Potencialidade dos sistemas silvipastoris



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Transcrição:

Resumo Os sistem as silvipastoris consistem de uma com binação natural ou um a associação deliberada de um ou de vários com ponentes lenhosos (arbustivos e/ou arbóreos) dentro de um a pastagem de espécies de gram íneas e de legum inosas herbáceas nativas ou cultivadas e sua utilização com ruminantes e herbívoros em pastoreio. Em síntese, são sistemas de produção que perm item a obtenção de dois ou mais produtos em um mesm o lugar físico com menor im pacto sobre o meio am biente. O plantio de árvores em pastagens pode resultar em vários benefícios para os com ponentes do ecossistem a com o clim a, solo, micro organism os, plantas forrageiras e anim ais. Dessa form a, o pecuarista, além de garantir condições am bientais mais propícias para suas pastagens e criações, garante tam bém um suprim ento de madeira, para uso próprio ou com ércio, sem que para isso tenha que abandonar sua vocação para a pecuária.

Trabalhos recentes de avaliação de desem penho anim ai e da pastagem em subbosque, tanto do gênero Pinus quanto do Eucalyptus, evidenciam o grande potencial destes sistemas para proporcionar melhoria da qualidade da pastagem sombreada e ganhos de peso dos animais. Além disso, a associação de pastagens com árvores contribui para reduzir os danos provocados por geadas na pastagem, em regiões sujeitas a estes fenômenos. Os sistemas silvipastoris apresentam vantagens em relação aos sistemas de produção tradicionais, pois atendem as prem issas de desenvolvim ento econôm ico e social atreladas às questões de proteção e aumento da sustentabilidade ambiental dos sistemas produtivos. O plantio de árvores em pequenas e médias propriedades rurais, através dos sistemas silvipastoris, representa um a im portante estratégia de desenvolvim ento, tanto para produção de madeira para uso diversos, com o para conservação am biental. Diversos resultados de pesquisa comprovam potencialidade dos sistemas silvipastor is para aplicação no meio rural, pois constituem -se de alternativas econôm icas, ecológicas e socialmente viáveis para o fortalecimento da agricultura familiar, proporcionando o aumento da produção, geração de em pregos e, conseqüentem ente, de renda dos produtores rurais. Potencialidade dos sistemas silvipastoris A atividade florestal brasileira tem importante participação no agronegócio nacional. Contribuiu, em 2004, com 5,5 bilhões de dólares em impostos e participou com 4% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, representando um faturamento da ordem de U8$ 24,6' bilhões. O setor florestal brasileiro tam bém tem significativa im portância social, pois assegura a manutenção de cerca de 3 milhões de empregos diretos e indiretos (LEITE, 2005), onde não existe praticamente sazonalidade na utilização de mão-de-obra, pois as demandas caracterizadas pelas diferentes atividades inerentes ao setor florestal são contínuas ao longo do tem po. A demanda anual de madeira no Brasil é crescente e o consumo total de madeira roliça, em 2004, foi estimada em 305 milhões de metros cúbicos, sendo que a produção de florestas plantadas, principalmente, com espécies dos gêneros Eucalyptus e Pinus, não atingiu a metade dessa necessidade. Houve, portanto, um déficit significativo de madeira o qual, com certeza, foi suprido por meio do corte de florestas naturais (8 B8,2005).

