ANÁLISE DOS FATORES QUE CONDICIONAM A ORIGEM DOS PROBLEMAS DE PESQUISAS NA REGIÃO CAFEEIRA DO ALTO/MÉDIO JEQUITINHONHA E MUCURI DE MINAS GERAIS MARCELO MÁRCIO ROMANIELLO 1, EVANDRO SÉRGIO MARTINS LEITE 2, ROSELI CARESIA ROMANIELLO 3, ADÉLIA AZIZ ALEXANDRE POZZA 4 RESUMO: A região do Alto/Médio Jequitinhonha e Mucuri de Minas Gerais a cafeicultura é identificada como a principal fonte de renda das propriedades agrícolas. Nesta região, a pesquisa cafeeira assume papel relevante na concentração dos processos de desenvolvimento agropecuário requerendo, tanto a inovação dos processos e cultivos, quanto a observação atenta do contexto social e da realidade vivida pelos cafeicultores. Assim, este trabalho tem como objetivo verificar o comportamento e as atitudes dos atores sociais (pesquisadores e extensionistas) envolvidos no processo de problematização da pesquisa orientadas para a produção cafeeira, bem como identificar a origem dos problemas e a categoria de pesquisas realizadas para a região cafeeira do Alto/Médio Jequitinhonha e Mucuri de Minas Gerais. Palavras-Chave: problematização, cafeicultura, pesquisa/extensão, sócio economia. INTRODUÇÃO Na região do Alto/Médio Jequitinhonha e Mucuri de Minas a cafeicultura é identificada como a principal fonte de renda das propriedades agrícolas. Nesta região a pesquisa agropecuária e a extensão rural têm um papel relevante na 1 Mestre pelo Departamento de Administração e Economia da Universidade Federal de Lavras/UFLA - e-mail: mmr@ufla.br 2 Mestre pelo Departamento de Administração e Economia da Universidade Federal de Lavras/UFLA - e-mail: evandro@ucdb.com.br 3 Pedagoga Especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica- e-mail: roseli. romaniello@bol.com.br 4 Doutoranda em Solos e Nutrição de Planta da Universidade Federal de Lavras/UFLA - e- mail: adélia@ufla.br
concentração dos processos de desenvolvimento, haja vista que é através da pesquisa que novos processos de produção são desenvolvidos e, utilizado-se os mecanismos da extensão, repassados aos cafeicultores. Portanto, a pesquisa deve partir da observação atenta da realidade onde se identificam os sistemas de produção em uso pelos agricultores e uma série de variáveis de ordem social, política, econômica e cultural que intervêm na produção. Mediante a apreensão da realidade, selecionam-se problemas que estão afetando o processo produtivo e que carecem de soluções (RODRIGUES, 1985), uma vez que, a produção de uma tecnologia agrícola que não se compromete em considerar a realidade do cafeicultor, a tecnologia porventura gerada por esta pesquisa, correrá o risco de não ser adotada. Portanto, este trabalho tem como objetivo verificar o comportamento e as atitudes dos atores sociais (pesquisadores e extensionistas) envolvidos no processo de problematização da pesquisa orientadas para a produção cafeeira, bem como identificar a origem dos problemas e a categoria de pesquisas realizadas na região cafeeira do Alto/Médio Jequitinhonha e Mucuri de Minas Gerais. A metodologia do estudo consistiu-se de uma estratégia para conhecer a realidade e reações apresentadas pelos pesquisadores e extensionistas em relação problematização de pesquisa nesta região. Utilizou-se para isso, o método de pesquisa quantitativo, onde o pesquisador procura testar a validade do estudo, confrontando as evidências empíricas. A vantagem da abordagem quantitativa, segundo PATTON (citado por Alencar & Gomes, 1998) é que ela permite, através de um conjunto limitado de questões, as reações de um grupo de pessoas, facilitando a comparação e o tratamento estatístico dos dados. O estudo foi conduzido por ocasião do Encontro Ensino, Pesquisa e Extensão realizado na cidade Capelinha-MG no ano 2002. A amostra foi constituída por um conjunto de indivíduos que representou 72,5% (29) do universo de 40 participantes do encontro. Para a coleta dos dados utilizou-se um questionário tipo survey e no processo de análise utilizou-se o software estatístico Statistical Package for the Social Science (SPSS, versão 10.0), avaliando-se dois tipos de dados estatísticos: Análise Univariada e Tabulação Cruzada (Cross Tab).
RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir das análises univariadas (principalmente freqüência e porcentagem), podemos apresentar as informações demográficas da amostra pesquisada: dos 29 técnicos amostrados, 79,3% dos entrevistados pertenciam a instituições de extensão rural pública e privada, sendo 23 técnicos da EMATER-MG e 1 técnico de COOPERATIVA; 13,8% eram pertencentes a instituição de pesquisa (EPAMIG) e 3,4% pertencia a classe de profissional liberal que trabalha diretamente com assistência técnica rural. Utilizando-se da técnica estatística de tabulação cruzada, que reflete a distribuição conjunta de duas ou mais variáveis simultaneamente, com um número limitado de categoria ou valores distintos (MALHOTRA, 2001), foi possível observar que os padrões de respostas que buscam medir as reações dos entrevistados com relação às variáveis de percepção são demonstradas nas tabelas 01 e 02. Os 04 pesquisadores concordaram que o processo de problematização de pesquisa na região deveria partir da observação atenta do contexto social e da realidade do cafeicultor. Da mesma forma, também os 23 extensionistas (extensionistas + profissional liberal) concordaram com esta afirmativa e somente 01 extensionista discordou desta afirmativa. Tabela 01- Cruzamento: Instituição de origem * Grau de concordância/discordância dos entrevistados em relação à variável de percepção do ponto de partida da pesquisa. A pesquisa deve partir da realidade dos sistemas de produção Concordo Concordo Discordo Total Fortemente Instituição Pesquisa 4 4 Pertencente Extensão 8 15 1 24 Profissional Liberal 1 1 Total 9 19 1 29 Pela tabela 02, pode-se observar que os pesquisadores e extensionistas concordaram ou concordaram fortemente com a afirmativa de que a pesquisa cafeeira deve partir da observação de variáveis de ordem social, política, econômica e cultural das populações envolvidas e somente 01 extensionista discordou desta afirmativa.
Tabela 02- Cruzamento: Instituição de origem * Grau de concordância/discordância dos entrevistados em relação às variáveis de percepção de ordem social, política, econômica, cultural. A pesquisa deve partir da observação de variáveis socais, políticas, econômicas e culturais Concordo Concordo Discordo Total Fortemente Fortemente Instituição Pesquisa 1 3 4 Pertencente Extensão 7 16 1 24 Profissional liberal 1 1 Total 9 17 29 Questionados sobre quais os fatores que condicionam a origem da problematização de suas pesquisas nesta região cafeeira, foi possível identificar que seis fatores influenciam mais diretamente a origem da problematização pelos pesquisadores. Verifica-se, a partir da tabela 03, que o fator de maior relevância para o pesquisador no momento de problematização de sua pesquisa era a necessidade do cafeicultor. Nesta orientação, as pesquisas desenvolvidas em nível regional são problematizadas e sistematizadas dentro de uma concepção de pesquisas próximas às demandas dos usuários finais (cafeicultores). Tabela 03- Processo de formulação do problema de pesquisa de acordo com o grau de importância dado pelos pesquisadores. Grau de importância Formulação do problema de pesquisa Maior Médio Menor Freqüência Porcentagem Necessidade do produtor 4 4 100% Interesse próprio 1 1 25% Disponibilidade de recursos financeiros 2 2 50% Problemas oriundos de seminários 2 2 50% Revisão de literatura 1 1 25% Problemas que os estudantes trazem prontos 1 1 25% OBS:O total de freqüências é maior que o número de entrevistados, uma vez que cada pesquisador pode identificar mais de um problema de pesquisa de acordo com o grau de importância. Na opinião de um dos pesquisadores entrevistados, o fator mais relevante para problematização de suas pesquisas foi o interesse próprio. Essa condição é possivelmente atribuída à especialidade de seu conhecimento sobre determinado
