Título : COOPERATIVAS DE CRÉDITO UM MODELO VIÁVEL. Área Temática: Perfil das Organizações Cooperativas



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Transcrição:

Título : COOPERATIVAS DE CRÉDITO UM MODELO VIÁVEL Área Temática: Perfil das Organizações Cooperativas ARTIGO APRESENTADO NO III ENCONTRO LATINO AMERICANO DE COOPERATIVISVO EM SÃO LEOPOLDO RS 2004 Autores: MARCIO ROBERTO PALHARES NAMI marcionami@sulrj.com ANA ALICE VILAS BOAS, Phd analice@ufrrj.br Resumo: Nosso país possui um extenso território com uma diversidade imensa de características culturais e econômicas, baseado neste princípio existe o grande desafio de fazer chegar o crédito, destinado ao fomento e expansão, a quem necessita de pequenas somas, e ao mesmo tempo, tem dificuldade de suprir as exigências normais de mercado, devido à falta de recursos culturais e patrimoniais. Face ao quadro acima, mostramos a importância de uma cooperativa de crédito aberta para o desenvolvimento de uma região, as chamadas cooperativas Luzzatti, que trazem em sua filosofia a preocupação em reverter os recursos ao menor custo possível e buscam atingir o maior número possível de associados, não havendo preocupação com o lucro. O modelo escolhido foi a Cooperativa de Crédito de Mendes Ltda, uma cooperativa que atua no interior do estado do Rio de Janeiro há 73 anos ininterruptamente e que vem trazendo respostas aos anseios da população em geral, com foco especial nas operações destinadas aos associados de baixa renda. 1. INTRODUÇÃO As Cooperativas nasceram em Rochdale, no distrito de Lancashire, Inglaterra em 21 de dezembro de 1844 sob o nome de Rochdale Society of Equitable Pionners.

Segundo Thenório Filho (1999:19) esta sociedade somente tomaria o nome de Cooperativa de Rochdale após a promulgação da Lei de 1852, que versa sobre a sociedade industrial e de previdência com uma rápida disseminação pelo mundo com presença marcante na Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Holanda e outros países da Europa, em 28 de dezembro de 1902 sob as influências das necessidades dos colonos da região Sul, o padre jesuíta suíço Theodor Amistad inspirado no modelo Raifessen. Segundo Meinem, Domingues e Domingues (2002:11) associação restrita a produtores rurais que alcançou tamanho êxito nas comunidades interioranas que estimulou um grupo de bancários da capital gaúcha a constituir em 1946 a Cooperativa de Crédito dos Funcionários do Banrisul Ltda. Antes disso em 1929 na cidade de Mendes, interior do estado do Rio de Janeiro, era inaugurada a Cooperativa de Crédito de Mendes. 2. O PERFIL DAS COOPERATIVAS DE CRÉDITO As cooperativas de crédito se dividem em três principais tipos: ocupacional, associacional e residencial, dentro da primeira categoria temos os empregados de unidades industriais, trabalhadores de ferrovias, funcionários públicos... O segundo grupo inclui membros de organizações fraternais específicas, sindicatos, associações de produtores agrícolas e similares. E há finalmente as pequenas cooperativas de crédito circunscritas aos residentes em pequenas comunidades e nas vizinhanças dos lugares maiores. No Brasil as cooperativas destinadas às pequenas comunidades não podem ser criadas nos dias atuais, existiu inclusive no ano de 1999 a resolução número 2608 do Banco Central do Brasil determinando o fechamento das existentes, após efetuado um movimento nacional o quadro foi parcialmente revertido, pois embora a proibição da 2

criação de novas cooperativas abertas ao público as chamadas Luzzatti foi autorizada a manutenção das existentes. As cooperativas de crédito, fiscalizadas por suas centrais e pelo Banco Central do Brasil são muitas das vezes confundidas com bancos comerciais, mas segundo Meinen, Domingues e Domingues (2002) possuem expressivas diferenças conforme Quadro 1. Quadro l: Distinções principais entre Cooperativas de Crédito e Bancos BANCOS São sociedades de capital O poder é exercido na proporção do número de ações As deliberações são concentradas O administrador é um terceiro (homem de mercado) O usuário de operações é mero cliente O usuário não exerce qualquer influência no preço dos produtos Podem tratar distintamente cada usuário Avançam pela competição Visam o lucro por excelência O resultado é de poucos donos (nada é dividido com o cliente) São reguladas pela Lei das Sociedades Anônimas Fonte: Meinen et al (2002:16) COOPERATIVAS DE CRÉDITO São sociedades de pessoas O voto tem peso igual para todos, uma pessoa um voto As decisões são partilhadas entre muitos O administrador é do meio (cooperativado) O usuário é o próprio dono (cooperativado) O usuário é o próprio dono (cooperativado) toda a política operacional é decidida pelos próprios donos (cooperativados) Não podem distinguir: o que vale para um vale para todos (Lei 5764/71) Desenvolvem-se pela cooperação O lucro está fora de seu objeto (art. 3 da Lei 5764/71 O excedente (sobras) é distribuído entre todos os usuários na proporção das operações individuais reduzindo ao máximo o preço pago pelos cooperativados São reguladas pela Lei cooperativista A última revisão dos princípios cooperativistas ocorreu no congresso da ACI realizado em Manchester, em 1995. Sendo aprovado o seguinte enunciado sintético: Princípio da adesão livre e voluntária; Princípio do controle democrático pelos sócios; 3

Princípio da participação econômica dos sócios; Princípio da independência e autonomia das cooperativas; Princípio da educação, treinamento e formação; Princípio da cooperação entre cooperativas; Princípio da preocupação com a comunidade. As cooperativas centrais, sobre as quais a vigilância do BC é maior, têm obrigação de fiscalizar as singulares a elas vinculadas. Desde que as normas referentes a auditorias, controles internos e prestação de informações ficaram mais rígidos, o BC avalia que houve progresso em termos prudenciais na concessão do crédito. A maior segurança das operações que resultou desse processo, é o que permite agora reduzir o capital mínimo requerido. Das cooperativas não-vinculadas ou independentes, que representam os 19% restantes do total de cooperativas singulares, o BC continuaria a exigir uma capitalização maior. Neste caso, o BC não conta com a ajuda das centrais para fiscalizar. Não necessariamente, porém, o percentual continuaria nos atuais 20%. O capital mínimo requerido das cooperativas centrais, atualmente de 13% dos ativos ponderados pelo risco, também deverá cair para 11%, se a proposta dele for acatada pelo governo. Os bancos cooperativos - ou seja, controlados por cooperativas - já são sujeitos ao mínimo de 11%, como qualquer banco. Embora devam ser adotadas em momentos diferentes, a permissão para que se formem cooperativas de livre associação e a exigência de menos capital das cooperativas vão no mesmo sentido. Ambas as medidas buscam fazer do setor uma alternativa aos bancos e financeiras e ajudar a reduzir os spreads bancários com o aumento da concorrência. 4

Até a década de 70, a regulamentação permitia a formação de cooperativas de livre associação no Brasil. Eram as chamadas cooperativas Luzzatti - referência ao italiano Luigi Luzzatti, que criou o modelo em 1864. Hoje existem apenas 13 delas no país. A formação de novas foi proibida e a maioria das existentes na época foi liquidada na pelo BC por problemas de gestão e de mau uso da poupança dos associados. O governo acredita que, com as normas prudenciais mais duras e a rígida fiscalização que imporá às futuras cooperativas abertas, o risco de isso acontecer de novo é muito pequeno. O modelo não levará o nome Luzzatti justamente porque este ficou associado a problemas. Segundo dados do BC, ao final de 2002, existiam no país 1.395 cooperativas em funcionamento, com mais de 1,43 milhão de cooperados. Elas detém, contudo, apenas 1,4% do patrimônio líquido exigível e 1% do ativo permanente do sistema financeiro nacional. Até o final de junho do ano passado, elas respondiam por apenas 1,64% do total de operações de crédito do sistema financeiro e cerca de 70% tinha patrimônio líquido inferior a R$ 1 milhão. 3. COOPERATIVAS LUZZATTI O cooperativismo na Itália segundo Thenório Filho (1999) teve como seus maiores expoentes Luigi Luzzatti e Leone Wollemborg. Luzzatti fundou no ano de 1865 o primeiro banco cooperativo urbano em Milão, e Wollemborg organizou a primeira cooperativa de crédito em Lorégia em 1883. Os bancos populares de Luzzatti e as cooperativas de crédito de Wollemborg, eram a adaptação das novas condições econômico-sociais, inspiradas no sistema alemão com algumas modificações, segundo Pinho (1997:54) adotam o self-help embora admitam ajuda estatal. Esta deve ser apenas supletiva, desaparecendo tão logo a sociedade esteja em condições de resolver os seus problemas; 5

