetivos, traduzida pela dedicação de uma pessoa a outra, cotidianamente, por meio de carinho, atenção e amor, posicionando-se a paternagem e a maternagem, deveres de pai e mãe voluntários, configurando a denominada paternidade socioafetiva. A socioafetividade nada mais é que pessoas que não possuem nenhum vínculo sanguíneo, ou possua, só que distante, se comportam como pais, durante anos, dando tudo o que a criança ou até mesmo o maior de idade, precise para a constituição de uma família, e ainda tenha carinho, amor, e atenção dentro de um lar que possa chamar de seu. Com isso, a adoção do maior de idade pela paternidade socioafetiva vem trazendo maior conhecimento no ordenamento jurídico, e cada vez sendo mais comum casos em que o padrasto adota seu enteado, sem a permissão do pai biológico, pois o laço afetivo entre eles se tornou tão grande, que nem o Judiciário poderá impedir. Neste tipo de adoção sempre prevalece o afeto e também se dá prioridade ao interesse do adotante, pois muitas vezes ele não tem contato direto com sua família biológica, mas sim com a sua família de criação que em toda vida lhe deu carinho e amor.

2 2 FILIAÇÃO O conceito básico de filiação nada mais é que uma relação de parentesco entre pais e filhos, sendo conhecida como maternidade e paternidade. O direito à filiação é um tipo de situação na qual se tem o estado de filho, que se vincula a uma pessoa ou até mesmo família, configurando efeitos e consequências jurídicas. Boeira (1999, p. 29), por sua vez, entende que a filiação é a relação de parentesco que se estabelece entre pais e filhos, sendo designada, do ponto de vista dos pais, como relação de paternidade e maternidade. Sobre a filiação pode-se ainda considerar que existem tipos diferentes de filiação; um deles é a filiação natural que envolve uma questão biológica, a qual traz diversas ações sobre investigação de paternidade, pois alguns pais têm dúvidas se o filho é realmente seu. Outra filiação é a adotiva que resulta, logicamente, do instituto da adoção, cuja filiação de uma criança ou do maior de idade a seus pais vêm do critério da adoção. E por último a filiação presumida, que envolve os filhos concebidos na constância do casamento. O estado de filiação é compreendido como o que se estabelece entre o filho e quem assume os deveres de sua paternidade. Além disso, é uma designação jurídica, envolvendo um complexo de direitos e deveres reciprocamente considerados. O titular do estado de filiação é o filho, da mesma forma que o pai e a mãe são titulares do estado de paternidade e maternidade em relação ao filho. Com isso, se houver paternidade juridicamente considerada, haverá estado de filiação presumido. Assevera Farias e Rosenvald (2010, p.564): A liberdade de cada pessoa de efetivar a filiação pode ser realizada através de mecanismos biológicos (através de relacionamentos sexuais, estáveis ou não), da adoção (por decisão judicial), da fertilização medicamente assistida ou por meio do estabelecimento afetivo puro e simples da condição de paterno-filial. Seja qual for o método escolhido, não haverá qualquer efeito diferenciado para o tratamento jurídico (pessoal e patrimonial) do filho. Os estados de filiação são decorrentes das suas origens como: consanguinidade, adoção, inseminação artificial heteróloga, posse do estado de filiação.

