PERÍCIA AMBIENTAL E AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BIOMA CAATINGA



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Transcrição:

PERÍCIA AMBIENTAL E AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BIOMA CAATINGA Flávia Michels Gonçalves Sarges Pontifícia Universidade Católica de Goiás/IFAR. flaviasarges@gmail.com Janaína Juliana Maria Carneiro Mestre em Ciências Florestais /Universidade de Brasília. Resumo Unidades de Conservação são espaços territoriais especialmente protegidos por lei e sua criação é instrumento da Política Nacional de Meio Ambiente. Essas áreas são utilizadas para constatação de dano ambiental por parte do perito ambiental criminal. A Caatinga é o único bioma totalmente brasileiro, pois não é compartilhado com nenhum outro país e é considerado o terceiro bioma mais degradado do Brasil. A criação de Unidades de Conservação é de fundamental importância para a preservação e racionalização do uso dos recursos naturais no bioma, sendo necessária a adoção de estratégias de conservação. O presente trabalho busca verificar a atual situação das unidades de conservação na Caatinga. O resultado encontrado mostrou que apenas 7% da área total do bioma está protegido por unidades de conservação. As Reservas Particulares do Patrimônio Natural estão em quantidade semelhante às UCs criadas pelo poder público. Faz-se necessário o fortalecimento de políticas públicas para criar mais áreas, estimular a criação de Reservas Biológicas e Estações Ecológicas onde o acesso ao público é mais restrito, incentivar o uso sustentável dos recursos naturais na Caatinga e a fiscalização dessas áreas protegidas. Assim, as áreas especialmente protegidas serão importante instrumento para a perícia ambiental auxiliar na promoção da conservação dos biomas brasileiros. Palavras-chave: Caatinga. Legislação Ambiental. Unidades de Conservação. Perícia ambiental. Abstract Conservation units are territorial areas specifically protected by law and its creation is an instrument of National Policy on Environment. These areas are used for realization of environmental damage by the environmental expert criminal. The Caatinga biome is the only totally Brazilian, it is not shared with any other country and is considered the third most degraded biome of Brazil. The creation of protected areas is of fundamental importance for the preservation and rational use of natural resources in the biome, which requires the adoption of conservation strategies. This study aims to verify the current status of conservation in the Caatinga. The results found showed that only 7% of the total area of the biome is protected by conservation units, the Private Natural Heritage Reserves are in amounts similar to the UCs created by the government. It is necessary to strengthen public policies to create more areas, stimulating the creation of biological reserves and ecological stations where access is more restricted to the public, encourage the sustainable use of natural resources in the Savanna and enforcement of these protected areas. Thus, the specially protected areas are an important instrument for environmental expertise assist in promoting the conservation of the biomes. Keywords: Caatinga. Environmental Legislation. Conservation Units. Environmental expertise

1 INTRODUÇÃO A perícia ambiental no Brasil tem uma relação direta com o conhecimento sobre as áreas dos Biomas especialmente protegidas por Lei. Tal afirmação está alicerçada na Lei de Crimes Ambientais, Lei nº 9605 de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. A Lei de Crimes Ambientais associa às unidades de conservação desde a aplicação de penas restritivas de direitos, artigo 9º, passando pela circunstância agravante à penalidade quando o crime é praticado nestas áreas, artigo 15, e ainda, considera crime, em seu artigo 40, o dano cometido em Unidades de Conservação. Nesse contexto, o perito ambiental deve ter conhecimento sobre cada bioma brasileiro e a situação de conservação prevista em lei. O bioma caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro (MMA, 2002), haja vista não ser compartilhado com nenhum outro País o que aumenta a importância de sua conservação para as próximas gerações, ou seja, manter a intergeracionalidade dos recursos ambientais desse bioma. O Bioma Caatinga originalmente localiza-se nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais, abrangendo 826.411 km 2 de extensão (AB SABER, 1977) sendo composto por um mosaico de florestas secas e vegetação arbustiva, denominada savana-estépica com manchas de Cerrado e florestas úmidas (MMA, 2002). Por muitos anos, a Caatinga foi descrita como um ecossistema com baixa biodiversidade e baixo endemismo (LEAL ET. AL., 2005), porém estudos recentes de Leal et al. 2003 mostraram que o bioma é de fundamental importância na conservação da biodiversidade brasileira. Durante esses estudos, foram catalogadas 932 espécies de plantas vasculares, 187 de abelhas, 240 de peixes, 167 de répteis e anfíbios, 510 de aves e 148 de mamíferos, com um endemismo em torno de 3% para aves e de 57% para mamíferos (LEAL et al., 2003). Embora os inventários para a flora estejam incompletos, pois 41% da região nunca foram investigados e 80% permanecem subamostrados, considerando apenas plantas lenhosas e suculentas são 318 espécies endêmicas, ou seja, 34% das espécies descritas (TABARELLI; SILVA, 2004).