dão grande importância à conduta dos associados, dos quais exigem sérias qualidades morais e fiscalização recíproca; adotam a máxima convertire in capital l`onestá a fim de criar em torno da sociedade uma atmosfera moral de confiança; concedem empréstimo mediante palavra de honra; não remuneram os administradores da sociedade. As Luzzatti existentes no Brasil, atualmente são treze, nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Ceará e Mato Grosso, tem como característica principal a de serem cooperativas abertas ao público em geral, tendo como requisito básico para a admissão residir no município sede ou nos circunvizinhos. Estas cooperativas são fiscalizadas pelo Banco Central do Brasil que desde os idos de 1950 proibiu a criação de novas cooperativas Luzzatti e em 1999 através da resolução 2608 instituiu normas que inviabilizavam a manutenção das cooperativas ainda existentes. Após mobilização das mais diversas frentes cooperativistas junto ao Congresso Nacional foi editada a resolução 2771 de 30 de agosto de 2000 que entre outros aspectos revogava em seu artigo quinto a resolução número 2608. 4. COOPERATIVA DE MENDES A Cooperativa de Mendes Fundada em 1929, do tipo Luzzatti, na definição de Bergengren (1973) as cooperativas Luzzatti são cooperativas circunscritas aos residentes em pequenas comunidades e nas vizinhanças de lugares maiores esta cooperativa veio cumprindo sua função social ao longo dos anos fomentando a região com: crédito imobiliário, crédito agrícola, crédito hipotecário e outras linhas disponíveis e oportunas de acordo com o capital e legislação vigente. Ela funciona ininterruptamente desde sua fundação sempre apresentando fechamentos positivos de balanço, com distribuição de sobras líquidas (fonte conselho de administração), porém as cooperativas 6

do tipo Luzzatti tiveram sua criação proibida desde os idos de 1950, em 1965, quando da reformulação da legislação bancária os bancos oficiais foram prestigiados como instrumentos canalizadores de recursos para o campo, reduzindo assim o escopo das cooperativas. Face ao ocorrido a cooperativa vem operando com modesta capacidade, mas sempre assistindo aos anseios básicos da comunidade. 4.1: HISTÓRICO DA COOPERATIVA DE MENDES Foi o idealismo dos primeiros 31 sócios quotistas, todos moradores de Mendes, naquela época 4 o distrito do município de Barra do Piraí/RJ, sul do estado, que deu início em 20 de outubro de 1929, ao primeiro banco da cidade com a fundação da Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Limitada, Banco de Mendes, para funcionar nas dependências da Pharmácia Central da cidade. Para conhecer melhor a opinião dos associados sobre a atuação da cooperativa, foi feita uma pesquisa com os usuários. A qual é descrita a seguir: 4.2: A PESQUISA O conselho de administração da Cooperativa de Mendes quando da realização de sua reunião ordinária no início de março de 2002 deixou patente a necessidade premente de renovar e atualizar os produtos e serviços oferecidos aos seus associados como forma de manutenção e modernização da gama de serviços nesta ocasião existentes. Do universo à época, de cerca de 1400 associados, os diretores selecionaram aleatoriamente sob a forma de abordagem na sede da cooperativa cerca de 100 cooperados das mais variadas atividades profissionais e níveis de renda, indagando a cada um dos mesmos as seguintes perguntas: 1. O Sr./Sra. está satisfeito(a) com a qualidade do atendimento da sua Cooperativa? 7

