MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL. Subsídios 2014 ao Plano Siderurgia do MDIC (estudo) VERSÃO PRELIMINAR DO ESTUDO



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Transcrição:

MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL Subsídios 2014 ao Plano Siderurgia do MDIC (estudo) VERSÃO PRELIMINAR DO ESTUDO Brasília, Junho 2014 1

CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) Presidente Mariano Francisco Laplane Diretor Executivo Marcio de Miranda Santos Diretores Antonio Carlos Filgueira Galvão Gerson Gomes Subsídios 2014 ao Plano-Siderurgia do MDIC: Modernização da produção de carvão vegetal. Contrato Administrativo CGEE/MDIC 49/2013. Brasília: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2014. (Produto: Versão Preliminar do Estudo). 99 p. 1. Carvão vegetal. 2. Carbonização da madeira. 3. Ferro gusa. I. CGEE. II. Título. Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) SCS Qd 9, Lote C, Torre C Ed. Parque Cidade Corporate - salas 401 a 405 70308-200 - Brasília, DF Telefone: (61) 3424.9600 Fax. (61) 3424 9659 http://www.cgee.org.br Este relatório é parte integrante das atividades desenvolvidas no âmbito do Contrato Administrativo CGEE/MDIC 49/2013/Ação: Subsídios para Revisão do Plano Siderurgia (Carvão Vegetal) - 29.1.1. Todos os direitos reservados pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Os textos contidos neste relatório NÃO poderão ser reproduzidos, armazenados ou transmitidos. 2

MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL Subsídios 2014 ao Plano Siderurgia do MDIC (Estudo) Versão Preliminar do Estudo Especialista relator Túlio Jardim Raad Especialistas autores de notas técnicas Boaventura Mendonça d Ávila Filho José Batuíra de Assis José Otávio Brito Maria Emília Antunes Rezende Nehemias Lima Lacerda Sergio Wilibaldo Garcia Scherer Túlio Jardim Raad Vamberto Ferreira de Melo Equipe Técnica do CGEE Elyas Ferreira de Medeiros (Liderança do Estudo) Cristiano Hugo Cagnin (Apoio Metodológico) Marina Brasil (Apoio Administrativo) 3

SUMÁRIO MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL Versão preliminar do estudo Resumo Executivo... 7 Capítulo I... 13 Situação atual da siderurgia a carvão vegetal e cenários para 2020... 13 1.1 Situação atual da produção de ferro gusa a carvão vegetal e projeção para 2020... 13 1.2 Situação atual da floresta plantada para suprimento da produção de carvão vegetal e projeção para 2020... 15 1.2.1 Teoria da eficiência da conversão de madeira em carvão vegetal... 15 1.2.2 Mapeamento da eficiência RG atual e projeção para 2020... 17 1.2.3 Estoque florestal atual e necessidade de suprimento até 2020... 21 1.3 Tecnologias atuais no Brasil para produção de carvão vegetal... 25 1.3.1 Fornos de Alvenaria: situação atual e incrementos tecnológicos para 2020... 25 1.3.2 - Retorta de Carbonização Contínua... 27 1.3.3 Fornos Bricarbrás... 29 1.3.4 - Tecnologia DPC (Drying, Pyrolisis, Cooling)... 31 1.3.5 - Tecnologia ONDATEC (fornos de carbonização por micro-ondas)... 33 1.4 Avaliação qualitativa das tecnologias de produção de carvão vegetal... 34 1.5 Avaliação do custo do carvão vegetal em função das tecnologias de produção de carvão vegetal... 36 1.5.1 Premissas técnicas do estudo econômico [10]... 36 1.5.2 Composição dos custos unitários de produção do carvão vegetal por tecnologia [10]... 38 4

1.6 Situação atual dos financiamentos disponíveis no mercado para modernização da produção do carvão vegetal... 48 Capítulo II... 50 Avaliação dos obstáculos à implantação de metas voluntárias de redução de emissões do Plano Siderurgia na sua atual formatação.... 50 2.1 Síntese do Plano de Siderurgia... 50 2.1.1 - OBJETIVO 1 - Promover a redução das emissões de CO 2... 51 2.1.2 - OBJETIVO 2 Evitar desmatamento de mata nativa... 52 2.1.3 - OBJETIVO 3 Incrementar a competividade brasileira da indústria de ferro e aço no contexto da economia de baixo carbono... 53 2.2 Obstáculos para se obter a redução das emissões de GEE... 55 2.2.1 Ausência de ferramentas de gerenciamento e controle de processo de carbonização da madeira para aumento da eficiência... 55 2.2.2 Ausência de planos para treinamento de equipe de produção de carvão vegetal com foco na melhoria de eficiência... 58 2.2.3 Gargalos tecnológicos para validação da queima de fumaças e gases de GEE produzidas na carbonização... 59 2.3 Obstáculos para evitar desmatamento de floresta nativa... 64 2.4 Obstáculos para incrementar a competividade brasileira da indústria de ferro e aço no contexto das economias de baixo carbono... 66 Capítulo III... 68 Mapeamento das iniciativas em curso no setor para promoção da sustentabilidade da produção de ferro-gusa a carvão vegetal... 68 3.1 Redução das emissões de GEE via melhoria da eficiência - RG... 68 3.1.1 Ferramentas de gerenciamento e controle do processo de carbonização da madeira para aumento da eficiência... 68 3.1.2 Desenvolvimento atual de queimadores de fumaças da carbonização da madeira... 70 3.1.3 Desenvolvimento de Secadores de Madeira... 72 3.2 Medidas em curso para evitar desmatamento de floresta nativa... 74 5

3.3 Incrementar a competividade brasileira da indústria de ferro e aço no contexto das economias de baixo carbono... 75 3.3.1 Tecnologias modernas de carbonização - avanços... 75 3.3.2 Iniciativas do governo e sociedade civil... 77 Capítulo IV... 79 Recomendações para implantação do Plano Siderurgia... 79 4.1 Redução das emissões de GEE via melhoria da eficiência RG e queima das fumaças... 79 4.1.1 Criação de linhas de financiamento a baixo custo para implantação de balanças nas unidades de produção de carvão vegetal para cálculo do rendimento gravimétrico... 79 4.1.2 Implantação de ferramentas de controle do processo de carbonização da madeira para aumento de eficiência... 82 4.1.3 Implantação de planos para treinamento de equipe de produção de carvão vegetal visando melhoria de eficiência... 85 4.1.4 Criação de linhas específicas de financiamento de baixo custo para desenvolvimento atual de queimadores de fumaças da carbonização... 86 4.2 Evitar desmatamento de floresta nativa... 87 4.3 Incrementar a competividade brasileira da indústria do ferro e aço no contexto das economias de baixo carbono... 89 4.3.1 Criação de linhas específicas de financiamento de baixo custo para desenvolvimento secadores de madeira... 89 4.3.2 Criação de linhas específicas de financiamento de baixo custo para implantação de unidades industriais de tecnologias modernas de carbonização validação do custo benefício.... 90 Referências... 91 Lista de Figuras e Gráficos... 95 Lista de Tabelas... 96 Lista de Siglas... 98 6

