A Cultura negra nos Campos Gerais Memórias e Histórias (re) contadas.

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Transcrição:

1 ÁREA TEMÁTICA: ( ) COMUNICAÇÃO (X ) CULTURA ( ) DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA ( ) EDUCAÇÃO ( ) MEIO AMBIENTE ( ) SAÚDE ( ) TECNOLOGIA E PRODUÇÃO ( ) TRABALHO A Cultura negra nos Campos Gerais Memórias e Histórias (re) contadas. Merylin Ricieli Dos Santos (NUREGS - merylinricisantos@gmail.com) 1 Ione da Silva Jovino (UEPG - ionejovino@gmail.com) 2 Resumo: Este trabalho busca trazer resultados produzidos ao longo do projeto Sociabilidades Negras nos Campos Gerais: Histórias, trajetórias e Memórias desenvolvido pelo Núcleo de Relações Étnico-Raciais, de Gênero e Sexualidade (NUREGS) e financiado pela SETI/PR. O projeto em questão teve como proposta dar visibilidade a três clubes negros da região dos Campos Gerais, bem como a instituição afrodescendente mais antiga do Estado do Paraná, a Sociedade Operária Beneficente Treze de Maio, buscando preservar as memórias destes patrimônios culturais imateriais. A equipe envolvida na realização desta atividade extensionista produziu uma série de materiais acerca das instituições negras contatadas, sendo os mais completos um livro digital e um documentário com os relatos de sujeitos participantes e ex-participantes da dinâmica das formas de sociabilidades elencadas. O projeto teve como metodologia a bricolagem, vista como maneira pós-moderna de fazer pesquisa (RODRIGUES et al., 2016), e nesta a história oral compreendida enquanto um gênero multivocal produto do trabalho comum de uma pluralidade de autores em diálogo ( PORTELLI, 2010) também se fez presente. De natureza qualitativa as pesquisas que embasaram estes escritos privilegiam, de modo geral a análise de micro-processos através do estudo das ações sociais individuais e grupais (MARTINS, 2004). Palavras-chave: Clubes negros. Patrimônio imaterial. Memórias. INTRODUÇÃO Ao longo de doze meses o projeto Sociabilidades Negras nos Campos Gerais: Histórias, trajetórias e Memórias fora desenvolvido por uma equipe de quatro bolsistas e uma coordenadora/orientadora voluntária. Tais atividades constituíram-se após contatos com clubes negros localizados nos municípios de Castro, Ponta Grossa e Tibagi. O Estado do Paraná conta com mais dois clubes negros, porém não foram contemplados neste projeto, pois o mesmo foi estruturado para ser desenvolvido na região dos Campos Gerais e as demais 1 Bolsista recém-formada do projeto Sociabilidades Negras nos Campos Gerais: Histórias, trajetórias e memórias. Pós-graduanda do PPGH-UDESC e membro do Núcleo de Relações Étnico-Raciais de Gênero e sexualidade da UEPG. E-mail: merylinricisantos@gmail.com 2 Professora do PPGLIS da UEPG, coordenadora do Núcleo de Relações Étnico-Raciais de Gênero e sexualidade da mesma instituição e coordenadora voluntária do projeto Sociabilidades Negras nos Campos Gerais: Histórias, trajetórias e memórias. E-mail: ionejovino@gmail.com

instituições negras paranaenses não se inserem neste recorte geográfico, visto que localizamse na cidade de Guarapuava e Londrina. Os clubes retratados foram os seguintes: Clube Literário e Recreativo Treze de Maio fundado em Ponta Grossa no ano de 1890; Clube Recreativo e Cultural Estrela da Manhã, localizado no município de Tibagi e datado de 1934; Clube Recreativo dos Campos Gerais, criado na cidade de Castro no ano de 1917; e por fim a Sociedade Operária Beneficente Treze de Maio, com fundação em 1888 na cidade de Curitiba, capital do Estado. E a fim de situar essas instituições como espaços de sociabilidades negras que ao longo do tempo contribuíram para a construção de identificações positivas acerca do seu público frequentador é possível compreender tais clubes como um patrimônio cultural imaterial definido pela UNESCO (2003) como um amplo conjunto de valores e ações demarcadas por práticas, representações, expressões, conhecimentos, técnicas, objetos, bem como lugares culturais, que comunidades, grupos ou indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Deste modo, 2 Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. (UNESCO, 2003, s/p) Os patrimônios imateriais sujeitos desta atividade extensionistas são também lugares de memória para o grupo de pessoas que participou da construção do acervo digital. Pierre Nora ( 1993) define que os lugares de memórias são, antes de tudo, restos, neste viés o historiador francês explica que tais lugares: São os rituais de uma sociedade sem ritual; sacralizações passageiras numa sociedade que dessacraliza; fidelidades particulares de uma sociedade que aplaina os particularismos; diferenciações efetivas numa sociedade que nivela por princípio; sinais de reconhecimento e de pertencimento de grupo numa sociedade que só tende a reconhecer indivíduos iguais e idênticos. (NORA, 1993, p. 12-13). Nesta linha de pensamento os clubes negros já descritos são expressões de identidades de uma população que não possui um lugar consolidado em uma esfera urbana que fora socialmente colonizada. Tais sujeitos atualmente se utilizam da memória para legitimar suas trajetórias e lutas em territórios paranaenses, local este visto de modo equivocado como homogêneo e predominantemente europeu.

