Justificativa para a criação da Unidade de Conservação - Ponta de Pirangi Os recifes de corais são ecossistemas que abrigam grande biodiversidade marinha, tendo, portanto uma grande relevância ecológica, econômica e social. Devido às características físicas das áreas recifais, principalmente aquelas emersas, esses ambientes também constituem-se em feições importantes para a proteção da costa contra a erosão marinha. Seus recursos naturais são bastante expressivos, fornecendo uma série de produtos minerais e farmacêuticos. Além disso, os recifes são considerados atrativos turísticos devido à sua beleza natural, sendo o turismo náutico e o mergulho recreativo as principais atividades, que podem gerar renda e emprego para as comunidades locais. Entretanto, são ambientes frágeis, e podem ser fácil e rapidamente degradados principalmente pela pesca, turismo desordenado e poluição marinha. A área recifal de Pirangi (área costeira entre os municípios de Nísia Floresta e Parnamirim/RN) inclui piscinas costeiras, recifes rasos e recifes profundos, abrigando uma vasta biodiversidade marinha. A área apresenta águas claras praticamente durante todo o ano, onde são desenvolvidas atividades de turismo (passeios náuticos, mergulho e visitação nos parrachos e pesca. É possível verificar uma intensa exploração desses ecossistemas, sendo necessário um maior controle das atividades desenvolvidas e proteção de áreas sensíveis e de maior importância ecológica. Devido à relevância ecológica e econômica das áreas costeiras, especialmente dos ambientes recifais, em todo mundo vem sendo desenvolvidas ações que visam conciliar a preservação desses ecossistemas ricos com a sustentabilidade econômica das comunidades de entorno. O estabelecimento de um sistema representativo e efetivo de áreas protegidas faz parte da estratégia global de conservação de biodiversidade, sendo inclusive pactuado como meta a ser cumprida pelos países signatários da Convenção de Diversidade Biológica CDB (MMA, documento eletrônico).
Uma das principais estratégias de conservação dos recifes de corais tem sido o estabelecimento de unidades de conservação, assim como previsto no Art. 8º da Convenção de Diversidade Biológica - CDB. Desse modo, uma porção razoável dos recifes brasileiros está localizada nessas áreas protegidas (PRATES, et al., documento eletrônico). De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC, Lei Federal 9.985 de 18 de junho de 2000), define-se como unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. A área recifal de Pirangi é apontada pelo ICMBio como de prioridade Alta e Muito Alta para conservação, devido a sua relevância ecológica. PROJETO PONTA DE PIRANGI Devido às características ecológicas dos recifes de corais da região, foi realizado pela ONG Oceânica o projeto Ponta de Pirangi cujo o principal objetivo foi conhecer, recuperar e conservar a área recifal de Pirangi, litoral Sul do RN, promovendo a gestão integrada e compartilhada dos recursos naturais da região, integrando atores sociais para a conciliação dos processos sócio-produtivos à conservação da biodiversidade e do meio ambiente e através de pesquisas nas áreas de turismo, pesca, biodiversidade e geodiversidade, produzir uma proposta de criação de Unidade de Conservação para o local. Os estudos desenvolvidos pelo projeto revelam toda a importância ecológica da região, os principais usos humanos e as interações ambientais atuais. No projeto foi realizado o Diagnóstico Ambiental, apresentando os aspectos Biológicos e Sócio-economicos, onde destacam-se as principais informações: ASPECTOS BIOLÓGICOS Importância Ecológica - Áreas Recifais