Resumo Executivo A indústria siderúrgica brasileira produziu em média no período de 2003 a 2012 32,5 milhões de toneladas anuais de ferro gusa, sendo 9,5 milhões obtidos a partir do carvão vegetal como insumo para a termo-redução do minério de ferro (média de 29% de participação em relação ao coque), representando um consumo médio anual de 6,9 milhões de toneladas. Neste período, as florestas plantadas e nativas participaram respectivamente com 57% e 43%. Conforme dados estatísticos publicados pelo IBGE e ABRAF associados com metodologias de projetos de crédito de carbono de grandes produtoras florestais do setor, chegou-se a uma estimativa nacional de 26% de eficiência de transformação (processo de carbonização) da madeira anidra (massa de madeira na base seca) em carvão vegetal. Isto significa que, para a produção de 1 tonelada de carvão vegetal, foram necessárias 3,85 toneladas de madeira. Nesta conversão, denominada como RG Rendimento Gravimétrico, foram utilizados em média 26,5 milhões de toneladas de madeira por ano (15,1 Mt. de florestas plantadas e 11,4 Mt. de florestas nativas) para suprir o setor de ferro gusa a carvão vegetal no Brasil. Com relação às emissões dos gases do efeito estufa (GEE), sustentado por metodologia aprovada do MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) que calcula as emissões do gás metano durante o processo de carbonização da madeira, para esta eficiência de 26%, 78 kg de gás metano (CH 4 ) por tonelada de carvão vegetal são lançados na atmosfera pela tecnologia atual de produção (fornos de alvenaria). Considerando que 1 kg de CH 4 corresponde a 21 kg de dióxido de carbono (CO 2 ) em termos de GEE, estima-se portanto que, na produção dos 6,9 milhões de toneladas de carvão vegetal, emitiu-se 11,3 milhões de toneladas de CO 2 equivalentes por ano. Todo este panorama acima descrito motivou o lançamento em 2010 do Plano Setorial de Redução de Emissões da Siderurgia a carvão vegetal (Plano Siderurgia) com três principais objetivos: (i) promover a redução das emissões; (ii) evitar o desmatamento da floresta nativa; e (iii) incrementar a competitividade brasileira da indústria de ferro e aço no contexto da economia de baixo carbono. O presente estudo visa a atualização do Plano Siderurgia em atendimento ao Decreto n o 7390, de 9 de dezembro de 2010, que determina a revisão periódica dos 7

planos setoriais a cada 2 anos. Tendo sido iniciado em 2013, na presente revisão verificou-se que os significativos impactos da crise econômica de 2008/09 sobre a indústria siderúrgica e o setor de produção independente de ferro-gusa no Brasil obrigam ajuste nas projeções do Plano Siderurgia para o período até 2020. A partir desta revisão dois cenários foram traçados para a produção de ferro gusa a carvão vegetal: Cenário 1, considerando um crescimento linear anual de 5%, e um Cenário 2 com um modelo de crescimento não linear obtendo uma média anual de 9,6% até 2020. A partir destas novas previsões e aliados às iniciativas em curso pelos diversos atores da sociedade visando o atingimento da sustentabilidade social, ambiental e econômica do setor, chegou-se aos seguintes resultados e considerações: Projeção de produção de ferro gusa a carvão vegetal até 2020 Cenário * 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 1 8,2 8,6 9,0 9,5 10,0 10,5 11,0 2 9,0 10,3 10,9 11,7 12,3 13,6 14,8 * em milhões de toneladas Projeção de produção de carvão vegetal até 2020 Cenário * 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 1 6,1 6,3 6,4 6,6 6,8 7,0 7,4 2 6,7 7,5 7,8 8,1 8,4 9,2 9,9 * em milhões de toneladas Projeção da necessidade de madeira de florestas plantadas até 2020 Cenário * 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 1 30,2 33,2 36,3 38,1 39,6 41,2 43,0 2 30,2 33,2 36,3 38,1 39,6 41,2 43,0 * em milhões de metros cúbicos Projeção da necessidade de madeira de florestas nativas até 2020 Cenário * 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 1 10,6 8,4 4,8 2,7 1,4 0,6 0,2 2 14,1 15,4 11,9 10,3 9,0 10,3 11,8 * em milhões de metros cúbicos Participação relativa de florestas plantadas x nativas na produção do carvão vegetal até 2020 Cenário 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 1 25,9% 20,1% 11,7% 6,5% 3,4% 1,3% 0,5% 2 31,8% 31,7% 24,7% 21,3% 18,4% 20,0% 21,6% Para o atingimento das metas dos cenários traçados três parâmetros de melhoria de processo foram utilizados: 8

1 Melhoria da produtividade das florestas plantadas Neste parâmetro, conforme dados estatísticos, 40% das florestas plantadas já atingiram de forma estável uma produtividade média de 40 m 3 /ha.ano, enquanto que 60% se encontra no patamar médio de 25 m 3 /ha.ano. Para o período de 2014 a 2020 e um ciclo de colheita de 7 anos, o presente estudo projetou uma melhoria gradual da produtividade desta parcela de 60% até o atingimento de uma média de 40 m 3 /ha.ano, considerando-se que as melhores práticas de plantios de clones de alta produtividade já têm sido aplicadas no mínimo há 7 anos atrás. 2 Melhoria da eficiência da conversão da madeira em carvão vegetal no processo de carbonização As melhores práticas da produção de carvão vegetal no Brasil já utilizam sistemas de controle de processo que associam as características da matéria prima, as condições de suprimento de energia do sistema (via medições de temperatura) e o resultado de rendimento e qualidade do carvão vegetal produzido. Várias empresas do setor já vêm obtendo, de forma estável, entre 32% e 35% de rendimento gravimétrico. Entretanto, estimou-se que atualmente apenas 20% da produção nacional é feita desta forma, sendo considerado 100% praticado pelas usinas integradas e parcialmente pelas produtoras independentes. Para o período de 2014 a 2020, projetou-se uma melhoria gradativa da média do RG saindo dos valores de base atual das usinas integradas (RG=32%) e demais produtores (RG=26%) para um patamar de média nacional de 34% em 2020. 3 Redução do consumo específico de carvão vegetal na produção do ferro gusa Com a gradual melhoria de eficiência da conversão de madeira em carvão vegetal vem também associada a melhoria da qualidade do carvão vegetal produzido, uma vez que os controles de processo deverão necessariamente visar ao atendimento das especificações técnicas exigidas pelo mercado consumidor. Com isto, ocorre como consequência uma redução dos consumos específicos de carvão vegetal na produção do ferro gusa. A projeção do período de 2014 a 2020 também foi feita de forma gradual, com redução estimada em 10%, saindo da média nacional atual de consumo de 740 kg para 670 kg de carvão vegetal por tonelada de ferro gusa produzido. 9

O atingimento das metas estabelecidas no presente estudo irá representar: 1 Redução dos gases do efeito estufa - GEE O potencial de redução de emissão de GEE, em especial o gás metano, pelo aumento do rendimento gravimétrico de 26% para 34% representa 1 t.co 2 eq./1 t. carvão vegetal. Assim, nas projeções dos Cenários 1 e 2, a redução potencial total poderá chegar em 2020 a 7,4 e/ou 10 milhões de toneladas anuais de CO 2 eq., respectivamente. As reduções de emissões via queima das fumaças da carbonização da madeira não puderam ser ainda consideradas nas projeções para o período até 2020 devido aos diversos obstáculos tecnológicos e financeiros atuais enfrentados pelo setor produtivo de carvão vegetal. O presente estudo apresentou soluções ainda em desenvolvimento que precisarão de um ciclo maior de tempo para serem implantadas em escala nacional. 2 Redução do consumo de florestas nativas Com os ganhos combinados de aumento da produtividade das florestas plantadas, melhoria de eficiência da carbonização da madeira e da qualidade do carvão produzido, estimou-se que para o Cenário 1 existe um potencial de quase eliminação das necessidades de uso das florestas nativas, enquanto que para o Cenário 2, para isto ocorrer, será necessário iniciar de imediato um plantio adicional de 300 mil hectares anuais. Em ambos os cenários, considerou-se que as siderúrgicas integradas estão preparadas para atender seus planos estratégicos de aumento de produção quanto às necessidades de carvão vegetal e plantios correspondentes. 3 Ganho potencial de competitividade do ferro gusa a carvão vegetal Com os ganhos combinados de melhoria de eficiência da carbonização da madeira e da qualidade do carvão vegetal produzido, estimou-se uma redução de 13% no custo de produção do ferro gusa, o que, nas bases utilizadas no presente estudo, chegou-se a R$113/t.gusa. Desta forma, para as projeções da produção de ferro gusa nos cenários 1 e 2, os ganhos financeiros pela redução de custo teriam um potencial em 2020 de 1,2 a 1,7 bilhões de reais por ano para o setor siderúrgico a carvão vegetal. 10

Como diretrizes para realização dos objetivos traçados pela revisão do Plano Siderurgia, foram estabelecidos sete planos de ação (PDA) que deverão ter a participação conjunta entre as empresas produtoras de carvão vegetal, integradas e independentes, governo, associações do setor siderúrgico e florestal, instituições financeiras e meio acadêmico, sintetizados como segue: 1 - Redução das emissões de GEE via melhoria da eficiência RG e queima das fumaças PDA 01 - Criação de linhas de financiamento a baixo custo para implantação de balanças nas unidades de produção de carvão vegetal para cálculo do rendimento gravimétrico PDA 02 - Implantação de ferramentas de controle do processo de carbonização da madeira para aumento de eficiência PDA 03 - Implantação de planos para treinamento de equipe de produção de carvão vegetal visando melhoria de eficiência PDA 04 - Criação de linhas específicas de financiamento de baixo custo para desenvolvimento atual de queimadores de fumaças da carbonização 2 Evitar desmatamento de floresta nativa PDA 05 - Mapeamento de estoque de florestas plantadas como possibilidade de uso para carvão vegetal estudo de incentivo para o setor formação de cooperativas ou associações regionais Identificar potenciais de melhoria dos plantios para garantir melhores produtividades na colheita. 3 - Incrementar a competividade brasileira da indústria do ferro e aço no contexto das economias de baixo carbono PDA 06 - Criação de linhas específicas de financiamento de baixo custo para desenvolvimento secadores de madeira PDA 07 - Criação de linhas específicas de financiamento de baixo custo para implantação de unidades industriais de tecnologias inovadoras do processo de carbonização validação do custo benefício. 11

No presente estudo foi apresentado o estado da arte da produção de carvão vegetal para uso siderúrgico no Brasil, com diversos resultados de melhorias conquistadas nas últimas décadas, mas que ainda ocupam uma parcela pequena da produção nacional, sendo 40% para as melhorias de produtividade nos plantios e 20% na melhoria da eficiência de conversão da madeira em carvão vegetal. Apesar de parecer pouco, estes números mostram casos de sucesso que poderão ser clonados em larga escala e com isto reduzir os riscos da desafiante tarefa de levar a indústria siderúrgica a carvão vegetal a um novo patamar de desenvolvimento, de baixa emissão de GEE e modernização. Aliados a isto e de extrema importância existem hoje no Brasil tecnologias de carbonização inovadoras e amadurecidas em sua fase de desenvolvimento (casos como a DPC e ONDATEC) que precisam avançar para a fase de maturação em escala mínima industrial, condição indispensável para se colocar, em um médio prazo, como alternativa viável para o setor siderúrgico a carvão vegetal. 12

Capítulo I Situação atual da siderurgia a carvão vegetal e cenários para 2020 1.1 Situação atual da produção de ferro gusa a carvão vegetal e projeção para 2020 A indústria siderúrgica brasileira, com destaque para as produtoras de ferro gusa, atua há mais de um século e, por várias décadas, o coque produzido do carvão mineral foi unânime como fonte termo redutora dos altos fornos. O carvão vegetal só começou a ser substituído em larga escala a partir de 1970, devido a fatores como incentivos governamentais para reflorestamento sustentável e forte aumento de custos de importação do coque e do carvão mineral. Nas últimas três décadas o uso do carvão vegetal flutuou entre 25% e 35%, atendendo em parte às indústrias integradas e praticamente a totalidade das produtoras independentes. Isto representou uma média de consumo em torno de 7 milhões de toneladas anuais nos últimos dez anos, para uma média de 9,5 milhões de toneladas de ferro gusa produzido (consumo específico médio de 740 kg cv/t.gusa), figura 1 [1]. Figura 1 Evolução da produção de ferro gusa a carvão vegetal no Brasil [1] 13

