Texto Publicado em 2010



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Transcrição:

Texto Publicado em 2010 CONTE, F. C. S.. O uso da psicoterapia analítico funcional (FAP) em grupos terapêuticos. In: DELITTI, A. M. C. ; DERDY K, P. R. (Orgs.).. (Org.). Terapia Analítico-Comportamental em Grupo. 1 ed. Santo André: ESETec Editores Associados, 2008, v. 1, p. 127-156.

O USO DA PSICOTERAPIA ANALITICO FUNCIONAL (FAP) EM GRUPOS TERAPÊUTICOS Fátima Cristina de Souza Conte ( 1 ) A Psicoterapia Analítico Funcional (FAP ou PAF, no Brasil), proposta por Kohlenberg e Tsai (1991), é uma das três formas de intervenção psicoterápica que integram a chamada terceira geração da Terapia Comportamental (Hayes, Luoma, Bond, Masuda & Lilis, 2006). Mantém-se atrelada aos compromissos iniciais propostos pela terapia comportamental e acrescenta os conhecimentos atualizados conceituais, filosóficos e pragmáticos decorrentes da pesquisa cientifica e da prática clinica. A FAP é, sem dúvida, uma proposta de psicoterapia comportamental baseada filosófica e cientificamente no Behaviorismo radical, que representa um momento em que vertentes de pesquisa e da terapia se encontram de forma especialmente equilibrada e promissora. Seus idealizadores, Kohlenberg e Tsai (1991), a propuseram com o intuito de atender ao cliente individualmente. Hoje, aqui, serão feitas considerações sobre como pode ser feita a sua inserção nos processos psicoterápicos analíticocomportamentais grupais, uma extrapolação que começa a povoar as práticas dos terapeutas que assim atuam, uma vez que o objetivo central da FAP é lidar com os problemas de natureza interpessoal, cujas classes comportamentais funcionais possuam elementos que possam vir a ocorrer na interação do terapeuta com o cliente, no setting terapêutico. Antes de falar sobre a FAP em grupo, mais especificamente, dada a escassez de literatura sobre tal extensão, serão apresentados alguns aspectos gerais, de forma a introduzir o leitor nesta proposta. Espera-se que o caminho delineado ajude-o a entender 1 Dra., Psicoterapeuta. do Instituto de Psicoterapia e Análise do Comportamento.(PSICC) Londrina.Pr

como pode, ele mesmo, fazer suas próprias explorações no uso da FAP em grupos psicoterápicos. FAP A Psicoterapia Analítico Funcional A história do nascimento da FAP é interessante. Kohlenberg e Tsai (1991), terapeutas-pesquisadores, observaram que os melhores resultados terapêuticos obtidos com seus clientes ocorriam quando estabeleciam, espontaneamente, uma relação intensa, pessoal e comprometida com eles. Tal constatação não consiste em si mesma uma novidade. Contudo, os que observaram fatos semelhantes, por inúmeras razões sobre as quais não cabe discussão neste momento, avançaram muito pouco além de considerações gerais. De toda forma, contribuíram para que, historicamente, a relação terapêutica fosse deixando de ser vista como um contexto de aplicação de técnicas comportamentais simplesmente e lapidasse suas várias funções possíveis, desde que fosse genuína, transparente, de cuidado com o cliente e minimamente aversiva. Finalmente, Kohlenberg e Tsai intrigaram-se com a mágica que ocorria e exercitaram o desafio de descrever cuidadosamente tal fenômeno e analisá-lo à luz dos conhecimentos Behavioristas Radicais. E aí está a FAP de hoje, que se propõe como principal instrumento de mudança terapêutica, com seus procedimentos de tal forma explicitados que permitem aos terapeutas saírem do acaso e criarem de maneira planejada, contingências para que as relações realmente terapêuticas ocorram entre eles e seus clientes, onde existam vínculos intensos potencialmente curativos. A FAP (ou PAF, como também tem sido usada no Brasil) é a proposta de Kohlenberg e Tsai (1991) para atendimento clínico, onde o principal instrumento de mudança é a análise funcional da relação e das interações terapeuta-cliente, pois

acredita-se que muito da psicopatologia ou do sofrimento humano ou é de natureza inter-pessoal ou nele ocorre. Sendo a relação terapeuta-cliente de natureza social, em si mesma ela constituiria um contexto no qual comportamentos-queixa do cliente poderiam se apresentar. Como já dito, ela se destina ao tratamento de problemas da vida cotidiana que podem ocorrer na relação terapeuta-cliente e é o comportamento do terapeuta, em sessão, contingente ao comportamento do cliente, a ferramenta especial para a mudança. O terapeuta produz mudanças através de contingências de reforçamento natural, que ocorrem dentro de uma relação terapeuta-cliente, que é emocional, próxima e com alto grau de comprometimento (Kohlenberg, Tsai, Ferro García, Aguayo, Fernández Parra, & Virués-Ortega, 2005, pp. 352). Assim, a sessão é ao mesmo tempo um contexto onde condutas clinicamente relevantes serão apresentadas pelo cliente e onde também ocorrerão as ajudas terapêuticas oportunas. A relação terapêutica tenderia a evocar comportamentos do cliente que ocorrem fora da clínica e que fazem parte de seus problemas. E, se assim ocorrer, também os comportamentos novos que aparecerem na interação do C (Cliente) com o T (Terapeuta) poderão ser generalizados para outras relações sociais. Isso se daria pela ocorrência de equivalência funcional entre a situação terapêutica e a vida cotidiana, numa via de mão dupla para a generalização. Esta intervenção é favorecida, além disso, pela modelagem direta e imediata dos novos comportamentos em sessão, através de intervenções em tempo real e, bem como, pelo aumento da consciência do cliente (e terapeuta) das suas classes de respostas mais amplas e classes de estímulos a elas relacionadas. Evidentemente, muitos clientes podem melhorar sem a consciência das contingências que determinam seus comportamentos clinicamente relevantes. Contudo, parece útil, para muitos, estarem cientes de seus comportamentos-problema ou

