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Transcrição:

ECLI:PT:TRE:2014:373.11.0TBMMN.E1.4D http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ecli:pt:tre:2014:373.11.0tbmmn.e1.4d Relator Nº do Documento Cristina Cerdeira Apenso Data do Acordão 16/01/2014 Data de decisão sumária Votação unanimidade Tribunal de recurso Processo de recurso Data Recurso Referência de processo de recurso Nivel de acesso Público Meio Processual Decisão Apelação Indicações eventuais Área Temática Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores acidente de viação; danos patrimoniais futuros; incapacidade permanente parcial; danos não patrimoniais; Página 1 / 14

Sumário: I) - O lesado que fica a padecer de determinada incapacidade permanente sendo a força de trabalho um bem patrimonial, uma vez que propicia rendimentos - tem direito a indemnização por danos futuros, danos esses a que lei manda expressamente atender, desde que sejam previsíveis (artº. 564º, nº. 2 do Código Civil). II) - Os danos previsíveis a que a lei se reporta são, essencialmente, os certos ou suficientemente prováveis, como é o caso da perda da capacidade produtiva por banda de quem trabalha ou até o maior esforço que, por via da lesão e das suas sequelas, o lesado terá que passar a desenvolver para obter os mesmos resultados, sendo a incapacidade permanente, de per si, um dano patrimonial indemnizável, pela incapacidade em que o lesado se encontra e se encontrará na sua situação física, quanto à sua resistência e capacidade de esforços. III) - Este dano é indemnizável quer acarrete para o lesado uma diminuição efectiva do seu ganho laboral, quer lhe implique apenas um esforço acrescido para manter os mesmos níveis dos seus proventos profissionais, exigindo tal incapacidade um esforço suplementar, físico e/ou psíquico, para obter o mesmo resultado. IV) - A incapacidade permanente sofrida pelo lesado integra aquilo que comummente se designa por dano ou incapacidade funcional, que se reflecte na impossibilidade de uma vida de completa normalidade, com repercussões no intelecto, na vontade e em toda a capacidade em sentido lato. V) - A incapacidade funcional, ainda que não impeça o lesado de continuar a trabalhar e ainda que dela não resulte perda de vencimento, reveste a natureza de um dano patrimonial, já que a força do trabalho do homem, porque lhe propicia fonte de rendimentos, é um bem patrimonial, sendo certo que essa incapacidade obriga o lesado a um maior esforço para manter o nível de rendimentos auferidos antes da lesão. VI) - Essa incapacidade reflecte-se na impossibilidade de uma vida normal, com reflexos em toda a capacidade, podendo configurar-se como uma incapacidade permanente que deve ser indemnizada. VII) - Basta a alegação dessa incapacidade para, uma vez demonstrada, servir de fundamento ao pedido de indemnização pelo dano patrimonial futuro, cujo valor, por ser indeterminado, deve ser fixado equitativamente, nos termos do preceituado no artº. 566º, nº. 3 do Código Civil. VIII) - A indemnização do lesado por danos futuros decorrente de incapacidade permanente deve corresponder a um capital produtor do rendimento que o lesado não irá auferir e que se extinga no fim da vida provável da vítima e que seja susceptível de garantir, durante essa vida, as prestações periódicas correspondentes ao rendimento perdido. IX) - A partir dos pertinentes elementos de facto, independentemente do seu desenvolvimento no quadro de fórmulas matemáticas e tabelas financeiras de cariz instrumental, deve calcular-se o montante da indemnização em termos de equidade, no quadro de juízos de verosimilhança e de probabilidade, tendo em conta o curso normal das coisas e as particulares circunstâncias do caso. X) - A indemnização por danos não patrimoniais, não podendo embora anular o mal causado, destina-se a proporcionar uma compensação moral pelo prejuízo sofrido. XI) - Embora a lei não defina quais são os danos não patrimoniais merecedores de tutela jurídica, tem sido entendido unanimemente pela doutrina e jurisprudência que integram tal ideia as dores e padecimentos físicos e morais, angústia e ansiedade produzidas pela situação de alguém que sofreu um acidente e as lesões decorrentes, os danos resultantes de desvalorização, deformidades, além do sofrimento actual e sofrido durante o tempo de incapacidade, a angústia acerca da incerteza e futuro da situação e a existência e grau de incapacidade sofridos, sendo de Página 2 / 14

valorar, também, a circunstância da vítima ter sofrido períodos de doença significativos, com prolongados internamentos hospitalares, períodos de imobilização e intervenções cirúrgicas, dificuldades de locomoção e de condução, além das restrições pessoais e sociais daí decorrentes. XII) - Entende-se que a indemnização a fixar deverá ser justa e equitativa, ou seja, não se apresentar como um montante meramente simbólico ou miserabilista, mas antes representar a quantia adequada a viabilizar uma compensação ao lesado pelos padecimentos que sofreu em consequência do sinistro. Sumário da relatora Decisão Integral: Acordam na Secção Cível do Tribunal da Relação de Évora I. RELATÓRIO N... intentou a presente acção declarativa, sob a forma de processo ordinário, contra Companhia de Seguros..., S.A., pedindo a condenação desta a pagar-lhe a quantia total de 58 524, sendo 38 524 a título de indemnização por danos patrimoniais futuros e 20 000 a título de indemnização por danos não patrimoniais, acrescida de juros de mora à taxa legal, vencidos e vincendos desde a citação até efectivo e integral pagamento. Para tanto alega, em síntese, que no dia 10 de Junho de 2008, ocorreu um acidente de viação provocado pelo veículo...