2. O Sr./Sra. necessita de algum produto ou serviço que sua cooperativa ainda não oferece? Qual? 3. O que mais o(a) motiva para permanecer associado de nossa Cooperativa? 4. Qual seu grau de satisfação com sua Cooperativa em uma escala de 0 a 10? 5. Favor citar o que o Sr./Sra. considera um ponto positivo em nossa Cooperativa. 6. Favor citar o que o Sr./Sra. considera um ponto negativo em nossa Cooperativa. 7. Caso queira favor apresentar suas sugestões ou reclamações. Após colhidos e devidamente computados os seguintes resultados foram elencados: Com relação à questão 1 73% se declararam satisfeitos, 23% insatisfeitos e 4% não opinaram / não tinham opinião formada; A questão 2 abordava produtos ou serviços, o critério para seleção das respostas considerou a primeira opção elencada pelo associado por ordem de preferência. Foram destacados os seguintes resultados: 36 pessoas citaram cartões de crédito; 12 pessoas (comerciantes em geral) necessitavam de políticas de desconto de títulos; 16 associados citaram a necessidade de convênio com a light (concessionária de luz do estado do Rio de Janeiro) para recebimento de faturas de conta de luz; 10 associados proprietários de pontos comerciais salientaram a necessidade de autorização para abertura de contas correntes pessoa jurídica; 8 associados manifestaram o desejo de receberem seus benefícios do INSS na cooperativa, e 18 associados não opinaram/não sentiam necessidade de outros produtos ou serviços. Do universo de 100 associados indagados 4 não quiseram atribuir grau, a média dos demais 96 ficou em 6.7 (seis inteiros e sete décimos); Para apuração dos pontos positivos foi adotado o critério de escolha do citado em primeiro plano, nos casos em que o associados apresentou mais de uma opção, em primeiro lugar: atendimento (70 citações), seguido (21 citações) baixos custos de manutenção, e 7 citaram a localização, 2 não opinaram / não quiseram responder. 8

Para os pontos negativos foi adotado o mesmo critério de apuração da questão 5 tendo como respostas principais: 20 pessoas citaram a necessidade de diversificar serviços, 12 pessoas citaram a necessidade de um caixa automático, 68 pessoas não opinaram / não quiseram responder. Com base nos resultados apresentados foi criada uma comissão consultiva que se encaminhou para a Central das Cooperativas de Economia e Crédito Mútuo do Estado do Rio de Janeiro (CECRERJ), Central das Cooperativas do Estado do Rio de Janeiro, entidade cooperativista de segundo grau da qual a cooperativa de Mendes é filiada e a mesma fornece consultoria e assessoria nas mais diferentes áreas de produtos e serviços ligados ao cooperativismo e ao sistema financeiro como um todo. Realizou também em paralelo reuniões de grupo com os diretores de forma a viabilizar e estruturar os planos de reestruturação e modernização dos produtos/serviços oferecidos. De forma concisa seguem algumas necessidades apuradas e suas respectivas conclusões/andamentos descritas pelo Conselho Diretor: Foi efetuada uma reforma geral nas instalações da sede da cooperativa envolvendo piso, pintura, mobiliário maquinas e equipamentos de informática buscando modernizar e atualizar o lay-out; Foi firmado convênio com a Prefeitura Municipal de Mendes para arrecadação dos carnês de IPTU e Água da cidade; Foi firmado convênio com a UNIMED (cooperativa médica de serviços de saúde) através da Cooprevisaúde (cooperativa especializada em produtos e serviços de saúde) de forma a ofertar aos funcionários um plano de saúde completo de escopo nacional para o atendimento de suas necessidades nesta área. Após período de experiência foi negociada a possibilidade dos associados em geral se filiarem com um custo médio de mensalidades cerca de 35% mais atrativos que os demais planos disponíveis no mercado; 9