incompatíveis, ter conhecimento sobre as circunstâncias nas quais são prováveis suas ocorrências e, ainda, quando ele deve, por exemplo, tentar praticar o que foi aprendido na sessão terapêutica (Callaghan, Gregg, Marx, Kohlenberg, & Gifford, 2004). Comportamentos clinicamente relevantes, ou CRBs1, ou CCRs1, é como são nomeados os comportamentos do cliente que tem relação com o problema-queixa, enquanto elemento de uma classe funcional; já os comportamentos diretamente indicativos de melhora seriam os CRBs2 ou CCRs2. Estes são geralmente incompatíveis com os primeiros. Finalmente, os comportamentos relativos à realização de análise funcional do próprio comportamento por parte do cliente são os CRBs3 ou CCRs3. Para o terceiro, importam as causas, razões, justificativas e, principalmente, as observações e descrições das relações entre as respostas e os seus prováveis estímulos de controle (antecedentes e conseqüentes) e as verbalizações sobre as equivalências funcionais entre a clínica e a vida cotidiana. Os comportamentos indicativos de melhora mais do que esperados, devem ser modelados e fortalecidos na interação do cliente com o terapeuta e relacionados com os que ocorrem fora da sessão. De forma a favorecer ao primeiro a discriminação de sua ocorrência e o controle de estímulos presente na situação natural. Assim, o estímulo ou a sua propriedade que antes discriminava o CRB1 poderá sinalizar agora a possibilidade de emissão CRB2. E se ele ocorrer e for seguido de conseqüênciação positiva, a cadeia tenderia a se fortalecer. Um exemplo de aplicação individual da FAP pode ser visto no caso que se segue, atendido pela autora. Paulo, um rapaz de 18 anos, trouxe como parte de sua queixa a dificuldade de manter a rotina e manter-se num determinado curso de ação. Relatava muito sono durante o dia e nenhum sono a noite. Trazia o diagnóstico formal de depressão. Observou-se que ele tinha uma história de muita punição por parte dos pais por não conseguir ótimas notas e não seguir um determinado curso de conduta.

Observou-se também que nunca fora treinado para tal e que tinha dificuldades de aprendizagem acadêmica. Embora financeiramente abastado, não tivera boa estimulação social e cognitiva, nem para desenvolver hábitos de estudos eficazes. Havia aprendido a prometer aos pais que iria fazer diferente, como fuga e esquiva dos inúmeros sermões e castigos. De fato, desenvolvia tentativas, mas não conseguia o desempenho e desistia. Gradualmente, passou a apresentar vômitos em diversificadas situações nas quais poderia ser avaliado. Suas tentativas de explicar sentimentos e pensamentos aos pais eram seguidas de explosões e xingamentos por parte deles e, frustrado, na seqüência, Paulo dormia durante o dia. Sentia que isso o fazia melhorar momentaneamente (fuga/esquiva de emoções). Quando foi nomeado psiquiatricamente como depressivo, as punições parentais cessaram. Foi medicado, e, mesmo assim, como esperado, não conseguia apresentar as respostas desejadas e cada vez mais afastava-se dos seus objetivos e da vida acadêmica. Durante o processo, T observou que, só o fato de falarem sobre isso ou ouvir considerações de sua parte sobre a propriedade de realizar enfrentamentos graduais e adquirir habilidades lhe provocaram raiva e sono. (CRB1?). Quando T lhe descreveu esta situação (avaliando sua suposição, como recomenda a FAP) ele concordou com a observação e relatou que sentia muito mal nestas horas porque sabia que certamente fracassaria. Durante a conversa dizia que não poderia assumir compromisso porque isso ficava obsessivamente em sua cabeça, o impedia de dormir à noite e lhe dava sono durante o dia. Depois, não queria vir mais às sessões para não contar o que não fazia! (CRB2, diferente do que ocorre com os pais). Verificada a adequação da suposição do CRB1, T tentou valorizar o relato de Paulo e suas falas sobre sentimentos. A ação da terapeuta, diversa da dos pais, pode agora iniciar a quebra da equivalência funcional e de uma possível regra: falar sobre

sentimentos e dificuldades será sempre punido. (CRB1). T ainda combinou com ele que ela apenas lhe daria idéias, por acreditar que elas são boas e que ele poderia realizálas, mas ele só se arriscaria quando achasse que deveria e depois lhe contaria, quando quisesse. Apenas ouvir e agüentar os respondentes, não se esquivando deles ou da interação já seria um bom passo (um CRB2). Ele disse que não aceitava tarefas (o que parece um CCR2 novo, mais assertivo, de enfrentamento emocional gradual). T disse que já se sentia bem com isso e que ele tinha esse direito. Paulo pensou, concordou e começou a dar exemplos de como esquivar-se. Aqui, assemelha-se com o jeito como tem administrado sua vida e não tem dado certo. Novas interpretações sobre causação de seus problemas, da suas generalizações inadequadas e das esquivas são então possíveis, ocorrendo agora o enfrentamento da fala sobre isso, na interação com a terapeuta (CRB 2) e análise (CRB3) que lhe permite discriminar muitas esquivas e organizá-las em uma mesma classe funcional. Se isso ocorreu, provavelmente houve similaridade funcional entre os ambientes clinico e cotidiano. Espera-se, portando, pela reversibilidade, que possa ocorrer a generalização dos CCRs2 e 3 para a situação natural. 2 Neste caso, ela ocorreu e, em passos lentos e irregulares, o cliente experimentou uma redução sensível de ansiedade e o desenvolvimento de hábitos de estudos suficientes para continuar na escola. E, essencialmente, desenvolveu mais comportamentos eficientes de enfrentamento e luta como alternativa para a fuga e esquiva. A FAP e a Psicoterapia de Grupo Analítico Funcional 2 Termo usado aqui somente para ajudar na compreensão, já que neste contexto é possível ver as duas situações como naturais.

Se a terapia individual já é uma instância na qual os comportamentos clinicamente relevantes podem ser evocados, o grupo é, sem duvida alguma, um contexto no qual redes de relações sociais complexas são mais possíveis e, portanto, mais do que na privacidade da relação um a um, o cliente provavelmente está, natural e fortemente, mais sujeito a influência de estimulação semelhante à qual se expõe no seu dia a dia. No momento em que o processo grupal se inicia, é natural que as interações envolvam a participação do terapeuta mais freqüentemente. Contudo, ele não deverá fortalecer esta ocorrência e sim envolver os demais integrantes do grupo na interação, de forma que, gradualmente, as relações entre seus membros ocorram de forma mais espontânea e íntima. Assim sendo, os comportamentos de todos podem desenvolver funções evocadoras, eliciadoras e reforçadoras reciprocamente, para classes de comportamentos relevantes, favorecendo a força curativa do grupo. Kohlenberg e Tsai (1991) destacam que estas são as funções que os comportamentos dos terapeutas podem assumir frente aos dos clientes. No caso do grupo, portanto, espera-se que tais funções também se apliquem para os comportamentos dos clientes. Para ilustrar tal processo, a seguir será apresentada uma sessão de FAP que a autora fez com um grupo familiar, que contou com a presença da mãe e seus três meninos, P de 9 anos, S de 5 anos e F de 3 anos. A queixa da mãe era de que seus filhos tinham muito ciúmes uns dos outros, brigavam muito e era difícil para ela lidar com isso. O objetivo, neste momento, era ajudar a mãe a dividir atenção entre os filhos de forma equilibrada, enquanto eles brincavam juntos. Num primeiro momento, o comportamento de T deveria servir de estímulo para imitação e depois a mãe deveria comportar-se na mesma direção. T propôs aos três que fizessem uma construção de blocos, em conjunto.