3 2.1 Conceito de Filiação no Código Civil de 1916 O Código Civil de 1916 trazia como base sobre a filiação, a diferença entre os filhos, sendo eles legítimos, ilegítimos ou adotivos, teoria essa com base no Direito Romano. Eram os filhos legítimos aqueles que eram concebidos durante a constância do casamento, mesmo que este constituísse contrário à boa-fé ou nulo. Ainda possuía alguns casos de equiparação para que o filho fosse legítimo, assim teria a filiação legitimada. Constituíam o rol dos filhos ilegítimos aqueles que eram concebidos fora do casamento, que não possuíam pais unidos por meio do matrimônio, podendo ser conhecidos como filhos ilegítimos espúrios e ilegítimos naturais. Os ilegítimos naturais eram aqueles que tinham o seu nascimento de um casal que não possuía impedimento matrimonial, mas, não eram casados. Os ilegítimos espúrios podem ser aqueles filhos concebidos por pais que possuíam uma relação de parentesco bem próxima e, com isso possuíam o impedimento matrimonial, e também quando no tempo da concepção a mãe ou o pai estavam ligados a outro casamento. Dentro do ordenamento jurídico ainda vinha o instituto da adoção que era uma forma de filiação artificial, mas trazia a intenção de igualar o filho adotado, a um filho concebido na constância do casamento. A adoção pode ainda ser conhecida como uma filiação civil, pois é o resultado de uma exteriorização de vontade. O Código Civil de 1916 demonstrava que os filhos concebidos de pessoas não casadas ou que possuíam algum impedimento matrimonial eram discriminados perante aos filhos concebidos durante o matrimônio. 2.2 Conceito de Filiação na Constituição Federal de 1988 Após 72 anos, em 1988, veio à promulgação da Constituição Federal Brasileira, inovando novos direitos após a ditadura militar. Sua mudança afetou de um modo significativo o direito de família, tirando a discriminação dos filhos, não importando se esses foram ou não concebidos dentro do casamento, ou até mesmo por modo de adoção. A prova da absoluta igualdade entre os filhos é a previsão do artigo 227, 6º da Constituição Federal ao consagrar que não importa a concepção dos filhos, ficando

4 terminantemente proibido quaisquer designações discriminatórias referentes à filiação. Com a promulgação da Constituição Federal, além da não discriminação dos filhos, também trouxe aos pais os mesmos direitos e deveres em igualdade. Para Fachin e Lira (1999, p.35), marido e mulher, mesmos direitos e deveres. Filhos tidos dentro do casamento, mesmo direitos e deveres que os tidos fora do casamento. Assim opera a Constituição de 1988. Tendência de constitucionalização do direito de Família, fruto recente. Após isso, não considera mais a existência de filhos legítimos e ilegítimos, pois todos possuem incondicional igualdade, e não podem mais ser classificados de outra forma diante da filiação a não ser somente como filhos. 2.3 Conceito de Filiação no Código Civil de 2002 Com a reforma do Código Civil de 1916, em 2002 foi promulgado o novo Código Civil, o qual trouxe de forma expressa que não há distinção de direitos e deveres entre as espécies de filiação, já extintas pela Constituição Federal Brasileira em 1988. As inovações no Código Civil (2002, online) vieram em seu artigo 1597, o qual traz o seguinte texto: Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento; III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido. (Grifos Nossos). Foram acrescentados três novos incisos, os quais trazem que não importa como nasceram, nem como são concebidos, serão considerados filhos da mesma forma, sem qualquer distinção ou descriminalização. Mesmo com a mudança do Código Civil, não foi tratada pelo legislador a filiação pela socioafetividade, que vem tomando grande abrangência no ordenamento jurídico.

5 3 PATERNIDADE E MATERNIDADE Dentro das famílias, o conceito de maternidade e paternidade ultrapassa os vínculos somente biológicos, alcançando também o vínculo afetivo, tendo o afeto como valor fundamental para a constituição de uma família. Paternidade e maternidade é muito mais do que prover alimentos ou partilhar bens; é ainda muito mais do que conceber e adotar. Ser pai e mãe envolve a constituição de valores e de singularidade de uma pessoa e de sua dignidade humana. Tudo isso é adquirido de forma principal com a convivência familiar, ao longo dos anos. O pai e mãe assumem o direito e dever de dar aos seus filhos os direitos fundamentais que todas as pessoas possuem, como a vida, alimentação, saúde, lazer, cultura, dignidade, educação. Ser pai e mãe depois da mudança jurídica não se limita apenas a aqueles que te concebem ou te adotam; também envolve aqueles que, por anos, cuidam de você de forma voluntária como se fosse o próprio filho, porém estão ligados ao um vínculo socioafetivo e não a laços de sangue, ou de forma jurídica. Sobre a paternidade, Madaleno (2000, p.40) tem o seguinte pensamento: A paternidade tem um significado mais profundo do que a verdade biológica, onde o zelo, o amor paterno e a natural dedicação ao filho revelam uma verdade afetiva, uma paternidade que vai sendo construída pelo livre desejo de atuar com a interação paterno-filial, formando verdadeiros laços de afeto que nem sempre estão presentes na filiação biológica, até porque, a paternidade real não é biológica, e sim cultural, fruto de vínculos e das relações de sentimento que vão sendo cultivados durante a convivência com a criança. A paternidade, além de produzir efeitos dentro do âmbito pessoal e social produz efeitos com base nas relações econômicas e patrimoniais, da qual gera reflexos com a obrigação dos pais de prestar e pleitear alimentos, e ainda dentro do Direito Civil, o pai e a mãe responderão por todos os atos de seus filhos enquanto estes forem menores de idade ou incapazes.

