Análise do gerenciamento dos resíduos dos estabelecimentos públicos de atendimento básico a saúde do município de aparecida de Goiânia, Goiás, Brasil Camila Batista do Carmo¹. Antônio Pasqualetto*². João Augusto Dunck Dalosto 3. 1 Escola de Engenharia, Pontifícia Universidade Católica de Goiás. camilabatcarmo@gmail.com 2 Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e Desenvolvimento Territorial, Pontifícia Universidade Católica de Goiás. profpasqualetto@gmail.com 3 Mestrado em desenvolvimento e planejamento territorial, Pontifícia Universidade Católica de Goiás. *Autor Correspondente: Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Av. Universitária, 1440, setor universitário, Goiânia, GO, Brasil, CEP74605-0. ABSTRACT This study aimed to analyze the adequacy of health facilities in the city of Aparecida de Goiânia GO, relative to existing determinations in the Brazilian legislation about solid waste management, especially on the existence and application of Service Waste Management Plan health (PGRSS). For that, were analyzed 39 health units in which were found several disrespect for legislation on the issue. Finally, was made a brief analysis of the problems, their consequences and about the possibilities of overcoming. Keywords: Health Services waste, health units, management plan, solid waste. Analysis of waste management of public institutions of primary care to health appeared in the city of Goiânia, Goiás, Brazil Resumo O presente trabalho procurou analisar a adequação das instalações de saúde do município de Aparecida de Goiânia GO no tocante às determinações existentes na legislação brasileira sobre o gerenciamento de resíduos sólidos, em especial sobre a existência e aplicação do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde (PGRSS). Para tanto, foram analisadas 39 unidades de saúde, no qual foram constatados diversos desrespeitos à legislação sobre o tema. Por fim, foi feito uma breve análise sobre os problemas existentes, suas consequências e sobre as possibilidades de superação. Palavras-chaves: Plano de gerenciamento, Resíduos de Serviços de Saúde, Resíduos sólidos, Unidades de saúde.
Introdução De acordo com Lima (29), na América Latina a média de geração de resíduos nos hospitais varia de 2,0 a 4,5 kg/leito dia e em pesquisa realizada no município de Goiânia por Alves (), a quantidade de resíduos gerados em Unidades Básicas de Saúde (UBS) varia de 0, a 0,36 kg/usuário dia, quantidade inferior às geradas nos hospitais, porém, as unidades de atenção básica de saúde são em maior quantidade, sendo significativo o volume de RSS gerados. Os Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) requerem gerenciamento adequado em todos os seus processos de geração independente do estabelecimento gerador, de acordo com outros autores os estabelecimentos de atenção básica a saúde são mais negligentes na questão do gerenciamento dos RSS por se tratarem de pequenos geradores, sendo foco de maior atenção em relação ao gerenciamento de resíduos, hospitais e clinicas (Alves, ). A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. Segundo a Resolução ANVISA n 306 - Capítulo III - Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde... [...] constitui-se em um conjunto de procedimentos de gestão, planejados e implementados a partir de bases científicas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados, um encaminhamento seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente (Brasil, 24, p.2). Diante do cenário atual com as mudanças de postura da população, a preocupação com o meio Ambiente e a criação pelo poder público de diretrizes para gerenciamento de resíduos sólidos no país, por meio da Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305/, o gerenciamento dos RSS se faz necessário e urgente, para a mitigação dos impactos gerados por sua gestão inadequada. As tentativas do poder público de minimizar os impactos da geração e disposição de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) foram a criação de leis, normas e resoluções destinadas ao gerenciamento destes resíduos, sendo a Resolução RDC n 306/24 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, e a Resolução CONAMA 8/25 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, 25). Os Resíduos de Serviço de Saúde (RSS) são definidos pela Resolução RDC n 306/24 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, e pela Resolução CONAMA 8/25 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, 25), como: Todos os resíduos resultantes de atividades relacionadas com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos para saúde; necrotérios, funerárias e serviços onde se realizam atividades de embalsamamento (tanatopraxia e somatoconservação); serviços de medicina legal; drogarias e farmácias, inclusive as de manipulação; estabelecimentos de ensino e pesquisa na área de saúde; centros de controle de zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos; importadores, distribuidores e produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro; unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura; serviços de tatuagem, entre outros similares (Brasil, 24). Sendo obrigatório o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde (PGRSS), para os estabelecimentos que prestem qualquer dos serviços citados na RDC n 306/24 e CONAMA n 8/25. De acordo com Ventura et al. (21), é fundamental o conhecimento da classificação dos resíduos de acordo com suas características peculiares, seu grau de risco e aspectos de biossegurança para que se possa elaborar e implementar o PGRSS de forma adequada nos estabelecimentos de saúde. Com a publicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, lei 12.305 de, fica definido que o gerenciamento de resíduos deve priorizar, a não geração, a redução, a reciclagem, o tratamento e a disposição final respectivamente. O gerenciamento dos resíduos gerados pela sociedade se faz necessário e requer organização e sistematização das fontes geradoras e o despertar de uma consciência coletiva quanto às responsabilidades individuais no trato das questões envolvendo os resíduos sólidos. Neste sentido, este trabalho busca analisar o cumprimento da legislação referente a implantação do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde (PGRSS) por parte os estabelecimentos públicos de saúde do município de Aparecida de Goiânia GO.