A falta de matéria-prima já afeta a indústria moveleira do sul do país e de forma indireta toda a cadeia produtiva da madeira e, como conseqüência, algumas empresas já importam madeira do Mercosul, principalm ente da A rgentina. Deve-se destacar, tam bém, a crescente demanda mundial por produtos não madeiráveis, como resinas, látex, produtos alimentícios, taninos, matéria prima para a indústria farmacêutica e plantas medicinais. De acordo com estatísticas e estim ativas recentes, o Brasil precisa plantar 600.000 hectares de florestas por ano durante, um período de dez anos, para poder estabilizar esta relação de oferta e demanda e reverter essa situação de escassez de madeira (PATZSC H, 2004). Conseqüentemente, diante desta necessidade, surge outra questão importante, ou seja, que estratégias devem usadas para viabilizar o aumento da atual base florestal plantada do País?. A silvicultura baseada nas espécies dos gêneros E ucalyptus e P inus, estim ulada pelos incentivos fiscais, com ênfase na década de 80, tornou o setor florestal fortemente com petitivo, principalm ente pelo segm ento de florestas plantadas. Mesmo assim, a atividade florestal ainda apresenta algumas restrições para médios e pequenos produtores, principalmente, por problemas de fluxo de caixa e longos períodos de investimento. Todavia, esse comportamento vem mudando por meio da criação de programas de financiamento do governo como o PROPFLORA e PRONAF FLORESTAL e da possibilidade da utilização de sistemas de produção, que permitam a diversificação de produtos florestais e agropecuários na mesma unidade de área, possibilitando um aumento na geração de renda e de empregós. Por outro lado, estima-se que mais de 100 milhões de hectares de solo no Brasil estejam em estado de degradação, em decorrência de processos erosivos provenientes de empreendimentos modificadores do meio físico, seja por desmatamento, exploração agropecuária, expansão de áreas urbanas, abertura de estradas ou mineração (R E C U P E RAÇÃO..., 2002).Assim, boa parte dessas áreas apresentam potencial e podem ser usadas para plantios florestais, principalmente com espécies de rápido crescimento com o as do gênero E ucalyptus e P inus.

o utra estratégia que pode ser usada para increm entar a base florestal plantada é a utilização de áreas de pastagens, nativas ou cultivadas, por meio da im piem entação de sistem as silvipastoris, um a vez que existem áreas expressivas ocupadas com pastagens no Brasil. Na região S ui, por exem pio, representam cerca de 48% do total da área física (45.410.000 hectares) em relação aos dem ais sistem as de uso da terra, representados pelas lavouras (35%); florestas naturais (11%); florestas plantadas (4%) e terras não utilizadas (2%) (RIBASKI& MONTOYA,2001). Dentro dessa ótica, os sistemas silvipastoris se apresentam como uma importante alternativa para com patibilizar a silvicultura com a pecuária em sistem as de produção, visando simultaneamente produzir madeira e carne (ou leite), numa mesma área. Estes sistem as junto com os program as de financiam ento, são excelentes mecanism os de desenvolvim ento sustentável, pois têm enorm e potencial para aglutinar aspectos econôm icos (renda), am bientais (conservação de recursos naturais) e sociais (geração de postos de trabalho e fixação de mão-de-obra rural). Os sistemas silvipastoris consistem de uma combinação deliberada de um ou mais com ponentes arbóreos dentro de um a pastagem com posta por gram íneas ou legum inosas herbáceas e sua utilização com rum inantes e herbívoros em pastoreio. Em síntese, são sistem as de produção que perm item a obtenção de dois ou mais produtos em um a mesm a unidade de área com menor im pacto sobre o meio am biente. Benefícios dos sistemas silvipastoris O processo de arborização de pastagens, nativas ou cultivadas, pode resultar em" vários benefícios para os dem ais com ponentes do ecossistem a com o clim a, solo, micro organism os, plantas forrageiras e anim ais. Por exem pio, a presença das árvores contribui para regular a tem peratura do ar, reduzindo sua variação ao longo do dia, ou seja, faz com que haja redução dos extremos climáticos amenizando o calor ou o frio e, conseqüentem ente, tornando o am biente mais estável, o que traz benefícios indiretos ao meio am biente biótico, ou seja, às plantas e aos anim ais com ponentes desses sistem as.

Avaliações de desem penho anim ai e da pastagem em sub-bosque de eucalipto realizadas em sistem as silvipastoris evidenciam o grande potencial de produção destes sistem as, observando-se melhoria da qualidade da pastagem som breada (CA RVALH O, 1998; R IBA8 K I et ai., 2003) bem com o, ganhos de peso dos anim ais (8ILVA & 8A IB RO, 1998; VA RELLA, 1997). A lém disso, a presença do com ponente arbóreo em sistem as silvipastoris contribui para reduzir os danos provocados por geadas na pastagem (PORFíRIO-DA-8ILVA,1994; CARVALHO,1998). Nos sistem as silvipastoris, as árvores tam bém têm o potencial de melhorar os solos por num erosos processos. E m síntese, elas podem influenciar na quantidade e disponibilidade de nutrientes dentro da zona de atuação do sistema radicular das culturas consorciadas, principalm ente pela possibilidade de recuperar nutrientes abaixo do sistem a radicular das culturas agrícolas e pastagens e reduzir as perdas por Iixiviação e erosão.

