Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Ciência da Informação Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação PROJETO DE PESQUISA



Documentos relacionados
Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

GESTÃO, SINERGIA E ATUAÇÃO EM REDE. Prof. Peter Bent Hansen PPGAd / PUCRS

Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

DESENVOLVIMENTO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, GERAÇÃO DE EMPREGO E INCLUSÃO SOCIAL. XII Seminario del CILEA Bolívia 23 a 25/06/2006

TERMO DE REFERÊNCIA (TR) GAUD VAGA

Universidade Estadual do Centro-Oeste Reconhecida pelo Decreto Estadual nº 3.444, de 8 de agosto de 1997

Desenvolve Minas. Modelo de Excelência da Gestão

Universidade Estadual do Centro-Oeste Reconhecida pelo Decreto Estadual nº 3.444, de 8 de agosto de 1997

TRABALHOS TÉCNICOS Coordenação de Documentação e Informação INOVAÇÃO E GERENCIAMENTO DE PROCESSOS: UMA ANÁLISE BASEADA NA GESTÃO DO CONHECIMENTO

O Papel Estratégico da Gestão de Pessoas para a Competitividade das Organizações

Pequenas e Médias Empresas no Canadá. Pequenos Negócios Conceito e Principais instituições de Apoio aos Pequenos Negócios

COMO TORNAR-SE UM FRANQUEADOR

FUNÇÕES MOTORAS (Produtos e Serviços)

Universidade de Brasília Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação Departamento de Ciência da

Profissionais de Alta Performance

POLÍTICAS DE GESTÃO PROCESSO DE SUSTENTABILIDADE

EDITAL SENAI SESI DE INOVAÇÃO. Caráter inovador projeto cujo escopo ainda não possui. Complexidade das tecnologias critério de avaliação que

Planejamento e Gestão Estratégica

Pesquisa realizada com os participantes do 12º Seminário Nacional de Gestão de Projetos. Apresentação

OBSERVATÓRIO DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO. Palavras-chave: Gestão da Informação. Gestão do conhecimento. OGI. Google alertas. Biblioteconomia.

Análise do Ambiente estudo aprofundado

Carreira: definição de papéis e comparação de modelos

Promover um ambiente de trabalho inclusivo que ofereça igualdade de oportunidades;

biblioteca Cultura de Inovação Dr. José Cláudio C. Terra & Caspar Bart Van Rijnbach, M Gestão da Inovação

Estruturando o modelo de RH: da criação da estratégia de RH ao diagnóstico de sua efetividade

A IMPORTÂNCIA DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO GERENCIAL PARA AS EMPRESAS

Participação de pequenas empresas nos parques tecnológicos

VIGILÂNCIA SOCIAL E A GESTÃO DA INFORMAÇÃO: A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

Empreendedorismo. Tópico 4 Plano de Negócios: Visão Geral

ESTRATÉGIAS DE NÍVEL EMPRESARIAL. Administração Estratégica Conceitos. Autores Peter Wright Mark J. Kroll John Parnell

Algumas Instituições. World Bank. Gartner Group. Knowledge Transfer International APQC OCDE IPEA

CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO CAPÍTULO 30 FORTALECIMENTO DO PAPEL DO COMÉRCIO E DA INDÚSTRIA INTRODUÇÃO

Proposta de Programa- Quadro de Ciência, Tecnologia e Inovação L RECyT,


SUGESTÕES PARA ARTICULAÇÃO ENTRE O MESTRADO EM DIREITO E A GRADUAÇÃO

Unidade II GESTÃO DO CONHECIMENTO. Profa. Leonor Cordeiro Brandão

Rafael Vargas Presidente da SBEP.RO Gestor de Projetos Sociais do Instituto Ágora Secretário do Terceiro Setor da UGT.RO

Governança Corporativa. A importância da Governança de TI e Segurança da Informação na estratégia empresarial.

Gestão Plano de Trabalho. Colaboração, Renovação e Integração. Eduardo Simões de Albuquerque Diretor

Programa do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu MBA em Gestão de Projetos

Importância da normalização para as Micro e Pequenas Empresas 1. Normas só são importantes para as grandes empresas...

Pesquisa realizada com os participantes do 16º Seminário Nacional de Gestão de Projetos APRESENTAÇÃO

FATEC Cruzeiro José da Silva. Ferramenta CRM como estratégia de negócios

APL como Estratégia de Desenvolvimento

GESTÃO DAS INFORMAÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES MÓDULO 11

Construção de redes sociais e humanas: um novo desafio. Sonia Aparecida Cabestré Regina Celia Baptista Belluzzo

Aula 09 - Remuneração por competências: uma alavanca para o capital intelectual

Plano Plurianual

Gestão Estratégica de Marketing

A Mobilização Empresarial pela Inovação: 25/05/2011

Programa do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu MBA em Gestão Estratégica de Marketing

Reunião do Fórum das Entidades Empresariais de Santa Maria

Gestão do Conhecimento e Dasenvolvimento de Software

EDUCAÇÃO SUPERIOR, INOVAÇÃO E PARQUES TECNOLÓGICOS

PROJETO CIDADÃO EM REDE: DE CONSUMIDOR A PRODUTOR DE INFORMAÇÃO SOBRE O TERRITÓRIO PLANO DE TRABALHO

CAPÍTULO 1 - CONTABILIDADE E GESTÃO EMPRESARIAL A CONTROLADORIA

Política de Sustentabilidade das empresas Eletrobras

Trilhas Técnicas SBSI

Programa de Capacitação

A função da associação de classe na construção e defesa de suas agendas. 15 ago 13

CONSULTORIA DE DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL

A Descrição do Produto ou Serviço e a Análise do Mercado e dos Competidores Fabiano Marques

OFICINA DA PESQUISA DISCIPLINA: COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL

PÓS-GRADUAÇÃO CAIRU O QUE VOCÊ PRECISA SABER: Por que fazer uma pós-graduação?

Redes sociais no Terceiro Setor

GESTÃO DE PROJETOS PARA A INOVAÇÃO

Sistemas de Informação I

Carga Horária :144h (07/04 a 05/09/2014) 1. JUSTIFICATIVA: 2. OBJETIVO(S):

COMPETITIVIDADE E INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS DA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA

EXECUTIVE GESTÃO ESTRATÉGICA

Análise exploratória da Inovação Tecnológica nos Estados, Regiões e. no Brasil com base na Pesquisa de Inovação Tecnológica PINTEC

Gestão e estratégia de TI Conhecimento do negócio aliado à excelência em serviços de tecnologia

Rotinas de DP- Professor: Robson Soares

Carta para a Preservação do Patrimônio Arquivístico Digital Preservar para garantir o acesso

Visão global, especialização local Consultoria para a indústria financeira

MODELO 1 PARA SELEÇÃO DE PROPOSTAS DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS

Gestão da Informação e Gestão do Conhecimento: possíveis aplicações em uma rede. Caroline Brito de Oliveira

4. Tendências em Gestão de Pessoas

Empresa como Sistema e seus Subsistemas. Professora Cintia Caetano

GESTÃO ESTRATÉGICA DO CONHECIMENTO NAS PEQUENAS ORGANIZAÇÕES: UM MODELO DE ABORDAGEM ABRAHAM B. SICSÚ

3. Estratégia e Planejamento

Escola de Políticas Públicas

1 Fórum de Educação a Distância do Poder Judiciário. Gestão de Projetos de EAD Conceber, Desenvolver e Entregar

Gestão de Competências em Redes de Organizações e Governança de Redes e de Arranjos

NÚCLEOS DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

Termo de Referência para contratação de consultor na modalidade Produto

Plan International e IIDAC com recursos do Fundo União Europeia

3. Processos, o que é isto? Encontramos vários conceitos de processos, conforme observarmos abaixo:

Parte V Financiamento do Desenvolvimento

Empreendedorismo de Negócios com Informática

1 Disseminar a cultura de empreender e inovar, fortalecendo as ações do Comitê de Empreendedorismo e Inovação (CEI)

Os desafios para a inovação no Brasil. Maximiliano Selistre Carlomagno

Administração de CPD Chief Information Office

EDITAL CHAMADA DE CASOS

FIB - FACULDADES INTEGRADAS DE BAURU CURSO DE PÓS - GRADUAÇÃO LATO SENSU

PROFILE RESUMIDO LIDERANÇA DAS EQUIPES

FACULDADE ESTÁCIO MONTESSORI DE IBIÚNA ESTÁCIO FMI SÍNTESE DO PROJETO PEDAGÓGICO DE CURSO 1

Transcrição:

Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Ciência da Informação Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação PROJETO DE PESQUISA Título: Criação e Compartilhamento de Informação e Conhecimento em uma Rede de Cooperação Interorganizacional: o Autor: Wilson José Vieira da Costa Orientadora: Profa. Dra. Marta Pinheiro Linha de Pesquisa: Gestão da Informação e do Conhecimento - GIC Palavras Chave: Informação, Conhecimento, Redes, Compartilhamento, Inovação, APL, MPMEs. Banca de Qualificação: Prof. Dr. Ricardo Barbosa (ECI/UFMG), Profa. Beatriz Valadares Cendón (ECI/UFMG). 1. INTRODUÇÃO Em função da crescente competitividade na qual estão submetidas as organizações exige-se cada vez mais um contínuo esforço de se repensar a gestão empresarial. Para isso, se faz necessário, uma adequada estrutura informacional (tecnologia, pessoas e técnicas) para a qual as Micros, Pequenas e Médias Empresas (MPMEs) não têm condições de arcar. De forma isolada elas apresentam dificuldades de acesso a informações e conhecimentos de cunho estratégico. Diante deste cenário, tem crescido o interesse em pesquisas sobre redes interorganizacionais como ambiente favorável à criação e ao compartilhamento de informações, de conhecimentos, de habilidades e de recursos essenciais para os processos de inovação. O presente estudo tem por objetivo identificar como as empresas do APL de Móveis de Ubá criam e compartilham informação e conhecimento para os processos inovativos e de aprendizado em parceria com as entidades de apoio 1, de forma a agregar valor ao conhecimento explícito informações organizadas e registradas em bases de dados, catálogos, patentes, etc. na busca por competitividade. 1 Atualmente, as ações de desenvolvimento do pólo são trabalhadas pelo Comitê Gestor do Arranjo Produtivo da Indústria Moveleira de Ubá e Região, liderado pelo INTERSIND (Sindicato) com o apoio de entidades públicas e privadas: ministérios, secretaria de Estado, instituições de apoio às micro, equenas e médias empresas, organismos voltados para o desenvolvimento econômico e regional, agentes financeiros e universidades. (www.ubamoveisdeminas.com.br Acesso em 26 maio 2006)