Considerando a realidade dos afrodescendentes na região dos Campos Gerais o projeto de extensão já citado buscou meios de produzir um campo de reflexões historiográficas capaz de preservar as trajetórias de indivíduos invisibilizados da cultura local. E como forma de salvaguardar tais memórias e colaborar para a (re) construção e (re) produção destas histórias a equipe elaborou um conjunto de documentos, imagens e entrevistas que podem contribuir para pesquisas futuras acerca da presença negra nos municípios de Castro, Ponta Grossa e Tibagi. 3 OBJETIVOS O objetivo geral do projeto Sociabilidades Negras nos Campos Gerais: Histórias, Trajetórias e Memórias pauta-se em realizar a (re) construção da história de três clubes negros da região dos Campos Gerais, bem como proporcionar meios de dar visibilidade às histórias e memórias destas entidades recreativas. O objetivo desta ação consolida-se com a produção de um livro e um documentário audiovisual. Sobre os objetivos específicos: Voltam-se para a elaboração de entrevistas, bem como a produção de escritos sobre tais sociabilidades e a organização de um acervo digital com fontes orais, imagéticas e documentos escritos. Ambos os objetivos priorizaram o trabalho conjunto entre a equipe integrante do projeto, membros da diretoria dos clubes envolvidos e os frequentadores destas associações. METODOLOGIA Os procedimentos utilizados para alcançar os objetivos propostos partem da concepção de Bricolagem. Marcada pela amplitude de observações, análises e procedimentos metodológicos buscando, nas mais variadas fontes, opções de pesquisa e de fundamentação teórica que possibilitem a elaboração do método de pesquisa (RODRIGUES et al., 2016). Para construir o acervo digital foi necessário desenvolver pesquisas documentais e bibliográficas para que o trabalho fosse produtivo Desse modo, evidencia-se o fato de que a bricolagem é expressa como um modo alternativo de pensar a pesquisa, possibilitando uma forma diferente de olhar as demandas do conhecimento no mundo contemporâneo. (RODRIGUES et al., p. 972, 2016).

No projeto de extensão aqui relatado a bricolagem consistiu em leituras, pesquisas em grupos, sessão de diálogos, roda de conversas, problematização de documentos, análise de imagens, levantamento de dados, bem como a construção de entrevistas, estas últimas realizadas na perspectiva da História Oral. As entrevistas foram agendadas previamente e com um flexível roteiro préestabelecido. Tal ação tinha um viés mais voltado para o ato de ouvir o testemunho, valorizando a narrativa, bem como as experiências e vivências dos entrevistados. Sobre tal processo Alessandro Portelli (2010) explica que A entre/vista, afinal, é uma troca de olhares. E bem mais do que outras formas de arte verbal, a história oral é um gênero multivocal, resultado do trabalho comum de uma pluralidade de autores em diálogo (p. 20). Assim, tal forma de trabalho insere-se em uma natureza qualitativa, para Martins (2004) esta metodologia conta com grande flexibilidade, principalmente quanto às técnicas de coleta de dados e A variedade de material obtido qualitativamente exige do pesquisador uma capacidade integrativa e analítica que, por sua vez, depende do desenvolvimento de uma capacidade criadora e intuitiva. (MARTINS, 2004, p.292). E dentro desta perspectiva 4 RESULTADOS Os resultados aqui apresentados contemplam os doze meses de projeto e neste período a equipe produziu um documentário, bem como um acervo digital com depoimentos orais que foram disponibilizados em uma eletrônica de livre acesso na internet. Os bolsistas realizaram dezenas de entrevistas e criaram um banco de dados com as transcrições das mesmas e tais arquivos podem ser utilizados como fontes para pesquisas futuras acerca de relações étnico-raciais na região. Os arquivos na íntegra ficarão disponíveis no NUREGS e podem ser acessados por estudantes e pesquisadores. Conforme já descrito o projeto tinha como proposta inicial elaborar dois produtos finais como resultado da ação extensionista, sendo um documentário e um livro em formato digital (Ebook), ambos com acessos livres, porém este último ainda está em processo de edição e assim que concluído os membros do projeto organizarão um lançamento do mesmo.

Figura 1 Processo de filmagem para o documentário 5 Legenda: Roda de conversa em Tibagi (2018) Figura 2 Edição dos vídeos Legenda: Equipe em trabalho de escolhas de cenas (2018) Figura 3 Gravação da abertura do documentário Legenda: Trabalho em estúdio de gravações (2018)

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após o período de desenvolvimento do projeto pode-se concluir que este alcançou os objetivos proposto através do auxílio e participação dos sujeitos entrevistados, assim compreende-se o quão produtivo é o diálogo entre a Universidade e sua comunidade externa. O projeto trouxe uma modesta contribuição para a desconstrução de um racismo historiográfico local, pois os produtos finais serão divulgados o máximo o possível a fim de (re)apresentar as histórias e memórias negras para os municípios da região. APOIO: SETI-PR: Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná. REFERÊNCIAS MARTINS, Heloísa Helena T. de Souza. Metodologia qualitativa de pesquisa. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.2, p. 289-300, maio/ago. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0d/ep/v30n2/v30n2a07.pdf Acesso em: 10/04/2018. NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo, n.10, dez. 1993, p.7-28. PORTELLI, Alessandro. Ensaios de história oral. São Paulo: Letra e Voz, 2010. 258p. RODRIGUES, Cicera Sineide Dantas. THERRIEN, Jacques. FALCÃO, Giovana Maria Belém. GRANGEIRO, Manuela Fonseca. Pesquisa em educação e bricolagem científica: rigor, multirreferencialidade e interdisciplinaridade. Cadernos de Pesquisa v.46 n.162 p.966-982 out./dez. 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/v46n162/1980-5314-cp-46-162-00966.pdf Acesso em: 14/04/2018.