assunto. Entretanto, o pesquisador deverá fazer com que seu trabalho satisfaça alguma necessidade sócio-econômica. Faz-se necessário que no processo de problematização de pesquisas, o pesquisador trabalhe numa práxis, com o objetivo de desenvolver tecnologias que sejam favoráveis à criação de melhores condições de vida para os produtores envolvidos, e isso ocorreria se esta tecnologia fosse apropriada por este cafeicultor. Segundo Campomar (1983), em geral, os resultados de pesquisas desta natureza, raramente são transferidos para fora da comunidade científica e técnica, ficando engavetados ou constituindo-se em trabalhos acadêmicos que permitem a evolução individual do pesquisador na sua carreira profissional. Um outro fator que leva a problematização de pesquisas cafeeiras nesta região é a disposição de recursos financeiros. Essa condição até é compreensível, pois, o dinheiro que financia a ciência vem do próprio Governo Federal e ou do Estado, porém, através da mediação das agências de fomento que têm enorme poder de decisão sobre o desenvolvimento científico regional. Outros fatores que levam a problematização são: os problemas oriundos de seminários, com duas indicações de menor importância; a revisão de literatura e problemas que os estudantes trazem prontos. Na visão do pesquisador, o ato de pesquisar é uma atividade acadêmica e, que os conhecimentos oriundos trazem mais benefícios à própria comunidade acadêmica do que à sociedade como todo. Possivelmente, este pesquisador, acredita que o usuário direto dos resultados é a comunidade científica, estando incluídos aí alunos de graduação e pós-graduação. Em relação à categoria das pesquisas cafeeiras na região, os dados apontaram que 50% dos pesquisadores têm suas pesquisas como P&D e com 50% das indicações como pesquisa aplicada. Tabela 02 Categoria das pesquisas agropecuárias na região. Categorias Freqüência Porcentagem Desenvolvimento (P&D) 2 50 Pesquisa aplicada 2 50 Pesquisa básica ou fundamental 0 0 Pesquisa fundamental orientada 0 0 Total 4 100 A caracterização da pesquisa aplicada é explicada por Teixeira (1983) como uma investigação original conduzida com o propósito de se ganharem novos conhecimentos técnico-científicos, tendo em vista uma aplicação prática, e
caracteriza-se, em geral, pela utilização de conhecimentos auferidos da pesquisa na solução de problemas práticos existentes. Portanto a pesquisa aplicada é um tipo de estudo sistemático motivado pela necessidade de resolver problemas concretos. Já a pesquisa de desenvolvimento é, segundo Silva (1987), a tecnologia propriamente dita para o contexto social. CONCLUSÕES A origem da problematização apresentada nas pesquisas cafeeiras desenvolvidas na região do Alto/Médio Jequitinhonha e Mucuri de Minas Gerais, apresentam-se próximas a demanda e da necessidade dos cafeicultores. Da mesma forma, as pesquisas na região estão envolvidas com a problemática social, uma vez que, interrogados sobre o tipo de pesquisas desenvolvidas todos afirmaram ser a pesquisa aplicada ou de desenvolvimento as que devem beneficiar diretamente o usuário final que é o cafeicultor. Considerando as indicações sobre categoria das pesquisas desenvolvidas para a região, é preciso que as agências de pesquisa tenham em mente a condição de que quem vai ser o usuário direto das pesquisas é o cafeicultor. Assim, o principal fator a ser considerado no momento da problematização das pesquisas cafeeiras na região, deve ser as necessidades e demandas para a solução dos problemas destes cafeicultores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, E.; GOMES, M. A. Metodologia de pesquisa social e diagnóstico participativo. Lavras: UFLA/FAEPE, 1998. (apostila). 212 p. (Curso de pós graduação Lato Sensu Especialização a Distância: Gestão de Programa de Reforma Agrária e Assentamento). CAMPOMAR, M. C. As atividades de marketing no processo de transferência de tecnologia oriunda dos institutos de pesquisa governamentais. Administração e Tecnologia, São Paulo, 1983. p.439-451.. CARDOSO, C. Problematização nas pesquisas agropecuárias e pequena produção. Lavras: ESAL, 1994. 68 p. (Dissertação de mestrado em Administração Rural) EMBRAPA. Manual do projeto de pesquisa. Brasília, EMBRAPA/DDT, 1984. MALHOTRA, N. K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. Porto Alegre: Bookman. 2001. 719p.
RODRIGUES, C. M. et all. A relação pesquisa/ensino nas instituições de ensino superior. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasília, 67 (155): 5-51, jan./abr. 1985. SILVA, B. Coord. Dicionário de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, FGV, 1987. TEIXEIRA, D. de S. Pesquisa, desenvolvimento e inovação industrial: Motivações da empresa provada e incentivos do setor público. Administração e Tecnologia, São Paulo, p.45-89. 1983.