As perdas de solo, verificadas em um estudo realizado em Alegrete, RS (RIBASKI et ai., 2005), no período de julho a setem bro de 2004 (com 42,9 m m de chuva), foram significativamente maiores na área cultivada com aveia e milho (359 kg/ha) contra 42 kg/ha perdidos na área com pastagem nativa e, somente 32 kg/ha e 18 kg/ha nos sistemas silvipastoris, com Pinus e com eucalipto, respectivamente. Estes resultados comprovam a fragilidade desses solos e mostram a im portância das árvores com o elem entos e ssenciais no processo de proteção dos mesm os (Figura 1). Figura 1. Perdas de solos no período de 07 de julho a 20 de setem bro de 2004, nos sistem as silvipastoris com Eucalyptus grandis e com Pinus elliottii com paradas com as perdas em área de campo nativo e em área de cultivo agrícola com aveia e milho (cultivo anual).

As raízes das árvores, que são mais profundas, podem recuperar os nutrientes que foram lixiviados das cam adas superficiais e se acum ularam no subsolo, fora do alcance dos sistem as radiculares das culturas agrícolas e das pastagens, e retorná-los à superfície na form a de serapilheira. Dessa maneira, a ciclagem de nutrientes minerais, em term os de sustentabilidade, é maior nos sistem as agroflorestais. Na avaliação de um sistem a silvipastoril na região sem i-árida brasileira, envolvendo as espécies algaroba (Prosopis juliflora) e o capim-búfel (Cenchrus ciliaris), foi constatado aum ento nos teores de matéria orgânica (M.O.) na cam ada de O a 20 cm de solo, com a presença do com ponente arbóreo na pastagem. Foi registrada diferença significativa nos percentuais de matéria orgânica, entre os valores médios obtidos no solo sob o dossel da algaroba e aqueles encontrados no solo da pastagem cultivada a céu aberto (RIBASKI, 2000) A inda nesse m esm o experim ento, o som bream ento proporcionado pela árvo res melhorou as condições m icroclim áticas sobre a pastagem, am enizando em média 1,5º C a tem peratura do ar e em torno de 2,7º C a tem peratura das folhas da gram ínea e contribuiu para conservar melhor a um idade do solo. A redução da tem peratura constatada neste experimento, também foi observada em outros estudos (CESTARO, 1988; PORFíRIO-DA- SILVA, 1994 e CASTRO et ai., 1997). Segundo Beer et ai., (1997), a redução da tem peratura do ar, da folha e do solo pode ter influência positiva sobre o m icroclim a debaixo da copa das árvores, principalm ente no aspecto de aum ento da um idade. ' A melhoria do am biente do solo sob a copa das árvores possibilita um a atividade m icrobiana mais efetiva na decom posição da matéria orgânica, o que resulta numa maior liberação do nitrogênio mineralizado (WILSON, 1990) e, a entrada do nitrogênio no sistema, na form a orgânica, têm significativa vantagem sobre os fertilizantes inorgânicos, com relação ao efeito residual e à sustentabilidade.

A associação de pastagens com árvores pode trazer benefícios em term os de disponibilidade e de valor nutritivo da forragem, tendo em vista a possibilidade da adição de nutrientes ao ecossistem a, principalm ente o nitrogênio (CA RVALH O et ai., 1997; RA M ír EZ, 1997; RIBAS K I, 2000). Isto pode ser considerado com o um dos fatores responsáveis pela melhoria da qualidade da pastagem, favorecendo a produção anim ai (CA STR O et ai., 1997). A presença do eucalipto (Corym bia citriodora), em um sistem a silvipastoril com braquiária (Brachiaria brizantha) na região noroeste do Paraná, influenciou a disponibilidade de matéria seca e a qualidade da forragem produzida. N os locais mais próxim os das árvores a produção de biom assa forrageira foi reduzida, porém apresentou melhor qualidade em term os nutricionais, em função do aum ento dos teores de nitrogênio na matéria seca (RIBASKI et ai., 2003). Dessa forma, o sistema silvipastoril mostrou-se potencialmente viável. P rincipalm ente, em função de não apresentar diferença na quantidade de nitrogênio/ha (proteína bruta) disponível para os anim ais, em relação à testem unha (pastagem sem árvores) e pelo adicional de madeira produzido na área (204 m3 lha). A tolerância ao som bream ento é um a condição essencial em associações entre culturas agrícolas e pastagens com árvores e pode variar sensivelm ente entre espécies. A 19umas gram íneas crescem melhor debaixo da som bra da copa das árvores e produzem maior quantidade de forragem, além de possuírem melhor qualidade nutritiva (menor conteúdo de fibra e maior conteúdo de proteína bruta) quando comparadas às que crescem a pleno sol, Já outras não apresentam essa mesm a tolerância nem plasticidade para se adaptar à am bientes com lum inosidade reduzida. Uma síntese da tolerância com parativa de gram íneas forrageiras tropicais à som bra, com base na literatura disponível, é resum ida por Carvalho (1998) na Tabela 1. Entre as espécies de gram íneas de tolerância média, estão algum as das forrageiras mais utilizadas para form ação de pastagem no Brasil e em outras regiões tropicais e subtropicais.

- Tabela 1. Tolerância comparativa de gramíneas forrageira Tropicais ao sombreamento

Considerações finais A atividade florestal exige rotações m ais longas que as dem ais atividades agropecuárias, principalmente para que se obtenha um produto final para serraria. O corte do eucalipto para industrialização, por exemplo, ocorre normalmente aos 7 anos de idade, num regime que permite até 3 rotações sucessivas e econômicas, com ciclo final de até 21 anos. Já o Pinus, além de servir como matéria prima para produção de celulose, é utilizado para fabricação de móveis, chapas e placas, normalmente é cortado com 20 a 25 anos, depois de passar por sucessivos desbastes. Os plantios florestais tradicionais são representados por densos maciços de árvores, plantadas em espaçamentos regulares e normalmente com uma única espécie. Plantios mais adensados resultam na produção de um elevado número de árvores com pequenos diâmetros, as quais normalmente são utilizadas para fins menos nobres como lenha, carvão, celulose, engradados e estacas para cercas. Por outro lado, espaçam entos am pios resultam em um núm ero menor de plantas por unidade de área, tornando mais fácil o acesso de máquinas nas entre linhas por ocasião dos processos de manutenção e tratos culturais do povoamento florestal. Facilitam também a retirada da madeira e em pregam menos mão-de-obra, além de perm itirem a produção de madeira de melhor valor comercial (postes, vigas, esteios e serraria), e possibilitarem a associação com outras culturas em função do maior espaço físico dispon ível. Práticas de manejo florestal, caracterizadas por espaçam entos iniciais largos, desbastes precoces e intensos e podas altas, revelam -se superiores aos tradicionais, com a produção de madeira de boa qualidade e com bons resultados econôm icos, mediante um a mercadoria de maior valor agregado. Além disso, permitem a penetração de altos níveis de radiação no sub-bosque, o que, por sua vez, favorece o desenvolvimento satisfatório de outras espécies, tam bém com valor econôm ico, associadas. Dessa form a, a im plantação de povoamentos, assim manejados, é natu ralmente uma excelente alternativa para se integrar as atividades agrícola, florestal e pecuária em um sistema de produção misto, como por exem pio os sistem as silvipastoris.

Independentemente da cultura plantada, o manejo das áreas para produção agrícola, florestal ou pecuária deve ser sustentável, não apenas do ponto de vista econômico mas, tam bém, social, e ecológico, de acordo com os preceitos básicos envolvidos no conceito de desenvolvimento sustentável. No caso de florestas plantadas com espécies de rápido crescimento, principalmente dos gêneros Eucalyptus e Pinus, deve-se buscar alternativas de manejo mais condizentes com a sustentabilidade e procurar, sempre, atenuar os impactos ambientais que possam vir a existir. Dessa maneira, os plantios realizados com essas espécies em sistem as silvipastoris podem, tam bém, ser considerados com o um a im portante estratégia de desenvolvim ento rural sustentável.

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