Políticas Empresarias de Segurança no Abastecimento Alimentar Estudo de Caso Acembex C2 Segurança alimentar, segurança dos alimentos e soberania alimentar (Carvalho, T.A.A. 1 ; Sottomayor, M. 1 ; Melo, D.S.P. 2 ) 1) Universidade Católica do Portuguesa; 2) Acembex Comércio e Serviços, Lda. Extended Abstract O baixo grau de auto aprovisionamento (GAA) alimentar leva a que o volume de alimentos armazenados em Portugal, em cada momento, em caso de rutura das importações abastecimento permita o abastecimento da população até 8 a 15 dias. Numa situação de rutura da cadeia de abastecimento, provocada por exemplo por greves nos Portos, interrupção do comércio internacional devido a uma pandemia, ou mesmo a guerra, Portugal poderá enfrentar uma gravíssima crise no abastecimento alimentar, no caso de a situação de rutura se prolongar para além desses dias de autonomia.(ine,2006) Tendo sido do nosso conhecimento que simples operações de logística, sem custos muito significativos adicionais, por parte de empresas importadoras de matérias-primas alimentares, em caso de rutura com o exterior contribuem significativamente para o prolongamento desse período de SAA, o objetivo do presente estudo foi então responder à questão: como pode o conjunto de empresas importadoras de matérias-primas para a alimentação humana e animal, em com que tipo de políticas, contribuir para a SAA em situação de rutura do abastecimento externo? (Pessanha L,2008) No estudo de caso que realizamos, avaliamos a contribuição que uma empresa líder na importação e comercialização de cereais em Portugal, poderá dar, através de estratégias adequadas ao nível da sua logística de aprovisionamento de matérias-primas (cereais), para o aumento da segurança no abastecimento alimentar (SAA) em situações de rutura do abastecimento externo. Mais concretamente estudamos a contribuição para a SAA de medidas tomadas por essa empresa no âmbito de um Plano de Contingência, que surgiu como resposta à ameaça da crise Gripe A em 2009 à continuidade do abastecimento de
cereais no mercado externo. Procurou-se ainda estimar o potencial da aplicação de medidas semelhantes por todos os participantes deste mercado igualmente dependentes do abastecimento externo, e qual seria o resultado em termos de aumento de SAA da população portuguesa. Dentro do Plano de Contingência analisado, a medida de criação de um stock de segurança em particular, revelou-se da maior relevância em termos de impato na SAA. O consumo nacional de cereais e subprodutos para alimentação animal e humana é de aproximadamente 250 mil toneladas por mês. Para o presente estudo de caso, considerou-se o consumo das seguintes matérias-primas: milho, trigo forrageiro, cevada e trigo mole panificável, por serem os de maior relevância/impacto no contexto abordado. Estes produtos representam um consumo total de cerca de 201 mil toneladas por mês a nível nacional. A empresa objeto do estudo de caso - Acembex Comércio e Serviços posiciona-se como uma empresa de comércio internacional fornecedora de serviços de logística e de consultadoria. O seu negócio centra-se no comércio de commodities para alimentação humana e animal. Nos últimos anos esta empresa tem ganho uma posição de destaque como importadora e distribuidora de cereais (trigo, milho, arroz, cevada) e de outras matérias-primas para a indústria de alimentação humana e animal. Tem sido responsável pelo comércio de cerca de um milhão de toneladas de cereais e de subprodutos de oleaginosas e de cereais, assumindo-se como o maior operador comercial português nesse mercado, tendo atingido uma quota de cerca de 17% em 2012.( Yin, 2009) Em 2009 a atividade da Acembex, em milho e trigo mole, foi essencialmente no norte do país. Assim, considerou-se o consumo destes cereais apenas nesta região, mantendo o consumo dos outros cereais forrageiros a nível nacional (tabela 1). Conclui-se assim que o mercado de atuação da Acembex representava, em 2009, aproximadamente 111 mil toneladas.
Tabela 1. Relação entre o consumo mensal e o stock extra e os dias de SAA. Cereal Consumo mensal (ton) Stock extra Acembex (ton) Stock vs. Consumo (%) Dias de SAA Trigo Mole (Norte) 18.000 16.000 89% 27 Milho (Norte) 40.000 20.000 50% 15 Trigo Forrageiro 40.000 29.000 73% 21 Cevada 13.000 11.000 85% 26 Total 111.000 76.000 68% ton - toneladas Como referido, uma pandemia poderá implicar uma rutura da cadeia de valor de abastecimento alimentar (fig.1). A Acembex Comércio e Serviços,Lda atuando num mercado tão importante como o alimentar, e em especial no de fornecimento de bens essenciais, delineou um conjunto de ações que permitiram assegurar o normal funcionamento da cadeia de abastecimento, mesmo num cenário de crise, como o ocorrido em [ano] peloameaça de pandemia designada Gripe Aviaria. Nesse contexto exterrno revelou-se fundamental para a empresas as decisões tomadas ao nível da articulação de toda a sua cadeia de valor a montante e a jusante, almejando o objetivo de assegurar, pelo período mais longo possível, os seus níveis de abastecimento em matérias-primas.