-...-xc segurado da Ré, no qual era transportado o A. que, em consequência do sucedido, sofreu diversas lesões. A Ré assumiu a responsabilidade do sinistro e dispôs dos seus serviços para prestar toda a assistência médica necessária à recuperação do A., tendo este realizado todas as sessões de fisioterapia que lhe foram prescritas. Desde a data do acidente até 5 de Janeiro de 2010, o A. esteve com incapacidade total absoluta para o trabalho e, em consequência do acidente, é portador de uma incapacidade geral permanente global fixável em 10 pontos. À data do acidente, o A. tinha 21 anos de idade, exercia a actividade profissional de pintor de automóveis e auferia a retribuição mensal líquida de 666,35. Tendo em atenção a sua idade à data do acidente, a idade média de vida ativa até aos 70 anos, a remuneração por ele auferida como pintor de automóveis e o grau de incapacidade de que é portador (10 pontos percentuais), por aplicação da fórmula de cálculo da indemnização fixada pelo Acórdão do STJ de 4/04/1994, in CJ, Ano XX, Tomo II, pág. 86, o A. fixa em 38 524 a indemnização a título de danos patrimoniais futuros. A nível de danos não patrimoniais, o A. sofreu dores, esteve internado desde a data do acidente até 24/07/2008 sempre acamado, necessitando de auxílio de terceira pessoa, viveu atormentado pela possibilidade de não poder voltar a andar, realizou 217 sessões de fisioterapia dolorosas, ainda tem dores quando efectua movimentos da gleno-umeral e acrómio-clavicular, tem dores no ombro esquerdo, mão direita e joelho esquerdo, apresenta ainda parestesias de partes moles da mão direita, o que o limita muito no exercício da sua actividade de pintor de automóveis, sendo que quantifica o quantum doloris no grau quatro, numa escala valorativa de 1 a 7. Reclama, pois, uma indemnização no valor de 20 000 pelos danos não patrimoniais que sofreu e tem sofrido em consequência do acidente. Página 3 / 14

A Ré Seguradora contestou, alegando que custeou os tratamentos prestados ao A., reembolsou-o das despesas que o mesmo foi obrigado a suportar em virtude do sinistro e pagou-lhe a importância de 13 478,75 para compensação dos salários que o mesmo perdeu em virtude das lesões que sofreu. Refere, ainda, que o A. pode continuar a desempenhar o mesmo trabalho que tinha antes do acidente, embora com esforços acrescidos, pelo que não se justifica qualquer indemnização a título de lucros cessantes. A Ré apresentou uma proposta para regularização do sinistro no valor de 14 552, efectuada de acordo com as regras do DL 352/2007 de 23/10 e Portaria nº. 377/2008 de 26/5, revista pela Portaria nº. 679/2009 de 25/06, considerando as indemnizações reclamadas muito exageradas. E conclui que, caso assim se não entenda, deverá aplicar-se o disposto no nº. 3 do artº. 39º do DL 291/2007 de 21/8, pugnando pela improcedência parcial da presente acção. Realizou-se audiência preliminar, na qual foi proferido despacho saneador, com selecção da matéria de facto assente e organização da base instrutória, que não sofreram reclamações. Procedeu-se à realização da audiência de discussão e julgamento com observância do legal formalismo. Após a resposta à matéria de facto constante da base instrutória, que não sofreu qualquer reclamação, foi proferida sentença que julgou a presente acção procedente e, em consequência, condenou a Ré Companhia de Seguros..., S.A. a pagar ao A. N... a quantia de 38 524 euros a título de indemnização por danos patrimoniais, acrescida dos respectivos juros de mora, contados desde a data da citação, e a quantia de 20 000 euros a título de indemnização por danos não patrimoniais. Inconformada com tal decisão, a Ré Seguradora dela interpôs recurso, extraindo das respectivas alegações as seguintes conclusões [transcrição]: «1 O autor tem direito a uma indemnização pelos danos que sofreu no acidente a que se referem os presentes autos. 2 No que respeita aos danos não patrimoniais, a aplicação do critério legal de equidade aos factos que foram provados não justifica uma indemnização a este título superior a 15.000,00. 3 No que respeita à repercussão das consequências do acidente em relação a perdas futuras, deverá ser tido em conta a não existência de uma perda efectiva e directa, mas apenas eventuais danos indirectos. 4 Facto que impedirá o Tribunal de lançar mão de fórmulas matemáticas para quantificar os lucros cessantes. 5 Também não deverá ser utilizado o somatório das eventuais perdas até ao final do período de esperança de vida ou da vida activa. 6 Deverá, também aqui a indemnização ser calculada com recurso a critérios de equidade, não se justificando uma indemnização superior a 10.000,00. 7 A indemnização arbitrada ao autor deverá, pois, ser reduzida para valores da ordem dos 25.000,00. 8 - A douta sentença recorrida violou além do mais, os art.ºs 564.º e 566.º do Código Civil, pelo que deverá ser revogada, sendo a indemnização a favor do autor reduzida nos termos acima referidos». O A. respondeu à alegação da recorrente, pugnando pela manutenção da sentença recorrida. Página 4 / 14