Conforme estudos das projeções de produção de gusa a carvão vegetal para 2020, valores mais otimistas levaram os atuais 7,8 milhões de toneladas em 2013 para 14,8 milhões de toneladas em 2020 [2], enquanto que para valores mais conservadores, onde utilizou-se um crescimento linear de 5% a.a., chegou-se a 11,0 milhões de toneladas em 2020 [3]. Tabela 1 Projeções para produção de ferro gusa a carvão vegetal, em milhões de toneladas [2,3] Anos Siderúrgicas Cativas Setor Independente Mercado Interno Exportação Total Total Geral [2] 2001 1,3 2,4 4,1 6,5 7,8 2002 1,3 2,4 4,4 6,8 8,1 2003 1,3 3,3 4,8 8,1 9,4 2004 1,4 3,9 6,2 10,1 11,5 2005 1,6 2,7 7,1 9,8 11,4 2006 1,7 3,2 6,3 9,5 11,2 2007 2,0 3,7 6,0 9,7 11,7 2008 2,1 2,3 6,3 8,6 10,7 2009 1,9 1,2 3,2 4,4 6,3 2010 2,1 2,7 2,3 5,0 7,1 2011 2,3 2,6 3,2 5,8 8,1 2012 2,2 2,9 3,0 5,9 8,1 2013 2,3 2,8 2,7 5,5 7,8 Projeção 5%a.a. [3] 2014 2,5 3,0 3,5 6,5 9,0 8,2 2015 2,8 3,7 3,8 7,5 10,3 8,6 2016 3,2 3,7 4,0 7,7 10,9 9,0 2017 3,3 4,1 4,3 8,4 11,7 9,5 2018 3,3 4,5 4,5 9,0 12,3 10,0 2019 3,3 4,9 5,4 10,3 13,6 10,5 2020 3,3 5,2 6,3 11,5 14,8 11,0 Figura 2 Projeção da produção de ferro gusa a carvão vegetal no Brasil [2,3] 14

1.2 Situação atual da floresta plantada para suprimento da produção de carvão vegetal e projeção para 2020 Considerando-se as duas projeções da produção de ferro gusa de 2014 a 2020 [2,3] e utilizando-se um consumo específico de carvão vegetal por tonelada de gusa de 740 kg/t., o cálculo equivalente para o suprimento de carvão vegetal atinge em 2020 os seguintes valores: mínimo de 8 milhões de toneladas e máximo de 11 milhões anuais. Para se quantificar a floresta necessária para abastecer estas produções, as seguintes análises foram estabelecidas: 1.2.1 Teoria da eficiência da conversão de madeira em carvão vegetal Para dimensionar a necessidade de florestas plantadas e nativas (manejo sustentado, resíduos e expansão agrícola), é preciso entender a relação da eficiência de conversão de madeira em carvão vegetal, o chamado RG (rendimento gravimétrico: kg de carvão/kg de madeira base seca), e as diferentes qualidades químicas e físicas da floresta utilizada conforme o fenômeno vai ocorrendo. A madeira quando submetida à uma fonte de calor (energia térmica) passa pelos processos de secagem e carbonização dos seus principais componentes: hemicelulose, celulose e lignina. Devido às suas diferentes composições químicas e estruturais, estes componentes apresentam diferentes rendimentos gravimétricos em função das temperaturas a que são submetidos, figura 3: Figura 3 Eficiência da carbonização da madeira RG dos componentes (kg/kg) [4] 15

A medida que a madeira vai se decompondo e gerando as fumaças da carbonização, o carvão vai se formando pela concentração do carbono, que no seu valor elementar começa com 50% da madeira, volatiliza parte com o oxigênio e hidrogênio e, o que se fixa, alcança a concentração demandada pelos altos fornos em torno de 75% (±2%), quando atinge temperaturas entre 350 e 380 o C. Além da temperatura, o rendimento final depende das frações mássicas de cada componente: as hemiceluloses apresentam baixa eficiência (RG = 10 a 15%), a celulose média eficiência (RG = 25 a 30%) e a lignina alta eficiência (RG = 60 a 85%). A tabela 2 apresenta o valor do rendimento possível, variando o percentual dos componentes em função da espécie de eucalipto, dos híbridos clonais e dos clones hoje em desenvolvimento pelas empresas florestais do Brasil: Tabela 2 Projeções da eficiência de conversão dos componentes da madeira em carvão vegetal [4] Espécie Hemiceluloses Celulose Lignina + Extrativos Fração kg/kg 0,10 0,25 0,75 Rendimento Gravimétrico Eucalyptus grandis Híbrido Urograndis Clone de Eucalipto 28% 50% 22% 32% 26% 45% 29% 36% 22% 42% 36% 40% Como pode ser observado na tabela 2, a espécie pode impactar de forma significativa no resultado final da produção do carvão vegetal: do Eucalyptus grandis, muito utilizado pelas indústrias de papel e celulose, aos Clones provenientes de melhoramento genético desenvolvido pelas empresas florestais, o aumento da eficiência pode significar produzir 25% a mais de carvão vegetal com a mesma massa de madeira. Além da espécie e da temperatura de carbonização outro fator importante para a obtenção da eficiência RG é o tipo de tecnologia adotada para carbonizar a madeira: Em fornos de alvenaria a energia do processo é obtida via processo de combustão interna, que utiliza parte das fumaças e parte da madeira enfornada. Um estudo de balanço energético da carbonização em fornos de alvenaria apresentou uma variação de 31 a 35% de eficiência máxima RG, dependendo do tamanho, formato e formas construtivas (espessura de paredes, rebocos, etc...), que impactam em perdas no resultado final da rendimento [5]; 16

Em fornos de tecnologia que utiliza energia 100% proveniente da queima das fumaças da carbonização ou 100% de energia elétrica (micro-ondas), os valores de eficiência RG podem se aproximar dos valores teóricos apresentados na tabela 2. 1.2.2 Mapeamento da eficiência RG atual e projeção para 2020 Rendimento Gravimétrico atual da Produção de Carvão Vegetal no Brasil Tradicionalmente, a indústria produtora de carvão vegetal no Brasil utiliza o indicador de eficiência volumétrica, ou seja, a conversão do volume de madeira enfornada em volume de carvão produzido. Infelizmente este indicador apresenta um alto grau de incerteza. Para exemplificar: Tabela 3 Comparação de indicador de eficiência volumétrica x mesmo RG Forno Volume (m 3 ) Diâmetro (cm) Peso (t) Rendimento (%) Massa Carvão (t) Densidade (t/m3) Volume Carvão (m3) Rendimento Volumétrico 1 100 15 38 35% 13,3 0,24 55,42 1,80 2 100 8 33 35% 11,6 0,24 48,13 2,08 Diferença % 15% No exemplo, tabela 3, dois fornos de volume igual a 100 m 3 foram carregados com a mesma espécie de madeira, diferindo apenas no diâmetro médio enfornado. Sabe-se que quanto maior o diâmetro empilhado, menor os espaços vazios entre as toras. Como o volume é o mesmo, mas as densidades a granel são diferentes (peso da madeira empilhada) tem-se maior massa (38 t x 33 t). O processo de carbonização nos dois fornos foi conduzido de modo a atingirem o mesmo rendimento gravimétrico (RG = 35%). Porém o rendimento volumétrico do segundo forno ficou 15% pior que o do primeiro forno (1,80 x 2,08 m 3 madeira empilhada/m 3 carvão vegetal). Do ponto de vista gerencial, observando apenas o rendimento volumétrico, a empresa pode tirar como conclusão que gastou mais madeira (em volume) de um processo para o outro, o que é uma conclusão totalmente errônea. Claramente percebe-se que este indicador não representa a realidade do que foi o processo. Além do diâmetro, outros parâmetros influenciam no indicador volumétrico como por exemplo o comprimento, a conicidade e a tortuosidade das toras de 17