Em 2002 a Caatinga foi considerada uma das 37 grandes regiões naturais do planeta (i.e., regiões naturais que cobrem mais de 10.000 km 2 ), dos quais mais de 70% é constituído por vegetação intacta (AGUIAR et al., 2002). Registros históricos apontam a devastação da região desde 1500 para a construção de casas, cercas e fazendas de gado, logo após a colonização europeia, contudo é possível que esses valores estejam subestimados, porque é difícil dimensionar a extensão da perda dos ecossistemas naturais da flora e fauna do Nordeste brasileiro nos últimos 500 anos (LEAL ET. AL., 2005). A importância da Caatinga não se deve apenas à sua alta biodiversidade e elevado endemismo, mas também por se tratar de uma região árida totalmente imprevisível e por funcionar como um importante laboratório para estudos de como plantas, invertebrados e vertebrados se adaptaram a um regime de chuvas altamente variável e estressante (LEAL ET. AL., 2005). Segundo Castelletti et. al. (2004) os remanescentes da Caatinga estão distribuídos em uma grande quantidade de fragmentos de diferentes tamanhos, sendo que o ideal seria um único bloco, a fim de amenizar o efeito de borda. Apesar de assustadoras, essas estimativas fornecem diretrizes para a seleção e planejamento das estratégias de conservação no bioma com a criação de espaços especialmente protegidos, como as Áreas de Preservação Permanentes (APP), Reservas Legais (RL) e Unidades de Conservação (TABARELLI; SILVA, 2004). No artigo 225 da Constituição Federal de 1988, 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. Os biomas Caatinga, Cerrado, Campos Sulinos e o Pantanal Sul Mato-Grossense não foram considerados pela Carta Magna Patrimônio Nacional o que pode deixá-los mais vulneráveis quanto à degradação de seus ecossistemas. O Brasil é o país com a maior diversidade mundial, possui os biomas: Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal, Caatinga e Pampas, e a conservação desses biomas tem desafios específicos. As estratégias de conservação devem preservar recursos para as próximas gerações. A perícia ambiental deve considerar o respeito a estas estratégias, haja vista o disposto na Lei de Crimes Ambientais, Lei nº 9605 de 1998, que considera a infração