2 A pesquisa de natureza Qualitativa terá como ambiente a ser estudado o APL de Móveis de Ubá e as entidades de apoio que desenvolvem ações para o desenvolvimento do pólo. Este ambiente será a fonte direta para a coleta de dados e as análises conduzirão à tendência da análise de dados indutiva. 2. O PROBLEMA DE PESQUISA O Empreendedorismo no âmbito das MPMEs é, hoje, o assunto do mais intenso debate na imprensa e na literatura e é representado pelas iniciativas de apoio do Governo Federal, pela busca cooperação, da eficiência, da qualidade e da inovação como instrumentos propulsores básicos para uma sociedade economicamente competitiva e geradora de empregos. Não somente no Brasil, como em outros países do Terceiro Mundo, os governos têm buscado estabelecer políticas de apoio a este setor como forma de minimizar o desequilíbrio entre as classes sociais. Políticas oriundas da crença de desenvolvimento econômico possibilitador do incentivo à produção e à criação de novos empregos, que miniminize as mazelas do desemprego, pelo estabelecimento de novos postos de trabalho, novas ocupações profissionais. Mais recentemente percebe-se que o Estado tem atuado como articulador das relações entre empresas através do modelo de redes horizontais de cooperação entre MPMEs, inspirado nos resultados alcançados pelas empresas na região da Emília Romana (conhecida como terceira Itália), que atualmente constitui um exemplo para o mundo de como as micros e pequenas empresas poderão tornar-se competitivas por meio da organização em redes de cooperação. Neste contexto, aparecem as entidades de apoio às MPMEs preocupadas em estudar estratégias de competitividade baseando-se na inter-relação de atores em sistemas locais de produção atuando na promoção de cursos de capacitação, facilitação do acesso ao crédito, estimulação da cooperação entre as empresas, e incentivo no desenvolvimento de atividades que contribuem para a geração de emprego e renda. O cenário brasileiro demonstra a necessidade de estratégias que contribuam para o aumento da competitividade de micros e pequenos negócios. Segundo o GEM Global Entrepreneurship Monitor, 2005 o Brasil, com Taxa de Atividade Empreendedora Total TAE de 11,3%, ocupa a sétima posição entre os países com

3 maior nível de empreendedorismo. O Global Entrepreneurship Monitor (GEM) é uma pesquisa que tem a finalidade de aprofundar o conhecimento sobre questões relacionadas ao empreendedorismo, tais como: as diferenças entre os países em termos de capacidade empreendedora; a contribuição do empreendedorismo para o crescimento econômico e tecnológico; relações entre riquezas de oportunidades empreendedoras e a capacidade dos indivíduos de explorar novas oportunidades e o potencial dos governos para promover o empreendedorismo. A edição de 2005 do GEM demonstrou que no Brasil, apesar das altas taxas de desemprego, a abertura de empreendimentos por oportunidade de negócio supera em número as iniciativas por necessidade que são decorrentes da falta de opções no mercado de trabalho. Entretanto, devido à concorrência global e ao papel estratégico exercido pelas tecnologias da informação e comunicação, tornou-se mais difícil sobreviver como empreendedor sem o uso adequado da informação entendida como matériaprima para a geração de conhecimentos que conduzirá o processo inovativo nas empresas. Apesar de estudos recentes, demonstrarem que o Brasil é considerado um país muito empreendedor em número de empresas criadas, o índice de mortalidade, muitas vezes precoce, neste segmento é muito alto. Destaca-se, dentre as várias causas deste paradoxo, o despreparo dos empresários para explorar as particularidades de um ambiente de negócios na era do conhecimento. Faltam-lhe habilidades e conhecimento específicos (cultura empreendedora) para explorar as oportunidades e as suas vocações, bem como para enfrentar as ameaças que este novo cenário oferece, a fim de compensar suas deficiências para adotar um novo paradigma de negócios. O estudo de casos de sucesso em outros países indica que uma política pública de desenvolvimento do empreendedorismo pressupõe a existência de atores com a missão exclusiva de apoiar os empresários a diminuir o seu despreparo para administrar as novas variáveis envolvidas no novo modelo econômico. No Brasil, o SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - é reconhecido como um ator de referência com esta finalidade. Assim como nos Estados Unidos o SBA Small Business Administration, na Inglaterra o SBS Small Business Service e no Canadá o CCSBE Canadian Council for Small Business & Entrepreneurship.

4 Entretanto, assim como os empreendedores, os atores de apoio também devem evoluir constantemente, e precisam ter sua política de apoio sistematicamente atualizada para cumprir sua missão de forma efetiva. Afinal, estes atores são instituídos por lei e são mantidos com recursos públicos e necessitam de demonstrar sua eficácia à sociedade. Portanto, o presente estudo trata do processo de criação e compartilhamento de informação e conhecimento em um APL (Arranjo Produtivo Local) e suas entidades de apoio. O tema envolverá três perspectivas teóricas: a gestão da informação, a gestão do conhecimento no que se refere a geração e compartilhamento de conhecimentos (forma como a informação interna e externa é agregada às experiências e habilidades existentes na organização para promover atividades de inovação) e redes horizontais de cooperação APL - (conjunto de organizações que utilizam a configuração de rede para alcançar coletivamente certos objetivos organizacionais). A motivação pelo estudo decorre, principalmente, da análise e reflexão da literatura que demonstra que as empresas de forma isolada, principalmente as MPMEs, apresentam enormes dificuldades de acesso à informação e conhecimentos estratégicos. Dessa forma, este estudo se propõe a responder a seguinte questão: Como acontece o processo de criação e compartilhamento de informação e conhecimento em um APL em parceira com as entidades de apoio e, como essas últimas, têm facilitado os espaços de cooperação para este conjunto de empresas? 3. HIPÓTESE DE TRABALHO O desenvolvimento das MPMEs organizadas em redes horizontais de cooperação (APLs) é dependente de processos adequados de Gestão da Informação e do Conhecimento facilitados por entidades de apoio responsáveis por estabelecer espaços e relações positivas para a geração e compartilhamento de conhecimentos. Para analisar o processo de criação e compartilhamento de conhecimentos no APL de Móveis de Ubá-MG e suas interações com as entidades de apoio SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, FIEMG/IEL- Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais e Instituto Euvaldo Lodi, SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e demais parceiros, estabelecemos como objetivos:

5 4. OBJETIVOS 4.1. OBJETIVO GERAL Identificar como as empresas do APL de Móveis de Ubá-MG criam e compartilham informação e conhecimento 2 para os processos inovativos e de aprendizado 3 em parceria com as entidades de apoio 4. 4.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1) Levantar as características das empresas pesquisadas quanto a: número de funcionários, escolaridade, faturamento, aspectos relativos à produção, variedade de produtos e mercado das empresas do APL. 2) Mapear a rede interorganizacional - empresas do APL e entidades de apoio identificando as relações entre os atores e seus laços de influência e preferência. 3) Identificar pela análise de fluxos e processos que tipo de dados, informações e documentos tem sido compartilhados intra e interorganizacionalmente pelas empresas do APL. 4) Analisar aspectos relativos à gestão da informação nas atividades cooperadas entre as empresas do APL e entidades de apoio. 2Nos ASPLs, geralmente verificam-se processos de geração, compartilhamento e socialização de conhecimentos, por parte de empresas, organizações e indivíduos. Particularmente de conhecimentos tácitos, ou seja, aqueles que não estão codificados, mas que estão implícitos e incorporados em indivíduos, organizações e até regiões. O conhecimento tácito apresenta forte especificidade local, decorrendo da proximidade territorial e/ou de identidades culturais, sociais e empresariais. Isto facilita sua circulação em organizações ou contextos geográficos específicos, mas dificulta ou mesmo impede seu acesso por atores externos a tais contextos, tornando-se, portanto elemento de vantagem competitiva de que o detém. (LASTRES & CASSIOLATO, 2006, p.04) 3 Nos ASPLs, o aprendizado interativo constitui fonte fundamental para a transmissão de conhecimentos e a ampliação da capacitação produtiva e inovativa das empresas e outras organizações. A capacitação inovativa possibilita a introdução de novos produtos, processos, métodos e formatos organizacionais, sendo essencial para garantir a competitividade sustentada dos diferentes atores locais, tanto individual como coletivamente. (LASTRES & CASSIOLATO, 2006, p.04) 4 Atualmente, as ações de desenvolvimento do pólo são trabalhadas pelo Comitê Gestor do Arranjo Produtivo da Indústria Moveleira de Ubá e Região, liderado pelo INTERSIND (Sindicato) com o apoio de entidades públicas e privadas: ministérios, secretaria de Estado, instituições de apoio às micro, pequenas e médias empresas, organismos voltados para o desenvolvimento econômico e regional, agentes financeiros e universidades. (www.ubamoveisdeminas.com.br Acesso em 26 maio 2006)

6 5) Levantar a existência de possíveis entraves provenientes da cultura organizacional que dificultam o ambiente favorável para a existência de uma efetiva cooperação entre as pessoas, empresas e parceiros do APL. 6) Analisar como é a interação e os processos de criação e compartilhamento de conhecimento interorganizacional entre as entidades de apoio e o APL. 7) Levantar os resultados alcançados pelo APL na sua interação com as entidades de apoio. 5. JUSTIFICATIVA Segmento reconhecidamente importante em países desenvolvidos, as micro e pequenas empresas possuem um papel significativo na economia brasileira. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), as MPMEs (micro e pequenas empresas) representam 99,3% das 3,4 milhões de empresas formalmente constituídas e empregam 60% da mão de obra formalmente ocupada nos setores da indústria, do comércio e dos serviços. Junta-se a estes números 9,5 milhões de empresas informais e, ainda, quatro milhões de pequenas propriedades rurais de agricultura familiar. Significa, então dizer, que a maioria dos 70 milhões de brasileiros que constituem a População Economicamente Ativa (PEA) trabalha ou tem vínculo com as MPMEs. Portanto, atualmente, as MPMEs são o grande fator gerador de ocupação, porque a grande empresa, pela necessidade de aumentar a produtividade, exigência da globalização, automatiza-se cada vez mais e, assim, emprega menos....as pequenas empresas exploram novas porções restritas de mercados, desinteressantes para as empresas maiores e, devido à sua frágil posição, mantém-se próximas às necessidades reais dos seus consumidores. EISENHARDT & FORBES (1985)

7 Esta fragilidade, principalmente, face ao ambiente desfavorável no Brasil: alta carga tributária, burocracia, o difícil acesso ao crédito, à tecnologia e ao conhecimento, faz com que o sucesso dessas empresas dependa dos serviços de entidades de apoio que criem um ambiente favorável a sustentabilidade e ampliação dos pequenos negócios. No Brasil, mesmo diante deste contexto desfavorável, os desafios impostos pela globalização fizeram com que as MPMEs locais buscassem se adaptar crescentemente aos padrões internacionais de qualidade, velocidade de resposta e flexibilização bem como aumentar significativamente as formas de cooperação tanto vertical quanto horizontalmente. Crocco e Horárcio (2001) relatam que o exemplo pioneiro dado pelas empresas da chamada Terceira Itália no final dos anos 70, fez com que a comunidade científica passasse a observar que a proximidade física das MPMEs propiciava não somente externalidades (economias de aglomeração) mas também condições para uma interação cooperativa no sentido da superação de problemas em comum. Tais aglomerações são chamadas de clusters ou Arranjos Produtivos Locais que na literatura de tipologias de redes poderiam ser enquadrados como redes horizontais de MPMEs e quando apoiados por instituições configura-se como redes interorganizacionais de cooperação. 5.1 REDES INTERORGANIZACIONAIS e REDES HORIZONTAIS DE MPMEs A reconhecida importância no campo organizacional e social tem demandado um crescente interesse nas pesquisas sobre o fenômeno das redes interorganizacionais nas mais variadas áreas do conhecimento, como a economia, a sociologia, a política e a administração e, mais recentemente, na ciência da informação. O termo rede designa um conjunto de pessoas ou organizações interligadas direta ou indiretamente conforme salientaram Marcon & Moinet (2000). Para Castells (1999), a intensidade e a freqüência da interação entre atores sociais são maiores se esses atores forem nós de uma rede do que se não pertencessem à mesma rede. As redes intensificam a interação, promovendo uma redução do tempo e do espaço nas inter-relações entre os seus atores, fatores altamente estratégicos para a competitividade das organizações do século XXI.