Tendo os blocos a sua frente, as crianças começaram a estruturar um prédio e uma rua de casa. Os mais novos imitavam bastante o mais velho. Vendo isso, T começou a dizer a ele o quanto isso mostrava que eles o admiravam (tentando ressaltar uma a propriedade da estimulação que poderia favorecer a cooperação, mais do que a briga, que era a sua resposta mais comum nestas situações). E dizia aos demais o quanto era legal ver como cada um colocava seu jeito ao fazê-lo, tentando evitar a ocorrência de comparações com avaliação negativa, outro estímulo para brigar. T, ainda, tentava que seu comportamento funcionasse como evocador para condutas de cooperação, de cuidado e de valorização recíprocas, assertividade, entre outros CRBs 2; e os elogiava quando apareciam. As vezes um ou outro a ajudava e ela agradecia. A terapeuta respondia prontamente às perguntas e se alternava em atenção, dirigindo-se a um de cada vez. Tentava apresentar comportamentos que pudessem se constituir de estimulação antecedente e conseqüente positiva para comportamentos adequados das crianças. A mãe assistia e, na seqüência, se disse pronta para ser a terapeuta. Quando ela começou a sua intervenção, T afastou-se um pouco e então o menor, F, pegou algumas peças já separadas por P, sem lhe pedir (A presença da mãe seria Sd para isso?). P disse um firme não (CRB2?) e F choromingou (CRB1?). A mãe pegou os blocos, devolveuos à P (CRB2) e F chorou mais alto (CRB1 como estimulo aversivo para mãe?). Então, ela os devolveu à F, dizendo a P que cedesse. (CRB1 da mãe, fortalecido por reforçamento negativo, com função de Sr+ para o CRB1 de F?). P disse-lhe que ela não era justa, nunca era, nunca lhe dava razão, nunca o entendia, etc. (CRB1, queixa generalizada e inespecífica). Começaram então a discutir, a mãe tentava explicar-lhe as razões (CRB1?) e P emburrava cada vez mais (CRB1?). S observava tudo e disse:

S não pode dar pra ele, não pode dar para F, mãe, dá pro P! (CRB1, que poderia ter função de ampliar a briga? Ou seria adequado ao fornecer estimulação para evocar condutas mais justas por parte da mãe?). F Porque você disse que não gosta de mim? Você não gosta de mim, né? (emburrado). (CRB1, e provavelmente o comportamento anterior de S teria sido inadequado neste contexto, evocando respostas indesejáveis de F). Mãe Parem com isso! S ajude seu irmão que vou conversar com P. (CRB1, reforçando o CRB1 de P?). S (gritando e tremendo irado) - Não vou ajudar nada você, bobo! Estraga tudo! (CRB1!!!). F destrói tudo e emburra, S parece querer avançar nele, enquanto a mãe e P discutem. (Todos em CRB1!!!). T interrompe o ciclo, dizendo para pararem, segura os dois menores pelo braço, gentilmente e os dirige para as cadeiras ao redor da mesa, a mãe faz o mesmo. Diz que esta parte não foi legal, que virou uma guerra e todos devem estar como ela, sentindo-se mal. Pede para todos respirarem e segue-se a interação. Disse a todos que o que aconteceu aqui parece com o que acontece em casa e, enrao, todos saem perdendo. P disse que era porque a mãe não era tão calma como a terapeuta, com o que a mãe concordou e complementou dizendo que todos também ficam nervosos. Disse diz que está tentando aprender e pede a ajuda de todos. T valorizou a fala da mãe e marcou um novo encontro com esta, sozinha, para analisar seu comportamento e, na seqüência, uma com todos os presentes. A interação entre pessoas mais velhas também demonstra as relações entre os CRBs e as funções de estímulo dos comportamentos apresentados, e suas conseqüências para o grupo. A interação abaixo ocorreu em um trabalho em grupo com funcionários de

uma empresa, realizado pela autora, e uma estagiária, cujo objetivo era lidar melhor com o estresse. Os terapeutas (T) propõem aos presentes, R, S, L, N, V, uma atividadeproblema. Todos tinham uma empresa em sociedade e deveriam decidir seus rumos. Um deles traria uma proposta, para abrir uma nova área de atuação. Esta área era uma novidade no mercado e implicava em investir 20% do patrimônio de todos. O risco seria apenas a demora em render frutos, mas, a longo prazo, não perderiam o investimento feito. Foi proposto que qualquer um fizesse a proposta, a defendesse e coordenasse a sua realização. Os demais deveriam decidir quem seria esta pessoa e também qual seria a atividade de cada um durante a realização de trabalho como um todo. Teriam diferentes tarefas e seriam remunerados também por isso. Ou seja, o investimento teria um custo total, um lucro que seria dividido igualmente pelas partes e cada um que realizasse as tarefas para implantar o novo produto no mercado ganharia também pelo trabalho extra que estava fazendo para a empresa. Todos tiveram um tempo para pensar e R fez uma proposta e defendeu-a. Outras propostas foram feitas, mas eram muito vagas, por isso foram abandonadas. Segue o dialogo. R- Bem, já que eu fiz a proposta acho justo que eu a coordene. Todos concordaram prontamente. N- Eu acho que posso ajudar a fazer as contas e ver onde vamos gastar o dinheiro, qual o custo do produto. Parte financeira. S quis ajudá-lo. L disse que estava com muito trabalho e então preferia não pegar mais nada pra fazer (provável CRB1, como já observado pelas terapeutas), para ele. Iria ajudar a todos e V disse que o que decidissem estava bom pra ele (idem,crb1) e para irem falando o que ele tinha que fazer.