cometida em Unidades de Conservação como crime contra a flora, com pena de reclusão de um a cinco anos, em conformidade com o disposto no artigo 40: Art. 40 - Causar dano direto ou indireto as Unidades de conservação e as áreas de que trata o art. 27 do Decreto n 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de sua localização. Assim, conhecer a proposta de conservação do País para cada um dos biomas é fundamental para melhor desenvolver com sustentabilidade. O bioma Caatinga é exclusivamente brasileiro, pois não é compartilhado com outros países, o que torna sua conservação muito relevante. A criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal é um dos instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente - PNMA, Lei 6.938 de 1981. O objetivo da PNMA é que o Brasil tenha um desenvolvimento em bases sustentáveis, e isso depende diretamente da implementação dos instrumentos dessa política. 2 METODOLOGIA Foi realizado um levantamento bibliográfico no período de Agosto de 2011 a Fevereiro de 2012, a fim de coletar dados e informações sobre as Unidades de Conservação no Bioma Caatinga. Esses dados foram obtidos através de consultas realizadas no Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC) contido na página do Ministério do Meio Ambiente (MMA) na rede mundial de computadores, e no sítio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Sítios como SciELO acadêmico, periódicos da CAPES e materiais emprestados por profissionais da área também foram de fundamental importância para a construção do presente trabalho. Foram consultadas no sítio do ICMBio informações sobre as Reservas Particulares do Patrimônio Natural no bioma.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Da importância da Caatinga Ambientalmente, a importância da Caatinga não se restringe somente a sua alta biodiversidade e alto endemismo, tanto da flora como da fauna, mas por ser uma região árida bastante imprevisível e por ter biomas mésicos à sua volta, a Caatinga é considerada uma anomalia climática, funcionando como um grande laboratório de estudos de vertebrados, invertebrados e plantas que se adaptam perfeitamente a um regime de chuvas altamente variável (LEAL ET. AL., 2005). Serras e chapadas da região também merecem atenção, principalmente as mais altas que se estendem por longas distâncias, e que cortam as principais frentes de chuva formando várias linhas de locais mais úmidos (PÔRTO ET. AL., 2004; JUNCÁ ET. AL., 2005; QUEIROZ ET. AL., 2006). Temperaturas mais amenas resultam em menor evapotranspiração e em condensação noturna, durante os meses mais frios e mais úmidos do ano, o que favorecem o balanço hídrico nessas áreas (MMA, 2010). Depressões presentes nessas partes altas podem acumular água, criando bolsões de água que ficam disponíveis ao longo de todo o ano e brotam pequenos e grandes rios da região (MMA, 2010). Os solos da Caatinga são considerados os com maior variabilidade do país, tanto pela sua formação, como pela textura, pois estão presentes solos bastante arenosos, como no caso dos Neossolos Quartzarenicos, e solos muito argilosos, como por exemplo, os Vertissolos. Os primeiros apresentam menor capacidade de retenção de água, porém com uma fácil percolação. Solos não tão profundos, com 1m de profundidade, não servem como reserva de água para plantas por muito tempo, enquanto em solos mais profundos, o estoque de água garante a sobrevivência de plantas, cujas raízes conseguem explorar um volume maior, podendo durar meses (MMA, 2010). A conservação do bioma é de extrema importância não só para a região, pois ela é responsável pela manutenção global do clima, da disponibilidade de água potável, de solos próprios para a agricultura e de parte importante da biodiversidade do planeta (TABARELLI; SILVA, et a., 2004). Atualmente se discute muito o uso sustentável de recursos naturais, de forma a preservar o meio ambiente para as futuras gerações. Na Caatinga uma das principais ameaças a preservação do bioma tem sido a forma de uso que a população realiza no

bioma. Segundo Mittermeier et. al. (2002), aproximadamente 25 milhões de pessoas (15% da população brasileira) vivem na Caatinga. A exploração não sustentável dos recursos na agricultura de corte e queima, corte de madeira para a lenha, a caça de animais e a contínua abertura de pastos para a criação de bovinos e caprinos, contribuem para o desmatamento da região e empobrecimento ambiental (TABARELLI; SILVA, 2004). Diante do exposto, fica evidente a suma importância de Unidades de Conservação na região, visto que a Caatinga não é uma região pobre como foi descrita anteriormente, e sim um bioma que tem uma forte influência em todos os outros biomas, sendo essencial para a manutenção dos mesmos. Os usos da Caatinga devem estar associados com as estratégias de conservação para o bioma, a fim de que o uso sustentável dos recursos ambientais do bioma sejam priorizados em detrimento de outros usos. 3.2 Legislação Ambiental A conservação dos biomas brasileiros está associada a elaboração de um conjunto de normas que tratam o ambiente como um todo. Neste contexto, foi elaborada a lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e constituiu o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). A PNMA tem como um de seus objetivos preservar e restaurar os recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida. Um dos instrumentos da Política que pretende alcançar esse objetivo é a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas. Observa-se que o instrumento cita como espaços territoriais a serem criados, exemplos de categorias de unidades de conservação do grupo das unidades de uso sustentável, prioriza, portanto, o uso sustentável na estratégia de conservação. A Constituição Federal de 1988 recepcionou integralmente a Política Nacional de Meio Ambiente. Entre as incumbências do poder público para garantir o direito a um

