Aula 1 PROCESSO COLETIVO COMUM
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1 Curso/Disciplina: Processo Coletivo Aula: Classificação do Processo Coletivo. Classificação Tricotômica dos Interesses Transindividuais. Microssistema da Tutela Coletiva - 1 Professor (a): Fabrício Bastos Monitor (a): Wilson Macena da Silva Aula 1 PROCESSO COLETIVO 1. Classificação do processo coletivo Dentro do processo coletivo, trabalha-se com dois grupos: comum e especial. Essa é uma classificação encontrada comumente nos doutrinadores. O processo coletivo comum tem como objetivo a tutela da higidez do direito subjetivo. A essência do processo coletivo comum é proteger o direito material coletivo direito transindividual. Ex.: Ação Popular e Ação de Improbidade Administrativa. O processo coletivo especial, por sua vez, tem como objetivo a tutela da higidez do direito objetivo. A ideia não é a tutela em si de interesses individuais, mas a tutela da segurança jurídica (mediante a proteção da uniformidade do direito objetivo). As ações de controle, para a doutrina, são exemplos de processo coletivo especial (ADI, ADC, ADPF etc.), justamente por tutelarem a higidez do direito objetivo. PROCESSO COLETIVO COMUM tutela da higidez do direito subjetivo Ex.: Ação Popular PROCESSO COLETIVO ESPECIAL tutela da higidez do direito objetivo Ex.: Ações de Controle, como a ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) Página1 Obs.: para parte da doutrina, o chamado julgamento de casos repetitivos também é um exemplo de processo coletivo, pois nesse julgamento (art. 928 do CPC) fixa-se uma tese jurídica a ser aplicada em casos futuros.
2 Art Para os fins deste Código, considera-se julgamento de casos repetitivos a decisão proferida em: I - incidente de resolução de demandas repetitivas; II - recursos especial e extraordinário repetitivos. Parágrafo único. O julgamento de casos repetitivos tem por objeto questão de direito material ou processual. Outro ponto importante é justamente entender a classificação dos direitos, ou interesses, transindividuais (também chamado de direitos metaindividuais ou coletivos em sentido amplo lato sensu). O primeiro cuidado é que, para a tese dominante, se pode usar tanto a nomenclatura direito quanto a nomenclatura interesse. A justificativa principal está no CDC, visto que seu art. 81, parágrafo único, usa tanto o termo direito quanto o termo interesse, transparecendo que o próprio legislador teria deixado claro que há sinonímia entre os termos. Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. Há de se mencionar também que esses direitos transindividuais são gênero, que comporta duas espécies: direitos essencialmente coletivos e direitos acidentalmente coletivos. Na doutrina, encontra-se muito essa classificação, podendo-se encontrar dois termos: tutela de Página2 direitos coletivos (neste caso a referência é aos direitos essencialmente coletivos direitos cujo titular não é um único indivíduo, mas a coletividade, como o direito a meio ambiente ecologicamente equilibrado) e tutela coletiva de direitos (neste caso a referência é que o direito, na essência, não é coletivo, mas
3 individual. Porém, o ordenamento permite que esse direito seja tutelado de forma coletiva de maneira acidental). Tutela de Direitos Coletivos -> se refere aos direitos essencialmente coletivos. Tutela Coletiva de Direitos -> se refere a direitos individuais que recebem tutela coletiva acidentalmente. Outra nomenclatura que pode surgir é quanto aos direitos acidentalmente coletivos, que também são chamados de pseudocoletivos. Além dessa nomenclatura, pode-se também encontrar na doutrina o termo ações essencialmente coletivas, que dizem respeito aos direitos essencialmente coletivos; já nas ações acidentalmente coletivas, há referência aos direitos acidentalmente coletivos. Direitos difusos Direitos Essencialmente coletivos Direitos coletivos em sentido estrito (stricto sensu) Acidentalmente coletivos Direitos individuais homogêneos Obs.: muitos autores usam o termo classificação tricotômica dos interesses transindividuais. Página3
4 2. Microssistema da tutela coletiva Ao contrário do que ocorre com o processo individual, não existe uma codificação das regras que tratam dos processos coletivos. Esse microssistema não faz parte de uma codificação, donde as normas que regulam o processo coletivo estão espalhadas pelo ordenamento jurídico, numa legislação chamada de descodificada (leis especiais e extravagantes). Nessa seara, as normas de processo coletivo têm uma peculiaridade; existem leis que são tão minuciosas que formam um microssistema (inserido num único corpo legislativo), como o Estatuto do Idoso e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Um detalhe do microssistema do processo coletivo é que não há um único corpo legislativo que trate do tema, mas vários, causando uma relação de mútua complementariedade, gerando fenômenos como o diálogo de fontes e normas de reenvio. Existem duas normas principais ao microssistema do processo coletivo: Lei de Ação Civil Pública e o CDC (contudo, a rigor, todas as leis que regulam de alguma forma o processo coletivo serão integrantes do microssistema do processo coletivo). Art. 21 da Lei de Ação Civil Pública e art. 90 do CDC: esses dois artigos se complementam, com um remetendo para aplicação do outro. Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor. Art. 90. Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código de Processo Civil e da Lei n 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo que não contrariar suas disposições. Obs.: cuidado com o art. 105-A da Lei 9.504/97 (Código Eleitoral). Esse artigo preconiza a inaplicabilidade dos procedimentos da ação civil pública no processo eleitoral. No entanto, a Lei de Ação Civil Pública não traz procedimento, havendo então um equivoco do legislador da Lei 9504/07. julho de Art. 105-A. Em matéria eleitoral, não são aplicáveis os procedimentos previstos na Lei no 7.347, de 24 de Página4 Obs.2: Finalidade das normas do microssistema: suprir eventuais omissões. Imagine uma lei especial que regula certa ação coletiva; em determinado ponto, o intérprete verifica que existe uma omissão quanto
5 a determinado ponto. Para se suprir aquela omissão, deve-se aplicar as regras do microssistema da tutela coletiva (art. 21 da Lei de Ação Civil Pública e art. 90 do CDC). Se ainda assim houver omissão, buscar-se-á as regras do CPC e do Código Civil conforme a hipótese. Dessa forma, primeiro há aplicação subsidiária das regras do microssistema e somente após uma aplicação residual das regras do CPC e do CC. Página5
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