Começaram a ver a remuneração de cada um. R disse que queria ganhar 1000 por mês, N e S acharam que de podiam ganhar 500 e dividir entre eles, já que iam trabalhar juntos e era uma parte mais fácil e de menos responsabilidade. Os demais não se manifestaram. Tudo corria bem e R colocou seu planos para o novo produto, quanto tempo iriam demorar pra colocar no mercado, dar lucro, etc. Todos demonstravam aprovação. N fez as contas de quanto iriam gastar, por quanto teriam que vender, etc. Em um dado momento, L disse que R iria ganhar muito e que deveriam pensar se iriam mesmo colocar este novo produto no mercado, que iria ficar caro e que achava que não tinham discutido ainda o suficiente se era bom negocio ou não. Será que não vai ser bom só para o R? (CRB1 omitir-se, depois voltar atrás e indicar que alguém estaria vendo só seu lado e não o de todos, já observado em outras situações, mas não discutido). N Meu, a gente já viu que era bom, a gente já decidiu!(irritado). V concordou. (CRB1 de L tem efeito evocador e eliciador de CRB1 para N e este, por sua vez, é Sr+ para o CRB1 de L?) L- Não, acho que a gente não discutiu muito. Não acho que era pra já ir fazendo assim, tem que pensar melhor. É bom para a empresa? (CRB1 reforçado pelo CRB1 de N?). N No fim a gente vai ganhar, o negócio seria lucrativo, fizemos as contas e dá, meu! (mais calmo) - (CRB1, já que poderia estar com função de Sr+ para CRB1 de L? CRB2 considerando seu comportamento anterior?). R- Olha, eu não quero impor, pressionar ninguém. Eu sei mesmo fazer isso, mas, se a empresa não quer, tá, volta atrás. Eu não ia ser burro de querer perder dinheiro. Só vou receber o que foi combinado. Mas se vocês acham isso, não quero impor nada. (CRB2, já que, em outras situações semelhantes, Ts observaram que R respondia agressivamente. Será que neste momento também poderia ter efeito de SR+ para CRB1

de L ou seria Sd para L observar-se mais adequadamente? E para N, qual seria a função, aversiva? ). N Nada a ver. É legal pra todos. (mais calmo, CRB2, mas com função SR+ para L? E para V, seria Sd para posicionar-se mais adequadamente?). V- Se tem gente descontente, vamos pensar melhor e o importante é não haver briga. (Parecia CRB1, já que Ts observaram que ele raramente falava o que pensava em situações de conflito e sim tentava desmontar a discussão, parecendo conciliador, mas geralmente não era este o resultado. Era inadequado para ele e para o grupo, parecia uma fuga/esquiva disfuncional. Também seria Sd para S explicitar sua posição?) N- O que você acha, V? (CRB2) V- O principal é não quebrar a nossa equipe (CRB 1, da mesma classe, esquivar-se de conflitos, omitir-se). T pára e pede para analisarem o que aconteceu até agora. (Sd para descreverem seus comportamentos, os dos demais e as conseqüências na realização da tarefa). N disse, com tranqüilidade, que ficou irritado com L e que V deveria se posicionar mais, que ele poderia ter definido a situação (CRB2). T diz que foi importante ele expressar sua opinião e que o fez sem agressividade e que esperava que todos vissem as falas dos colegas como contribuições para seu desenvolvimento pessoal. (Sr+ para CRB2 de N e Sd para todos falarem como se sentiam, desejavam ou percebiam e não se punissem reciprocamente por isso?). T acreditava que os sentimentos e percepções de N sobre o ocorrido poderiam indicar como outras pessoas se sentiriam com os colegas referidos em situações semelhantes. Na seqüência, L e V nada disseram (CRB1?). R disse que antes ficava bravo quando acontecia isso, (relacionando experiências de fora com o que ocorreu no grupo), pois, além de atrasar tudo, parecia que falavam

que ele não era honesto e que agora pensara que podia ser insegurança da pessoa, que ele era honesto e não achava nada de mal em ser ambicioso (CRB3, analisando o próprio comportamento). Falou sem ironia ou com qualquer outra dica agressiva (CRB2), o que fez T intervir e relacionar sua fala com discussões que já haviam tido sobre perceber a diferença entre a opinião de alguém sobre nós e o que somos (Sr+ para CRB3 de R e Sd para os demais fazerem o mesmo?). R Lembrou-se de outras situações nas quais já havia brigado por coisas semelhantes e que hoje tentava olhar para essas situações profissionalmente e não se envolver pessoalmente (demonstrando que o comportamento de T poderia ter sido Sr+ para seu CRB3). Como todos estavam quietos, observando, Ts pediram para todos falarem o que estavam pensando (tentativa de Sd para imitação do CRB3 de R ou para qualquer fala pessoal). Todos pareceram aprovar a análise, mas não falaram sobre eles (não foi Sd?). T disse ter sentido apreensão quando o debate começou e muito alívio e bem estar com a reação de R. Achou que ele iria brigar. (S para imitação?). Riram, parecendo aliviados, mas não falaram nada pessoal. T perguntou como S sentiu-se e ele disse que concordava com N. E que era chato ficar discutindo (início de CRB2, já que parecia ter déficit de repertorio de expressão de sentimentos. T demonstrou-se satisfeita com a resposta (Sr+?) e pediu para L dizer o que sentiu (Sd para L falar como se sente? Instigação?). L, finalmente, disse que não se sentiu mal, não quis acusar ninguém e que iria pensar sobre o que aconteceu (inicio de CRB2?). T aceitou e disse para V também falar algo. V disse que achava que deveria ter agido como fez, porque poderia ser pior deixar a confusão acontecer (continua no CRB1?). As Ts não acharam interessante insistir com ele, diretamente, neste momento e falaram ao grupo. Pediram a todos para pensarem um pouco mais sobre como agiram aqui, agora no grupo, e o quanto seu comportamento foi semelhante ao que ocorria em situações