ambiente ecologicamente equilibrado, foi elencada em seu artigo 225, que todas as unidades da federação devem definir espaços territoriais a serem especialmente protegidos. O bioma Caatinga não foi considerado Patrimônio Nacional pela Carta Magna (BRASIL, 1988), sendo assim, a conscientização de sua preservação é algo que demanda muito esforço por parte de estudiosos. Desde agosto de 2010 está na Câmara dos Deputados uma proposta de emenda à Constituição (PEC) nº 504/2010 que inclui o Cerrado e a Caatinga como Patrimônio Nacional, a fim de criar estratégias de proteção para esses dois biomas não menos importantes quanto os demais que estão protegidos por lei. Neste contexto, o Brasil passou a fazer um esforço para criar em todas as esferas de governo unidades de conservação. Em 1992, quando da Rio 92, o Brasil aprovou o texto da Convenção sobre Diversidade Biológica - CDB contendo três objetivos principais: conservação da diversidade biológica, utilização sustentável de seus componentes e repartição justa e equitativa de seus benefícios. O artigo 8º da CDB coloca que cada parte contratante deve estabelecer um sistema de áreas protegidas ou áreas onde medidas especiais precisem ser tomadas para conservar a diversidade biológica. Por meio da Lei 9.985 de 2000, o Brasil institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) que regulamentou o art. 225 da Constituição Federal. O SNUC estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação no Brasil e considera unidade de conservação: Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. Segundo a referida lei, as unidades de conservação que fazem parte do SNUC são dividas em dois grupos: Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável. As unidades de proteção integral têm por objetivo primordialmente a preservação da natureza, permitindo apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. Enquanto que nas unidades de uso sustentável busca-se compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parte dos seus recursos naturais. As unidades de proteção integral são compostas por cinco categorias de unidades de conservação: estação ecológica (ESEC), reserva biológica (REBIO), parque nacional

(PARNA), monumento natural (MONA) e refúgio da vida silvestre (RVS), enquanto são sete categorias das unidades de uso sustentável: área de proteção ambiental (APA), área de relevante interesse ecológico (ARIE), floresta nacional (FLONA), reserva extrativista (RESEX), reserva de fauna, reserva de desenvolvimento sustentável (RDS) e reserva particular do patrimônio natural (RPPN) (BRASIL, 2000). A lei de crimes ambientais determina quais tipos de sanções penais serão aplicadas em caso de danos ambientais ocorridos em unidades de conservação. A lei subsidia, portanto, a elaboração de laudos por parte dos peritos ambientais. Na referida norma, capítulo V, que trata sobre os crimes contra o meio ambiente, especificamente na seção II estão elencados os crimes contra a flora, o art. 40 desta seção determina a pena relacionada ao dano ambiental em unidade de conservação reclusão de um a cinco anos. A efetiva conservação do bioma caatinga depende do cumprimento da normativa exposta, além das leis estaduais e municipais específicas. 3.3 Unidades de Conservação no Bioma Caatinga O primeiro passo para a conservação da biodiversidade é a identificação de áreas e ações prioritárias, para elaboração de uma estratégia regional ou nacional (NOSS ET. AL., 1997), pois assim é possível classificar os esforços e recursos disponíveis para a conservação e auxiliar a criação de políticas públicas de ordenamento territorial (TABARELLI; SILVA, et al, 2004). O Brasil já definiu as áreas e as ações prioritárias para todos os seus grandes ecossistemas, e isso se deve a um acordo firmado no âmbito da Convenção da Diversidade Biológica, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento na Rio 92 (DIAS, 2001). O Ministério do Meio Ambiente - MMA e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA firmaram acordo de cooperação em 2008, para a realização do Programa de Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Satélite, que conta com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUD, e o levantamento no Bioma Caatinga mostrou que até o ano de 2009 a área remanescente do bioma era de 53,38%, ou seja, 326.639 km 2 haviam sido suprimidas por ação antrópica (MMA, 2011).

Esses dados colocam o bioma em questão em terceiro lugar como o ecossistema mais degradado do Brasil, já que em segundo vem o Cerrado com 989.817 km 2 de área suprimida, o que corresponde a 45,63% do total do bioma (MMA, 2011). Entre os biomas que apresentam maior área protegida por Unidades de Conservação (UCs) temos em primeiro lugar o Bioma Amazônia com 23,27% do seu território protegido por UCs, divididos em 9,45% de unidades de proteção integral e 13,83% de uso sustentável, em segundo vem o Cerrado que contém 7,44% de sua área protegida por unidades de conservação, federais, estaduais e municipais, sendo que aproximadamente 2,91% é protegida na forma de unidades de conservação de proteção integral, tais como os parques nacionais, posteriormente vem o bioma Mata Atlântica com 6,93% da sua área protegida por Unidades de Conservação, sendo que 2% são de proteção integral e 4, 93% de uso sustentável, e por último vem o bioma Caatinga com apenas 1% de área protegida por unidades de conservação de proteção integral e 6,4% de área protegida por unidades de conservação de uso sustentável (MMA, 2011), ou seja, a Caatinga tem o menor número de unidades de conservação e a menor área protegida dentre os biomas brasileiros (TABARELLI; SILVA, 2004). Pelo exposto, observa-se que a estratégia de conservação brasileira para todos os biomas tem priorizado a criação de unidades de conservação do grupo de uso sustentável, onde a presença humana é mais aceitável, o que pode ser um aliado na proteção e na conservação dos recursos naturais. Segundo dados do Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC), a Caatinga atualmente conta com 20 Unidades de Conservação de Proteção Integral, sendo 12 criadas pela União e 8 pelos Estados. No grupo das unidades de Conservação de Uso Sustentável esse número é mais que o dobro do primeiro grupo, onde são encontradas 21 unidades de conservação na esfera federal e 30 na esfera estadual, totalizando 51 unidades de conservação, conforme Tabela 1.

Tabela 1. Unidades de Conservação de Proteção Integral no Bioma Caatinga. Esfera Federal Esfera Estadual Grupo Categoria Nº Área total (km 2 ) Nº Área total (km 2 ) REBIO 1 6,24 - - ESEC 4 1.303,07 - - Proteção Integral Parque 6 11.426,94 5 799,06 MONA 1 267,36 2 3,93 RVS - - 1 274,88 TOTAL 12 13.003,61 8 1.077,87 APA 2 10.019,51 19 27.413,90 ARIE 2 76,18 3 122,20 FLONA 5 529,35 - - Uso Sustentável RDS - - - - RESEX - - - - Reserva de Fauna - - - - TOTAL 9 16.625,04 22 27.536,61 TOTAL 21 29.628,65 30 28.614,48 Fonte: Cadastro Nacional de Unidades de Conservação CUNC, 2011 Não foram encontradas no CNUC unidades de conservação criadas pelos municípios. Pode-se inferir que os municípios ou não estão se sentindo estimulados a criar unidades de conservação ou não estão alimentando o cadastro com as informações das unidades criadas. No grupo das unidades de conservação de proteção integral a categoria mais abundante é a dos Parques Nacionais, com um total de 11 e que abrangem uma área de 12.226 km 2. Ainda no mesmo grupo observa-se três categorias com apenas uma unidade cada, sendo a Reserva Biológica com a menor área (6,24 km 2 ), e Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre com 267,36 km 2 e 274,88 km 2 respectivamente. Constata-se que os Parques Nacionais do grupo de proteção integral é a categoria mais atrativa para ser criada, tal fato pode estar relacionado com o objetivo de criação de um parque, em conformidade com o SNUC. A possibilidade de ações de interpretação ambiental, turismo, entre outras permitem o acesso das pessoas a essas áreas de uma maneira relativamente mais fácil quando comparada a outras categorias mais restritivas como REBIO e ESEC. Considerando o grupo de unidades de conservação de Uso Sustentável a categoria que contém mais unidades tanto na esfera federal como na estadual é a Área de Proteção Ambiental com 21 unidades, abrangendo um total de 37.433,41 km 2. Nesse grupo não foi encontrada nenhuma unidade de conservação nas categorias Reserva de Desenvolvimento

