CRESCENDO COM OS ESPORTES: COMPREENDER E APRENDER POR MEIO DA TRANSFERÊNCIA DA APRENDIZAGEM



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Transcrição:

CRESCENDO COM OS ESPORTES: COMPREENDER E APRENDER POR MEIO DA TRANSFERÊNCIA DA APRENDIZAGEM Mery Anne Riella Schimidt (1), Luciano Barbosa (2), Michelle Bernard (3), Ramizzei Barreto dos Santos (4), Tânia Leandra Bandeira (5) Acadêmicos das Faculdades Integradas Módulo, Curso de Educação Física, Caraguatatuba, SP, Brasil (1, 2, 3, 4), meryars@bol.com.br, lucianoubatuba@hotmail.com, mitenis@bol.com.br, ramizzeibarreto@bol.com.br Mestre em Educação Física pela Unicamp e Professora das Faculdades Integradas Módulo, Curso de Educação Física, Caraguatatuba, SP, Brasil (5), taniabas@terra.com.br Rua Enilson Soares de Lima, 262, Bairro Topolândia, São Sebastião, São Paulo Telefone residencial (12) 3893-2051 RESUMO O presente estudo é resultado do trabalho do Grupo de Estudos em Pedagogia dos Esportes e Educação Física (GEPEEF) das Faculdades Integradas Módulo, cujo objetivo foi colocar em prática a proposta de ensino dos esportes coletivos de Claude Bayer e sua teoria sobre o transfert 1, por meio de um projeto social denominado Crescendo com os Esportes. A metodologia utilizada foi a pesquisa-ação que representa um tipo de pesquisa social com base empírica concebida e realizada em estreita associação com a ação ou com a resolução de um problema coletivo. Acreditamos ter alcançado resultados satisfatórios, pois as crianças, a partir de uma metodologia que privilegiava o aprendizado dos esportes por meio da compreensão de suas ações, sem enfatizar o aprendizado do gesto técnico estereotipado, além de adquirirem conhecimentos a respeito dos esportes ensinados, acabaram demonstrando mais respeito, criatividade e autonomia frente as problematizações impostas pedagogicamente. PALAVRAS CHAVE: esportes; esportes coletivos; transferência. 1 Transfert significa que o aprendizado anterior facilita a aprendizagem posterior.

ABSTRACT Growing with sports: To anderstand and to learn through the apprenticeship transferection The present estudy is the result of group work about studies in the sports` pedagogy and physical education (GEPEEF) of the Módulo Integradade college, that objective was put in practice our investigations based in the propose of the Claude Bayer and his theory about the transfert, through of our social project called growing with sports. The methodology used was search action that presents on kind of the social search with public sense started and realized in narrow association with the action and with resolution of a collective problem We believe to have reached satisfactory results, because children beginning of the pedagogy that emphasize the apprenticeship of the sports through comprehension of their actions, without emphasize the understanding of the technical gesture, after they learn about the sports, showing more respect, creativity and autonomy face the problems imposed by pedagogy. KEY WORD: sports; collectives sports; transferection. INTRODUÇÃO É de grande importância podermos escrever e, principalmente, ensinar os esportes coletivos de uma forma diferente da que nos foi ensinado em todo o nível escolar; o modo da repetição e da mecanização dos gestos. De acordo com Scaglia (2003, p. 10): Uma boa metodologia, respaldada por uma inovadora pedagogia, não é aquela que demonstra um gesto para ser imitado, automatizado, mas é aquela que permite ao educando vivenciar um processo de ensino aprendizagem, em que, por meio da possibilidade de exploração, a criança constrói não um gesto motor apenas, mas uma conduta motora, fruto de sua competência interpretativa. Ao favorecermos o ensino da técnica em detrimento da tática formamos alunos sem poder de criação, autonomia e decisão dentro do jogo, ao passo que ensinando os jogos de forma que os alunos compreendam a lógica dessa atividade, ou seja, o porquê? o como? e o quando?, possibilitamos que adquiram determinadas ações, resolvendo problemas e criando situações que possam favorecê-los em diferentes momentos do jogo (BAYER, 1994). O autor acima citado afirma que todos os esportes coletivos têm uma mesma estrutura interna composta de seis invariantes (objeto, alvo, regras, terreno, companheiros e adversários). Podemos então dizer que todos os jogos coletivos possuem um objeto de intermediação (geralmente uma bola); um alvo que é a meta a ser alcançada pelos participantes para marcarem os pontos; um terreno, local onde os jogadores irão atacar e defender; companheiros e adversários, e suas regras próprias. Bayer (1994) também apresenta em seus textos uma proposta para trabalharmos com os esportes coletivos, sobre a qual descreve os princípios operacionais dos esportes coletivos os quais são identificados em duas grandes situações: ataque e defesa. Os princípios operacionais de ataque são: conservação da bola, progressão da bola e dos jogadores para o alvo adversário e atacar o alvo adversário visando marcar pontos. Os princípios de defesa são: recuperação da bola, impedir a progressão dos jogadores e a proteção do alvo e do próprio campo.