parecidas cotidianas. N disse que geralmente se oferece para fazer sua parte, que era objetivo e que era bom ser assim, não gostava de enrolar, mas, muitas vezes acabava comprando brigas. T disse que ele havia feito uma boa auto- observação e que isso poderia ajudá-lo a ter mais auto-controle, quando previsse resultados não desejados.. Instigou, L S, V sem muito sucesso. Tentou então uma atitude menos direta (aproximando-se sucessivamente de confrontos individuais), dizendo que o que tinha ocorrido era muito rico e que seria muito terapêutico aproveitarem este episódio para questionar suas atitudes cotidianas, em contextos semelhantes. Poderiam ser perguntar: como se sentem quando pessoas da sua equipe (felizmente, para a terapeuta, não era a mesma do grupo!) tem ganhos pessoais diferentes, mesmo que combinados, decorrentes de uma ação grupal? O quanto calar e outras atitudes que tinham como objetivo para evitar problemas não ajudam a proliferá-los? Haveria outros caminhos? E que conseqüências teriam? Seria esta mesma a razão de calar-se? Não seriam outras as verdadeiras razoes de tais atitudes? Quais seriam os medos, os riscos a serem evitados? Lembrou que os comportamentos são aprendidos e passam a configurar um tipo de personalidade e que ninguém tem culpa de sua aprendizagem, certamente atua hoje com o seu melhor, desenvolvido e mantido pelas conseqüências de cada ação. Olhar com distanciamento e avaliar seu comportamento, podem, dá a chance de sair do piloto automático e pegar no volante e dirigir-se para novas oportunidades de aprendizagem. Disse que sentia-se dando sermão e que poderia estar chateando-os. Pediu para passarem por cima de algum sentimento deste tipo, fazer a analise e falar sobre isso em outros momentos, quando se sentissem prontos. Finalmente, retomou a tarefa, propôs que a finalizassem enquanto ela procurava apenas valorizar comportamentos apropriados. A sessão finalizou-se com a troca de

feedbacks positivos sobre o crescimento que cada um observara em si e nos demais, tendo as Ts bloqueado gentilmente, criticas e criticas neste momento. Em sessões posteriores a este episodio, estando as Ts caminhando com o grupo desta forma, observou-se cada vez maior aumento de intimidade (aproximação física, fala sobre experiências mais pessoais, fala sobre assuntos difíceis, etc.). O confronto pareceu ter sido terapêutico. Após as demais sessões, no momento de avaliação final do processo grupal, entre falas dos demais, R agradeceu ao grupo porque havia desenvolvido mais equilíbrio e serenidade para lidar com situações difíceis, afirmou que estava menos explosivo e mais capaz de olhar os vários pontos de vista com compreensão. Muitos descreveram momentos nos quais observaram generalização de comportamentos novos. V foi o cliente que menos mudanças apresentou. No setting grupal, como se pretendeu expor através do relato acima, os terapeutas podem observar, mais rapidamente, padrões comportamentais dos clientes e como eles se entrelaçam e assumem funções de estímulos variadas para os comportamentos uns dos outros. Torna-se mais fácil a previsão das interações e o estabelecimento de estratégias para lidar com elas. Da mesma forma, há oportunidade de intensa auto-observação e descrição de seus comportamentos e conseqüênciação por parte dos próprios clientes, de validação da auto-observação, dos sentimentos e das percepções expressas e, como em outros contextos, de indicação e demonstração de novas condutas e seu reforçamento natural. O montante de estímulos para imitação presente também é especialmente enriquecedor e acelera o processo. A volta para o aqui e agora, a extensão da análise da interação entre ambientes (grupoo e extra grupo), ajuda os clientes (e terapeutas) a realizarem analises sobre classes comportamentais mais amplas, mais rapidamente, potencializando a generalização. A FAP e O GRUPO parecem formar um saudável casal!

Habilidades do Terapeuta na Realização da FAP em Grupos Os autores das FAP descrevem as habilidades necessárias ao terapeuta que atua através dela, individualmente. Ressaltam o cuidado em agir na direção de estabelecer-se como reforçador e de desenvolver uma observação sobre o efeito do seu comportamento sobre o do outro. Mais recentemente, Kohlenberg e colaboradores (2005) descrevem uma situação interessante, de atendimento individual, que pode ser facilmente generalizada para grupos, onde o terapeuta, hábil em usar procedimentos, princípios e técnicas comportamentais, erra em não observar o efeito da aplicação de um procedimento típico sobre comportamentos clinicamente relevantes do cliente, acabando por punir a sua melhora (o CRB2). No caso, uma mulher que buscou ajuda por depressão relacionada com sua pouca assertividade foi convidada pelo terapeuta a fazer ensaios comportamentais para desenvolvê-la. Ela então lhe perguntou se não haveria outras formas de fazer tal treinamento (sendo assertiva pela primeira vez com o terapeuta). O terapeuta reagiu dizendo que ela estava fazendo uma esquiva disfuncional e fez com que ela fizesse o ensaio. O terapeuta parece ter punido, na sessão, exatamente o comportamento que ele queria que ela apresentasse na vida cotidiana! E o que falar sobre as habilidades pessoais que favorecem a ocorrência de relacionamentos íntimos? Entre elas está a tolerância e acolhimento de comentários dos clientes sobre o terapeuta, seu próprio comportamento ou ambiente. Eles nem sempre são os mais agradáveis, principalmente em se tratando de clientes que tendem a apresentar respostas agressivas ou impulsivas. A FAP tem uma vantagem interessante: ela favorece francamente a modelagem, por parte do terapeuta, do falar sobre o controle do fazer ou vice-versa e a modelagem

da equivalência funcional entre o falar e o fazer, o que, em muitos casos, é importante. Assim como também ajuda o inverso, quando ocorre, por exemplo, a difusão cognitiva por estabelecimento de equivalências impróprias, (pode-se ver sobre isso na ACT e FACT, em outro capítulo desta obra) e ainda o aprendizado de apresentá-los (ou não) sobre controle de regras e contingências vigentes. Da mesma forma que o terapeuta pode cuidar destes repertórios mais amplos, deve atentar para a possibilidade de modelar também somente uma boa interpretação (o que pareceria um CRB3), que, ao invés de ser um propulsor para a ocorrência do CRB2 na clínica e fora dela, possa ser, se não somente inútil, estratégia para estratégia de fuga e esquiva. Como bem coloca Hayes (1987), aprende-se, nesta cultura, a apresentar respostas sobre os porquês de ações mais sobre controle das reações da audiência ao relato do que sob controle dos estímulos antecedentes e conseqüentes associados com a ocorrência do comportamento. E pior, passa-se facilmente a crer em tais justificativas e, assim, há um desfocar-se das variáveis relevantes que ajudariam no auto gerenciamento. A habilidade de discriminar o que é um CRB3, de fato, é importante. A FAP questiona a adequação dos exercícios de casa, do tipo treinamento, por considerar que, nesta situação, as respostas apresentadas pelo indivíduo tenderiam a ser mais topograficamente semelhantes às que estão sendo modeladas no setting terapêutico do que funcionalmente semelhantes, o que seria o maior objetivo. Contudo, em nossa cultura, determinadas topografias, dimensões ou variações de resposta acabam sendo importantes. Veja-se o caso de habilidades sociais, muito bem destacado por Andery 3 (Comunicação Pessoal). Questiona-se o quanto o foco no aqui e agora, num grupo, encurtaria este caminho e quão importante é desenvolver critérios para inserir ou não as tarefas de casa em grupos de FAP. 3 Aula ministrada no Núcleo Paradigma no curso Tópicos Avançados e Análise do Comportamento, em 2006.