madeira, a diferença entre a massa específica, os componentes da madeira, a forma de empilhamento em pé ou deitada, a carga se mecanizada ou manual. Levantamentos de rendimentos da conversão da madeira em carvão vegetal feitos por siderúrgicas integradas e produtoras independentes, denominado rendimento gravimétrico de linha de base (madeira e carvão na base seca), apontaram para resultados na faixa entre 24% e 29%. Estes valores estão evidenciados em projetos de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) aprovados pela UNFCCC (United Nations Framework Convention on Climage Change) das empresas Plantar e Queiroz Galvão e em relatórios disponibilizados por algumas empresas produtoras independentes de ferro gusa [5]. Apesar da grande maioria das empresas produtoras de carvão no Brasil não medir o rendimento gravimétrico, dados de relatórios estatísticos florestais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) [7] sobre o consumo de madeira e de produção de carvão vegetal publicados pela ABRAF (Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas) [8] oriundo de florestas plantadas foram utilizados no presente estudo para o cálculo estimado do rendimento gravimétrico atual. Tabela 4 Madeira de Floresta Plantada usada para produção de Carvão Vegetal no Brasil (milhões) [7] Ano 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Mm 3 20,2 20,9 30,4 31,8 27,0 27,6 33,0 40,8 Mt 10,1 10,4 15,2 15,9 13,5 13,8 16,5 20,4 Nota: Na conversão do volume de madeira em metro cúbico para massa em tonelada foi utilizada a densidade de 500 kg/m 3 [9] Figura 4 Carvão vegetal produzido de madeira nativa x florestas plantadas [10] 18

No período de 2005 a 2012 foram utilizados 232 milhões de metros cúbicos [7], ou o equivalente a 116 milhões de toneladas de madeira proveniente de florestas plantadas para produzir 30 milhões de toneladas de carvão vegetal [8], o que corresponde a um rendimento gravimétrico médio neste período igual a 26%. Para o cálculo do rendimento gravimétrico anual o correto seria ter o balanço de estoque de madeira no início e no final de cada ano. Assim, utilizando-se o rendimento médio obtido igual a 26% nos anos do período avaliado, o carvão anual produzido e a madeira carbonizada correspondente, pode-se calcular teoricamente uma aproximação das variações anuais dos estoques, tabela 5, onde a coluna Entrada é a madeira disponibilizada no ano, a coluna Saída é a madeira carbonizada e a coluna Saldo é calculada pelo saldo do início do ano mais a diferença entre a entrada e a saída de madeira: Tabela 5 Fluxo de madeira de florestas plantadas x carvão produzido x RG Ano Entrada Saída Saldo - Estoque Estimado * Carvão Produzido Rendimento Gravimétrico 2004 10,4 2005 4,7 10,1 4,9 4,0 26% 2006 6,3 10,4 0,8 3,8 26% 2007 14,9 15,2 0,5 4,0 26% 2008 17,7 15,9 2,4 3,6 26% 2009 15,5 13,5 4,4 3,0 26% 2010 13,5 13,8 4,1 3,6 26% 2011 17,6 16,5 5,2 4,0 26% 2012 25,6 20,4 10,4 3,9 26% Total 115,9 115,9 30,0 26% Nota 1: no cálculo do RG média nacional utilizou-se o carvão na base úmida Nota 2: * O estoque estimado é útil na presente análise para verificar consistência de dados. Valores negativos de estoque indicam inconsistências. O resultado de RG = 26%, obtido dos dados estatísticos publicados, está consistente com a mediana da faixa dos rendimentos gravimétricos obtidos segundo a metodologia do MDL, que variaram de 24% a 29%, (RG da mediana = 26,5%). Desta forma o valor de RG = 26% foi adotado no presente estudo como situação atual de eficiência do processo de carbonização da madeira de floresta plantada no Brasil. 19

Projeção do Rendimento Gravimétrico da Produção de Carvão Vegetal para 2020 Conforme demonstrado no item 1.2.2, a eficiência ideal do processo de carbonização para fornecimento de carvão vegetal na qualidade exigida pela siderurgia é dependente da composição química da madeira e pode variar entre 32% a 40%. O mapeamento desta característica das florestas plantadas e dos plantios atuais que são atualmente destinados à produção do carvão vegetal, deverá fazer parte de um projeto de desmembramento do Plano Siderurgia, visando quantificação do real potencial de rendimento máximo possível a ser atingido dentro do plano de modernização da produção de carvão vegetal no Brasil. Portanto, de forma conservadora, o valor adotado para o teto de eficiência RG para 2020 foi de aproximadamente 1/3 da faixa entre 32% e 40%, o que corresponde a um RG = 34%, que, se comparado com o RG base = 26%, corresponde a um aumento de 30% do potencial de produção de carvão com a mesma base florestal atual. Para a evolução anual do RG =26% em 2014 para RG = 34% em 2020, o modelo definido por uma curva sigmoidal foi adotado, fundamentado em três fases distintas apresentadas na tabela 6 e 7: Tabela 6 Projeção do rendimento gravimétrico RG de 2014 a 2020 Produtores Independentes Fase Período Descrição 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 1 2 3 2014 a 2015 2016 a 2018 2019 a 2020 Evolução gradual do RG: implantação e validação de unidades 26% 27% piloto em regiões estratégicas Evolução acelerada do RG: clonagem em larga escala das melhores 29% 31% 33% práticas aprovadas na Fase 1; Incremento gradual do RG: fase de estabilização dos ganhos em larga escala e mudança de patamar. 33,5 % 34% Para as usinas integradas o rendimento gravimétrico base divulgado pelas empresas foi em média igual a RG = 32%, [5]: Tabela 7 Projeção do rendimento gravimétrico RG de 2014 a 2020 Usinas Integradas Fase Período Descrição 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 1 2 3 2014 a 2015 2016 a 2018 2019 a 2020 Evolução gradual do RG: troca de melhores práticas entre as empresas via treinamentos de procedimentos Evolução acelerada do RG: clonagem em larga escala das melhores práticas aprovadas na Fase 1; 32,0 % 32,3 % 32,8 % 33,3 % 33,6 % Incremento gradual do RG: fase de estabilização dos ganhos em larga escala e mudança de patamar. 33,9 % 34,0 % 20