O recurso foi admitido por despacho de fls. 261. Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.ii. FUNDAMENTAÇÃO O objecto do recurso é delimitado pelas conclusões das respectivas alegações, sem prejuízo das questões de conhecimento oficioso, tendo por base as disposições conjugadas dos artºs 660º, nº. 2, 684º, nº. 3 e 685º-A, nº. 1 todos do Código de Processo Civil. A questão a conhecer neste recurso circunscreve-se à verificação dos danos patrimoniais e não patrimoniais e à quantificação da indemnização a arbitrar ao A. por estes. Na sentença recorrida foram considerados provados os seguintes factos [transcrição]: «A) No dia 10 de Junho de 2008, pelas 5h20m, na E.R.2, ao KM 531,600, no concelho de Montemor-o-Novo, ocorreu um acidente de viação (alínea a) dos factos assentes). B) No acidente referido em A) foi interveniente o veículo de matrícula...-...-xc, conduzido por F, seu dono (alínea b) dos factos assentes). C) O tempo estava bom e o pavimento encontrava-se em bom estado de conservação (alínea c) dos factos assentes). D) Nas circunstâncias de tempo referidas em A) o veículo referido em B), circulava na E.R.2, no sentido Montemor-o-Novo/Escoural, pela faixa de rodagem destinada ao seu sentido de marcha (alínea d) dos factos assentes). E) Ao chegar à curva, F, por conduzir o veículo referido em B) de forma descuidada e incauta, perdeu o controlo do mesmo, pisou a berma direita, atento o sentido de marcha que seguia e entrou em despiste, indo embater num sobreiro existente na berma contrária ao sentido de marcha em que seguia, deixando no piso uma marca de derrapagem de 55 metros (alínea e) dos factos assentes). F) Por acordo escrito, titulado pela apólice n.º, F havia transferido o risco inerente à circulação do veículo referido em B) para a ré fls. 102 e 103 cujo teor se dá por reproduzido (alínea f) dos factos assentes). G) Nas circunstâncias de tempo e espaço referidas em A) e D) o autor era transportado no veículo referido em B), tendo, em consequência do embate referido em E), sofrido lesões (alínea g) dos factos assentes). H) E foi transportado em ambulância para o Hospital Espírito Santo, em Évora (alínea h) dos factos assentes). I) E, por apresentar traumatismo craniano com perda de conhecimento de longa duração foi imediatamente transportado para o Hospital de S. José, em Lisboa, onde permaneceu internado durante 48 horas no serviço de neurocirurgia e medicina interna (alínea i) dos factos assentes). J) No dia 12 de Junho de 2008 o autor regressou ao Hospital Espírito Santo, em Évora, onde permaneceu internado no serviço de Cirurgia II até ao dia 24 de Junho de 2008 fls. 30 cujo teor se dá por reproduzido, data em que foi transferido para o serviço de Psicologia Clínica no mesmo Hospital (alínea j) dos factos assentes). K) Quando o autor iniciou levante foi-lhe diagnosticada uma luxação acrómio clavicular grau III do ombro esquerdo (alínea k) dos factos assentes). L) O autor esteve internado desde o dia referido em A) e até ao dia 24 de Julho de 2008, data em que teve alta hospitalar, com indicação de manutenção em ambulatório de reabilitação cognitiva e fisiatria fls. 31 e 32 cujo teor se dá por reproduzido (alínea l) dos factos assentes). M) Em consultas de fisiatria no Hospital da Misericórdia, em Évora, o Dr. A prescreveu ao autor a Página 5 / 14

submissão a sessões de fisioterapia (alínea m) dos factos assentes). N) Após a participação do sinistro à ora ré, a mesma assumiu a responsabilidade e dispôs dos seus serviços clínicos para prestar toda a assistência médica necessária à recuperação do autor (alínea n) dos factos assentes). O) A partir do dia 24 de Setembro de 2008, o autor passou a ser seguido pelos serviços clínicos da ré, na consulta de avaliação de dano corporal, pelo Dr. A, no GADAC, em Lisboa, para avaliação da sua situação clínica (alínea o) dos factos assentes). P) Desde a data referida em A) e até 5 de Janeiro de 2010, o autor esteve com incapacidade total absoluta para o trabalho fls. 85 a 87 cujo teor se dá por reproduzido (alínea p) dos factos assentes). Q) Em consequência do embate referido em E), o autor sofreu traumatismo craniano com perda de conhecimento, hematoma sub-dural fronto-temporal direito, hematoma interhemisfério cerebral posterior, contusão cerebelosa direita e luxação acrómio clavicular grau III do ombro esquerdo (alínea q) dos factos assentes). R) Em consequência, o autor actualmente apresenta: movimentos da gleno-umeral dolorosa, movimentos da acromio-clavicular dolorosa, dores ligeiras no ombro esquerdo, dores ligeiras na mão direita, dores ligeiras no joelho esquerdo (alínea r) dos factos assentes). S) Sendo o autor portador de uma incapacidade geral permanente global fixável em 10 pontos fls. 85 a 87 cujo teor se dá por reproduzido (alínea s) dos factos assentes). T) A ré suportou as despesas de assistência clínica, internamentos hospitalares, despesas médicas, medicamentosas e de deslocação que lhe foram sendo apresentadas pelo autor (alínea t) dos factos assentes). U) E entregou-lhe 13.478,75 para compensação dos salários que o autor perdeu em consequência das lesões sofridas com o evento referido em E) (alínea u) dos factos assentes). V) O relatório de fls. 85 a 87 fixou o quantum doloris do autor em grau 4 numa escala de 1 a 7 (alínea v) dos factos assentes). W) No dia 24 de Junho de 2008, quando entrou no serviço referido em J) o autor efectuou exame neurológico