A região de Pirangi constitui-se em um complexo recifal com diferentes tipos de formações e ecossistemas, além da grande variedade de organismos marinhos. Esses ambientes servem de abrigo, fornecem alimentação e muitas vezes funcionam como berçários de uma gama de espécies marinhas. Além disso, na região são encontrados ainda bancos de fanerógamas marinhas e manguezais, sendo fundamentais para a ocorrência de espécies ameaçadas como o peixe-boi (Trichechus manatus). As áreas recifais do Rio Grande do Norte são consideradas uma das regiões com maior diversidade de esponjas no Brasil (MURICY et al., 2008), o que releva a importância ecológica dos recifes fundos, uma vez que este grupo taxonômico possui grande importância ecológica abrigando diversas espécies associadas a sua estrutura tais como crustáceos, poliquetas e peixes, além de ser fonte de diversos compostos químicos explorados na farmacologia. Nas proximidades dos Recifes de Pirangi foi registrada a ocorrência do peixe-boi, espécie ameaçada de extinção. Vários relatos mostram que o peixe-boi costuma ocorrer mais comumente no estuário, local de alimentação para a espécie. Os estudos mostraram ainda uma grande cobertura dos corais Mussismilia harttii, Favia grávida e Montastrea cavernosa que são espécies endêmicas ao Brasil, e ocorrem em determinadas localidades da formação recifal de Pirangi. Sabe-se que espécies endêmicas apresentam maior risco de extinção, pois alterações em seu habitat podem eliminar os indivíduos da espécie, reduzindo a biodiversidade. Os estudos desenvolvidos pelo Projeto Ponta de Pirangi descrevem a identificação de 23 espécies de importância ecológica, sendo 8 espécies endêmicas ao Brasil, 11 espécies ameaçadas de extinção, 7 sobreexploradas e 161 espécies de interesse comercial. ESPÉCIES AMEAÇADAS - Búzio Chapéu (Strombus goliath) incluído na Lista Nacional das Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes Sobreexplotadas ou Ameçadas de
Sobreexplotaçãon (IN MMA Nº 5, DE 21 de maio de 2004, e acordo com a IN MMA N.º 52, DE 8 DE NOVEMBRO DE 2005); - Peixe Mero (Epinephelus itajara) espécie ameaçada de extinção (Lista Nacional de Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes - IN MMA Nº 5, de 21 de maio de 2004) e protegida por Portaria do IBAMA (Portaria IBAMA 42, de 19 de setembro de 2007. -Tubarão Lixa (Ginglymostoma cirratum) - espécie ameaçada de extinção (Lista Nacional de Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes - IN MMA Nº 5, de 21 de maio de 2004) - Tartaruga de Pente (Erethymochelys imbricata) e Tartaruga Verde (Chelonya mydas) espécies ameaçadas de extinção (Lista Nacional de Espécies de Ameaçadas de Extinção - IN MMA Nº 003, de 26 de maio de 2003) e são protegidas por portaria do IBAMA (Portaria IBAMA Nº 135, de 23 de dezembro de 2010. - Peixe-Boi-Marinho (Trichechus manatus) - espécie criticamente ameaçada de extinção (Lista Nacional de Espécies de Ameaçadas de Extinção - IN MMA Nº 003, de 26 de maio de 2003) e protegido por portaria do ICMBIO (Portaria ICMBIO Nº 85, de 27 de agosto de 2010. Vale ressaltar que o diagnóstico foi realizado de forma estratégica para abranger ambientes de diferentes características ecológicas, no entanto não foi possível avaliar toda a extensão das formações recifais, nem os esforços amostrais foram equivalentes, devendo ser realizados mais estudos que poderão trazer ainda informações importantes sobre a biodiversidade da região. ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS Devido aos recursos naturais gerados nos recifes de corais e sua grande beleza cênica, esses ambientes acabam tendo uma significativa importância econômica, especialmente para as atividades pesqueiras e turísticas.