6 4 FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA A filiação socioafetiva vem sendo conhecida dentro do ordenamento jurídico com o passar dos anos, e é entendida como um liame específico que une duas pessoas com base no afeto, podendo ter relação de parentesco ou outra fonte que constitua relação de família. A filiação socioafetiva não possui previsão legal no ordenamento jurídico. Nem mesmo com as inovações nenhum texto a sua previsão, porém a doutrina e a jurisprudência vêm a tornando legal. O afeto possui grande relevância jurídica, especialmente no que diz respeito às relações familiares. Neste contexto, o conceito de paternidade socioafetiva tem fundamento nos laços sociais, culturais e afetivos de relacionamento, os quais podem ser observados numa relação entre pais e filhos. Assim, a paternidade socioafetiva está vinculada aos laços de comportamento entre duas pessoas que podem ter ou não algum envolvimento biológico; que surge com a convivência diária, do carinho e dos cuidados dispensados a uma pessoa. A doutrina analisa a paternidade socioafetiva com base na seguinte sistemática: O novo posicionamento acerca da verdadeira paternidade não despreza o liame biológico da relação paterno-filial, mas dá notícia do incremento da paternidade socioafetiva, da qual surge um novo personagem a desempenhar o importante papel de pai: o pai social, que é o pai de afeto, aquele que constrói uma relação com o filho, seja biológica ou não, moldada pelo amor, dedicação e carinho constantes. (ALMEIRA, 2001. p.159-160) Nos novos modelos de família já se consegue ver a previsão de uma família socioafetiva, a qual traz novos moldes para a paternidade, e comprova que os laços biológicos não possuem mais superioridade sobre a paternidade socioafetiva. Uma filiação socioafetiva é aquela que constrói e que se encontra alicerçada com base na afetividade. Dias (2009, p.331) assevera sobre a paternidade socioafetiva que : Nunca foi tão fácil descobrir a verdade biológica, mas essa verdade tem pouca valia frente à verdade afetiva. Tanto assim que se estabeleceu a diferença entre pai e genitor. Pai é o que cria, o que dá amor, e genitor é somente o que gera. Se durante muito tempo, por presunção legal ou por falta de conhecimentos científicos, confundiam-se essas duas figuras, hoje possível é identificá-las em pessoas distintas. Nota-se que o conceito de pai ser aquele que gera, já foi desconsiderado, trazendo

7 como conceito de pai e mãe aqueles que criam, dão amor, educação e carinho independente de vinculo biológico. Sobre o estado de filho afetivo, o jurista Gomes (1994, p.311) considera que: É passar realmente a ser tratado como filho, levando o nome dos presumidos genitores, recebendo tratamento de filho e ter sido constantemente reconhecido por filho pelos presumidos pais e pela sociedade, como filho. A filiação socioafetiva, muitas vezes, decorre de uma adoção, mais conhecida como adoção à brasileira, que é aquela que uma pessoa registra o filho de outrem em seu nome, e passa a tratá-lo, como filho, dando tudo o que é necessário para sua sobrevivência. Conceitua Dias (2010, p.367): A filiação socioafetiva corresponde à verdade aparente e decorre do direito de filiação. A necessidade de manter a estabilidade da família, que cumpre com a sua função social, faz com que se atribua um papel secundário à verdade biológica. Revela a constância social da relação entre pais e filhos, caracterizando uma paternidade que existe não pelo simples fato biológico ou por força de presunção legal, mas em decorrência de uma convivência afetiva. Neste tipo de filiação não existe vínculo biológico algum, somente o afeto, que faz com que uma pessoa atribua para si a responsabilidade de ser pai e mãe, e se doa integralmente para cuidar de uma criança, como se fosse seu filho. O Superior Tribunal de Justiça (2007, online) decidiu em favor da socioafetividade : RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO SANGÜÍNEA ENTRE AS PARTES. IRRELEVÂNCIA DIANTE DO VÍNCULO SÓCIO-AFETIVO. - Merece reforma o acórdão que, ao julgar embargos de declaração, impõe multa com amparo no art. 538, par. único, CPC se o recurso não apresenta caráter modificativo e se foi interposto com expressa finalidade de prequestionar. Inteligência da Súmula 98, STJ. - O reconhecimento de paternidade é válido se reflete a existência duradoura do vínculo sócio-afetivo entre pais e filhos. A ausência de vínculo biológico é fato que por si só não revela a falsidade da declaração de vontade consubstanciada no ato do reconhecimento. A relação sócio-afetiva é fato que não pode ser, e não é, desconhecido pelo Direito. Inexistência de nulidade do assento lançado em registro civil. - O STJ vem dando prioridade ao critério biológico para o reconhecimento da filiação naquelas circunstâncias em que há dissenso familiar, onde a relação sócio-afetiva desapareceu ou nunca existiu. Não se pode impor os deveres de cuidado, de carinho e de sustento a alguém que, não sendo o pai biológico, também não deseja ser pai sócio-afetivo. A contrario sensu, se o afeto persiste de forma que pais e filhos constroem uma relação de mútuo auxílio, respeito e amparo, é acertado desconsiderar o vínculo meramente sanguíneo, para reconhecer a existência de filiação jurídica. Recurso conhecido e provido. (STJ - REsp: 878941 DF 2006/0086284-0, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 21/08/2007, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 17.09.2007 p. 267) (Grifos Nossos).