Esses princípios operacionais são considerados pelo autor como passíveis de transferência de um esporte coletivo para outro, mas para que possa haver a transferência é preciso que o professor saiba trabalhá-los de forma correta proporcionando que o aluno utilize ao máximo seus poderes decisórios e suas reflexões táticas. Para que isso ocorra o professor deverá evitar situações nas quais o aluno repita o mesmo gesto diversas vezes, trabalhando com atividades variadas. Essa proposta de ensino é chamada por Bayer (1994) de Pedagogia das Intenções na qual o professor deve propor situações-problema para o aluno tentar solucioná-las, buscando assimilar diferentes soluções táticas durante o jogo. Para Scaglia (2003), os professores devem propor atividades que sejam compatíveis com o nível de compreensão dos alunos, e assim, através dos desafios táticos, os mesmos são levados a obter sucesso, durante todo o processo de aprendizagem, sentindo-se competentes a cada passo. Para isto o professor pode e deve modificar os jogos, alterando suas regras e equipamentos, criando um ambiente desafiador que leve o aluno a melhorar suas habilidades e a rapidez nas tomadas de decisões, no momento de solucionar os problemas exigidos nas diversas situações. Além disso, os jogos ou atividades que o professor proporcionar aos seus alunos devem sempre respeitar as características de desenvolvimento dos mesmos. Apesar de todas essas considerações acerca dos esportes coletivos, os mesmos ainda são vistos por diversos professores de Educação Física como forma de treinamento, onde há a elevação do melhor. Os alunos jogam contra confirmando uma competição exagerada proveniente do sistema capitalista (um sistema que almeja que todos sigam regras impostas pela classe dominante), esquecendo que uma equipe necessita de todos integrantes para jogar. A falta de um ou mais companheiros torna o jogo esportivo pouco motivante, enfadonho e descaracterizado; sendo assim, todos são importantes dentro dessa linha de pensamento, não importa quanto um jogador seja bom, sem os outros integrantes não pode haver o jogo (BRACHT, 1986). Esses profissionais, geralmente, favorecem a técnica do aluno, a qual só deveria ser trabalhada quando estes sentirem a necessidade de utilizá-la dento do jogo, ou seja, o professor deve levar o aluno a sentir a necessidade de utilizar uma determinada técnica durante o jogo e intervir dando suas instruções. Assim o próprio aluno poderá construir seus movimentos/habilidades durante toda a prática esportiva. O educador deve estar sempre propondo problemas que os alunos consigam resolvê-los, mas ele deve somente propor o problema e não respondê-los, deixando que os alunos façam isso para que não cause dependência em relação ao professor (SCAGLIA, 2003), mas que possam se tornar criativos e autônomos, ou seja, inteligentes taticamente (BAYER, 1994). OBJETIVO Neste trabalho tivemos como principal finalidade apontarmos as perspectivas do transfert (proposta do autor Claude Bayer sobre a transferência de uma habilidade aprendida em um jogo para outro), nos esportes coletivos por meio de um projeto social denominado Crescendo com os Esportes, desenvolvido na cidade de Caraguatatuba, cidade do litoral norte do Estado de São Paulo. Os objetivos do projeto foram proporcionar aos alunos uma maior participação e interação nas aulas/atividades, assim como: - promover a socialização, a cooperação, a lealdade, a criatividade, o espírito de equipe, e a autonomia;