que revelou lentificação psico-motora, ataxia axial e tetraparésia de predomínio esquerdo e crural (resposta ao artigo 1º da base instrutória). X) E apresentava diminuição do equilíbrio dinâmico sentado e ausência de equilíbrio na posição de pé, com risco de queda (resposta ao artigo 2º da base instrutória). y) E deslocava-se em cadeira de rodas (resposta ao artigo 3º da base instrutória). Z) Encontrando-se dependente de terceira pessoa para se alimentar, não conseguindo fraccionar os alimentos (resposta ao artigo 4º da base instrutória). AA) Bem como para usar os sanitários para urinar e defecar (resposta ao artigo 5º da base instrutória). BB) E foi medicado com baclofeno 10mg, 3* dia, e lactulose (resposta ao artigo 6º da base instrutória). CC) E apresentava dor ao nível do ombro esquerdo e porção distal da clavícula (resposta ao artigo 7º da base instrutória). DD) E realizou avaliação neuropsicológica na qual se verificaram alterações ao nível da atenção sustentada, do controlo inibitório e alternância, bem como dificuldades na manutenção de estratégia (resposta ao artigo 8º da base instrutória). EE) E iniciou reabilitação cognitiva (resposta ao artigo 9º da base instrutória). FF) Após a alta hospitalar o autor continuou em tratamento ambulatório as consultas de reabilitação Página 6 / 14

cognitiva no Hospital Espírito Santo, em Évora (resposta ao artigo 10º da base instrutória). GG) Na sequência das consultas referidas em M) e por prescrição médica, o autor submeteu-se a 217 sessões de tratamento de fisioterapia (resposta ao artigo 11º da base instrutória). HH) Sendo que no dia 12 de Dezembro de 2008, em consulta de fisiatria, o autor apresentava um quadro motor de tetraparesia (resposta ao artigo 12º da base instrutória). II) Para além do referido em R), o autor apresenta parestesias de partes moles na mão direita (resposta ao artigo 13º da base instrutória). JJ) No dia 10 de Junho de 2008, o autor exercia a actividade laboral de pintor de automóveis, auferindo cerca de 666,35 mensais líquidos (resposta ao artigo 14º da base instrutória). KK) Em consequência das lesões referidas em Q) o autor sofreu muitas e intensas dores (resposta ao artigo 15º da base instrutória). LL) Durante o período referido em L) o autor esteve acamado, necessitando da ajuda de terceira pessoa para tratar da sua higiene pessoal (resposta ao artigo 16º da base instrutória). MM) Sendo que sempre que era necessário levantar-se por razões médicas ou fisiológicas o autor era transportado em cadeira de rodas (resposta ao artigo 17º da base instrutória). NN) Durante o período referido em L), o autor equacionou a possibilidade de não poder voltar a andar (resposta ao artigo 18º da base instrutória). OO) E mesmo depois de deixar de se deslocar em cadeira de rodas, por se deslocar em marcha lenta e apoiada, teve medo de não vir a recuperar totalmente a marcha (resposta ao artigo 19º da base instrutória). PP) E tinha ataques de choro (resposta ao artigo 20º da base instrutória). QQ) O autor, tinha por vezes, pesadelos (resposta ao artigo 21º da base instrutória). RR) E receava não poder voltar a exercer a sua actividade profissional, ficando economicamente dependente de terceiros (resposta ao artigo 22º da base instrutória). SS) Sentindo-se angustiado e ansioso (resposta ao artigo 23º da base instrutória). TT) As sessões de fisioterapia referidas em GG), eram dolorosas, exigindo do autor, esforço físico (resposta ao artigo 24º da base instrutória). UU) E sofreu o desgaste decorrente dos 218 kms que tinha que fazer para as consultas médicas em Lisboa (resposta ao artigo 25º da base instrutória). VV) Em virtude das lesões referidas em R) e II) o autor actualmente tem dores (resposta ao artigo 26º da base instrutória). WW) E quando faz esforços, nomeadamente carregando pesos, fica com dores no ombro esquerdo, tendo que tomar medicamentos para aliviar as dores (resposta ao artigo 27º da base instrutória). XX) E tem dores quando efectua movimentos da gleno-umeral e acrómio-clavicular (resposta ao artigo 29º da base instrutória). YY) E tem dores no ombro esquerdo, mão direita e joelho esquerdo (resposta ao artigo 30º da base instrutória). ZZ) E tem parestesias de partes moles da mão direita (resposta ao artigo 31º da base instrutória). AAA) O que o limita no exercício da sua actividade profissional de pintor de automóveis (resposta ao artigo 32º da base instrutória). BBB) O autor nasceu em 13 de Junho de 1986 (certidão de fls. 140)».*Apreciando e decidindo. A recorrente não questiona o dever de pagar uma indemnização ao A. pelos danos sofridos em consequência do acidente. A sua discordância prende-se com o valor das quantias fixadas a título de indemnização por danos patrimoniais futuros e danos não patrimoniais, e ainda com o facto do Página 7 / 14