8 O Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (2001, online) também traz decisões sobre a paternidade socioafetiva: APELAÇÃO. ADOÇÃO. Estando a criança no convívio do casal adotante há mais de 4 anos, já tendo com eles desenvolvido vínculos afetivos e sociais, é inconcebível retirá-la da guarda daqueles que reconhece como pais, mormente, quando a mãe biológica demonstrou interesse em dá-la em adoção, depois se arrependendo. Evidenciado que o vínculo afetivo da menor, a esta altura da vida encontra-se bem definido na pessoa dos apelados, deve-se prestigiar, como reiteradamente temos decidido neste colegiado, a PATERNIDADE SOCIOAFETIVA, sobre a paternidade biológica, sempre que, no conflito entre ambas, assim apontar o superior interesse da criança. Negaram Provimento (TJRS. Apelação Cível nº 000190039. Sétima Câmara Cível). (Grifos Nossos) Como se observa em julgados não muito atuais, a afetividade vem sendo cada vez mais valiosa no âmbito familiar, em que uma relação afetiva pode sobressair sobre a paternidade biológica, pois sempre visa ao melhor interesse para o filho e não dos pais. Uma das provas da filiação é o registro, a certidão de nascimento assentada no registro civil da comarca que reside. Essa obrigação está prevista no artigo 1603 do Código Civil Brasileiro (2002, online) com o seguinte texto a filiação prova-se pela certidão do termo de nascimento registrada no Registro civil. O Egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal se posicionou em um caso no qual os pais biológicos queriam a anulação do registro de nascimento: Registro de nascimento. Anulação. Paternidade socioafetiva. 1 A paternidade não resulta somente de vínculo biológico. Também pode decorrer de relação socioafetiva. E o reconhecimento da filiação é irrevogável, salvo se provado que resultou de vício de consentimento. 2 - A paternidade biológica não é motivo para se anular registro de nascimento, se aqueles que registram a criança como filha, cientes de inexistir vínculo biológico, convivem com ela, educam e suprem suas necessidades materiais e emocionais. 3 - Apelação não provida. (TJ-DF - APC: 20140610003392 DF 0014818-86.2013.8.07.0015, Relator: JAIR SOARES, Data de Julgamento: 11/03/2015, 6ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 24/03/2015, p. 298). (Grifos Nossos) A filiação confere aos pais efeitos jurídicos em relação aos filhos. A educação, criação e a relação de afetividade, são indicativas de uma relação de paternidade responsável, sendo que o dever básico que incumbe aos pais é o de prover elementos materiais para a sobrevivência do filho, a fim de que cresça e se torne um adulto que contribua com a sociedade.