O uso da FAP em grupo é bastante novo (ou o relato destas experiências é), para que se possa responder a muitas questões que são levantadas sobre habilidades, caminhos, riscos e mesmo sobre as semelhanças com outros enfoques terapêuticos grupais. Contudo, os relatos, (Vandenberghe, Furtado da Cruz & Ferro, 2003; Conte & Coelho, 2003), mostram que tal extensão é interessante e deve ter méritos e alcances específicos, a serem desvendados. Um pouco sobre Metodologia para Inserir a FAP em Grupos Conte (1996), realizou uma intervenção na qual utilizou procedimentos baseados na FAP para lidar com grupos de adolescentes de baixa renda com comportamentos agressivos e delinqüentes. Deste trabalho foi possível depreender alguns procedimentos aparentemente facilitadores da inserção da FAP em um processo psicoterápico grupal, que foram, depois, exploratoriamente exercitados em outros trabalhos. Eles combinam sugestões sobre as propostas para terapia. Um aspecto importante refere-se ao processo de identificação dos CRBs, para os quais podem ser usados vários recursos. O primeiro instrumento, indicado pelos autores da FAP, é a analise funcional da conduta verbal, ressaltando-se a importância da distinção entre os tatos e mandos como ponto de partida para a análise (Skinner, 1957). Mandos disfarçados são muitas vezes comportamentos de esquiva, modelados na historia de vida do cliente e não devem ser fortalecidos. Ao invés disso, as condutas do T deveriam favorecer a ocorrência de tatos e mandos mais precisos. Aperfeiçoar tatos sobre si mesmo é muito importante, assim como formular auto mandos e se controlar por eles. Além disso, solicitam atenção especial dos terapeutas para falas dos clientes que estão sob controle de duas fontes de

estimulação: as do ambiente externo somadas às do ambiente terapêutico, que ajudam na generalização entre ambientes, e também entre dois momentos distintos do processo grupal, que podem ajudar na generalização no tempo. O relato abaixo refere-se a um trabalho em grupo realizado por Oliani (Comunicação Pessoal) 4. Ele ilustra este ponto e permite explorações posteriores. A terapeuta atendia a um grupo de oito adultos diagnosticados como apresentando Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade DSM IV - 314 (1994). A maioria apresentava déficits em habilidades de relacionamento, baixa tolerância à frustração, baixa auto-estima e segurança e, ainda, reações intensas ao expressar emoções. Em uma sessão, uma das participantes chegou chorando intensamente. Acabara de receber a notícia de que uma amiga (de outra cidade) havia falecido. T: Como era a relação com sua amiga? C1: Foi minha aluna de pintura (choro). Não acredito...não ela! Tão...Tão alegre...de bem com a vida...tinha programado uma viagem... Agora...me sinto culpada! Não cheguei a dizer que a amava como minha irmã...(choro). C2 Como? Não estou entendendo. T - Explique melhor, o que aconteceu e o seu sentimento... C3 - (único homem do grupo) - Mulheres...são muito complicadas...pra que chorar deste jeito? Detesto isto! C4 - Sinto-me irritada com sua insensibilidade! C1- Desculpem...(choro), mas eu preciso falar...as pessoas podem não entender, eu também não estou entendo porque estou chorando assim...meus sentimentos estão confusos. Talvez por ter tido inveja dela...(choro)...queria ser como ela...(choro) Não acredito que ela morreu...estou triste, estou com raiva...não sei o que sinto...(choro). 4 Relato de caso realizado em maio de 2008 para autora do trabalho, que agradece Oliani pela colaboração.

T- Alguém já teve perdas de pessoas queridas e próximas? C5 - Eu já perdi pessoas muito queridas...e sei que é difícil no começo... C3 Eu não...bom, acho que tive...não morreram, mas é como se tivessem (morrido)...tive uma namorada que gostei muito...ela me abandonou...trocou por outro. Ela queria casar e eu não sabia se gostava dela...ela sempre perguntava e eu não respondia...um dia ela terminou. Com os outros relacionamentos foi parecido... T - O que você sentiu quando ela terminou? C3 -Não sei...nunca quis pensar. Normal. C4 (demonstrando irritação )...é igual meu marido...não fala! T- E agora, com a expressão de tristeza de C1, você ficou com raiva. C3 - Não, acho que é exagero. T- Percebo que está difícil admitir que sente certos sentimentos como a raiva, a tristeza, e até solidariedade com a dor de C1. (Neste momento C3 corou e os olhos se encheram de lágrimas). C3 - É que ninguém percebe que eu também sofro, que dói ser abandonado, que homem precisa ser compreendido, e que quer amar e ser amado, que quer demonstrar carinho...mas se demonstrar é fraco...eu sou homem e tenho sentimento (choro intenso). C6 Oferece lenço para C3 (demonstrando aceitação da resposta deste) e diz : C6 - Parece que a dor de C1 afetou todos nós...eu não estou conseguindo falar. C7 e C8 Também pegam lenço e a T pergunta se querem falar e negam com a cabeça. C1 - Estou me sentindo melhor, por ter falado e por C3 ter contado destes sentimentos. T - Estou percebendo você mais próximo do grupo hoje e percebo os participantes do grupo próximos de você C3. Você foi corajoso de admitir seus sentimentos. Segue-se uma discussão sobre varias questões, morte, perdas, sentimentos que cada pessoa tem na situação e o que ocasiona a diversidade, intensidade, etc. Neste