8 A diversidade de tipologias de redes interorganizacionais provocou uma certa ambigüidade no entendimento do termo. Essa questão foi objeto de análise de Castells (1999), com base no argumento de que as redes interorganizacionais aparecem sob diferentes formas, em diferentes contextos e a partir de expressões culturais diversas. Buscando uma melhor compreensão sobre a diversidade de tipologias de redes interorganizacionais, Marcon & Moinet (2000) apud Balestrin e Vargas (2002) apresentam um gráfico denominado mapa de orientação conceitual no qual indicam as principais dimensões sobre as quais as redes são estruturadas. Figura 1: Mapa de orientação conceitual Fonte: Balestrin e Vargas adaptada a partir do modelo de Marcon & Moinet (2000) Observando esse mapa conceitual, percebe-se que o eixo vertical relacionase com a natureza dos elos gerenciais estabelecidos entre os atores da rede. Esses elos podem representar uma atividade de cooperação (no caso de uma rede horizontal, como as redes de cooperação entre MPMEs), ou representar um grau de ligação hierárquico (no caso de uma rede vertical, como uma rede do tipo matriz/filial). Já no eixo horizontal, está representado o grau de formalização estabelecido nas relações entre os atores. Esse grau pode mover-se de uma conveniência informal entre os atores (no caso de relações de amizade, afinidade e parentesco tal como ocorrem nas associações, nos clubes, nas redes de amigos) até relações formalmente estabelecidas por contratos entre as partes (no caso de contratos jurídicos, como ocorre na formação de joint-ventures).

9 Deve-se destacar que, em cada um dos diversos pontos do quadrante, poderá ser encontrado um tipo particular de configuração de rede, elucidando, assim, a ampla diversidade de tipologias de redes interorganizacionais existentes. De acordo com as teorizações apresentadas, observa-se que dificilmente existirão duas redes estruturadas de forma idêntica. Assim, o esforço de tentar abranger todas as possibilidades de redes interorganizacionais em algumas dezenas de tipologias pré-definidas não deixa de ser uma simplificação forçada da ampla diversidade de tipologias de redes. O que fica evidente na análise da literatura, conforme observado no modelo de Marcon & Moinet (2000), é o fato de que a grande maioria das pesquisas (principalmente por autores anglo-saxões) privilegiaram arranjos como joint-ventures e alianças estratégicas entre grandes empresas. Outras configurações, não menos importantes, como as redes horizontais de MPMEs tiveram pouco espaço para reflexão nos estudos sobre redes interorganizacionais. O motivo do surgimento do interesse no estudo da configuração em rede como estratégia de competitividade organizacional decorre de três razões principais apontadas por Nohria e Eccles (1992): a) a emergência da nova competição, como a que está ocorrendo nos distritos industriais italianos e do Vale do Silício. Se o velho modelo de organização era a grande firma hierárquica, o modelo da organização considerada característica da nova competição é a rede de inter-relações laterais intra e interfirmas; b) o surgimento das tecnologias de informação e comunicação (TICs) tem tornado possível uma maior capacidade de inter-relações entre firmas dispersas; c) a consolidação da análise de redes como uma disciplina acadêmica, não somente restrita a alguns grupos de sociólogos, mas expandida para uma ampla interdisciplinaridade dos estudos organizacionais. Para a MPMEs a configuração em rede representa uma opção estratégica para a competitividade, pois, na maioria das vezes, apresentam certas dificuldades, tais como: obter melhores preços e vantagens na compra de matérias-primas e componentes, custos de participação em feiras, custos de campanhas publicitárias, custos de reciclagem e treinamento da mão-de-obra, atualização tecnológica, acesso a linhas de crédito e financiamento, custos de aluguel, custos envolvidos na exportação de produtos, etc. Esses problemas dificilmente desaparecerão, contudo,

10 podem ter seus efeitos neutralizados ou amenizados pela ação coletiva conjugada à atuação de entidades de apoio. 5.2 A GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO Há um reconhecimento crescente de que a informação, como qualquer outro recurso organizacional financeiro, material e humano é um recurso que necessita ser gerenciado para ajudar as organizações a melhorar sua produtividade, competitividade e performance geral. (BERGERON, 1996) Davenport & Prusak (1998) constataram que as atividades baseadas no conhecimento e voltadas para o desenvolvimento de produtos e processos estavam se tornando as principais funções internas das empresas. Alvarenga Neto (2002) salienta que o conceito de gestão da informação decorre do conceito anterior de GRI (Gestão de Recursos Informacionais) que ficou mais visível na literatura devido, em parte, à adoção nos EUA, do Paperwork Reduction Act Lei da Redução de Papéis. A partir de então, a gestão da informação surge como uma estratégia aperfeiçoada para o gerenciamento eficaz da informação e como uma resposta aos problemas informacionais das organizações obter a informação correta, na hora certa, na forma/meio correto e endereçá-la à pessoa certa. Essas informações podem concernir às atividades organizacionais presentes e/ou passadas ou os fatores ambientais e podem ser gravadas em qualquer tipo de mídia, dentro ou fora da organização. A importância capital dada às questões do gerenciamento da informação e do conhecimento revela-se pelo envolvimento ao alinhamento estratégico da organização. São presidentes, vice-presidentes, diretores e gerentes designados para cuidar do alinhamento do projeto de gestão do conhecimento ao alinhamento estratégico da organização. (ALVARENGA NETO, 2002 pg. 149) Há uma grande discussão acadêmica que discute o enfoque empresarial e a importância destinada ao tema como sendo apenas mais um modismo, de pouca