Tribunal a quo ter arbitrado indemnização por danos patrimoniais futuros relacionados com a incapacidade do A. para o exercício da sua profissão (lucros cessantes), por entender que o mesmo não sofreu qualquer prejuízo directo de ordem patrimonial, mas apenas eventuais danos indirectos decorrentes da maior dificuldade em exercer as suas funções, considerando que tais danos sofridos têm a natureza não patrimonial. Vejamos se lhe assiste razão. Resulta do disposto no artº. 564º, nº. 1 do Código Civil que o dever de indemnizar compreende não só o prejuízo causado (dano emergente), como os benefícios que o lesado deixou de obter em consequência da lesão sofrida (lucro cessante), sendo que, de acordo com o nº. 2 daquele dispositivo legal, pode o Tribunal, na fixação da indemnização, ainda atender aos danos futuros desde que sejam previsíveis. Os danos futuros compreendem os prejuízos que, em termos de causalidade adequada, resultaram para o lesado (ou resultarão de acordo com os dados previsíveis da experiência comum) em consequência do acto ilícito que sofreu, bem como os que poderiam resultar da hipotética manutenção de uma situação produtora de ganhos durante um tempo mais ou menos prolongado (e que poderá corresponder, nalguns casos, ao tempo de vida laboral útil do lesado) e ainda determinadas despesas certas, mas que só se concretizarão em tempo incerto. De acordo com o disposto no artº. 562º do Código Civil, quem estiver obrigado a reparar um dano, deve reconstituir a situação que existiria se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação (princípio da reposição natural). E quando a reparação natural não for possível, bastante ou idónea, há que lançar mão da indemnização em dinheiro (artº. 566º, nº. 1 do Código Civil), a fixar de acordo com a teoria da diferença consagrada no nº. 2 do citado artº. 566º, segundo a qual a indemnização tem como medida a diferença entre a situação patrimonial real do lesado na data mais recente que puder ser atendida pelo Tribunal, e a situação hipotética que teria nessa data, se não tivesse ocorrido o facto lesivo gerador do dano (vide Joaquim José de Sousa Dias, Avaliação e Reparação do Dano Patrimonial e não Patrimonial, Rev. Julgar nº. 9, Setembro-Dezembro de 2009, pág. 32 e 33). Firmou-se na jurisprudência do STJ o entendimento, quase pacífico, de que o lesado que fica a padecer de determinada incapacidade parcial permanente (IPP) sendo a força de trabalho um bem patrimonial, uma vez que propicia rendimentos, a incapacidade permanente parcial é, consequentemente, um dano patrimonial - tem direito a indemnização por danos futuros, danos esses a que lei manda expressamente atender, desde que sejam previsíveis (artº. 564º, nº. 2 do Código Civil). De acordo com a posição plasmada no acórdão do STJ de 27/09/2012, proferido no processo nº. 560/04.7TBVVD (acessível em www.dgsi.pt), os danos previsíveis a que a lei se reporta são, essencialmente, os certos ou suficientemente prováveis, como é o caso da perda da capacidade produtiva por banda de quem trabalha ou até o maior esforço que, por via da lesão e das suas sequelas, o lesado terá que passar a desenvolver para obter os mesmos resultados, sendo a incapacidade permanente, de per si, um dano patrimonial indemnizável, pela incapacidade em que o lesado se encontra e se encontrará na sua situação física, quanto à sua resistência e capacidade de esforços. Como refere o aludido aresto do STJ: «Este dano é indemnizável quer acarrete para o lesado uma diminuição efectiva do seu ganho laboral, quer lhe implique apenas um esforço acrescido para manter os mesmos níveis dos seus proventos profissionais, exigindo tal incapacidade um esforço suplementar, físico e/ou psíquico, para obter o mesmo resultado», posição esta implicitamente Página 8 / 14

adoptada na sentença recorrida e que também é por nós sufragada. Reconhece-se no mencionado acórdão do STJ que, não sendo tarefa fácil a fixação da indemnização por estes danos, sem possibilidade de simples recurso a critérios abstractos e mecânicos ou matemáticos, deverá atender-se também à equidade como critério de compensação dos danos futuros (artº. 566º, nº. 3 do Código Civil). Ora, no caso sub judice, resultou provado que: - em consequência do acidente, o A. actualmente apresenta movimentos da gleno-umeral dolorosa, movimentos da acromio-clavicular dolorosa, dores ligeiras no ombro esquerdo, dores ligeiras na mão direita e dores ligeiras no joelho esquerdo (alínea R); - o A. é portador de uma incapacidade geral permanente global fixável em 10 pontos (alínea S); - o relatório de fls. 85 a 87 fixou o quantum doloris do A. em grau 4 numa escala de 1 a 7 (alínea V); - para além do referido em R), o A. apresenta parestesias de partes moles na mão direita (alínea II); - no dia 10/06/2008, o A. exercia a actividade laboral de pintor de automóveis, auferindo cerca de 666,35 mensais líquidos (alínea JJ); - em virtude das lesões referidas em R) e II), o A. actualmente tem dores (alínea VV); - e quando faz esforços, nomeadamente carregando pesos, fica com dores no ombro esquerdo, tendo que tomar medicamentos para aliviar as dores (alínea WW); - tem dores quando efectua movimentos da gleno-umeral e acrómio-clavicular (alínea XX); - tem dores no ombro esquerdo, mão direita e joelho esquerdo (alínea YY); - e tem parestesias de partes moles da mão direita (alínea ZZ); - o que o limita no exercício da sua actividade profissional de pintor de automóveis (alínea AAA); - o autor nasceu em 13 de Junho de 1986 (alínea BBB), ou seja, à data do acidente tinha 21 anos de idade. Em conformidade com a jurisprudência do STJ supra mencionada, importa relembrar algumas passagens do acórdão daquele Tribunal Superior de 7/06/2011, proferido no processo nº. 160/2002 (acessível em www.dgsi.pt), que ora nos interessam e que subscrevemos na íntegra, acórdão esse citado na sentença recorrida para melhor enquadramento da situação em análise: «Assim, na fixação da indemnização devem ser