1.2.3 Estoque florestal atual e necessidade de suprimento até 2020 Mapeamento do Estoque Atual A cobertura de área do Brasil é de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, e como pode ser visto na figura 1, atualmente apenas 0,8% desta área é ocupada por florestas plantadas, que tem a agricultura e pecuária como mandatários do uso comercial da terra superando os 30% da área. Figura 5 Distribuição percentual da área de cobertura do Brasil [8] As florestas plantadas de eucaliptos e pinus no Brasil para uso comercial datam do início do século 20, porém o plantio em larga escala teve início a partir de 1949 com o eucalipto pela Cia Siderúrgica Belgo Mineira, no município de Santa Bárbara, MG, e em 1959 com o pinus no Estado de São Paulo já dentro de uma política de exploração racional de madeiras visando a preservação das matas nativas. Os plantios em larga escala no Brasil foram impulsionados a partir da década de 60 devido ao programa de incentivo fiscal aos plantios florestais associados aos grandes investimentos das industrias de celulose e papel e das siderúrgicas que usavam o carvão vegetal como termo redutor. Em 1990 a área estimada com florestas plantadas no país totalizava cerca de 6 milhões de hectares. Entretanto, durante a década de 1990 houve uma significativa redução passando em 2000 para 5,1 milhões de hectares. O principal motivo foi a conversão da terra para outros usos como agricultura e pecuária, que na época apresentava maior retorno econômico de curto prazo. Foi a partir de 2005 que as florestas plantadas saíram de um quadro de quase estagnação e passaram a um histórico crescimento médio de 4 %, saindo de 5,5 milhões de hectares (eucalipto, pinus e outras espécies) chegando em 2013 a cerca de 7,2 milhões de hectares, figura 6. 21

Área (ha milhões) 8,0 7,0 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 6,0 6,3 0,4 0,4 1,9 1,9 3,7 4,0 6,6 6,8 7,0 7,0 7,2 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 1,8 1,6 1,6 1,8 1,8 4,3 4,5 4,8 4,9 5,1 1,0 0,0 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Eucalipto Pinus Outros Area Total Figura 6 Evolução da área de florestas plantadas no Brasil fonte: ABRAF 2013 A tabela 7 apresenta a distribuição do consumo da madeira proveniente de florestas plantadas em uso industrial, uso para combustível (lenha) e uso para produção de carvão vegetal. Também apresenta a evolução das áreas plantadas e respectivas produtividades das empresas associadas à ABRAF, que já atingiram um patamar de 40 m 3 /ha.ano e que inclui todas as siderúrgicas integradas, e de 25 m 3 /ha.ano das empresas não associadas, que inclui a maioria das empresas produtoras independentes de carvão vegetal. Tabela 8 Madeira consumida, área de florestas plantadas e respectivas produtividades Item Unidade 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Madeira uso Industrial 1 Volume (m 3 milhões) 101 105 101 107 116 126 132 Madeira para combustível 1 Volume (m 3 milhões) 36 39 42 41 48 52 57 Madeira carvão vegetal 1 Volume (m 3 milhões) 21 30 32 27 28 33 41 Madeira Total Consumida 1 Volume (m 3 milhões) 158 175 175 175 191 211 229 Plantio Total Area (ha milhões) 6,0 6,3 6,6 6,8 7,0 7,0 7,2 Area (ha milhões) 2,4 2,4 2,7 2,7 3,0 3,1 3,1 Empresas Associadas ABRAF 2 Volume (m 3 milhões) 93 95 108 108 122 123 126 Produtividade (m 3 /ha/ano) 39 40 40 40 41 40 41 % participação 40% 38% 41% 40% 43% 44% 43% Demais Empresas 2 Area (ha milhões) 3,6 3,9 3,9 4,1 4,0 3,9 4,1 Produtividade (m 3 /ha/ano) 18 21 17 16 17 23 25 % participação 60% 62% 59% 60% 57% 56% 57% Fontes: 1 [7] - 2 [8] Nota: as produtividades médias dos plantios das demais empresas (não associadas à ABRAF) foram estimadas em função das suas respectivas áreas e da madeira total consumida menos a madeira das empresas associadas à ABRAF. 22

Para obter a projeção de florestas plantadas necessárias para o suprimento do carvão vegetal referentes aos cenários 1 e 2 de produção de ferro gusa de 2014 a 2020, as seguintes premissas foram consideradas: Tabela 9 Premissas para projeção de florestas plantadas para carvão vegetal de 2014 a 2020 [10] Item de Projeção Rendimento Gravimétrico Consumo dos Altos Fornos Produtividade dos Plantios Floresta das Usinas Integradas Premissas adotadas Definido conforme descrito no item 1.2.2 Redução do consumo de 10% de forma gradual entre 2014 a 2020 devido à melhoria de qualidade do carvão vegetal produzido com controle de processo Melhoria gradual entre 2014 a 2020 da produtividade de 25 ha/m3.ano para 40 ha/m3.ano, já consolidada há mais de 7 anos em 40% das florestas plantadas Auto sustentabilidade das florestas plantadas adicionais das usinas integradas em função de seus aumentos de produção de ferro gusa de 2014 a 2020 CENÁRIO 1 - Floresta plantada para produção de 11 milhões de Ferro Gusa em 2020 Tabela 10 Projeções da necessidade de floresta plantada no período de 2014 a 2020 Cenário 1 Descrição Anos 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 Rendimento Gravimétrico Produção Projetada de Ferro Gusa Usinas Integradas 32,0% 32,3% 32,8% 33,3% 33,6% 33,9% 34,0% RG % Produção Independente 26,0% 27,0% 29,0% 31,0% 32,5% 33,5% 34,0% Usinas Integradas [3] 2,5 2,8 3,2 3,3 3,3 3,3 3,3 Produção Independente [3] t.milhões 5,7 5,8 5,8 6,2 6,7 7,2 7,7 Massa Total 8,2 8,6 9,0 9,5 10,0 10,5 11,0 Altos Fornos Evolução do consumo espeífico kg cv/t.gusa 740 731 714 696 683 674 670 Produção Necessária de Carvão Vegetal Madeira Necessária Usinas Integradas 1,9 2,0 2,3 2,3 2,3 2,2 2,2 Produção Independente t.milhões 4,2 4,2 4,2 4,3 4,5 4,8 5,1 Massa Total 6,1 6,3 6,4 6,6 6,8 7,0 7,4 Usinas Integradas 5,8 6,3 7,0 6,9 6,7 6,6 6,5 Produção Independente t.milhões 16,2 15,7 14,3 13,9 14,0 14,4 15,1 Massa Total 22,0 22,1 21,3 20,8 20,7 21,0 21,6 Produtividade Evolução Plantio de Clones ha/m 3 /ano 25,3 27,9 30,4 33,0 35,5 38,1 40,6 Madeira Usinas Integradas 11,6 12,7 13,9 13,8 13,4 13,1 13,0 Estoque Necessidade de Plantio Madeira Produção Independente 18,7 20,5 22,4 24,3 26,2 28,1 30,0 m 3 milhões Florestas Nativas 10,6 8,4 4,8 2,7 1,4 0,6 0,2 Volume Total 40,8 41,6 41,2 40,8 41,0 41,8 43,2 Madeira Usinas Integradas 5,8 6,3 7,0 6,9 6,7 6,6 6,5 Madeira Produção Independente 9,3 10,3 11,2 12,2 13,1 14,0 15,0 t.milhões Florestas Nativas 6,9 5,4 3,1 1,7 0,9 0,4 0,1 Massa Total 22,0 22,1 21,3 20,8 20,7 21,0 21,6 Uso de Floresta Nativa % 25,9% 20,1% 11,7% 6,5% 3,4% 1,3% 0,5% Déficit de Floresta Plantada ha x 1000 417 300 159 81 39 15 6 23

