CENTRO DE ESTUDOS E AÇÕES SOLIDÁRIAS DA MARÉ. Disciplina Sociologia Tema: Estado e Democracia Professor: Laís Jabace

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Transcrição:

CENTRO DE ESTUDOS E AÇÕES SOLIDÁRIAS DA MARÉ Disciplina Sociologia Tema: Estado e Democracia Professor: Laís Jabace ESTADO E SISTEMA POLÍTICO Parte I Estado Sociedade pode ser entendida como sistemas de interações humanas que seguem um padrão cultural, ou seja, uma orientação comum de comportamento, valores e ações. Envolve mais do que relações interpessoais/individuais, pois também é composta por regras e instituições que guiam os comportamentos (estruturas). Política O termo político vem do grego polis e designa, desde a Antiguidade, o campo da atividade humana que se refere à cidade, ao Estado, à administração pública e ao conjunto de cidadãos. Para Aristóteles a política é a continuação da ética, só que aplicada à vida pública. As instituições públicas e formas de governo deveriam propiciar uma melhor maneira de viver em sociedade. A cidade é uma criação natural, pois o ser humano é um animal social e político. A política como esfera de realização do bem comum. No entanto, o conceito moderno de política está estreitamente ligado ao de poder: Política é o processo de formação, distribuição e exercício do poder. Governar, segundo Foucault, é o poder de conduzir corpos, ações e sujeitos. Poder: ser capaz de. Faculdade, capacidade, força ou recurso para produzir certos efeitos. Russell: é a posse dos meios que levam à produção de efeitos desejados, ou seja, o indivíduo que detém esses meios tem a capacidade de exercer determinada influência ou domínio e alcançar os efeitos que desejar. Nesse sentido, o poder é exercício. Conceito básico de Estado: O Estado é uma instituição social complexa, sendo uma forma de organização cuja natureza é política. O termo Estado deriva do latim status (estar firme), significando a permanência de uma situação de convivência humana ligada à sociedade política. Pode ser caracterizado por (1) um povo, ou seja, uma população com vínculo identitário; (2) um território, uma área delimitada; e (3) um governo, que é a manifestação mais dinâmica e visível do próprio Estado. O Estado é impessoal e permanente. Tem como prerrogativa (4) o monopólio legítimo do direito ao uso da força para garantir a existência do Estado e a unidade do país, bem como equilibrar as assimetrias entre os cidadãos e manter a ordem instituída. A (5) soberania nacional é o reconhecimento por parte dos outros Estados e instituições internacionais de que há o monopólio da autoridade dentro das fronteiras, o que significa dizer que concebem determinada unidade territorial como um Estado. Resumindo, é a instituição política que, dirigida por um governo soberano, reivindica o monopólio do uso legítimo da força física em determinado território, subordinando os membros da sociedade que nele vivem. Estado Moderno Centralização e concentração: - das Forças Armadas e do monopólio da violência; - da estrutura jurídica, isto é, dos juízes e dos tribunais em várias instâncias; - da cobrança de impostos um signo do poder e, ao mesmo tempo, o meio de assegurar a manutenção das Forças Armadas, da burocracia e do campo jurídico; - de um corpo burocrático para administrar o patrimônio público, como as estradas, os portos, o sistema educacional, a saúde, o transporte, as comunicações e outros tantos setores. 1

Como abordado nas aulas de história e geografia, o Estado moderno surgiu a partir da desintegração do mundo feudal e das relações políticas dominantes na Europa até o século XVI. Ocorre então um processo de centralização e concentração de poderes e instituições, o que caracteriza o Estado moderno, que assumiu diferentes formas. Os Estados, por meio de seus governos (executores de ações, programas e projetos), têm autoridade para gerir recursos do fundo público; promulgar e aplicar as leis referentes aos crimes, aos direitos e às obrigações dos membros da sociedade; usar a força (polícia e exército) contra aqueles que forem considerados inimigos da sociedade; decretar a guerra e a paz. Os contratualistas Alguns pensadores dos séculos XVII e XVIII chegaram à conclusão de que os homens são, por natureza, livres e iguais. Segundo eles, em determinado momento foi necessário modificar essa liberdade e estabelecer um acordo/contrato social, o qual teria dado origem ao Estado. Hobbes (1588-1679): De acordo com o filósofo inglês, o ser humano, embora vivendo em sociedade, não possuiria o instinto natural da sociabilidade. Enquanto não se estabelece um sistema de domínio, haverá sempre uma competição intensa entre os seres humanos. Logo, o estado de natureza seria um estado de permanente guerra. Para solucionar essa brutalidade, é necessária a criação artificial da sociedade política, administrada pelo Estado: os seres humanos firmam um contrato entre si, pelo qual cada um transferia seu poder de governar a si próprio para um terceiro o Estado ara que esse Estado governasse a todos, impondo ordem, segurança e direção à conturbada vida social. Locke (1632-1704): Em estado de natureza, os seres humanos viveriam isolados e em uma condição na qual, por falta de normatização geral, cada qual seria juiz de sua própria causa, o que levaria ao surgimento de problemas nas relações. O Estado seria criado para evitar esses problemas, garantindo a segurança dos indivíduos e seus direitos naturais, como a liberdade e a propriedade. Diferentemente de Hobbes, portanto, Locke concebe a sociedade política como um meio de assegurar os direitos naturais e não como o resultado de uma transferência dos direitos dos indivíduos para o governante. E assim nasce a concepção de Estado liberal, segundo a qual o Estado deve regular as relações entre os homens e atuar como juiz nos conflitos sociais, garantindo as liberdades e direitos individuais. Rousseau (1712-1778): Defende a tese de que o único fundamento legítimo do poder político é o pacto social pelo qual cada cidadão, como membro de um povo, concorda em submeter sua vontade particular à vontade geral. Isso significa que a submissão ao poder político está condicionada a esse poder representar a vontade geral do povo ao qual pertence. Cada cidadão passa a assumir obrigações em relação à comunidade política, sem estar submetido à vontade particular de uma única pessoa. Unindo-se todos, cada cidadão só deve obedecer às leis que por sua vez devem exprimir a vontade geral. Desse modo, respeitar as leis é o mesmo que obedecer à vontade geral e, ao mesmo tempo, é respeitar a si mesmo, sua própria vontade como cidadão, cujo interesse deve ser o bem comum. As teorias sociológicas clássicas sobre o Estado Liberalismo político A função do Estado é agir, para os pensadores liberais, como mediador dos conflitos entre os diversos grupos sociais, conflitos inevitáveis entre os homens. Ele deve promover a conciliação dos grupos sociais, amortecendo os choques dos setores divergentes para evitar a desagregação da sociedade. A função do Estado é, portanto, a de alcançar a harmonia entre grupos rivais, preservando os interesses do bem comum. Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels Em um primeiro momento, Karl Marx se referia ao Estado como uma comunidade abstrata, em contradição com a sociedade. Seria uma comunidade ilusória, que procuraria conciliar os interesses de todos, mas principalmente daqueles que dominavam economicamente a sociedade. Identificou a divisão do trabalho e a propriedade privada, geradoras das classes sociais, como a base do surgimento do Estado, que seria a expressão jurídico-política da sociedade burguesa. A organização estatal apenas garantiria as condições gerais da produção capitalista e o domínio das classes sociais dominantes. 2

Na maior parte dos Estados históricos, os direitos concedidos aos cidadãos são regulados de acordo com as posses dos referidos cidadãos, pelo que se evidencia ser o Estado um organismo para a proteção dos que possuem contra os que não possuem (ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do Estado). Cada etapa da evolução percorrida pela burguesia foi acompanhada de um progresso político correspondente. Classe oprimida pelo despotismo feudal, associação armada e autônoma na comuna, aqui república urbana independente, ali terceiro estado tributário da monarquia; depois, durante o período manufatureiro, contrapeso da nobreza na monarquia feudal ou absoluta, base principal das grandes monarquias, a burguesia, com o estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial, conquistou, finalmente, a soberania política exclusiva do Estado representativo moderno. O executivo no Estado moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa (MARX, K. Manifesto Comunista, 1848). Em um momento posterior, Marx avança na análise e passa a conceber o Estado