11 relevância. Entretanto percebe-se que a Gestão de Recursos Informacionais norteia e valida amplamente outras atividades e outros temas de grande importância como a gestão do capital intelectual - STEWART (1998 2002) e EDVINSSON & MALONE (1998) - a criação e transferência de conhecimento e a aprendizagem organizacional NONAKA & TAKEUCHI (1997), DAVENPORT & PRUSAK (1998), LEONARD- BARTON (1998), SVEIBY (1998) e KROGH, ICHIJO & NONAKA (2001) a inteligência competitiva e as comunidades de prática CHOO (1998), DUGUID & BROWN (2000) (2001), FLEURY & OLIVEIRA (2001) dentre outros. Cianconi (2003) afirma que apesar de muitos pontos semelhantes, a GI e a GC diferem em especial quanto aos objetivos: enquanto a Gestão da Informação busca essencialmente organizar, controlar, e tornar possíveis as informações registradas, com ênfase nos recursos, procedimentos, metodologias e tecnologias, a Gestão do Conhecimento busca apoiar a geração de novas idéias, a criação e compartilhamento do conhecimento, a aprendizagem organizacional, requerendo um alto grau de envolvimento humano e gestão de pessoas, além do suporte tecnológico. A autora propõe a figura abaixo para ilustrar a relação entre a Gestão da Informação e a Gestão do Conhecimento. Figura 2: Interseção entre a Gestão da Informação e a Gestão do Conhecimento Fonte: CIANCONI, 2003, p. 232

12 A gestão do conhecimento na empresa envolve a interligação articulada e intencional das pessoas de forma que, com base no conhecimento, seja possível compartilhar idéias e raciocínios a fim de estimular a colaboração e a cooperação visando a promoção do desempenho da organização. Moura (2001) como vários outros contribui com seu conceito ao termo: um conjunto de estratégias que visa a colocar o conhecimento (tanto tácito quanto explícito) em ação, através de sistemas e processos que possibilitem às pessoas contribuírem para o conhecimento coletivo da empresa e dele retirarem o que necessitam para o seu desenvolvimento e, ao mesmo tempo, para o aperfeiçoamento das operações organizacionais (MOURA, 2001, p. 1). A gestão do conhecimento pressupõe a adoção de práticas gerenciais compatíveis com os processos de criação e aprendizado individual e, também, na coordenação sistêmica de esforços em vários planos: organizacional e individual; estratégico e operacional; normas formais e informais (TERRA, 2000, p. 215). 5.2.1 A criação do conhecimento Nas organizações a criação do conhecimento se dá através da interação contínua entre os conhecimentos tácito e explícito. Para criar conhecimento é preciso envolver os trabalhadores de tal forma que todos sintam-se comprometidos com este desenvolvimento, a invenção de novos conhecimentos não é atividade especializada, província exclusiva das áreas de P&D, marketing ou planejamento estratégico (Nonaka, 2001, p. 31). E mais, a empresa precisa estimular a integração de todos rumo a novas aplicações do conhecimento que já está disponível na mesma. O conhecimento individual é conectado e distribuído, difundindo-se em espiral na organização o que Nonaka e Takeuchi (1997, p. 62) referem-se a dispositivos. Esses dispositivos têm a função de promover uma interação contínua

13 e dinâmica que propicia o compartilhamento e a criação de conhecimento. Esse processo denominado SECI pode ser visualizado na figura abaixo: Figura 3: Processo SECI Fonte: Adaptado de Nonaka e Takeuchi (1997, p.??) a) Socialização: do conhecimento tácito em conhecimento tácito: processo em que são compartilhadas as experiências individuais e coletivas. b) Externalização: do conhecimento tácito em conhecimento explícito: processo em que se procura tornar explícito e disponível em alguma forma de registro o conhecimento de cada um. A escrita é um exemplo dessa forma. c) Combinação: do conhecimento explícito em conhecimento explícito: processo em que as pessoas trocam e sintonizam conhecimentos por intermédio de formas externalizadas, tais como relatórios, documentos e comunicação por telefone. Dessas interações novos conhecimentos podem surgir. d) Internalização: do conhecimento explícito em conhecimento tácito: processo em que cada trabalhador vai aprender fazendo. Isso se dá, quando o mesmo consegue assimilar e aplicar o que aprendeu. Por exemplo, a reconfiguração de modelos mentais, o knowhow técnico compartilhado, o compartilhamento de experiências através da socialização, externalização e combinação (Nonaka e Takeuchi, 1997, p. 77). Para que o processo SECI ocorra efetivamente é necessária a existência de um contexto apropriado.. Nonaka et. al (2002) denomina tal contexto ba 5. Sendo que o conjunto dos ba de uma organização (no caso, uma rede interorganizacional 5 ba - não há uma tradução exata da palavra. Pode ser definido como um contexto de interação onde o conhecimento é criado, compartilhado e utilizado.

14 composta de empresas do APL e entidades de apoio) é que vai formar a plataforma de criação de conhecimento. Em um APL Arranjo Produtivo Local - e suas interações com entidades de apoio espera-se identificar vários espaços em que ocorre o compartilhamento de informações e conhecimentos conforme o modelo teórico de Nonaka et. al (2002), apresentado na figura abaixo: Figura 4: Processo SECI e ba Fonte: Adaptado de Nonaka et al. (2002) Originating ba é o espaço em que o conhecimento é originado por meio da interação face a face em que os indivíduos compartilham sentimentos, emoções, experiências e modelos mentais. Freqüentemente é o primeiro ba no qual inicia o processo de criação de conhecimento e é associado ao processo de socialização do conhecimento tácito. Experiências e habilidades transmitidas diretamente entre os indivíduos são chaves para converter conhecimento tácito em conhecimento tácito. Assim, originating ba é um espaço onde emerge a confiança, o comprometimento e forma a base para a criação de conhecimento entre indivíduos. Dialoguing ba é mais conscientemente construído em relação ao originating ba. Através do diálogo, indivíduos compartilham suas experiências e habilidades convertendo-os em termos e conceitos comuns. O dialoguing ba funciona como uma plataforma para o processo de externalização do conhecimento em que o conhecimento tácito é tornado explícito. Systemizing ba é definido como uma interação coletiva ou virtual e oferece um contexto para a combinação de novo conhecimento explícito gerado às bases de conhecimento existentes na organização. Nesta fase do processo as tecnologias de informação, como redes on-line, groupware, etc., podem exercer um papel relevante para a sistematização do conhecimento explícito gerado.