atendidos os danos futuros danos emergentes ou lucros cessantes desde que previsíveis, com segurança bastante, isto é, quando sejam razoavelmente prognosticáveis em quadro de antecipação do tempo em que irão ocorrer ou, por outras palavras, quando têm um grau mínimo de incerteza, que os deve equiparar, por previsíveis, aos danos certos, sendo, por isso, indemnizáveis. (...) Aqui chegados, importará determinar o conceito de dano patrimonial futuro e se, no caso em apreço, for seguro esse dano, como deverá ser fixada a correspondente indemnização. O dano futuro previsível mais típico prende-se com os casos de perda ou diminuição da capacidade de trabalho e da perda ou diminuição da capacidade de ganho, perda esta caracterizada como efeito danoso, de natureza temporária ou definitiva, que resulta para o ofendido do facto de ter sofrido uma dada lesão, impeditiva da sua obtenção normal de determinados proventos certos ( ) como paga do seu trabalho. Donde, os danos futuros a que a lei se reporta são essencialmente os certos ou suficientemente prováveis, como é o caso da perda ou diminuição da capacidade produtiva de quem trabalha e, consequentemente, de auferir o rendimento inerente, por virtude da lesão corporal. Porém, como se ponderou no Acórdão de 24/05/2011, Processo 738/08.4TVPRT.P1.S1, desta Página 9 / 14

Secção, a incapacidade permanente integra aquilo que comummente se designa por dano ou incapacidade funcional. Efectivamente, essa incapacidade, que se reflecte na impossibilidade de uma vida de completa normalidade, com repercussões no intelecto, na vontade e em toda a capacidade em sentido lato, pode configurar-se como uma incapacidade permanente sofrida pelo lesado. (...) Realce-se, além disso, que a incapacidade funcional, mesmo que não determine efectiva e imediata perda ou diminuição de rendimentos ou de proventos por parte do lesado, importa necessariamente dano patrimonial (futuro), que deve ser indemnizado. (...) Na verdade, a força de trabalho de uma pessoa é um bem, sem dúvida capaz de propiciar rendimentos. Logo, a incapacidade funcional importa sempre diminuição dessa capacidade, obrigando o lesado a um maior esforço e sacrifício para manter o mesmo estado antes da lesão e, inclusivamente, provoca inferiorização, no confronto do mercado de trabalho, com outros indivíduos por tal não afectados. (...) A incapacidade funcional constitui, desde modo, um dano patrimonial futuro, que os artigos 562º e 564º impõem se indemnize, independentemente da prova de um prejuízo pecuniário concreto dela resultante, não tendo o lesado, pois, sequer de alegar ou provar qualquer perda de rendimentos. Por conseguinte, a incapacidade funcional, ainda que não impeça o lesado de continuar a trabalhar e ainda que dela não resulte perda de vencimento, reveste a natureza de «um dano patrimonial, já que a força do trabalho do homem, porque lhe propicia fonte de rendimentos, é um bem patrimonial, sendo certo que essa incapacidade obriga o lesado a um maior esforço para manter o nível de rendimentos auferidos antes da lesão. Resulta do exposto que a incapacidade permanente de que o lesado fique a padecer em consequência de um facto danoso é, além do mais, susceptível de afectar e diminuir a potencialidade de ganho, por via da perda ou diminuição da remuneração ou da implicação para o ofendido de um esforço acrescido para manter os mesmos níveis de ganho. Mas essa mesma incapacidade permanente pode, igualmente, afectar o lesado, quando implica para ele um esforço ou sacrifício suplementar para exercer as várias tarefas e actividades gerais quotidianas. (...) É que, em alguns casos, uma elevada incapacidade funcional pode não ter repercussão na retribuição (o que não é raro em profissões de incidência intelectual), ao passo que, noutras situações, uma pequena incapacidade funcional geral pode ocasionar uma enorme incapacidade profissional. Temos, assim, que a afectação da integridade física do lesado traduz-se num dano patrimonial, por ser previsível que, no futuro, a incapacidade funcional de que ficou a padecer tenha repercussão negativa na sua capacidade de ganho. Esta diferença resultante da lesão da integridade física do lesado importa uma previsível redução da sua capacidade para o trabalho e, consequentemente, um dano patrimonial indemnizável, independentemente da sua repercussão imediata nos rendimentos da sua actividade profissional. Basta a alegação dessa incapacidade para, uma vez demonstrada, servir de fundamento ao pedido de indemnização pelo dano patrimonial futuro, cujo valor, por ser indeterminado, deve ser fixado Página 10 / 14