como uma entidade formulada para refrear os antagonismos de classe e, por isso, é o Estado da classe dominante. Entretanto, haveria momentos em que a luta de classes é equilibrada e o Estado se apresenta com independência entre as classes em conflito, como se fosse um mediador. Ao analisar a burocracia estatal, Marx afirma que o Estado pode estar acima da luta de classes, separado da sociedade, como se fosse autônomo. É nesse sentido que pode haver um poder que não seja exercido diretamente pela burguesia. Mesmo dessa forma, o Estado continua criando as condições necessárias para o desenvolvimento das relações capitalistas, principalmente o trabalho assalariado e a propriedade privada. Para Marx o Estado é, portanto, uma organização cujos interesses são os da classe dominante na sociedade capitalista: a burguesia. Sempre atrelado à prática social e à produção de conhecimento para as modificações de estruturas sociais, o autor defende uma tomada do Estado pela classe trabalhadora a ditadura do proletariado que implantaria um sistema socialista para, em um momento posterior, a sociedade poder chegar a um estágio em que não haja Estado. Émile Durkheim (1858-1917) Orientado pela preocupação com a coesão social, Durkheim entende o Estado como fundamental em uma sociedade que fica cada dia maior e mais complexa, devendo estar acima das organizações comunitárias. Por concentrar e expressar a vida social, a função do Estado seria eminentemente moral, pois deveria realizar e organizar o ideário do indivíduo e assegurar-lhe o pleno desenvolvimento. O Estado não é, pois, antagônico ao indivíduo: foi ele que emancipou o indivíduo do controle despótico e imediato de grupos secundários, como família, religião e corporações profissionais, dando-lhe por meio da educação pública voltada para formação moral um espaço mais amplo para o desenvolvimento de sua liberdade. Por função moral entende-se garantir a uniformização do processo de socialização, moldando os indivíduos para que exerçam suas funções de maneira harmônica na sociedade. Como é necessário haver uma palavra para designar o grupo especial de funcionários encarregados de representar essa autoridade [a autoridade soberana a cuja ação os indivíduos estão submetidos], conviremos em reservar para esse uso a palavra Estado. Sem dúvida é muito freqüente chamar-se de Estado não o órgão governamental mas a sociedade política em seu conjunto, o povo governado e seu governo juntos, e nós mesmos empregamos a palavra nesse sentido. [...] Eis o que define o Estado. É um grupo de funcionários sui generis, no seio do qual se elaboram representações e volições que envolvem a coletividade, embora não sejam obra da coletividade. Não é correto dizer que o Estado encarna a consciência coletiva, pois esta o transborda por todos os lados. É em grande parte difusa; a cada instante há uma infinidade de sentimentos sociais, de estados sociais de todo o tipo de que o Estado só percebe o eco enfraquecido. Ele só é a sede de uma consciência especial, restrita, porém mais elevada, mais clara, que tem de si mesma um sentimento mais vivo. (Lições de Sociologia). Para Durkheim, portanto, o Estado é uma organização com um conteúdo inerente: os interesses coletivos. De acordo com o autor, na relação entre o Estado e os indivíduos é importante saber como os governantes se comunicam com os cidadãos, para que estes acompanhem as ações do governo. Essa intermediação deve ser feita pelos meios de comunicação e no sistema educacional ou pelos órgãos secundários que estabelecem a ponte entre governantes e governados, principalmente os grupos profissionais organizados, que são a base da representação política e da organização social. Max Weber 3

O controle do poder estatal do aparato burocrático é o tema central da sociologia política weberiana. Para ele, o Estado é uma relação de homens dominando homens mediante a violência, considerada legítima, e uma associação compulsória que organiza a dominação. É necessária essa racionalização para que o exercício do poder ocorra de forma equilibrada e não discriminatória. Hoje, porém, temos de dizer que o Estado é uma comunidade humana que pretende, com êxito, o monopólio do uso legítimo da força física dentro de um determinado território. [...] O Estado é considerado como a única fonte do direito de usar a violência. Daí política, para nós, significar a participação no poder ou a luta para influir na