- discutir com os alunos temas polêmicos a cerca dos esportes como por exemplo, competição de alto nível, podendo assim, apresentarmos e discutirmos as diversas características dos esportes coletivos; - ensinar diferentes esportes coletivos como basquete, futebol e vôlei, por meio de jogos e atividades variadas; - desenvolver a inteligência tática dos alunos para os esportes coletivos, discutindo com os mesmos diferentes meios de ação; - analisar a validade da proposta de ensino dos esportes coletivos por meio de observação e discussão entre pesquisadores e participantes. METODOLOGIA Este trabalho seguiu os preceitos metodológicos da pesquisa-ação, sendo que segundo Thiollent (2000, p. 14)... a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com a ação ou com a resolução de um problema coletivo. Por meio desta estratégia de pesquisa, a qual agrega vários métodos e técnicas, os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo, ou seja, na pesquisa-ação os pesquisadores desempenham um papel ativo no equacionamento dos problemas encontrados, por meio de uma ação planejada (THIOLLENT, 2000). Assim sendo, a pesquisa-ação não segue o tradicional método hipótese / coleta de dados / comprovação, pois este esquema linear e cartesiano não se aplica em pesquisas que se caracterizam como intervenções estritamente sócio-educativas. PLANO DE AÇÃO E DESCRIÇÃO DA PESQUISA Os dados foram analisados por meio de inferências e generalizações. Nesse tipo de pesquisa que envolve grupo social no qual se manifestam muitas variáveis imprecisas dentro de um contexto em permanente movimento, os pesquisadores operam a partir de determinadas instruções (ou diretrizes), ou seja, definem problemas de conhecimento e de ação cujas possíveis soluções, num primeiro momento, são consideradas suposições, e, num segundo momento, definem o objeto de verificação, discriminação e comprovação em função das situações constadas. A análise deste tipo de pesquisa ocorre por meio de discussão entre pesquisadores e participantes a qual consiste em oferecer aos pesquisadores melhores condições de compreensão, interpretação, análise e síntese do conhecimento qualitativo gerado na situação investigada (THIOLLENT, 2000). Seguindo tal metodologia este trabalho tem como referência o projeto Crescendo com os Esportes, um projeto esportivo social atendendo a uma comunidade carente do entorno das instalações do Campus II, das Faculdades Integradas Módulo, no período de 2003 e 2004, aos sábados no horário das 9:00 as 12:00 h. O projeto foi realizado num espaço constituído por três quadras, onde aplicávamos aulas de basquete, futebol e vôlei. Contávamos com um farto material específico de cada modalidade, além de materiais alternativos. Cada modalidade desenvolvida era composta por 20 alunos em média, divididos em 2 grupos, de acordo com a faixa etária que variava de 7 a 9 anos e de 10 a 13 anos. Os grupos eram divididos por faixas etárias para que suas características de desenvolvimento fossem respeitadas. O planejamento das aulas era feito pelos monitores do projeto, juntamente com o coordenador do projeto, João Fernando Lopes, então aluno do 4º.ano do curso de

Educação Física. As aulas eram planejadas conforme as perspectivas do transfert, proposta na teoria de Bayer (1994) sobre o ensino dos esportes coletivos, sendo assim elas eram divididas por habilidades específicas de cada esporte as quais também poderiam ser utilizadas em outras modalidades esportivas. Em cada dia de aula eram trabalhadas algumas habilidades por meio de brincadeiras (lembrando sempre que o grupo era formado por crianças), trazidas de situações do próprio esporte. Além do planejamento em grupo, da discussão com os alunos participantes do projeto, no grupo de estudos a ação dos pesquisadores era confrontada com os conhecimentos teóricos da proposta de ensino do autor citado acima. Exemplo de uma aula Tema: futebol Objetivo da aula: desenvolver, o controle de corpo, o passe e o drible. Atividades: pega-rabo, passa 10, bola torre e coletivo. No começo de cada aula conversávamos com as crianças (conversa inicial), quando perguntávamos como havia sido a semana delas e como os alunos haviam se alimentado antes de ali chegarem, afinal estávamos lidando com crianças provenientes de famílias carentes financeiramente. Antes de terminarmos essa conversa explicávamos como seria a aula e pedíamos sugestões de atividades, fazendo com que os alunos tivessem uma maior interação nas aulas podendo assim, sair da posição de meros espectadores e passando a participantes ativos da construção da aula (OLIVEIRA, 2002). Uma das atividades era o pega-pega com rabo. Nós, monitores, levávamos para a aula papel crepom cortado em tiras, e o objetivo desta brincadeira é pegar o rabo do amigo e proteger seu próprio rabo. Nessa atividade trabalha-se: corrida rápida, parada brusca e mudança de direção (controle de corpo), e, dessa forma, iniciávamos o desenvolvimento das habilidades antes definidas a serem trabalhadas naquele dia, por meio de uma brincadeira. Para desenvolvermos o passe e o drible em algumas aulas, as atividades escolhidas foram o passa 10 e a bola-torre. No passa 10 os alunos deveriam ser divididos em duas equipes, sendo que o objetivo deles era trocar 10 passes consecutivos sem a interceptação da equipe adversária, marcando desse modo um ponto. Não existia alvo, ou melhor, o alvo seria a realização de 10 trocas de passe. Na outra atividade, a bola-torre, em duplas, os alunos jogando uns contra os outros, deviam desenvolver o drible e marcar o ponto em local previamente determinado pelo grupo como um gol adaptado ou derrubar cones espalhados pela quadra. Após essas duas atividades trabalhávamos o jogo de futebol com algumas regras oficiais, mas com a maioria delas adaptadas para que as crianças conseguissem compreendê-las e jogar. As próprias crianças alteravam as regras sempre que interrompíamos o jogo para discutir se o mesmo precisava de alguma modificação. No início do projeto, no entanto, as crianças dificilmente opinavam quando questionadas, demonstrando acomodação e/ou medo de falar algo que não fosse aceito pelo professor e colegas. Mas, com o decorrer do mesmo, elas aprenderam que podiam e deviam opinar e, assim, construí o jogo que queriam jogar. Por meio dessas intervenções durante as atividades e jogos pudemos perceber que se o aluno entende o passe e o drible com seus momentos e porquês, ele seria capaz de transferir essa aprendizagem do futebol para outro esporte coletivo, como o basquete e o handebol. Foi possível constatarmos essa transferência quando propúnhamos jogos com a mesma semelhança estrutural, modificando apenas os alvos. Nós utilizávamos esses tipos de brincadeiras para que os alunos pudessem, por meio delas, vivenciarem as habilidades do jogo e ao mesmo tempo brincarem, pois é mais fácil ensinar crianças com aquilo que elas mais gostam e sabem fazer, brincar (FREIRE, 1989).