Material e Método O estudo foi realizado no município de Aparecida de Goiânia, Goiás, Brasil (figura 1). Figura 1: Localização e fronteiras do município de Aparecida de Goiânia-GO Foi realizado o levantamento em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e quatro Centros de Assistência Integral a Saúde (CAIS) do município de Aparecida de Goiânia GO (Figura 2) entre agosto e novembro de 24, e analisados documentos da Secretaria Municipal de Saúde, Diretoria de Resíduos Sólidos, Vigilância Sanitária do município de Aparecida de Goiânia - GO e documentos prestadora de serviço de coleta de RSS no município. Por fim, visitas às unidades de saúde para observações e entrevistas a partir de checklist. Figura 1. Representação em números das UBS s pesquisada e sua distribuição no município de Aparecida de Goiânia-GO
Resultados e Discussão A partir da pesquisa elaborada, constatou-se que das UBSs pesquisadas, somente possuíam o PGRSS básico elaborado pela Secretária Municipal de Saúde e que estavam impresso e disponível para consulta nas unidades. Porém, apenas oito unidades executavam o plano, quatro realizaram algum tipo de treinamentos com os funcionários a respeito do manejo dos RSS, três executavam o PGRSS e somente uma unidade estava totalmente de acordo com a legislação no que tange o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. No que se refere aos três CAISs pesquisados, nenhuma unidade possuía PGRSS, apesar de realizam procedimentos mais complexos e atenderem um maior número de pessoas do que as UBSs (Quadro 1). Quanto ao resíduos do grupo A, a coleta interna dos estabelecimentos é feita de acordo com a demanda, ou uma vez ao dia, salvo em época de campanha de vacinação ou outro evento que ocasione maior geração de resíduos. Em todos os estabelecimentos é realizada coleta manual e em dois a coleta não é feita adequadamente, pois os funcionários responsáveis pela coleta não utilizam os Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs), necessários à realização da tarefa (Quadro 2). Quadro 1: Resultados sobre o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde nos estabelecimentos públicos de atendimento básico a saúde em Aparecida de Goiânia GO. Questões UBSs CAISs Total absoluto Total relativo (%) 1. A unidade possui Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde redigido e impresso? 25 28 26.% 73.69% 2. O Plano foi implantado? 3. O responsável técnico do Plano executou cursos de capacitação com os funcionários? 4. O Plano é executado devidamente? 5. As informações contidas no Plano estão de acordo com as normas e legislações? 6. A unidade está de acordo com o PGRSS e as legislações? 08 27 32 25 08 30 28 21,05% 78.95%.52% 89.48% 7.89% 92.11% 26.% 73.69% 2.63% 97.% Quadro 2: Resultados referentes à geração de resíduos do grupo A, gerados nos estabelecimentos públicos prestadores de serviços básicos de saúde de Aparecida de Goiânia. Questão UBSs CAISs Total absoluto Total relativo (%) 1. Os resíduos são descartados em saco plástico branco leitoso? 2. Os sacos plásticos estão identificados com o símbolo de material infectante? 3. Os sacos plásticos são constituídos de materiais resistentes à ruptura e vazamento? 4. Os recipientes são equipados com tampa provida de sistema de abertura sem contato manual para o descarte dos resíduos? 5. Os recipientes para o descarte de resíduos são identificados pelo símbolo de substância infectante? 6. Frequência da coleta interna? De acordo com demanda, normalmente uma vez ao dia. Está de acordo com a legislação? 7. Método utilizado manual. Está de acordo com a legislação? 22 12 15 33 38 38 25 13 17 21 36 0% - 0% - 97,36% 2,64% 65,80%,% 44,74% 55,26% 97,40% 2,60% 94,74% 5,26%
Os Resíduos do grupo D, algumas unidades fazem a separação de caixas de papelão e em alguns estabelecimentos são utilizadas como recipiente de descarte de perfuro cortante tendo falta do recipiente adequado. Em outros dois estabelecimentos as caixas de papelão são colocadas na calçada para que catadores de materiais recicláveis recolham e somente um estabelecimento participa do programa de coleta seletiva do município. Os resíduos do grupo D dos demais estabelecimentos são coletados pela prefeitura e encaminhados ao aterro sanitário municipal (Quadro 3) Quadro 3: Resíduos do grupo D gerados no estabelecimentos de atendimento básico á saúde de Aparecida de Goiânia - GO. Questão UBSs CAISs Total absoluto Total relativo (%) 1. Os resíduos são descartados em saco plástico de cor preta? 2. Há recipiente com tampa acionada a pedal para descarte dos resíduos? 3. Os recipientes estão identificados? 4. Os resíduos são destinados à reciclagem ou reutilização? Coleta seletiva do município ou disponibiliza para catadores. 