Firmado um convênio com o BANCOOB (Banco Cooperativo do Brasil S/A) para a oferta aos associados do cartão Bancoob Visa, que possui todas as comodidades disponíveis na bandeira visa e negociada por seu turno uma taxa reduzida de rotativo (média do mercado 9.5% praticada pela cooperativa em 01/05/2003 7%); Os funcionários passaram por criterioso treinamento e reciclagem de forma a enfatizar a necessidade do bom atendimento, agilidade e presteza nas informações aos associados da cooperativa; Foram contratados funcionários oriundos de outras instituições / com experiência em outras instituições financeiras (bancos comerciais) para agirem como multiplicadores dos diversos perfis de mercado; Foi contatada a central das cooperativas de forma a solicitar a viabilização de convênio com a Light, até a data da elaboração do presente as negociações não haviam alcançado um termo. 4.3: DADOS COMPLEMENTARES Após efetuadas as ações supra descritas, ao serem analisados os números da instituição foram levantados os seguintes dados: Quadro 1: Carteira de Empréstimos da Cooperativa de Mendes evolução empréstimos 600000,00 R$ 400000,00 200000,00 0,00 1 10

O Quadro 1 mostra a evolução da carteira de empréstimos, sendo os dados em laranja, verde e azul respectivos aos balancetes de dez/2001, dez/ 2002 e mar/2003 respectivamente. A carteira de empréstimos apresentou uma evolução de mais de 50% com ênfase na concessão de empréstimos de pequena monta, cerca de 100 contratos em 2002 com valores iguais ou inferiores a R$ 1.000.00 dando acesso ao crédito a associados de baixa renda e com pequenas necessidades de consumo. Quadro 2: Evolução do Capital Social da Cooperativa de Crédito de Mendes EVOLUÇÃO CAPITAL VALOR R$ 220000,00 210000,00 200000,00 190000,00 180000,00 1 2 3 O Quadro 2 mostra que durante longo período em parte devido à conjuntura econômica que impedia e corroía os valores aplicados a médio e longo prazos, não houve uma política efetiva de elevação de capital, somente eventos esporádicos. Face à nova realidade aliada ao projeto de conscientização da comunidade e associados da importância de se conhecer e atuar em cooperativismo foi lançada uma campanha de 12 parcelas mensais, que no momento 1 (dez 2001) comparado ao momento 2(dez 2002) e finalmente no momento 3 (mar/2003) deixa visível a evolução do aporte de capital, com valor médio de R$ 30.00 que até a presente conta com um aporte total superior a R$ 19 mil e mais de 60 adesões. A administração da cooperativa se considera satisfeita com os resultados apresentados, ressalta ainda que realizou após março de 2003 quando do andamento da implantação da maioria das modificações supra descritas, uma pesquisa de satisfação 11

com de 100 usuários da cooperativa com a seguinte questão: Qual seu grau de satisfação com sua Cooperativa em uma escala de 0 a 10?, Como critério de escolha foi distribuído de forma aleatória nas mesas da gerência e guichês de caixa formulários com a questão citada, após efetuada a média dos 100 formulários recolhidos chegou-se ao número de 8.7 (oito inteiros e sete décimos), do índice de satisfação dos associados. 5: CONCLUSÕES Este case, denota a capacidade de uma empresa de 73 anos reaprender, sobreviver, inovar e por seu turno conseguir sobressair em um universo altamente dinâmico e competitivo, embora não sejam concorrentes de uma forma direta, devido às diferentes características dos bancos comerciais em relação às cooperativas, a cidade de Mendes no interior do estado do Rio é assistida por agências do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banerj e por dois escritórios de financeiras, um exclusivo para atendimento de funcionários públicos e outro destinado ao público em geral. A cooperativa de Mendes devido ao atual momento econômico se encontra em evidência como exemplo de cooperativa aberta, servindo como base inclusive para matérias em periódicos diversos, transcrevemos a seguir matéria assinada pela jornalista Janis Rocha do Valor Econômico, publicada em 03/06/2003: Embora não tivessem sido consultados até agora, os líderes do sistema de cooperativas comemoraram a intenção do governo federal de permitir a criação de cooperativas de crédito de livre associação. Matéria publicada na edição de ontem do Valor noticiou que está quase pronto o programa que possibilitará qualquer pessoa, sem exigência de qualquer vínculo empregatício, aderir às cooperativas de crédito. "É um grande avanço", afirmou Gilson Gavião, presidente da central das cooperativas do Rio de Janeiro (Cecrerj). "É uma boa notícia", disse Marcio Roberto Palhares Nami, diretor-conselheiro da CreMendes, uma das poucas 12