momento, C3 descreve o acolhimento como importante para ele ter sentido-se bem ao se expor. No final desta sessão, C3 pede desculpas para C1 e para C4 por ter sido ríspido. O grupo se despede com abraço de solidariedade para com C1 e C3. Após 5 meses deste episódio, ocorre outra interação: C1 compartilha com o grupo a morte de seu tio mais querido, ocorrido de forma súbita. C1 - Estou vivendo uma dor diferente daquela daquele dia, estou triste mais estou serena...venho pensando muito sobre a morte...no velório do meu tio, minha mãe fez um escândalo igual ao meu aquele dia no grupo...fiquei com vergonha...acho que eu tinha aprendido com ela a ver a morte com desespero e a me comportar daquele jeito...com a participação no grupo sei que posso expressar minha dor, meus sentimentos...que minha dor é parecida com a dos outros, e não é igual. E não precisa ser expressada igual. Todo mundo esperava meu piti. Estou me sentindo tão melhor, tão aliviada... Acho que no grupo posso ser eu mesma e lá fora as pessoas estão notando a diferença. Estou gostando de mim. E após 6 meses: morre o pai de C7, que compartilha sua dor e complementa: C7 - parece que estes meses que temos conversado sobre morte facilitou eu poder expressar o que sinto agora...lembram aquele dia da amiga de C1..., fiquei com raiva, com dó, queria gritar como a C1, e pedir pra ela parar e não falei nada...eu estava com medo, pois meu pai já estava com diagnóstico de câncer. Agora que ele se foi...vivi todos aqueles sentimentos daquele dia de outro jeito...chorei...de tristeza e saudade. Me surpreendeu como eu pude resolver as questões práticas. O grupo ajudou-me a aceitar meus sentimentos, falar sobre eles e escolher o que vou fazer com eles, sem precisar agredir ninguém. Acho que amadureci, mudei para melhor. Posteriormente C7 declarou ter interesse homossexual e estar se apaixonando pela primeira vez.

A valorização de falas sob controle de duas fontes de estímulos; os presentes no grupo e os equivalentes fora dele; os que se referem a situações passadas e as que se relacionam com que estão presentes nesta situação grupal e, ainda, as que relacionam comportamentos funcionalmente equivalentes dos membros do grupo, (o que é favorecido por este contexto), provavelmente ajudaram no desenvolvimento e generalização de um repertorio de expressividade emocional mais adequado por parte de todos os membros do grupo. Além da relevância da atenção às falas que relacionam comportamentos equivalentes que ocorrem em ambientes, momentos e clientes, e, da necessidade do fortalecimento de tatos e mandos mais puros, observa-se que outras categorias de comportamentos verbais também merecem atenção neste processo. Uma destas categorias é a dos intraverbais (Skinner, 1957). A cultura modela e considera adequadas longas cadeias comportamentais verbais nas quais boa parte das interações é cheia de intraverbais. A ausência, os excessos e os déficits de intraverbais, ou ainda o seu uso de forma inadequada, está presente em muitas dificuldades em habilidades sociais. Por vezes o que parece um tato ou um mando disfarçado é, na verdade, um intraverbal, ressalta. Por exemplo, C1 poderia ter relatado a morte da amiga enquanto o grupo estava se organizando para começar e dizer foi minha aluna de pintura. Não acredito...não ela! Tão...Tão alegre...de bem com a vida...tinha programado uma viagem... Agora...me sinto culpada! Não cheguei a dizer que a amava como minha irmã.. e não chorar ou parecer emocionada. Os demais poderiam dizer coisas gerais, sobre morrer e depois outros assuntos dos quais C1 participaria da mesma forma. Ao iniciar a sessão C1 poderia fazer um relato sobre sua última discussão com a filha, fato que considerava mais importante. Pode-se ver que, dependendo da discriminação, a conseqüênciação poderia ser inadequada. Poder-se-ia responder a ela

como a um mando disfarçado. Por sua topografia, por exemplo, ( estou sofrendo, me acolham ) seria totalmente disfuncional. Os Autoclíticos (Skinner, 1957). também não foram ainda destacados nos escritos tradicionais sobre FAP. Contudo, Meyer 5 (Comunicação Pessoal) ressaltou sua preocupação com eles com muita propriedade. A autora lembra que tais comportamentos verbais são baseados ou dependem de outros comportamentos verbais e tendem a afetar a reação do ouvinte aos comportamentos aos quais ele está associado. Mayer (2006) pondera que a presença de poucos autoclíticos nas falas de clientes e terapeutas pode indicar uma relação mais estável. Já seu uso permite suavizar a crítica, aumentar a adesão do cliente ao que lhe é dito, etc. Observa o fato de que os clientes que usam muitos autoclíticos podem estar sempre tentando evitar punições. Por exemplo, se C3, que parecia ter avaliado apropriadamente a reação de C1 como excesso comportamental, ao invés de dizer mulheres...são muito complicadas...pra que chorar deste jeito? Detesto isto! naquele momento, aguardasse a diminuição da resposta emocional da colega e, mais a frente dissesse algo mais sustentado por autoclíticos, como pude perceber que esta perda está sendo muito sentida por você e talvez você estranhe o que vou lhe dizer agora, talvez nem seja o momento.. enfim, me senti incomodado com a sua reação, achei um pouco extremada, não por causa do sentimento... sei que é intenso e verdadeiro, mas.... Bem, acho um pouco complicado entender as mulheres... mas queria lhe dizer isso, sem ofender., o que você acha?, C3 e os demais presentes poderiam ter tido uma reação diversa e mais produtiva para todos. Outra fonte realmente importante para o levantamento de possíveis classes CRBs específicos e idiossincráticos é a análise funcional do problema de cada cliente do grupo, mesmo que apresentem queixas topograficamente semelhantes ou 5 Aula ministrada no Núcleo Paradigma no curso Tópicos Avançados e Análise do Comportamento, em 2006.