Ao final de cada aula conversávamos sobre todo o conteúdo desenvolvido na aula, discutíamos a importância da cooperação, espírito de equipe e respeito mútuo. As atividades eram as mesmas para as duas categorias divididas conforme as faixas etárias, só que para as crianças mais novas os materiais eram modificados, as bolas eram mais leves; a rede de vôlei, mais baixa; os gols diminuídos; pois estas não têm a mesma força física e altura que as crianças mais velhas. No entanto, as crianças mais velhas também jogavam com materiais não oficiais, ou alternativos, para que suas aprendizagens pudessem ser mais enriquecedoras. RESULTADOS E CONCLUSÕES De acordo com os objetivos propostos no projeto podemos apontar que os alunos participaram das aulas não só executando as atividades propostas, mas dando sugestões para alterações quando essas se faziam necessárias, discutindo as atividades tanto em seus aspectos técnicos e táticos, quanto na sua importância para a aprendizagem dos mesmos das modalidades esportivas e na sua vida social. Quanto à transferência de aprendizagem pudemos observar que os alunos tiveram facilidade de transferir conhecimentos técnicos e táticos por meio das atividades propostas que mantinham semelhanças estruturais (as invariantes) e operacionais (princípios operacionais). Por conta dessas semelhanças os alunos puderam também desenvolver suas regras de ação (inteligência tática individual) durante a participação e observação das atividades. Como não tínhamos objetivo de especializar nenhum aluno em nenhum esporte e sim possibilitar um conhecimento abrangente em relação aos mesmos, partindo de um esporte determinado, também pudemos observar que os alunos aprenderam, no período do desenvolvimento do projeto, a jogar o esporte principal, mas com facilidade de jogar qualquer outro esporte estruturalmente semelhante a este. Isto indica que, por meio de jogos e brincadeiras com estruturas semelhantes ao das modalidades esportivas coletivas, os alunos podem aprender diferentes esportes coletivos ao mesmo tempo, através da aprendizagem das habilidades e estratégias de jogo, as quais são passíveis de transferência. Para que isso ocorra o professor deve respeitar as etapas de desenvolvimento dos alunos e levar os mesmos a solucionar problemas, nos quais as respostas sejam desejáveis, evitando situações sempre repetitivas. Essa proposta de ensino apresentada por Bayer (1994), a Pedagogia das Intenções, incentiva que as crianças não deixem de consumir o esporte enquanto praticante ou espectador, principalmente a partir da vida adulta, mas que o façam como serem autônomos. Com o fim do projeto, por dificuldade de disponibilidade de tempo dos monitores, ficamos tranqüilos quanto ao interesse e compreensão das crianças do esporte ensinado, por entendermos que eles seriam capazes de continuar a praticá-lo de modo prazeroso e sem, obrigatoriamente, a presença de um professor para que todos pudessem participar. Além disso, essa foi uma experiência muito rica e prazerosa, pois contribuiu com a nossa formação acadêmica, uma vez que, ao lidarmos com uma situação real pudemos compreender melhor a proposta de ensino desenvolvida por Bayer (1994) sobre a transferência de aprendizagem nos esportes coletivos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAYER, C. O ensino dos esportes coletivos. Lisboa: Dinalivros, 1994. BRACHT, V. A criança que pratica esporte respeita as regras do jogo... capitalista. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 7, n. 2, p. 62-68, 1986. FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1989. SCAGLIA, A. J. O futebol e os jogos/brincadeiras de bola com os pés. 2003. Tese (doutorado). Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. OLIVEIRA, D. T. R. Por uma ressignificação crítica do esporte na Educação Física: uma intervenção na escola pública. 2002. Dissertação (mestrado) Faculdade de Educação Física Universidade Estadual de Campinas, Campinas. THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 9ª. Ed. São Paulo: Cortez, Autores Associados, 200.