PESCA/AQUARIOFILISMO Nas áreas estudadas, ocorrem diversas espécies de peixes e invertebrados recifais de relevância econômica e social. Muitas espécies são protegidas pela legislação, sendo, portanto necessária a realização de monitoramentos dos status e disponibilidade de estoques pesqueiros. Além disso, ocorrem nas áreas recifais rasas espécies ornamentais, muitas vezes exploradas economicamente. Lagosta importante recurso pesqueiro para a região nordestina, destacando o Rio Grande do Norte. Devido à significativa diminuição das populações, as espécies mais exploradas estão protegidas pela legislação (Portaria Interministerial MPA MMA n 01, de 20 de abril de 2010 e Instrução Normativa Interministerial MPA MMA n 09, de 15 de outubro de 2010. A criação de Unidades de Conservação traz ainda benefícios para as comunidades de entorno, uma vez que são conscientizadas sobre a importância da UC e capacitadas a interagir adequadamente com a área e promover assim o uso sustentável dos recursos naturais fornecidos pelos ecossistemas da região. TURISMO A região apresenta um turismo relativamente desenvolvido, sendo predominante de sol e praia, com a ocupação de casas de veraneio (segunda residência). O principal atrativo são as belezas naturais que incluem áreas costeiras, com matas, mangues e praias, e áreas marinhas, destacando os recifes de corais. As principais atividades de turismo e lazer desenvolvidas em Pirangi são o turismo náutico (passeios de barco), mergulho, caça-submarina e Kitesurf. As áreas recifais são consideradas um atrativo turístico importante para o setor, mobilizando o mercado e gerando empregos diretos e indiretos. Atualmente a área é explorada comercialmente por quatro empresas, e devido ao uso sem qualquer controle, a área tem sido degradada gradativamente. Os principais impactos ambientais relativos às atividades turísticas são: alteração e destruição dos corais pelo pisoteio dos turistas, quebra de corais nas ancoragens de embarcações, risco de colisões com animais
marinhos, destacando o peixe-boi que ocorre na região, alteração da qualidade da água por vazamento de óleo e despejo de resíduos. Tendo em vista à exploração sem qualquer regra de utilização, durante as atividades turísticas, foi estabelecido um Termo de Ajustamento de Conduta TAC, com o objetivo de disciplinar, emergencial e provisoriamente, a atividade econômica de passeio turístico e as atividades de lazer nos recifes marinhos da Ponta de Pirangi. O TAC foi assinado em Fevereiro de 2010 por Instituições como o IBAMA, IDEMA, Ministério Público Federal, Secretaria do Patrimônio da União juntamente com a ONG Oceânica, Empresas de Turismo e Associação Náutica de Pirangi. Neste termo foram estabelecidas as regras temporárias para a realização das atividades turísticas e ainda defina a necessidade de criação da unidade de conservação na área. Nas Unidades de Conservação o monitoramento da qualidade ambiental da região é periodicamente efetuado, de forma a prevenir as alterações efetivas e ainda estabelecer as ações preventivas e corretivas necessárias para impedir e/ou minimizar os impactos ambientais das atividades desenvolvidas na região. A atividade turística em unidades de conservação tem sido vista como a principal alternativa de sustentabilidade econômica, desde que sejam estabelecidas as regras de exploração e realizados os processos de monitoramento e fiscalização. PARECER TÉCNICO IBAMA Técnicos do IBAMA-RN, realizaram em conjunto com a equipe do Projeto Ponta de Pirangi um Parecer Técnico (Parecer Técnico DICAF/SUPES/IBAMA-RN), que descreve a grande importância ecológica e alta biodiversidade marinha da região de Pirangi, apontando a necessidade da criação de uma Unidade de Conservação (UC) que promova a proteção dos ecossistemas, ordenamento e controle do uso dos recursos naturais. O documento destaca ainda a ausência de UC Federal na zona costeira do RN, justificando a criação e implementação por jurisdição federal, através do ICMBIO.
CONCLUSÕES Baseando-se nas informações obtidas pelos estudos desenvolvidos no Projeto Ponta de Pirangi, pode-se concluir que o estabelecimento de uma Unidade de Conservação é de extrema importância e urgência para a região. A região de Pirangi, litoral sul do Rio Grande do Norte, com o aumento do número de moradores e turistas, pescarias predatórias e problemas relacionados ao saneamento básico (DIAGNÓSTICO AMBIENTAL, 2006), vem sofrendo impactos relevantes nos últimos 10 anos. As áreas recifais, com o aumento da exploração, sofrem também impactos diretos, causados principalmente por: colisões de embarcações com animais marinhos; alteração da qualidade da água - vazamento de óleo das embarcações; alteração e degradação da área recifal devido ao pisoteamento e ancoragem, entrada sistemática de lixo não degradável e águas servidas decorrente da poluição das praias, captura de peixes e invertebrados ornamentais para aquários e a diminuição da população de organismos marinhos, devido tanto a degradação do ambiente como a pescaria desordenada. O impacto antrópico sobre a comunidade recifal pode acarretar na seleção (espécies resistentes às atividades) ou até mesmo na extinção local de espécies, o que implica na diminuição da biodiversidade local e alteração na estrutura das comunidades que habitam este ecossistema. O conhecimento da biodiversidade e de seus padrões de distribuição nos recifes serve de subsídio para o manejo dos recursos de forma a conservar as características do ambiente. O estudo realizado identificou a ocorrência de espécies endêmicas e espécies ameaçadas, sendo revelada assim a necessidade do estabelecimento de estratégias de conservação ambiental da biodiversidade para essa região. Nesse contexto, o estudo sugere a criação de uma Unidade de Conservação local, englobando também as áreas do estuário, fanerógamas de alimentação do peixeboi e o recife Baixa do Meio, formando um corredor até o Parracho de Pirangi e demais áreas recifais, na tentativa de manter a conectividade destes ambientes, de forma a conservar o habitat e a rica biodiversidade da região.