cooperativas abertas existentes no Brasil, que opera no município de Mendes, a 90 km da capital do Rio. Por outro lado, estes profissionais mostraram preocupação com a falta de informação sobre que modelo será utilizado e, principalmente, se os bancos cooperativos (Bancoob e Bansicred) serão utilizados no programa de abertura ou se vão dividir o espaço com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. O sistema de cooperativas aberto existe há décadas. É o chamado sistema Luzzatti, tolhido com a reforma do sistema financeiro de 1964, que proibiu a criação de novas cooperativas. Hoje existem apenas 10 em andamento - Itororó (BA); Barbalha (CE); Caixeiral do Crato (Crato, CE); Lageado (RS); Sul Riograndense (Porto Alegre, RS); Hering (Blumenau, SC); Mirassol (SP); Olímpia (SP); Mendes (RJ) e Guarulhos (SP). Em 1999, o Banco Central tentou fechar estas cooperativas abertas. Pela Resolução 2.608, o BC deu um prazo de dois anos para que elas fechassem as portas. Houve um intenso lobby, que envolveu as centrais estaduais e a Organização das Cooperativas do Brasil, que conseguiram reverter a resolução. No entanto, continuou proibida a criação de novas. Para permitir a criação de instituições abertas, o governo terá que reformular a Resolução 2.771 do BC, explica Marcio Palhares Nami. A cooperativa de Mendes tem 73 anos de existência e atende 1.500 pessoas, moradores da cidade (de 17 mil habitantes) e de municípios vizinhos (Barra do Piraí, Paulo de Frontin, Vassouras, Piraí e Paracambi). Para entrar na cooperativa, o cidadão tem apenas que apresentar comprovante de endereço no município, CIC, RG e comprovante de renda. Demora 30 dias para a conta ser aprovada, prazo em que são checados os dados dos cadastros negativos de crédito (Serasa e SPC). Não se trata de uma mera conta corrente. O cooperado 13

tem que comprar cotas da cooperativa. Na CreMendes, o candidato a cooperado paga R$ 157,00 - R$ 100 para comprar o mínimo de 100 cotas; R$ 50,00 para depósito de abertura da conta; e R$ 7,00 pela pesquisa aos cadastros negativos. Aberta a conta, ele terá direito a talão de cheque, saldo, extrato e crédito, que varia de acordo com a renda apresentada. A taxa de juros, que era 3,5%, com as sucessivas altas da Selic foi aumentada mês passado para 4,1% ao mês. Há dois meses, a Mendes instituiu uma tarifa de R$ 3,00 para financiar um programa de modernização tecnológica que a interligará ao sistema nacional cooperativo. E há também um fundo de renda fixa, que remunera os aplicadores em 1,5% ao mês. Face ao histórico apresentado, consoante ao perfil apresentado pelo mercado neste momento, em nossa visão este modelo é comprovadamente viável, podendo ser utilizado como base para implantações nas mais diversas regiões do país. 14

6. BIBLIOGRAFIA IRION, João Eduardo Oliveira, Cooperativismo e Economia Social. São Paulo. Editora STS, 1997. Manual de Consulta. Legislação Cooperativista. Segunda Edição, Dominium Coop, 2000. BERGENGREN, Roy Frederick (1879-1955) Cruzada, a Luta pela Democracia Econômica na América do Norte, 1921-1945, a história das cooperativas de crédito na América do Norte/ Roy F. Bergengren, introdução de Percy S. Brown; colaboração de Agnes C. Gartlande e James W. Brown; interlúdio de Alex F. Laidlaw, Brasília Cooperforte, 2001. MEINEN, Enio. Cooperativas de Crédito no Direito Brasileiro/ In: Jefferson Nercolini Domingues org. Jane Aparecida Stefanes Domingues. Porto Alegre, Editora Sagra Luzzatto, 2002. (série cooperativismo volume dois) THENÓRIO FILHO, Luiz Dias Pelos Caminhos do Cooperativismo : com destino ao crédito mútuo, São Paulo: Central das Cooperativas de Crédito do Estado de São Paulo, 1999. PINHO, Diva Benevides As grandes coordenadas do cooperativismo brasileiro Volume I Realidade Econômica do Cooperativismo, Cecrespa 1997. 15