equitativamente, nos termos do preceituado no artigo 566º, n.º 3 CC. Daí a suficiência da previsibilidade do dano e do recurso à equidade para efeito do quantum indemnizatório (cfr. Ac. do STJ de 6/12/2001, proc. nº. 01A3007, in www.dgsi.pt). Avaliação do dano futuro: A nossa lei ordinária não contém regras precisas destinadas à fixação da indemnização pelo dano futuro no caso de incapacidade permanente para o trabalho, de vítimas de acidente de viação. O cálculo destes danos é sempre uma operação delicada, de solução difícil, porque obriga a ter em conta a situação hipotética em que o lesado estaria se não houvesse sofrido a lesão, o que implica a previsão, pouco segura, sobre dados verificáveis no futuro. É por isso que tais danos se devem calcular segundo critérios de verosimilhança ou de probabilidade, de acordo com o que, no caso concreto, poderá vir a acontecer, seguindo as coisas o seu curso normal e, se mesmo assim, não puder apurar-se o seu valor exacto, deverá o tribunal julgar segundo a equidade, em obediência ao critério enunciado no artigo 566º, n.º 3 do Código Civil. (...) A indemnização do lesado por danos futuros decorrente de incapacidade permanente deve corresponder a um capital produtor do rendimento que o lesado não irá auferir e que se extinga no fim da vida provável da vítima e que seja susceptível de garantir, durante essa vida, as prestações periódicas correspondentes ao rendimento perdido. Uma indemnização justa, neste domínio, reclama a atribuição de um capital que produza um rendimento mensal, que cubra a diferença entre a situação anterior e a actual, durante o período de vida profissional do lesado, sem esquecer a necessidade de se ter em conta a sua esperança de vida. O apontado critério cumpre, mas só parcialmente, o princípio geral válido em matéria de indemnizar: reconstituir a situação que existiria se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação (artigo 562º do Código Civil). Por isso, os seus resultados não podem ser aceites de forma abstracta e mecânica, devendo, antes, ser temperados por juízos de equidade (artigo 566º, n.º 3 CC). Isso implica que se entre em linha de conta com a idade da vítima ao tempo do acidente, o prazo de vida activa previsível, actividade profissional por esta desenvolvida, suas condições de saúde ao tempo do evento, rendimentos auferidos ao longo desta, os encargos, grau de incapacidade, entre outros elementos. (...) Porém, a utilização de tabelas financeiras, como qualquer outro método que seja expressão de um critério abstracto, constitui um método de cálculo de valor meramente auxiliar. Nenhum dos aludidos critérios é absoluto, devendo ser aplicados como índices ou parâmetros temperados com a aplicação de um juízo de equidade. Mais recentemente, a Portaria n.º 377/2008, de 26/05, em consagração do anteriormente previsto, nomeadamente, no DL 291/2007, de 21 de Agosto, veio estabelecer tabelas para as indemnizações dos danos corporais. Porém, como se salienta no respectivo preâmbulo, tais tabelas não visam a fixação de valores indemnizatórios, mas, nos termos do n.º 3 do artigo 39º do DL n.º 291/2007, de 21 de Agosto, estabelecer um conjunto de regras e princípios que permitam agilizar a apresentação de propostas razoáveis, possibilitando, ainda, a razoabilidade das propostas apresentadas. Significa isto que aquela Portaria n.º 377/2008 veio fixar, tão-só, os critérios e valores orientadores para efeitos de apresentação aos lesados por acidente de automóvel proposta razoável para indemnização de dano corporal, não estando os tribunais limitados nem vinculados aos valores Página 11 / 14

indemnizatórios ali previstos. Daqui resulta que, a partir dos pertinentes elementos de facto, independentemente do seu desenvolvimento no quadro das referidas fórmulas de cariz instrumental, deve calcular-se o montante da indemnização em termos de equidade, no quadro de juízos de verosimilhança e de probabilidade, tendo em conta o curso normal das coisas e as particulares circunstâncias do caso». Ora, reportando-nos ao caso em apreço, estando assente que a Ré deve indemnizar o A., dado tratar-se de danos indemnizáveis por serem futuros e previsíveis, vamos analisar apenas o quantum da indemnização devida ao A. pelos danos patrimoniais futuros derivados da incapacidade permanente geral de que ficou a padecer. Assim, ponderando a idade do A. à data do acidente (21 anos), a actividade profissional por ele exercida (pintor de automóveis), a incapacidade geral permanente de que ficou a padecer (10%) e que o limita no exercício da sua actividade profissional, o salário mensal líquido que o A. auferia, o período de vida activa laboral (70 anos), a esperança média de vida da população portuguesa (estimada em cerca de 75 anos para os homens) uma vez que as necessidades básicas do lesado não cessam no dia em que deixa de trabalhar por virtude da reforma e, ainda, a atual situação de crise económico-financeira que dificulta, cada vez mais, a manutenção do posto de trabalho de cada um e que também deve ser considerada na fixação deste tipo de indemnizações, conforme já decidiu o STJ no acórdão de 27/09/2012 supra citado, entendemos que a indemnização peticionada pelo A. por danos patrimoniais futuros e arbitrada pelo Tribunal a quo não é exagerada, pois como se refere na sentença recorrida «representa apenas um acréscimo de 59,45 por mês, ao salário que o mesmo auferia à data do acidente, se, como é previsível, sobreviver até aos 75 anos de idade ( 38 524 : 54 anos = 713,40 : 12 meses = 59,45)». Aliás, se alguma censura merece a indemnização arbitrada a título de danos patrimoniais futuros sofridos pelo A. ( 38 524), decorrentes da incapacidade geral permanente de que ficou a padecer, é por o respectivo montante pecar por defeito, mas que se confirma dado ter sido este o valor peticionado pelo A. e a limitação imposta pelo artº. 661º, nº. 1 do CPC. No que concerne aos danos não patrimoniais: O A. reclamou da Ré o pagamento a este título de uma indemnização no valor de 20 000. O Tribunal recorrido, atentos os factos que resultaram provados nos autos, entendeu arbitrar uma indemnização, a título de compensação pelos danos não