9 5 ASPECTOS JURÍDICOS DA SOCIAFETIVIDADE Nos dias de hoje, a formação da família veio mudando conforme o passar dos anos, não sendo mais o convencional como pai, mãe e filho. Atualmente, a família é uma instituição composta tanto pelo fato biológico, quanto social, sendo regulada pelo direito, e visando sempre ao bem-estar social. Hoje a doutrina e a jurisprudência tomaram um posicionamento em que sempre prevalecerá a paternidade socioafetiva, mediante afeto, que está presente nas relações de pais e filhos. Com isso, o afeto possui um valor jurídico que une a família, independente da existência do vínculo biológico. Por conseguinte, a filiação com base na socioafetividade se dá, muitas vezes, por parte da adoção, ou até mesmo com um vínculo entre o padrasto e o enteado. Adotar ou registrar um filho em seu nome, em razão do afeto confere responsabilidade de pai e mãe, e ainda efeitos jurídicos sobre essa criança. Portanto, o filho afetivo terá as mesmas condições do filho biológico, não podendo ocorrer discriminação, ou seja, os pais em relação aos filhos afetivos têm os mesmos direitos e obrigações. Os efeitos jurídicos da socioafetividade são os mesmos efeitos gerados pela adoção. Neste caso, cabe aos pais fazer jus aos dispositivos previstos no artigo 39 a 52 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Um dos primeiros efeitos é a necessidade de declaração do estado de filho afetivo, a alteração do registro civil de nascimento, a adoção do sobrenome dos pais efetivos, as relações de parentesco com os parentes dos pais afetivos, a irrevogabilidade da paternidade e da maternidade sociológica, a herança entre pais, filhos e parentes sociológicos, o poder familiar, a guarda e o sustento do filho ou pagamento de alimentos e direito de visitas. Com isso, comprova-se que não basta somente assumir o filho da forma afetiva; necessita-se também que os pais assumam essa responsabilidade para si, agindo como pais sendo necessário, suprir todas as necessidades do filho. Sobre isso, já é pacificado pela doutrina e jurisprudência que no momento em que se assume a paternidade assume-se o poder familiar e todas as suas responsabilidades. Com isso, caso os pais que possuem o filho afetivo vierem a se separar no decorrer do tempo, cabe ao pai prestar alimentos ao filho, pois este ainda depende daqueles, mesmo sendo maior de idade. Sendo assim, uma vez assumida a paternidade e estabelecido o vínculo afetivo, o pai

10 não poderá retirar em momento algum o seu nome do filho. Em alguns casos vê-se que o pai é induzido a erro o qual assume o filho, dá seu nome, dá carinho, atenção e afeto, e ao longo dos anos descobre que não é o verdadeiro pai. Devido ao vínculo afetivo essa paternidade não pode ser revogada, pois caso acontecesse não estaria priorizando o interesse do filho, mas sim, o interesse paterno. O Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (2015, online), já se posicionou sobre a retirada do nome do pai do registro do filho: APELAÇÃO. DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. RELAÇÃO DE PARENTESCO. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. DNA. RETIFICAÇÃO DO REGISTRO CIVIL. IMPOSSIBILIDADE. PREVALÊNCIA DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. Estando demonstrada nos autos a filiação socioafetiva, esta relação impera sobre a verdade biológica. Incabível, assim, alteração no registro civil e qualquer repercussão patrimonial decorrentes da investigatória. RECURSO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70065544017, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Julgado em 29/07/2015, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 03/08/2015). (Grifos Nossos). No entendimento de Lobo (2004, p. 47-56): a investigação da paternidade só é cabível quando não houver paternidade, nunca para desfazê-la, e a jurisprudência se manifesta não permitindo que a investigação da paternidade seja utilizada em busca apenas do direito ao patrimônio, em virtude da filiação biológica, pois prevalece no ordenamento jurídico a verdade social. Portanto, não faz diferença de como será formado o vínculo afetivo, mas sim faz diferença o momento em que se assume essa paternidade afetiva, a qual uma vez assumida jamais poderá ser anulada. 6 ADOÇÃO DO MAIOR DE IDADE PELA SOCIOAFETIVIDADE As relações afetivas foram cada vez mais conhecidas e utilizadas dentro do ordenamento jurídico brasileiro. Um dos casos que mais acontecem adoção socioafetiva, é quando envolve a adoção do maior de idade. Em muitos casos é o padrasto quem cria o filho como seu, mesmo já tendo uma idade mais avançada e assim cria um vínculo afetivo muito grande, de pai. A adoção do maior de idade não pode ser feita por registro público, nem somente pelo