O atingimento das metas com as premissas estabelecidas no cenário 1, representará a quase eliminação do uso de floresta nativa para os consumos projetados. CENÁRIO 2 - Floresta plantada para produção de 14,8 milhões de Ferro Gusa em 2020 Tabela 11 Projeções da necessidade de floresta plantada no período de 2014 a 2020 Cenário 2 Descrição Anos 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 Rendimento Gravimétrico Produção Projetada de Ferro Gusa Usinas Integradas 32,0% 32,3% 32,8% 33,3% 33,6% 33,9% 34,0% RG % Produção Independente 26,0% 27,0% 29,0% 31,0% 32,5% 33,5% 34,0% Usinas Integradas [2] 2,5 2,8 3,2 3,3 3,3 3,3 3,3 Produção Independente [2] t.milhões 6,5 7,5 7,7 8,4 9,0 10,3 11,5 Massa Total 9,0 10,3 10,9 11,7 12,3 13,6 14,8 Altos Fornos Evolução do consumo espeífico kg cv/t.gusa 740 731 714 696 683 674 670 Produção Necessária de Carvão Vegetal Madeira Necessária Usinas Integradas 1,9 2,0 2,3 2,3 2,3 2,2 2,2 Produção Independente t.milhões 4,8 5,5 5,5 5,8 6,1 6,9 7,7 Massa Total 6,7 7,5 7,8 8,1 8,4 9,2 9,9 Usinas Integradas 5,8 6,3 7,0 6,9 6,7 6,6 6,5 Produção Independente t.milhões 18,5 20,3 19,0 18,9 18,9 20,7 22,7 Massa Total 24,3 26,7 25,9 25,8 25,6 27,3 29,2 Produtividade Evolução Plantio de Clones ha/m 3 /ano 25,3 27,9 30,4 33,0 35,5 38,1 40,6 Madeira Usinas Integradas 11,6 12,7 13,9 13,8 13,4 13,1 13,0 Estoque Necessidade de Plantio Madeira Produção Independente 18,7 20,5 22,4 24,3 26,2 28,1 30,0 m 3 milhões Florestas Nativas 14,1 15,4 11,9 10,3 9,0 10,3 11,8 Volume Total 44,3 48,7 48,3 48,5 48,6 51,5 54,8 Madeira Usinas Integradas 5,8 6,3 7,0 6,9 6,7 6,6 6,5 Madeira Produção Independente 9,3 10,3 11,2 12,2 13,1 14,0 15,0 t.milhões Florestas Nativas 9,2 10,0 7,7 6,7 5,8 6,7 7,7 Massa Total 24,3 26,7 25,9 25,8 25,6 27,3 29,2 Uso de Floresta Nativa % 31,8% 31,7% 24,7% 21,3% 18,4% 20,0% 21,6% Déficit de Floresta Plantada ha x 1000 557 554 391 313 252 271 291 O atingimento das metas estabelecidas no cenário 2 não será suficiente para atingimento de auto sustentabilidade da produção de carvão vegetal. Para isto será necessário aumentar de imediato a área de plantio em cerca de 300 mil hectares para eliminar o uso de floresta nativa a partir de 2020. As premissas definidas nas atuais projeções farão parte do projeto de desmembramento do Plano Siderurgia, descrito no capítulo 4, como recomendações de ações estratégicas para sua implantação. 24

1.3 Tecnologias atuais no Brasil para produção de carvão vegetal 1.3.1 Fornos de Alvenaria: situação atual e incrementos tecnológicos para 2020 Até o início da década passada a produção de carvão vegetal no Brasil era feita predominantemente em fornos circulares de alvenaria de pequeno porte denominados fornos de superfície, com capacidades de processamento de madeira que variam de 7 m3 (fornos tipo Rabo Quente) a 70 m3 (fornos Circulares de 7 metros de diâmetro) de volume sólido, ou de 4 a 40 toneladas de madeira (b.s.), figura 7. Figura 7 Fornos de alvenaria de pequeno porte para produção de carvão vegetal [1] O grande problema destes fornos é a alta dependência de mão de obra para operações manuais de carga de madeira e descarga do carvão. Com ciclo total de carbonização variando entre 7 dias (Rabo Quente) e 12 dias (Circular) e baixos rendimentos de conversão de madeira em carvão (de 24% a 29% de rendimento gravimétrico), estes fornos tem capacidade individual de produção que variam de 50 toneladas (Rabo Quente) a 350 toneladas (Circular) de carvão vegetal por ano. A partir de 1980 grandes empresas integradas de produção de ferro gusa, Vallourec (antes Mannesmann Florestal), ArcelorMittal (antes Acesita), Aperam (antes Belgo Mineira) e Gerdau iniciaram um processo de construção de grandes fornos retangulares de alvenaria com o objetivo de mecanizar ao máximo suas operações florestais, desde a colheita (Sistema Feller Buncher, Skider e Garra Traçadora), o enchimento dos fornos (feitos com grua) até a descarga do carvão (feito com pá carregadeira). Um dos grandes benefícios foi aumentar de forma significativa a produtividade destes equipamentos e melhorar as condições de trabalho dos operadores, figura 8. 25

Figura 8 Fornos de alvenaria de grande porte para produção de carvão vegetal [4] Na última década diversas empresas integradas de várias regiões do Brasil, com destaque para os estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Maranhão, fizeram uma substituição em larga escala dos fornos circulares pequenos por grandes fornos retangulares, com capacidades de processamento de madeira que variam de 150 m 3, FR190 (fornos retangulares de 13 metros de comprimento e 4 metros de largura) a 450 m 3, RAC700 (fornos retangulares de 26 metros de comprimento e 8 metros de largura) de volume sólido, ou de 80 a 250 toneladas de madeira (base seca). Com ciclo total de produção variando entre 13 dias (FR190) e 18 dias (RAC700), quando equipados com sistemas de instrumentação e controle de temperatura e programas de gerenciamento do processo de carbonização, apresentam significativos ganhos de rendimento na conversão de madeira em carvão (de 32% a 35% de rendimento gravimétrico). Com isto, estes fornos podem atingir capacidades individuais de produção que variam de 750 (FR190) até 1800 (RAC700) toneladas de carvão vegetal por ano. Importante ressaltar que a operação destes grandes fornos sem um controle de temperatura adequado reduz de forma significativa esta capacidade de produção devido aos baixos rendimentos gravimétricos obtidos, em torno de 26%, passando a produzir de 580 (FR190) até 1300 (RAC700) toneladas ano, uma redução de quase 30% na produtividade, aumentando proporcionalmente as emissões de fumaças condensáveis e não condensáveis da pirólise da madeira. Como pode ser observado na tabela 12, a quantidade de emissões de fumaças no processo de carbonização da madeira é diretamente associada ao rendimento em carvão vegetal produzido, quanto menor o rendimento maior serão as emissões. Vejam que, considerando-se como referência base o processamento de uma tonelada de madeira seca e obtendo-se um rendimento de 26% ao invés de 35%, ocorre um aumento de 100% da quantidade do gás metano emitido para o meio ambiente. 26