Compra (Fornecedor) Venda (cliente) Embarque (País de origem) Descarga (País de destino) Entrega a Cliente Transporte Marítimo e/ou terrestre Negociação Fig. 1 Cadeia de valor Acembex Comércio e Serviços, Lda. Em agosto de 2009, a Acembex,através do seu plano de contingência para situações de rutura preparou uma estratégia visando disponibilizar circuitos e canais de comunicação alternativos aos tradicionais. Por outro lado planeou as ações necessárias ao restabelecimento célere e seguro da atividade normal, após pandemia. Das práticas e políticas implementadas pela empresa com o objetivo de antecipar e gerir o impacto duma eventual situação de rutura no abastecimento externo no negócio, destaca-se o processo de criação de um stock extraordinário de matéria-prima. Esse processo consistiu na passagem da armazenagem de matéria-prima do país de origem para território nacional, contra contratos futuros. As matérias-primas em vez de estarem localizadas no porto de origem, passaram a estar armazenada em portos portugueses, mais próximo do consumo. As matérias-primas estão geralmente armazenadas nos silos dos portos marítimos do país de origem, por conta do fornecedor. Uma vez concluída a venda e a compra, a execução do respetivo contrato será cumprido tendo em conta as bases contratuais de compra e de venda, O processo desde da compra até ao consumo pelo cliente, tem a duração de 45 a 60 dias. Tomemos como exemplo o cliente A, que tem interesse em adquirir 25 mil toneladas de milho para a segunda quinzena de Novembro. Considerando o tempo de logística necessário à prestação do
serviço, o cliente teria que tomar a decisão de compra cerca de um mês e meio a dois meses de antecedência. Foi, então, possível verificar que o stock extra criado pela Acembex no Norte do país representou, no milho e trigo mole, um aumento de 15 e 27 dias de SAA, respetivamente. Nos outros cereais forrageiros o aumento foi em média de 23 dias. A nível nacional, o stock extra representou, nestas matérias-primas, um incremento médio na Segurança no Abastecimento Alimentar do mercado destes cereais de cerca de 11 dias, a acrescentar à anterior margem de 8-15 dias de SAAjá existente, resultando numa totalidade de 19-26 dias de capacidade de abastecimento à população portuguesa em caso de quebra no fornecimento destas matérias-primas. O conjunto de políticas e medidas tomadas pela Acembex Comércio e Serviços, Lda no contexto do Plano de Contingência, revelou-se assim como uma ferramenta importante na garantia de continuidade de fornecimento de bens essenciais ao mercado português. Este Plano, em especial a criação destockde segurança, revelou ser uma solução vantajosa para todos os intervenientes, conferindo segurança nas decisões e menor risco de desalinhamento de resposta aos às necessidades dos clientes finais dos clientes da Acembex. O serviço permitiu a Acembex uma garantia segurança de funcionamento em caso de disrupção, para além de se revelar uma vantagem competitiva como serviço complementar do prestado pela empresa. Sendo a Acembex o player com maior quota no mercado nacional de commodities, registaram-se consequências de mercado de especial relevãncia. Da análise do caso Acembex e do seu Plano de Contingência para situações de rutura no abastecimento externo de matérias-primas, concluiu-se que cada empresa do setor poderá contribuir, não só para uma maior segurança do seu própria abastecimento em matérias-primas sem significativos custos acrescidos, como também para uma aumento da SAA nacional. Esta última contribuição, das operações de logística estudadas, se generalizadas para as restantes empresas do setor, poderão constituir um importante contributo para a mitigação do problema da insegurança do abastecimento alimentar para pequenos países periféricos e com baixos GAA, como é o caso de Portugal, em
situação de rutura com o exterior. Medindo a SAA de um país em número de dias de abastecimento garantido em caso de rutura com o exterior, só o impato de uma empresa como a estudada e das suas operações de logística poderá representar um alongamento desse período aproximadamente entre 30 a 40 dias. Dentro das restrições impostas pela capacidade de armazenamento existente, privada e pública, e pela capacidade negocial com fornecedores de cada empresa, a generalização deste tipo de políticas de contingência por todas as empresas poderá representar o alongamento do período de SAA do país na ordem de meses, o que poderá ser tempo suficiente para que as causas da rutura sejam entretanto removidas, e a situação de contingência ser ultrapassada, possibilutando dessa forma que a população não sofra significativamente com o problema. Palavras-Chave: Segurança no abastecimento alimentar; gripe A; estudo de caso; stocksde segurança; logístca; política alimentar.
Bibliografia - Contas Nacionais e Estatísticas do Comércio Internacional, INE 2006, 2012; - Pessanha L., et all, 2008 - Pessanha L.,Santos C.V., Mitchell P.V.-Indicadores para avaliar a Segurança Alimentar e Nutricional e a garantia do Direito Humano à Alimentação: metodologias e fontes de dados, 2008 - Plano de Contingência - Acembex Comércio e Serviços Lda, 2009 - Yin. Robert K., 2009, Case Study Research Design and Method Fourth Edition