11 simples fato por uma escritura pública, ou só pela vontade das partes; ela tem que ser feita pelo devido processo legal. Com uma previsão no Código Civil, demonstra que é indispensável o processo judicial para a adoção do maior de 18 anos, sendo expressamente proibido o ato de adoção por escritura pública. O Superior Tribunal de Justiça decidiu sobre a adoção do maior de idade: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ADOÇÃO DE MAIOR DE DEZOITO ANOS. MEDIANTE ESCRITURA PÚBLICA. CÓDIGO CIVIL DE 2002. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE PROCESSO JUDICIAL E SENTENÇA CONSTITUTIVA. 1. Na vigência do Código Civil de 2002, é indispensável o processo judicial, mesmo para a adoção de maiores de dezoito (18) anos, não sendo possível realizar o ato por intermédio de escritura pública. 2. Recurso especial provido. (STJ - REsp: 703362 PR 2004/0153151-0, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 25/05/2010, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 08/06/2010). (Grifos Nossos). O Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão também já decidiu sobre a adoção do maior de 18 anos com o seguinte posicionamento: CIVIL. ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE. ADOÇÃO. POSSIBILIDADE DE ADOÇÃO DE PESSOA COM MAIORIDADE. IMPLEMENTO DA MAIORIDADE DURANTE O TRÂMITE PROCESSUAL. NECESSIDADE DO CONSENTIMENTO DO ADOTANDO. IMPOSSIBILIDADE DE JULGAMENTO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO POR PREJUDICIALDADE ORIGINADA PELA MAIORIDADE DO ADOTANDO DURANTE A TRAMITAÇÃO DO PROCESSO. APELO CONHECIDO E PROVIDO. 1- A prejudicalidade somente se perfaz sobre os pedidos de destituição de pátrio poder e o pedido de guarda, como ressaltou o órgão do parquet no seu apelo, todavia, o pleito de adoção não fica prejudicado, eis que pode existir guarda de pessoas maiores de idade, matéria esta devidamente tratada pelo art. 40 do ECA. 2- O adotando deveria ser ouvido em juízo, mesmo após de ter completado a maioridade, conforme art. 45 2 do ECA. Portanto, o juízo de base deveria dar continuidade a instrução processual, realizando audiência de instrução para oitiva da vontade do adotando, ou seja, do seu consentimento. 3- Apelo conhecido e provido. (TJ-MA - APL: 0482352014 MA 0000460-50.2012.8.10.0086, Relator: RAIMUNDO JOSÉ BARROS DE SOUSA, Data de Julgamento: 09/03/2015, QUINTA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 12/03/2015). (Grifos Nossos). A adoção do maior de idade tem que ser feita pelo devido processo judicial, respeitando todos os limites previstos em lei. Com a entrada em vigor do Código Civil de 2002, a adoção de maior de idade só poderá ser realizada mediante procedimento judicial, com a propositura de ação de adoção de maior de idade conforme:

12 Art. 1.619. A adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá da assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, as regras gerais da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente. (Redação dada pela Lei nº 12.010 de 2009). (2002, online). Além dos limites a serem respeitados pelo Código Civil caberá, na adoção do maior de idade, um estágio de convivência, com previsão no artigo 46 do Estatuto da Criança de Adolescente. A adoção do maior de idade é menos comum, já que na maioria dos casos os adotantes preferem crianças mais novas, de preferência bebês. Os casos da adoção com maior de idade envolvem mais o afeto. Casos em que o padrasto cria o enteado como se fosse seu, sendo ele o pai de verdade, o que deu carinho e afeto, mesmo pela idade elevada, é um bom exemplo para uma adoção do maior idade com base na socioafetividade. O padrasto é um tipo de pai substituto, que mesmo não sendo pai biológico tem responsabilidades, em face da união com a mãe do enteado. Em alguns casos, essa convivência se torna tão incrível que o padrasto se torna pai do enteado, pois têm uma convivência de pai e filho, devido ao desempenho, carinho e afeto desta relação. Diante disso o Superior Tribunal de Justiça (2014, online), já julgou procedente uma ação em favor da socioafetividade entre o maior de idade e o padrasto: Uma vez estabelecido o vínculo afetivo, a adoção de pessoa maior não pode ser recusada sem justa causa pelo pai biológico, em especial quando existe manifestação livre de vontade de quem pretende adotar e de quem pode ser adotado. Com esse entendimento, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a adoção de jovem maior de idade pelo padrasto, mesmo sem o consentimento do pai biológico. No caso, um homem ajuizou ação de adoção de maior de idade combinada com destituição do vínculo paterno. Ele convive com a mãe do jovem desde 1993 e o cria desde os dois anos. O juiz de primeiro grau permitiu a adoção. A apelação do pai biológico foi negada em segunda instância, o que motivou o recurso ao STJ. Ele alegou violação do artigo 1.621 do Código Civil e do artigo 45 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), pois seria indispensável para a adoção o consentimento de ambos os pais biológicos, mesmo quando um deles exerce sozinho o poder familiar. De acordo com o processo, o próprio pai biológico reconheceu que não tinha condições financeiras nem psicológicas para exercer seu direito de visitas, e que preferiu permanecer afastado. O último contato pessoal ocorreu quando o filho tinha cerca de sete anos. Quando a ação de adoção foi proposta, ele estava com 19 anos. O ministro Villas Bôas Cueva, relator do recurso, afirmou que o ECA deve ser interpretado sob o prisma do melhor interesse do adotando. A despeito de o pai não ser um desconhecido completo, a realidade dos autos explicita que este nunca desempenhou a função paternal, estando afastado do filho por mais de 12 anos, tempo suficiente para estremecer qualquer relação permitindo o estreitamento de laços com o pai socioafetivo, observou. Para a advogada Silvana do Monte Moreira, presidente da Comissão Nacional de Adoção do IBDFAM, a decisão é um avanço no reconhecimento de que a socioafetividade suplanta os laços de sangue.

13 Após o caso relatado acima o Superior Tribunal de Justiça julgou novamente em 2015 sobre o mesmo assunto, usando a seguinte fundamentação: RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. ADOÇÃO. VIOLAÇÃO DO ART. 45 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. NÃO OCORRÊNCIA. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA DEMONSTRADA COM O ADOTANTE. MELHOR INTERESSE DO ADOTANDO. DESNECESSIDADE DO CONSENTIMENTO DO PAI BIOLÓGICO. 1. Cinge-se a controvérsia a definir a possibilidade de ser afastado o requisito do consentimento do pai biológico em caso de adoção de filho maior por adotante com quem já firmada a paternidade socioafetiva. 2. O ECA deve ser interpretado sob o prisma do melhor interesse do adotando, destinatário e maior interessado da proteção legal. 3. A realidade dos autos, insindicável nesta instância especial, explicita que o pai biológico está afastado do filho por mais de 12 (doze) anos, o que permitiu o estreitamento de laços com o pai socioafetivo, que o criou desde tenra idade. 4. O direito discutido envolve a defesa de interesse individual e disponível de pessoa maior e plenamente capaz, que não depende do consentimento dos pais ou do representante legal para exercer sua autonomia de vontade. 5. O ordenamento jurídico pátrio autoriza a adoção de maiores pela via judicial quando constituir efetivo benefício para o adotando (art. 1.625 do Código Civil). 6. Estabelecida uma relação jurídica paterno-filial (vínculo afetivo), a adoção de pessoa maior não pode ser refutada sem justa causa pelo pai biológico, em especial quando existente manifestação livre de vontade de quem pretende adotar e de quem pode ser adotado. 7. Recurso especial não provido. (STJ - REsp: 1444747 DF 2014/0067421-5, Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 17/03/2015, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 23/03/2015). (Grifos Nossos). (2015, online) Com base nos julgados apresentados vê-se que a adoção do maior de idade sempre ocorre por um vínculo muito forte de afeto, o qual sempre é priorizado nas ações, pois o afeto acaba sendo muito maior do que qualquer vínculo sanguíneo.

14 7 CONCLUSÃO Com as mudanças que ocorreram ao longo dos anos dentro da Constituição Federal Brasileira e no Código Civil, foi extinta a distinção entre filhos legítimos e ilegítimos, concebidos fora do casamento, por meio de adoção ou até mesmo um filho de criação, e os outros concebidos na constância do casamento. Mesmo não trazendo previsão legal, essas mudanças no ordenamento jurídico vieram em prol da socioafetividade, que nada mais é colocar em primeiro lugar os vínculos afetivos, do que os vínculos biológicos. Com isso, a socioafetividade veio tomando espaço no ordenamento jurídico e se tornou a principal fonte para a formação de uma família. O afeto é sinônimo de carinho, amor, saúde e educação, pois a partir do momento em que os pais se doam de forma incondicional aos filhos começa a relação de afeto. O afeto tem como base a relação que pai e filhos promovem ao longo da convivência. E com isso veio abrindo mais espaço para as relações sem parentesco, contudo dotadas de vínculo socioafetivo. Desse modo, foi criada uma filiação socioafetiva, na qual se concebe a paternidade advinha apenas por vínculos afetivos, sem envolver qualquer vínculo consanguíneo ou biológico. Vale destacar que a adoção do maior de 18 anos é, em geral, fundada na paternidade socioafetiva, constituída com base no carinho, amor, atenção e dedicação, requisitos essenciais para o êxito da relação filial, protegendo sempre os interesses do adotando. Um dos principais casos nos quais ocorre a filiação socioafetiva é na adoção do maior de 18 anos, que, em muitos casos, o padrasto cuida do menor, como sendo seu filho de sangue, dando-lhe tudo o que é necessário para que cresça de forma correta. Diante disso, depois de atingida a maioridade, o maior de 18 anos, como conhece só o padrasto como a forma mais perto de pai que tem, requer via judicial uma adoção para que o padrasto se torne seu pai pelo papel. Este tipo de ação não precisa em momento algum do consentimento do pai biológico, pois em muitos casos esse não tem contato há anos com o filho. É uma inovação muito grande para o direito de família, permitir que as famílias se baseiem no afeto e não no vínculo sanguíneo e biológico, pois pai e mãe são aqueles que criam e educam independentemente de grau de parentesco. Logo, o genitor apenas gera a criança, mas não tem papel de pai.

15 REFERÊNCIAS ALMEIRA, M. C. Investigação de Paternidade e Dna: Aspectos Polêmicos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. BOEIRA, J. B. R. Investigação de Paternidade: posse de estado de filho: paternidade socioafetiva. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999. BRASIL. Código Civil de 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 16. out. 2016.. Constituição Federal de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 16 out. 2016.. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 18 out.2016.. Tribunal De Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Apelação Cível: AC nº 000190039SP. Data do Julgamento 02/05/2001. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/diarios/99470319/djal-jurisdicional-primeiro-grau-08-09-2015- pg-215>. Acesso em: 18. out. 2016.. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Apelação Cível n 20140610003392 DF 0014818-86.2013.8.07.0015, Relator: JAIR SOARES, Data de Julgamento: 11/03/2015. Disponível em: < http://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/176169854/apelacao-civel-apc- 20140610003392-df-0014818-8620138070015>. Acesso em: 18. out. 2016.. Tribunal De Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Apelação Cível: AC: 70065544017 RS. Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Data de Julgamento: 29/07/2015. Disponível em: <http://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/215802270/apelacao-civel-ac-70065544017-rs>. Acesso em: 18. out. 2016.. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 878941 DF 2006/0086284-0. Relator: Ministra Nancy Andrighi, Data de Julgamento: 21/08/2007. Disponível em <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/13577/recurso-especial-resp-878941>. Acesso em: 18. out. 2016.. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1444747 DF 2014/0067421-5. Relator: Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Data de Julgamento: 17/03/2015. Disponível em <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/178705916/recurso-especial-resp-1444747-df- 2014-0067421-5>. Acesso em: 18. out. 2016.. Superior Tribunal de Justiça. Recuso Especial n 703362 PR 2004/0153151-0, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 25/05/2010. Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/14319535/recurso-especial-resp-703362-pr- 2004-0153151-0 >. Acesso em:18. out.2016.

16 DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. FACHIN, L. E; LIRA, R. P. Elementos Críticos do Direito de Família: Curso de Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. FARIAS, C.C; ROSENVALD, N. Direito das Famílias. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. GOMES, O. Direito de Família. 7.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994. IBDFAM. STJ autoriza a adoção de adulto por padrastro sem o consentimento do pai biológico. Disponível em: < http://ibdfam.jusbrasil.com.br/noticias/180344031/stj-autorizaadocao-de-adulto-por-padrasto-sem-o-consentimento-do-pai-biologico>. Acesso em: 18. out.2016. LÔBO, P. L.N. Direito ao Estado de Filiação e Direito à Origem Genética: uma distinção necessária. Brasília: Revista CEJ. N.27. págs. 47 56. 2004.