Sustentável, Reserva Extrativista e Reserva de Fauna em todas as esferas. As Florestas Nacionais são a segunda categoria mais criada com cinco unidades em 529,35 km 2 de área. APA é a categoria de unidade de conservação menos restritiva e, aparentemente, de mais fácil gestão pelo poder público, já que não existem imposições significativas para conservação nessas áreas, talvez por isso sejam criadas em maior quantidade. Para criar RDS e RESEX o poder público deve identificar populações tradicionais a serem tuteladas. Como a caatinga é pouco conhecida pode se inferir que as suas comunidades tradicionais também não foram devidamente mapeadas. Até o momento, não foi criada nenhuma Reserva de Fauna no Brasil. A possibilidade de o estado realizar concessão florestal associada à criação de FLONAS pode estar estimulando a sua criação no bioma. Apesar da grande diferença nos números de unidades de conservação entre a União e os Estados, elas ocupam quase que um mesmo tamanho em área, com 29.628,65 km 2 criadas pelo poder público federal e 28.614,48km 2 pelo estadual. Na tabela 2 as Unidades de Conservação do Bioma Caatinga foram quantificadas pelos instrumentos legais em que foram criadas e pelo ano de criação, ou seja, antes e depois de 2000. Tabela 2 Número de Unidades de Conservação agrupadas pelos instrumentos legais em que foram criadas e o período de criação, antes e depois de 2000. Instrumento de Criação Ano de Criação Grupo Categoria Decreto Portaria Resolução Lei Antes de 2000 Depois de 2000 RESBIO 1 - - - 1 - ESEC 3 1 - - 1 3 Proteção Parque 11 - - - 5 7 Integral MONA 3 - - - - 2 RVS 1 - - - - 1 Total 19 1 - - 7 13 APA 20 - - 1 16 5 ARIE 3-2 - 3 2 Uso Sustentável FLONA 4 1 - - 2 3 RDS - - - - - - RESEX - - - - - - Reserva de - - - - - - Fauna Total 27 1 2 1 21 10 Total 46 2 2 1 28 23 Fonte: Cadastro Nacional de Unidades de Conservação CUNC, 2011. No grupo de Unidades de Proteção Integral, nenhuma das unidades listadas foi criada por meio de resolução e lei, enquanto apenas uma das quatro apresentadas (ESEC) foi criada por meio de portaria, e as outras três foram através de decretos, sendo três

criadas depois de 2000 e apenas uma antes do ano em questão. Todos os 11 Parques Nacionais foram instituídos por meio de decretos, sendo sete depois de 2000 e cinco anteriores a 2000. A única Reserva Biológica foi criada antes de 2000 por meio de decreto, assim como a única Reserva da Vida Silvestre também criada por decreto, porém após o ano 2000. Observa-se, que após a instituição do SNUC, o Brasil tem criado mais unidades de conservação, mas mesmo entre as unidades do grupo de proteção integral priorizam-se as que o público em geral tem mais acesso. Dentro do grupo uso sustentável assim como no grupo de proteção integral, a maioria da UCs foram criadas através de decretos, com exceção de uma APA, duas ARIEs e uma FLONA que foram criadas por meio de lei, resolução e portaria respectivamente. Das 31 UCs criadas por instrumentos legais, 21 foram instituídas antes de 2000 e as outras 10 estabelecidas posteriormente a essa data. Originalmente a Constituição Federal só permite a criação de áreas especialmente protegidas por Lei, mas o SNUC facilitou a criação dessas áreas dificultando a sua redução ou mesmo a desafetação de parte da área, e essas sim só podem ser realizadas por lei. 3.4 Reservas particulares do patrimônio natural RPPN As Reservas Particulares do Patrimônio Natural são unidades de conservação de domínio privado, gravadas com perpetuidade e que tem o objetivo de conservar a biodiversidade (BRASIL, 2000). O sítio do Ministério do Meio Ambiente disponibiliza o Cadastro Nacional de Unidades de Conservação, porém a busca por RPPNs só pode ser realizada se não for especificado o bioma, assim aparecem mais de 600 dessas unidades, o que pode ser causado por um erro no momento do cadastro ou pela falta de conhecimento do bioma no qual a RPPN foi inserida. Na tabela 3 foram quantificadas as RPPNs por bioma. Em primeiro lugar, temos o bioma Mata Atlântica com 371 Reservas Particulares do Patrimônio Natural, esse número é mais que o dobro do segundo bioma, o Cerrado, que apresentou 130 RPPNs. A Caatinga vem em terceiro lugar com apenas 50 dessas reservas particulares, e a Amazônia com 49 RPPNs. Por fim o Pantanal e os Pampas somam um total de 19 RPPNs. Não foi possível