15 Exercising ba é definido como o espaço e momento em que o conhecimento que foi socializado, combinado e sistematizado é novamente interpretado e internalizado pelo sistema congnitivo dos indivíduos. Neste tipo de ba ocorre a transformação de conhecimento explícito em conhecimento tácito, ou seja, o conhecimento criado é internalizado em forma de novos conceitos e práticas de trabalho. Em cada um dos tipos de ba são criados determinados ativos de conhecimento, ou seja, recursos específicos que são indispensáveis ao processo de criação de valor para a organização, ou como é o caso, para as organizações que compõem a rede interorganizacional. Assim, seguindo as orientações de Nonaka et al. (2002) o conhecimento tácito compartilhado através de experiências comuns (Originating ba) é responsável pela emergência de ativos de conhecimento como habilidades, know-how, confiança, energia, paixão e tensão. O conhecimento tácito articulado em forma de símbolos, imagens e linguagem (Dialoguing ba) promove a criação de ativos de conhecimento como, por exemplo, conceitos de produtos, design e cenários futuros. Enquanto que as atividades de sistematização de conhecimento explícito (Systemizing ba) são responsáveis pela emergência de ativos de conhecimento como database, documentos, especificações, manuais, patentes e licenças. Por último, as atividades de aplicar o conhecimento em ações e práticas (Exercising ba) criam ativos de conhecimento como know-how, rotinas organizacionais e novos padrões de comportamento. Observa-se, então, que um ba pode emergir dentro de indivíduos, grupos de trabalho, círculos informais, reuniões temporárias, espaços virtuais e demais momentos em que as relações ocorrem em um tempo e espaço compartilhados. Cassiolato e Lastres (2006) identificam que nos ASPLs verifica-se processos de geração, compartilhamento e socialização de conhecimentos, por parte de empresas, organizações e indivíduos. Particularmente de conhecimentos tácitos, ou seja, aqueles que não estão codificados, mas que estão implícitos e incorporados em indivíduos, organizações e até regiões. O conhecimento tácito apresenta forte especificidade local, decorrendo da proximidade territorial e/ou de identidades culturais, sociais e empresariais. Isto facilita sua circulação em organizações ou contextos geográficos específicos, mas dificulta ou mesmo impede seu acesso por atores externos a tais contextos, tornando-se, portanto elemento de vantagem competitiva de que o detém. (LASTRES & CASSIOLATO, 2006, p.04)

16 Os autores acrescentam que o aprendizado interativo resultante deste processo constitui fonte fundamental para a transmissão de conhecimentos e a ampliação da capacitação produtiva e inovativa das empresas e outras organizações. A capacitação inovativa possibilita a introdução de novos produtos, processos, métodos e formatos organizacionais, sendo essencial para garantir a competitividade sustentada dos diferentes atores locais, tanto individual como coletivamente. 5.2.2 O compartilhamento da informação e do conhecimento Reconhece-se neste estudo como certo que a informação e o conhecimento são inerentes às redes sociais, sua importância social e econômica é conseqüência do efeito que causam nas pessoas e nas organizações. Nesse sentido, constata-se a necessidade de compartilhá-los para que possam trazer mudanças no contexto em que estão inseridos. (TOMAÉL, 2005, p. 97) Marteleto (2001) apresenta sua definição de redes sociais que contempla a idéia de compartilhamento de valores e interesses que, para promover o fortalecimento da rede, dependem do compartilhamento da informação e do conhecimento. Pode-se inferir que a rede interorganizacional objeto de estudo (um APL e entidades de apoio) é uma rede social cuja interação dos atores tem por objetivo o fortalecimento da rede através de processos de compartilhamento de informação e conhecimento. Esta rede é dependente de formas de governança para coordenar as relações entre os atores e, no APL objeto de estudo, a governança é exercida pelo sindicato dos empresários. Aun, Carvalho e Kroeff (2005) afirmam que os arranjos produtivos locais apresentam-se como lócus privilegiado para o estudo e a análise das diferentes formas de efetivação das interações entre atores locais, principalmente no que diz respeito à criação e o compartilhamento de conhecimento, os quais criam condições para a inovação, entendida, fundamentalmente, não só como resultado de um processo de aprendizado organizacional, mas também interorganizacional, local e nacional. Para Hanfield e Nichols apud Shore e Venkatachalan (2004), o trabalho em rede requer cuidadosa coordenação e integração. Para os autores, dois parâmetros

