Abuso Sexual Contra Crianças e Adolescentes



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Transcrição:

Abuso Sexual Contra Crianças e Adolescentes

Direitos Sexuais de Crianças e Adolescentes Direitos sexuais são direitos humanos universais; Baseiam-se no direito à liberdade, à dignidade e à igualdade para todos os seres humanos; Incluem o respeito à fase de desenvolvimento do ser humano, daquilo que ele é capaz de compreender, consentir, sem ser invadido, sem ser usado como objeto do desejo de um outro; Bem-estar sexual enquanto necessidade para o desenvolvimento humano.

Abuso Sexual: do que falamos? Diferentes definições; Uso de diferentes termos (abuso, vitimização, violação...); Contra crianças e adolescentes (0 a 18 anos incompletos): - diferentes formas de apresentação; - características próprias; - ocorre dentro de contextos específicos; - Diferentes causas e conseqüências.

Abuso Sexual: definições... Todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou homossexual entre um ou mais adultos e uma criança menor de dezoito anos, tendo por finalidade a estimulação sexual sobre sua pessoa ou de uma outra pessoa (Azevedo e Guerra)

(...) é um tipo de violência sexual em que o agressor procura a sua satisfação sexual ou dominação através da sexualidade de uma outra pessoa. É toda situação em que uma criança ou adolescente é usado para a gratificação sexual de pessoas mais velhas, baseada em uma relação de poder assimétrico (ABRAPIA apud Hazeu,2004)

É qualquer forma de exposição da criança ou do adolescente a estímulos sexuais que não sejam compatíveis com a sua idade, com a sua fase de desenvolvimento psicossocial (Franklin Farinati)

Em síntese, o abuso sexual deve ser entendido como uma situação de ultrapassagem (além, excessiva) de limites: de direitos humanos, legais, de poder, de papéis, do nível de desenvolvimento da vítima, do que esta sabe e compreende, do que o abusado pode consentir, fazer e viver, de regras sociais, familiares e de tabus." (Faleiros, 2000)

Formas de Abuso Sexual... Com contato físico (carícias, relações sexuais, sexo oral, etc.) Sem contato físico (exibicionismo, voyeurismo, falas sexualizadas, etc.)

Onde ocorre? Abuso Sexual Intrafamiliar; Abuso Sexual Extrafamiliar; Exploração Sexual Comercial. Maior incidência: abuso sexual intrafamiliar ou incestuoso.

Incesto... Relacionamento sexual entre pessoas que são membros da mesma família (exceto os cônjuges), pois a família não é definida apenas pela consangüinidade ou mesmo afinidade, mas, principalmente, pela função parental social exercida pelas pessoas dentro do grupo (Cohen, 2002 apud Hazeu,2004)

Abuso Sexual Intrafamiliar ou Incestuoso Questão de família: não se restringe a quem abusa ou a quem sofre o abuso ; Dinâmica familiar perpetua o abuso ( síndrome do silêncio ); Ciclos transgeracionais; Envolve laços afetivos, laços de confiança; Comunicação e papéis familiares em conflito (troca de papéis);

Mitos... Meninos não sofrem abuso sexual ; Quem mais abusa sexualmente é o padrasto ; Mulheres não cometem abuso sexual ; Crianças pequenas não sofrem abuso sexual ; Abuso sexual só ocorre em classes sociais pobres ; etc... