CONCEITO, FONTES, CARACTERÍSTICAS E FINALIDADES CONCEITO, FONTES, CARACTERÍSTICAS E FINALIDADES (ITENS 1.1 E 1.2 DO EDITAL) Doutrina referência para esta aula: Guilherme NUCCI Código de Processo Penal Comentado. Norberto AVENA Processo Penal Esquematizado. Nestor TÁVORA e Fábio ROQUE Código de Processo Penal para Concursos. Renato BRASILEIRO de Lima Manual de Processo Penal. Frederico MARQUES - Elementos de Direito Processual Penal. Conceito do Direito Processual Penal Conforme o escólio de José Frederico MARQUES, pode-se conceituar Direito Processual Penal como: O conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação jurisdicional do Direito Penal, bem como as atividades persecutórias da Polícia Judiciária, e a estruturação dos órgãos da função jurisdicional e respectivos auxiliares. De acordo com os ensinamentos de AVENA: Basta observar que, se uma pessoa realizar determinada conduta descrita em um tipo penal incriminador, a consequência desta prática será o surgimento para o Estado do poder-dever de aplicar-lhe a sanção correspondente. (...) Aqui surge, então, o processo penal, como instrumento destinado à realização do jus puniendi do Estado e cujo desenvolvimento será regido por um conjunto de normas, preceitos e princípios que compõem o direito processual. 1
Finalidade do Direito Processual Penal Há duas finalidades, ditas como clássicas, do Direito Processual Penal: 1. Finalidade Imediata ou Direita Fazer valer o direito de punir do Estado (jus puniendi). No Estado democrático de Direito, essa finalidade é levada a efeito, considerando também a tutela dos direitos fundamentais do cidadão em face do summa potestas no contexto da persecução criminal. Atenção! Ao mesmo tempo em que o Estado exerce o seu direito de punir, não pode fazê-lo de qualquer forma. O Estado tem a prerrogativa constitucional de levar a termo a sanção penal por meio do devido processo; mas, ao mesmo tempo, por a salvo os direitos e garantias fundamentais do investigado e do réu. 2. Finalidade Mediata ou Indireta Promover a proteção da sociedade, da paz social e a defesa dos interesses da coletividade. Características do Direito Processual Penal Podem ser apontadas 3 características básicas do Direito Processual Penal: 1. Autonomia O DPP não é hierarquicamente subordinado ou inferior ao Direito Penal material e tem seus princípios e regras próprios. 2. Instrumentalidade É instrumento de consecução do Direito Penal material. 3. Normatividade É uma disciplina normativa com codificação própria (Código de Processo Penal CPP). Atenção! O Direito Processual Penal possui essência normativa devido à demanda de segurança jurídica. O processo penal deve ser regulamentado por lei e seus procedimentos devem ser conhecidos, inclusive referendados pela Constituição Federal. Não há tentativa e erro em processo penal. 2
Fontes do Direito Processual Penal Dizem respeito à origem das normas processuais, que podem ser apreciadas sob dois ângulos, gerando, assim, a divisão entre as fontes que são criadoras (materiais) e as que são de expressão da norma (formais) do processo penal. Das Fontes Materiais São as fontes criadoras do Direito, também denominadas de fontes de criação ou de produção. Assim, a fonte material por excelência é o Estado. No caso do direito processual, o art. 22, I, da Constituição Federal, dispõe que a legislação sobre o assunto compete privativamente à União, que é, portanto, a fonte material do processo penal. O art. 22, parágrafo único, da Carta Magna estabelece que Lei Complementar (LC) poderá autorizar Estados a legislar sobre matéria processual. Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (...) Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. De outro lado, o seu art. 24, IX, ordena que é concorrente a competência da União com os Estados e o Distrito Federal para legislar a respeito de procedimentos em matéria de procedimentos processuais. Aqui encontram-se, por exemplo, as normas de organização judiciária estadual. Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) XI procedimentos em matéria processual; 3
Por óbvio, a competência dos Estados-membros é residual, no sentido de suprir omissões ou especificar minúcias procedimentais, posto que a legislação estadual não pode contrariar a federal, que lhe é superior. Ou seja, a fonte material (criadora) das leis processuais é a União e, subsidiariamente, os Estados e o Distrito Federal. Das Fontes Formais ou de Cognição São fontes de revelação (de cognição) e dizem respeito aos meios pelos quais o direito se exterioriza. Dividem-se em fontes formais imediatas e mediatas. Das Fontes Formais Imediatas São as leis em sentido amplo, abrangendo a Lex Excelsa, a legislação infraconstitucional, os tratados, as convenções e as regras de direito internacional aprovados pelo Congresso Nacional. Das Fontes Formais Mediatas 1. Costumes: cabedal de práticas sociais reiteradas que são observadas pela sociedade com uma consciência de obrigatoriedade. Os costumes podem ser secundum legem (de acordo com a lei), praeter legem (suprem lacunas da lei) e contra legem (contra a lei), e estes têm aplicação vedada. Atenção! Não é admitido no ordenamento jurídico brasileiro o costume contra legem (contra a lei). O costume não afasta a lei: mesmo que em uma determinada região do Brasil exista um costume que vai de encontro com uma lei, esta será sempre observada. 4
2. Princípios Gerais do Direito: premissas éticas extraídas do ordenamento jurídico. O CPP, no seu art. 3º, ordena expressamente que pode ser suplementado pelos princípios gerais do direito. Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. 3. Doutrina: opinião dos estudiosos do Direito sobre temas jurídicos. Mesmo não possuindo força vinculativa, a doutrina exerce forte influência tanto no processo legislativo, quanto na aplicação da lei. 4. Analogia: Consiste em aplicar a um determinado caso não previsto pela lei o que o legislador aplicou a um outro caso, quando há igualdade de condições. Isso, pois devido à infinidade de casuísticas possíveis, nunca será possível ao ordenamento jurídico estabelecer uma previsão normativa que esgote todas as hipóteses factuais. Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. 5. Jurisprudência É o entendimento consubstanciado em decisões judiciais reiteradas dos Pretórios sobre determinados temas levados aos tribunais para pacificação. Sobre as Súmulas Vinculantes do STF, com previsão no art. 103-A da Carta Magna: O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços de seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. 5
Recomenda-se a lição de AVENA sobre a Súmula Vinculante, enquanto fonte do Direito Processual Penal: (...) apesar de vinculante, tal ordem de enunciado não possui força de lei, devendo ser classificado como fonte formal mediata, mesmo porque não emana do Poder Legislativo, apenas retratando a jurisprudência consolidada pela maioria de dois terços (voto de oito Ministros) do STF. Em que pesem as divergências, este último entendimento parece dominante na doutrina. Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa. 6