homogêneas. Isso ajuda o terapeuta a conduzir interações direcionadas a cada um e identificar quando eles estão apresentando seus CRBs no grupo, como já visto em exemplos anteriores. Para isso, além das entrevistas iniciais, a observação dos comportamentos nas primeiras sessões parece desejável. No caso de grupos de pesquisa intervenção mais ainda, pois esta fase sem FAP, ou modelando a introdução de interações FAP, permite análises interessantes sobre efeitos específicos da FAP. A observação fora do contexto grupal, quando possível, e a aplicação de inventários também já se mostraram úteis (Conte, 1996). Conte (1996) usou as informações coletadas através do inventário YSR (Achenbach, 1991) para elaborar classes de respostas e comportamentos amplos, que deveriam ser intensificados nos grupos, para todos os clientes com excessos comportamentais agressivos e delinqüentes. Para Achenbach (1991), a síndrome Comportamento Agressivo poderia ser discriminada pela concordância com as seguintes afirmações: discuto muito; gabo-me, sou vaidoso; sou mau para com as outras pessoas; tento que me dêem muita atenção; destruo as minhas próprias coisas; destruo coisas que pertencem a outras pessoas; sou desobediente na escola; tenho ciúmes dos outros; meto-me em brigas; ataco fisicamente as outras pessoas; grito muito; exibo-me ou faço palhaçadas; sou teimoso; tenho mudanças súbitas de humor ou sentimentos; falo demais; provoco (arrelio) muito os outros; tenho temperamento exaltado; ameaço ferir as pessoas; falo mais alto que a maioria das moças e rapazes. Já Comportamento Delinqüente teria as seguintes: não sinto culpa após fazer algo que não devo; ando com rapazes ou moças que se metem em confusões; minto ou engano; prefiro estar com moças ou rapazes mais velhos do que eu; fujo de casa; provoco incêndios; roubo coisas em casa; roubo coisas em lugares que não são a minha casa; praguejo ou uso linguagem obscena; falto às aulas; uso álcool ou outras drogas sem ser para fins medicinais. Tais comportamentos foram aprendidos e

são mantidos e intensificados por contingências de reforçamento a curto e médio prazos, mas tendem a ser punidos a longo prazo. Trazem dano imediato aos demais, mas não são benéficos para quem os emite. Nele está presente o controle coercitivo, como definido por Sidman, (1995). Conhecendo o perfil do grupo para estas respostas, a T pôde identificar, observar e descrever, com mais especificidade, as respostas de interesse e seus antecedentes e conseqüentes em contextos extra clínicos, e, à partir daí, deduzir possíveis eventos que, no grupo, poderiam favorecer a ocorrência e manutenção de comportamentos da mesma classe funcional. Com isso, poderia ficar atenta ao início de cadeias comportamentais a serem interrompidas e reconduzidas rapidamente, na direção da apresentação de outras mais adaptativas. Ainda, pode levantar quais eram as que mereceriam reforçamento positivo intenso. A grosso modo, para este grupo, a observação também mostrou que poderiam haver alguns repertórios maiores a ser modelados, fortalecidos ou mantidos para todos os integrantes do grupo. Descreveu-se então, possíveis CRBs 2 para todos os comportamentos que levavam ao autoconhecimento, como pré-requisito para o autocontrole; comportamentos ou habilidades grupais e sociais, de maneira geral e os comportamentos francamente incompatíveis com a classe de comportamentos agressivos/delinqüentes relatados anteriormente. Os CRB3 descritos referiam-se às analises funcionais ou fragmentos destas. Por exemplo, elas poderiam ser a identificação e descrição das respostas, abertas e encobertas em curso, e seus antecedentes e conseqüentes a curto e médio prazos; identificação de outros comportamentos da mesma classe que se apresentam no contexto clinico e em outros contextos; historia de aprendizagem de tais

comportamentos; tendência comportamental futura, comportamentos da mesma classe apresentados por outros membros do grupo, etc. Neste estudo, como haviam vários terapeutas atendendo a vários grupos, e por tratar-se de um trabalho de pesquisa intervenção, descreveu-se claramente as respostas que compunham as classes funcionais e, para cada cliente era mantida uma ficha de observação comportamental que ajudava nas intervenções individualizadas. Mais detalhes sobre isto podem ser vistos em Conte (1996). De forma semelhante, procedeu Coelho (2001) em trabalhos que tiveram como objetivo descrever processos grupais baseados na FAP para desenvolver comportamentos incompatíveis (CRB 2 e 3) com as classe funcionais provocar e reagir inadequadamente à provocação, apresentadas por crianças de baixa renda com queixa de comportamento agressivo exacerbado. Neste caso, foram feitas 16 sessões, iniciais de observação e seleção de comportamentos clinicamente relevantes, enquanto se estabeleciam as regras de convivência do grupo, antes de introduzir a FAP e outras estratégias de intervenção para os comportamentos em questão. Foram também definidos para todos os trabalhos mencionados as condutas desejáveis a serem apresentadas pelas terapeutas. Conte e Coelho (... ) compararam episódios de sessões mostrando mudanças comportamentais que ocorrerem no decorrer do processo, tendo o sujeito como seu próprio controle. De forma geral, Conte (1996), Coelho (2001) e Conte e Coelho (2003), demonstraram resultados terapêuticos importantes usando a FAP e tais estratégias. Vandembergue, Cruz e Ferro (2003) têm interessantes estudos em grupo com queixosos de dor crônica orofacil, no qual combinam uma proposta didático-informativa com a FAP, obtendo excelentes resultados. Apresentam vinhetas ilustrativas da intervenção e dos seus resultados comportamentais. Vandembergue e Ferro (2005) e

Vandembergue; Cruz e Ferro (2003) apresentam também seu trabalho de psicoterapia com FAP para dor crônica. Todos são altamente estimulantes. Considerações Finais A FAP, como bem coloca Alvaréz, (1996), indica, de forma, filosófica e conceitualmente coerente com o Behaviorismo Radical, como devem ocorrer os intercâmbios verbais entre o terapeuta e cliente para que a sua relação possa ter efeitos altamente curativos. Os estudos já feitos por seus proponentes e outros, descrevem diretrizes claras, lógicas e precisas que podem ser seguidas passo a passo, no decorrer da psicoterapia. A magia que cercava este processo torna-se cada vez mais cientificamente desvendada. O comportamento verbal torna-se, com a FAP, uma ferramenta definitiva de intervenção terapêutica que, a partir disto, não mais se limita a falar de algo que ocorre na vida real, distante do terapeuta, mas traz o foco do trabalho para o momento e tempo presentes. Poderia se questionar o quanto às contingências podem manter os comportamentos desenvolvidos no contexto terapêutico, o quanto a generalização não deveria ser esperada ou o quanto de empenho seria necessário para fortalecer a força do novo comportamento apresentado em sessão, para que ele fosse mais resistente a contingências adversas. São aspectos sob os quais cabe pensar, assim como há que avaliar ainda o quanto a FAP é necessária em todos os processos terapêuticos ou descobrir onde sua aplicação é especialmente recomendada. De toda forma, o que se tem até agora sobre ela indica que ela é altamente indicada para exercer o papel a que se propôs: o trato e a superação de problemas interpessoais, e mais os de natureza intrapessoais, como os decorrentes de esquiva