A criação da unidade de conservação irá propiciar o ordenamento das atividades que já são realizadas na área (turismo e pesca), estabelecendo as regras e as delimitações através do zoneamento ambiental. O Projeto Ponta de Pirangi iniciou as avaliações da região, sendo verificada a sua grande riqueza ecológica e a importância dos seus recursos naturais para a comunidade e para o desenvolvimento do turismo. Durante a realização do projeto, a própria comunidade local sinalizou a necessidade e interesse da preservação dos recifes de corais da região. Essas informações foram obtidas durante as oficinas participativas realizadas na comunidade. Como os recifes costeiros são ambientes bastantes vulneráveis à impactos antrópicos (pesca, poluição, pisoteio, etc),e devido a posição geográfica próxima à áreas de ocupação humana, a necessidade de estabelecimento de regras e de um zoneamento de usos é ainda mais evidente. O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro PNGC (Lei Federal 7.661/1988) considera que os recifes de corais bem como as áreas de fanerógamas são ambientes de especial interesse para conservação e preservação devido às suas características de importância ecológica e conseqüentemente econômica para as regiões litorâneas. A melhor forma de se proteger esses ecossistemas é a criação de Unidades de Conservação específicas. De acordo com as características da região, considera-se a categoria mais apropriada a Área de Proteção Ambiental APA, que é um tipo de Unidade de Conservação de Uso Sustentável, permitindo assim a conciliar os usos já tradicionalmente existentes com a preservação dos ecossistemas e seus recursos. De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC, Lei Federal 9.985/2000) define-se Área de Proteção Ambiental - APA como: uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. A região da Ponta de Pirangi se enquadra nessas características, e promovendo tanto a preservação ambiental quanto o uso sustentável.
Vale salientar que a região costeira próxima à Pirangi (litoral sul) já apresenta outras unidades de conservação (APA Estadual Bonfim-Guaraíras, Parque Estadual Mata da Pipa e FLONA Nísia Floresta), e outras ainda estão em processo de criação. O estabelecimento dessa nova Unidade de Conservação poderá ser parte de um mosaico de áreas protegidas, garantindo a preservação dos ecossistemas e promovendo o uso sustentável dos recursos naturais. Destaca-se que o Estado do Rio Grande do Norte possui outra importante área recifal, entre os Municípios de Maxaranguape, Rio do Fogo e Touros. Para essa região foi criada a Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais/ APARC, e elaborado o Plano de Manejo, onde foi apontada a necessidade do estabelecimento de regras de uso e da proteção integral de áreas para promover o efetivo uso sustentável dos recifes. Encontrar o equilíbrio entre os interesses econômicos, como o turismo, pesca, ocupação imobiliária e tornando tais atividades sustentáveis é um grande desafio e também uma tarefa extremamente necessária, uma vez que o meio ambiente representa, em última instância, a base econômica de diversas atividades e manutenção das populações humanas. As informações obtidas no Projeto Ponta de Pirangi mostram a necessidade da realização de um zoneamento com medidas de manejo, com o objetivo de conservar a diversidade de espécies, espécies endêmicas e ameaçadas, e manter a sustentabilidade da pesca e a beleza cênica da região que é um importante atrativo turístico para o Estado do Rio Grande do Norte.