5. Frequência da coleta interna uma vez ao dia ou de acordo com a demanda. Está de acordo com a legislação? 6. Método utilizado de coleta, manual. Está de acordo com a legislação? 15 15 32 21 17 18 33 05 97.% 2.63% 55.27% 44.73% 52.63% 47.% 7,90% 91,% 89.50%,50% 86,84% 13,15% No quadro 4, observa-se que os recipientes para descarte do grupo E estão adequados a legislação em mais de 80% dos estabelecimentos, contudo a frequência da coleta interna é inadequada em 91% dos estabelecimentos, não sendo feita de maneira programada, não tendo local de armazenamento e nem horários programados para a coleta. Quadro 4: Resultados sobre resíduos do grupo E gerados nos estabelecimentos de atendimento básico á saúde em Aparecida de Goiânia, GO. Questão UBSs CAISs Total absoluto Total relativo (%) 1. Os resíduos são descartados em recipientes rígidos de material resistente a ruptura e vazamentos? 29 06 07 81.57% 18.47% 2. Os recipientes estão identificados com o símbolo de material perfuro cortantes? 3. Frequência da coleta interna é de acordo com a demanda, normalmente uma vez por semana. Está de acordo com a legislação? 6. Método utilizado de coleta, manual. Está de acordo com a legislação? 29 06 07 38 81.58% 18.32% 7.90% 91.% 0% -
Conclusões Com relação aos dados coletados, observa-se que ocorreram erros em todas as etapas de manejo dos RSS nos estabelecimentos estudados. Em muitas, a falta de estrutura e equipamentos dificulta o gerenciamento correto. Porém, o que ficou mais evidente é a falta de treinamento e conscientização dos funcionários sobre o correto manejo dos resíduos e a importância que essa temática deve ter nas atividades diárias da prestação dos serviços dentro das unidades. Foram ainda verificadas falhas na identificação, acondicionamento, coleta e transporte interno e armazenamento externo, procedimentos que são de fácil correção, dependendo apenas da aquisição de poucos materiais, pequenas obras e de treinamentos periódicos com os funcionários das unidades de saúde. Aponta-se, ainda, como essencial que seja atribuída a um servidor a função de monitorar as rotinas do gerenciamento dos resíduos dentro de cada unidade de saúde. Recomenda-se que a Secretaria Municipal de Saúde do município de Aparecida de Goiânia GO: 1) crie uma equipe para orientação sobre a elaboração dos Planos de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde e sua implantação em cada Unidade Básica de Saúde; 2) realize periodicamente treinamentos sobre a importância do correto manejo dos resíduos; 3) forneça os materiais e instrumentos adequados para que o plano possa ser executado em conformidade com a legislação; e 4) a criação de campanha de conscientização dentro dos estabelecimentos de saúde com cartazes e lembretes sobre a importância do gerenciamento adequado de resíduos, enfatizando a importância da correta segregação. Em relação aos CAISs é de extrema importância que seja elaborado o PGRSS de todos os estabelecimentos, pois tais unidades realizam procedimentos mais complexos que as UBSs e geram resíduos em maior quantidade e diversidade. Deve-se também realizar melhorias nas condições de armazenamento externo dos resíduos. Por fim, conclui-se que todos as unidades de saúde do município de Aparecida de Goiânia estão em desconformidade com a legislação referente ao gerenciamento de RSS, colocando em risco a saúde dos servidores, pacientes e o meio ambiente. Referências bibliográficas Alves, S.B., () Manejo de Resíduos de Serviço de Saúde na Atenção Básica. Goiânia, Tese de Mestrado, Programa de Pós- Graduação em Enfermagem, Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Goiás Acesso em 12 de janeiro de 25, disponível em: https://mestrado.fen.ufg.br/up/127/o/sergiane_bisinoto_alves.pdf. Brasil. Ministério da Saúde; Agencia Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Resolução RDC n 306, de 07 de dezembro de 24. Dispõe sobre o Regulamento técnico para o gerenciamento de serviços de saúde. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; Brasil, 24. Brasil. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de. Brasília, DF: [s.n],. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_/_ato27-//lei/l12305.htm>. Acesso em:18 dez.. CONAMA, Conselho Nacional do Meio Ambiente; Ministério do Meio Ambiente (25) Resolução 8 de 29 de abril de 25. Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências. Brasília (Brasil): Ministério do Meio. CONAMA, 25. Ventura, K.S., Roma, J.C., Moura, A.M.M. (21) Caderno de Diagnóstico dos Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada- IPEA. Acesso em 25 de maio de 25, disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/ Editora John Wiley & Sons.. p. 2-224.