distribuição de poder, seja entre Estados ou entre grupos dentro de um Estado. (A política como vocação, 1919). Para que essa relação exista, é necessário que os dominados obedeçam à autoridade dos que detém o poder. O que legitima esse domínio são as três formas de dominação legítima, que fazem com que haja pessoas que reconheçam a autoridade conferida aos dominantes: a tradicional, legitimada pelos costumes, normas e valores tradicionais e pela orientação habitual para o conformismo ; a carismática, a qual está fundada na autoridade do carisma pessoal (o dom da graça ), da confiança na revelação, do heroísmo ou de qualquer qualidade de liderança individual; e a legal, que é legitimada pela legalidade que decorre de um estatuto, da competência funcional e de regras racionalmente criadas. SISTEMAS POLÍTICOS Sociedade Civil e Estado Uma ideia equivocada de separação entre sociedade e Estado prejudica a compreensão de que o Estado é uma organização encarregada de determinadas funções e de que sua constituição é um processo histórico como tantos outros. Não é, portanto, uma entidade extrassocial ou oposta à sociedade. O Estado é entendido com a instituição que exerce o poder coercitivo por intermédio de suas funções, tanto na administração pública como no judiciário e no legislativo. A sociedade civil costuma ser definida como o largo campo das relações sociais que se desenvolvem fora do poder institucional do Estado, como sindicatos, empresas, escolas, igrejas, clubes, movimentos populares, associações culturais. Nas relações entre Estado e sociedade política, os partidos políticos podem atuar como ponte entre a sociedade civil e o Estado, pois não pertencem por inteiro em nenhum dos dois lados. Assim, caberia aos partidos políticos captar os desejos e aspirações da sociedade civil e encaminhá-los para o campo da decisão política do Estado. Conforme a época e o lugar, o tipo de relacionamento entre Estado e sociedade civil varia bastante. Assim, as relações entre governantes e governados podem tender para um esquema fechado, caracterizado pela opressão e autoritarismo do Estado sobre a sociedade, como para um esquema aberto, evidenciado pela maior participação política da sociedade nas questões do Estado, pelo respeito que o poder público confere aos direitos individuais e coletivos. Regime político é, portanto, o modo característico como o Estado se relaciona com a sociedade civil. Democracia: As diversas formas que o Estado assumiu na sociedade capitalista estiveram ligadas à concepção de soberania popular, que é a base da democracia. A definição mais corriqueira de democracia é governo do povo, para o povo e pelo povo. A democracia representantiva consiste em um regime político baseado em eleições livres e diretas (com voto secreto) pra a escolha dos governantes. Ou seja, tal soberania se efetiva com a representação pelo voto. A ampliação do direito ao voto se deu mediante muitas lutas. A diversidade partidária e a própria existência de partidos políticos também é uma consequência de lutas pela participação na vida política institucional, quando se forçou uma representação de setores da sociedade que não apenas os proprietários. Há, em um sistema democrático, algumas condições institucionais que efetivam a representação: - Eleições competitivas, livres e limpas para o Legislativo e o Executivo; - Direito de voto, que deve ser extensivo à maioria da população adulta, ou seja, cidadania abrangente no processo de escolha dos candidatos; 4

- Proteção e garantia das liberdades civis e dos direitos políticos mediante instituições sólidas, isto é, liberdade de imprensa, liberdade de expressão e organização, direito ao habeas corpus e outros que compreendem o componente liberal da democracia; - Controle efetivo das instituições legais e de segurança e repressão Poder Judiciário, Forças Armadas e Forças Policiais. Isso possibilitaria avaliar o genuíno poder de governar das autoridades eleitas, sem eu estas fossem ofuscadas por atores políticos não eleitos, como as instituições apontadas, que muitas vezes dominam nos bastidores. Entretanto, eleições gerais, livres e representativas não necessariamente expressam e/ou garantem igualdade de direitos e deveres. Em regimes capitalistas e sociedades muito desiguais, como o Brasil, as eleições muitas vezes são controladas pelas classes dominantes, que se perpetuam no poder também por meio do sistema eleitoral. 5