17 são essenciais para integração e coordenação da rede: colaboração e tecnologia. A colaboração, vista por eles como um processo social, é necessária para compartilhar a informação e o conhecimento, de forma a integrar horizontalmente as operações da rede. Já o compartilhamento é visto mais como um processo tecnológico. A integração, necessária para administrar a rede, requer tanto colaboração quanto compartilhamento de informação. Cassiolato e Lastres (2003) enfatizam o papel da governança nas redes de cooperação ao afirmar que: Aos poucos a identidade existente entre as empresas (baseada nos valores econômicos, culturais e sociais) daquele grupo inicial vai se ampliando para um grupo maior de atores, naturalmente. A dinâmica de um complexo produtivo de tal ordem vai exigindo, aqui e ali, formas de governança fundamentais para a ordem e manutenção das relações. Estas diferentes formas de governança envolvem atores tanto públicos quanto privados, que podem estimular os processos de aprendizado e de capacitação produtiva enquanto processos socialmente determinados. (LASTRES; CASSIOLATO, 2003.). Os processos de aprendizado e capacitação são então decorrentes de práticas que não devem estar separadas das ações dos atores que compõem essa identidade. Na verdade só serão bem estabelecidos se forem fruto de um sistema informacional que funciona como uma instituição social. Aun, Carvalho e Kroeff (2005) salientam que investimentos na infra-estrutura educacional, de ensino técnico ou superior, tornam-se fundamentais para criar condições locais não apenas de reprodução, mas também de criação de conhecimento. Investimentos na infra-estrutura básica (transportes, energia elétrica, telecomunicação, tecnologias de informação) fazem-se necessários para garantir o suporte às atividades produtivas. Nos aspectos de configuração do APL, existe a predominância de investimentos que se sucedem, tanto públicos como privados. Na medida em que caminham para a maturidade os investimentos privados tendem a

18 superar os investimentos públicos. O mais importante é que esses investimentos sejam selecionados pelas ações e valores que configuram cada APL visando elucidar e minimizar as diferenças educacionais e de infra-estrutura através do compartilhamento para se alcançar a autonomia informacional. Mas para que as pessoas compartilhem é necessário uma cultura comum para melhor transferência do conhecimento porque quanto mais próximas as pessoas estão da cultura do conhecimento que está sendo transferido, mais fácil é o compartilhamento e a troca (DAVENPORT; PRUSAK, 1998, p. 121) Assim, uma organização ou uma rede de organizações que promove a criação e o compartilhamento do conhecimento, tanto tácito quanto explícito, pode ter melhores condições para atuar de forma mais dinâmica e estratégica em sua área de atividades. 5.3 AS REDES INTEORGANIZACIONAIS COMO ESPAÇO DE CRIAÇÃO DO CONHECIMENTO MODELO TEÓRICO DE NONAKA et al (2002) A potencialidade das redes em gerar novos conhecimentos foi evidenciada por Nonaka e Takeuchi (1997) ao apresentar a dimensão ontológica da criação do conhecimento. Diante dessa dimensão, o conhecimento nasce em um nível individual, sendo ampliado pela dinâmica da interação (socialização do conhecimento) para um nível organizacional e, posteriormente, para um nível interorganizacional. E é neste contexto que os conhecimentos tácitos das pessoas das entidades de apoio se fundem com os dos empresários da rede de cooperação das MPMEs (APL) através da interação (tácito e explícito) e do compartilhamento de informações e conhecimentos criando um espaço propício para a criação do conhecimento interoganizacional. Para ilustrar, veja o contexto institucional de atuação das entidades de apoio na figura abaixo:

19 Governo Federal Governo Estadual Governo Municipal Empresas do Arranjo Produtivo Entidades de apoio: FIEMG/IEL, SENAI SEBRAE, ETC. Universidades e centros de pesquisa. Associações e Sindicatos Entidades Financeiras Comitê Gestor Coordenação: Entidade empresarial local Ass. Comunicação Grupos temáticos Mercado e Imagem Econômico...... Financeiro Tecnologia e Processos... Capacitação... Outros... WA Figura 5: Rede Interoganizacional: contexto de atuação de entidades de apoio às empresas de um APL (Arranjo Produtivo Local). Fonte: Adaptado Gerência de Estudos e Projetos Tecnológicos/IEL-MG (2003) Algumas MPMEs (Micro, Pequenas e Médias Empresas) na busca da competitividade e das dificuldades de atuação de forma isolada buscam se organizar em redes horizontais de cooperação que, através de políticas públicas de desenvolvimento local, recebem apoio de instituições públicas e privadas para atingirem o crescimento e evolução. A geração de conhecimento surge quando a interação do conhecimento tácito e do conhecimento explícito eleva-se dinamicamente de um nível ontológico inferior até níveis mais altos. Nonaka e Takeuchi (1997) Nessa dimensão ontológica, observa-se que o conhecimento só é criado por indivíduos, ou seja, uma organização ou uma rede interorganizacional não pode criar conhecimento sem indivíduos. Uma organização ou rede interorganizacional não pode criar conhecimento, mas pode proporcionar um espaço de relações positivas e construtivas entre os

20 atores e entre os atores e seu ambiente conforme demonstrado na figura 4. Dessa forma, as trocas de dados, de informações, de opiniões, de cooperação e de mobilização sobre um projeto confrontado às necessidades convergem para uma efetiva ampliação do conhecimento dentro das organizações. conhecimento inteorganizacional das empresas do APL e entidades de apoio. Figura 6: Espiral de Criação do Conhecimento Fonte:Adaptado de Nonaka e Takeuchi (1997) Nota-se que o conhecimento interorganizacional, aquele que é criado no âmbito de uma rede de empresas e na interação com demais atores de apoio, é uma das dimensões mais amplas da criação do conhecimento. O processo inicia no nível individual e, através da interação entre conhecimento tácito e explícito, entre indivíduos, grupos e organizações, transformase em um conhecimento interorganizacional que, segundo Nonaka e Takeuchi (1997), representa um nível de conhecimento mais completo, profundo e significativo. Observa-se, então, que uma rede interorganizacional não cria conhecimento, mas poderá proporcionar um ambiente favorável para a existência de uma efetiva interação entre pessoas, grupos e organizações. Portanto, a criação de conhecimento interorganizacional pode ser entendida como um processo que amplia interorganizacionalmente o conhecimento criado pelos indivíduos, cristalizando-o como parte da base de conhecimento da rede.