Tabela 12 Distribuição mássica dos produtos da carbonização de 1 tonelada de madeira base seca [1] RG Rendimento Gravimétrico 26% 35% (*) Carvão Vegetal (kg) 260 350 Líquido Pirolenhoso 340 300 Alcatrão Vegetal 150 130 Gases CO 2, CO, H 2 e C n H n 230 210 CH 4 (Gás Metano) (**) 20 10 * [11] **[12] ( )[12] Emissão (1) CH 4 = 217,12 534,76 RG kg CH 4 / t. carvão Nota: em função do excesso de ar que entra nos fornos de alvenaria, parte do alcatrão vegetal produzido no processo é queimado, podendo ser apenas parcialmente recuperado via condensação externa [6]. Os fornos de alvenaria retangulares vêm substituindo gradativamente os fornos circulares, mesmo nas empresas produtoras de ferro gusa não integradas, principalmente pela necessidade de otimização da mão de obra que será cada vez mais escassa para serviços manuais como carga de madeira e descarga de carvão. Em um cenário para 2020, caso novas tecnologias que possam substituir este modelo atual não sejam validadas do ponto de vista técnico-econômico, a tendência é que os investimentos em novos parques industriais continuem crescendo na direção dos modelos de fornos de geometria retangular com etapas totalmente mecanizadas e equipados com sistemas de monitoramento de processo. 1.3.2 - Retorta de Carbonização Contínua A Retorta de carbonização contínua de madeira consiste em um forno cilíndrico metálico (parte de aço inoxidável e parte de aço carbono) disposto verticalmente, equipado com sistema de queima de gases, sendo o seu funcionamento descrito de forma sintética como segue: Madeira cortada em peças de 20 a 40 cm de comprimento são abastecidas no topo do forno e descem por gravidade até a base em contracorrente com os gases queimados da própria pirólise; A energia para a transformação da madeira em carvão vegetal vem portanto da combustão parcial da fumaça produzida continuamente durante o processo, 27

sem a presença de oxigênio, o que permite atingir altos rendimentos gravimétricos; Todas as etapas da secagem e carbonização são monitoradas via programa supervisório de comando central. Recebendo sinais de sistemas eletromecânicos, permite controlar a qualidade química do produto ao variar as vazões mássicas dos gases quentes associadas às temperaturas e perfis térmicos pré-estabelecidos em função da especificação exigida pelo cliente. As retortas contínuas podem ser consideradas como sendo o mais eficiente sistema de carbonização de madeira em operação no mundo com rendimentos que podem chegar a 38% para um carbono de 75% [4]. Em funcionamento há mais de 50 anos em países da Europa e Oceania, tinha inicialmente a função principal de produzir alcatrão vegetal para uso na produção de energia e abastecimento da indústria de carboquímicos [6,10]. Porém, ao perder a competividade para os derivados de petróleo, reduziu muito sua participação no mercado no final do século passado. Atualmente é utilizada basicamente para produção de carvão vegetal para uso doméstico (churrasco) e conta com poucas unidades em funcionamento (França e Polônia) e uma na Austrália para uso na produção de ferroligas [10]. No Brasil, duas grandes empresas investiram nesta tecnologia: A Arcelor Mittal (antiga Acesita), operou uma planta na cidade de Turmalina-MG de 1987 a 1994 e a Vallourec Florestal (antiga V&M Florestal) opera uma planta desde 2008 na cidade de Paraopeba-MG (devido ao sigilo industrial, dados técnicos ou financeiros não puderam ser divulgados pela empresa). Atualmente algumas barreiras vem impedindo que esta tecnologia seja adotada em larga escala no Brasil, como segue [13]: Como ainda é um projeto de alto investimento, CAPEX (despesas de capital ou investimento em bens de capital), estimado da ordem de R$3.000 por tonelada de carvão ano contra R$500 dos fornos retangulares de alvenaria, uma unidade básica deverá ser projetada para produzir em torno de 25.000 toneladas por ano, de modo que esta larga escala de produção possa diluir seus custos operacionais, OPEX (custos operacionais do negócio); Esta necessidade de escala exige largas extensões de floresta plantada em uma só região (áreas concentradas > 10000 ha) o que atualmente poucas empresas no Brasil atendem. 28

Na análise do custo benefício, para viabilidade do investimento, os ganhos do rendimento gravimétrico deverão ser somados aos eventuais ganhos de consumo específico do alto forno devido à uma melhor qualidade como termoredutor; Este fator relevante ainda não foi evidenciado e estatisticamente validado devido principalmente à complexidade da interação das diversas variáveis de processo na produção do ferro gusa como: qualidade do minério, composição da carga metálica, perfis térmicos de redução, tipo e tamanho do alto forno, entre outros; Na Europa os fornos são equipados com sistemas e cogeração de energia térmica produzindo energia elétrica (via caldeira e turbina a vapor) e présecando a madeira antes do enfornamento na retorta. Entretanto no Brasil, o custo de centrais termoelétricas de baixa potência (<1 MW) ainda são muito elevados (da ordem de R$5.000/kW), principalmente por apresentarem baixo rendimento elétrico (<15%), o que dificulta ainda mais a viabilidade econômica desta tecnologia que depende desta energia para seu funcionamento. Figura 9 Retorta de Carbonização Contínua de Madeira [6] 1.3.3 Fornos Bricarbrás Os fornos Bricarbrás são constituídos de cilindros metálicos que se movem pela unidade de produção via pontes rolantes. Como fonte de energia este sistema utiliza para pré-secagem a queima de fumaças provenientes da carbonização em fornalhas de alvenaria e a queima parcial da madeira no interior dos fornos para a secagem final e 29

carbonização. mecanizada. O carregamento da madeira é manual e a descarga do carvão é Figura 10 Tecnologia de carbonização Bricarbrás [6] Em síntese neste processo os fornos cilíndricos metálicos são colocados dentro de estruturas de alvenaria retangulares para reduzir as perdas térmicas sob câmaras de combustão de madeira. De forma sincronizada, a carbonização é conduzida em um módulo de oito cilindros e as fumaças são direcionadas para a fornalha de queima, figura 11. Figura 11 Tecnologia de carbonização Bricarbrás queima de fumaças e pré-secagem da madeira [6] 30