contabilizar a área total que as RPPNs abrangem, pois no CNUC a maioria delas não apresentava a sua dimensão. Observa-se que em número, quando comparadas às demais categorias de unidades de conservação, a criação de RPPN tem sido importante para a conservação do bioma. Tal inferência demonstra o alto interesse do proprietário privado em preservar o bioma. Tabela 3. Número de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) por bioma. Bioma RPPN Mata Atlântica 371 Cerrado 130 Caatinga 50 Amazônia 49 Pantanal 12 Pampa 7 TOTAL 619 Fonte: Cadastro Nacional de Unidades de Conservação CNUC, 2011. 4 CONCLUSÃO No Bioma Caatinga, o Cadastro Nacional de Unidades de Conservação registra um total de 51 Unidades de Conservação, divididas em 20 de Proteção Integral e 31 de Uso Sustentável, abrangendo uma área de 14.081,48 km 2 e 44.161,65 km 2 respectivamente. O somatório dessas áreas é 58.243,13 km 2, o que corresponde á aproximadamente 7% da área total do bioma. Em um total de 50 RPPNs encontradas na Caatinga, elas correspondem a aproximadamente 8% das 619 listadas em todos os biomas. Observa-se também que a Caatinga detém quase que a mesma quantidade de Unidades de Conservação criadas pelo poder público (51 UCs) e Reservas Particulares criadas por proprietários privados(50 RPPNs). Esses dados são importantes, pois mostram que mesmo com a insuficiência de incentivos oferecidos aos proprietários de imóveis rurais (MESQUITA, 2004), o interesse dessas pessoas em criar RPPNs em suas propriedades é bastante alto. É notório que a área protegida do bioma Caatinga ainda não é suficiente para conservar e preservar um bioma que já é considerado o terceiro mais degradado do país. Segundo Araújo (2008) a criação de UC é uma das estratégias mais importantes para a conservação da biodiversidade, pois é nessas áreas que estão garantidas a

permanência de espécies sensíveis a habitats alterados, e a manutenção dos processos ecológicos e evolutivos das comunidades biológicas que estão presentes em cada ecossistema e até mesmo a supervivência da espécie humana. Ao determinar uma área prioritária para a conservação, é necessário um estudo prévio desta para identificar a sua importância e relevância, mediante a sua preservação e conservação. Após identificar e classificar a área deve-se verificar quais são os principais desafios apresentados para a sua conservação e aí elaborar estratégias e alvos para que o objetivo seja alcançado. Após uma área de proteção ser legalmente criada, é essencial que ela seja manejada eficazmente, a fim de manter a sua diversidade biológica. Um manejo que seja realizado de forma ineficiente ou até mesmo na sua ausência, pode provocar graves impactos, como por exemplo, a extinção de espécies por meio da presença de pessoas que adentram essas áreas com o objetivo de extração dos recursos naturais de maneira indiscriminada (PRIMACK ET. AL., 2001). Uma boa gestão ambiental é de suma importância para que a proteção de uma área seja realmente efetiva, além disso, o conhecimento de espécies consideradas carismáticas, endêmicas e raras, pode ser atrativo de recursos financeiros para estas áreas (REED, 2004). Na Caatinga o principal desafio é a exploração dos recursos naturais de forma não sustentável, e o aumento de Unidades de Proteção Integral seria uma boa estratégia de conservação, principalmente as mais restritivas como Reserva Biológica e Estação Ecológica, que não permitem um acesso direto do público, possibilitando uma maior preservação dos recursos naturais. Contudo, é sabido que essas categorias são as que mais demandam recursos públicos para a sua devida manutenção e necessitam de programas, por exemplo, de Educação Ambiental capazes de fazer a população local aceitá-las e cooperarem com a sua preservação. Ações de fiscalização são de fundamental importância nessas áreas legalmente protegidas, pois é através dela que, serão respeitados e cumpridos o que cada UC tem por objetivo. Caso as ações do poder de polícia administrativo sejam ineficientes, entra em cena a ação policial e o importante papel do perito ambiental de materializar o dano ambiental em unidades de conservação para que o juiz possa aplicar as devidas sanções penais.

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