patrimoniais, no referido montante peticionado pelo Autor. A recorrente insurge-se contra este montante indemnizatório que reputa de excessivo, apontando como adequado o montante de 15 000. Mas, em nosso entender e salvo o devido respeito, sem razão. Senão, vejamos: Resulta do disposto no artº. 496º, nºs 1 e 3 do Código Civil que, na fixação da indemnização, deve atender-se aos danos não patrimoniais que, pela sua gravidade, mereçam a tutela do direito, sendo o montante da indemnização fixado equitativamente pelo Tribunal. A indemnização por danos não patrimoniais, não podendo embora anular o mal causado, destinase a proporcionar uma compensação moral pelo prejuízo sofrido. Embora a lei não defina quais são os danos não patrimoniais merecedores de tutela jurídica, tem sido entendido unanimemente pela doutrina e jurisprudência que integram tal ideia as dores e padecimentos físicos e morais, angústia e ansiedade produzidas pela situação de alguém que Página 12 / 14

sofreu um acidente e as lesões decorrentes, os danos resultantes de desvalorização, deformidades, além do sofrimento actual e sofrido durante o tempo de incapacidade, a angústia acerca da incerteza e futuro da situação e a existência e grau de incapacidade sofridos. Será de valorar, também, a circunstância da vítima ter sofrido períodos de doença significativos, com prolongados internamentos hospitalares, períodos de imobilização e intervenções cirúrgicas, dificuldades de locomoção e de condução, além das restrições pessoais e sociais daí decorrentes. «Na fixação da indemnização por danos não patrimoniais, assumem particular significado e importância o chamado quantum doloris, que sintetiza as dores físicas e morais sofridas no período de doença e de incapacidade temporária, o dano estético, que simboliza o prejuízo anátomo-funcional associado às deformações e aleijões que resistiram ao processo de tratamento e recuperação da vítima, o prejuízo de afirmação social, dano indiferenciado que respeita à inserção social do lesado nas suas variadíssimas vertentes (familiar, profissional, sexual, afectiva, recreativa, cultural, cívica), o prejuízo da saúde geral e da longevidade, aqui avultando o dano da dor e o défice do bem-estar, que valoriza os danos irreversíveis na saúde e bem-estar da vítima e corte na expectativa de vida (...)» - vide acórdão da Relação de Lisboa de 26/04/2005, proc. nº. 4849/2004-5, acessível em www.dgsi.pt. No que se refere ao juízo de equidade, tem a jurisprudência entendido de modo uniforme que não deve confundir-se a equidade com a pura arbitrariedade ou com a total entrega da solução a critérios assentes em puro subjectivismo do julgador, devendo a mesma traduzir a justiça do caso concreto, flexível, humana, independente de critérios normativos fixados na lei, devendo o julgador ter em conta as regras da boa prudência, do bom senso prático, da justa medida das coisas e da criteriosa ponderação das realidades da vida. Finalmente, entende-se que a indemnização a fixar deverá ser justa e equitativa, ou seja, não se apresentar como um montante meramente simbólico ou miserabilista, mas antes representar a quantia adequada a viabilizar uma compensação ao lesado pelos padecimentos que sofreu em consequência do sinistro (cfr. acórdão do STJ de 7/06/2011, proc. nº. 160/2002, acessível em www.dgsi.pt). No caso em apreço, os factos provados descritos nas alíneas I) a L), P) a S), V) a AA), CC) a II) e KK) a AAA), que aqui damos por reproduzidos, importam para o A. danos de natureza não patrimonial que merecem tutela jurídica. No âmbito da factualidade apurada acima referida, salientamos o facto do A., em consequência do acidente, ter estado em internamento hospitalar durante um mês e 14 dias (de 10/06/2008 a 24/07/2008), ter sofrido incapacidade total absoluta para o trabalho durante um ano, 6 meses e 26 dias (de 10/06/2008 a 5/01/2010), se ter submetido a 217 sessões de fisioterapia e ter ficado com uma incapacidade geral permanente de 10%, com toda a carga negativa que este circunstancialismo representa para o Autor. Consideramos, pois, justa e adequada a quantia de 20 000 atribuída ao A., na sentença recorrida, a título de indemnização por danos não patrimoniais (que corresponde à quantia por ele peticionada), tendo em atenção o sofrimento físico e psicológico bem como as dores suportados por aquele, o período de internamento e de doença por ele sofrido, o período de tempo em que permaneceu com diversos incómodos inerentes aos tratamentos médicos a que foi sujeito, o receio que teve ao equacionar a possibilidade de não voltar a andar, o facto de ter estado dependente de terceiros para a execução de necessidades e tarefas básicas e o facto da culpa no acidente ser da inteira responsabilidade do segurado da Ré. Não nos merece qualquer censura, também nesta parte, a sentença recorrida. Página 13 / 14

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) Nestes termos, terá de improceder o recurso interposto pela Ré. III. DECISÃO Em face do exposto e concluindo, acordam os Juízes da Secção Cível do Tribunal da Relação de Évora em julgar improcedente o recurso de apelação interposto pela Ré Companhia de Seguros..., S.A. e, em consequência, confirmar a sentença recorrida. Custas pela recorrente. Évora, 16 de Janeiro de 2014 (Maria Cristina Cerdeira) (Maria Alexandra Afonso de Moura Ramos) (Eduardo José Caetano Tenazinha) Página 14 / 14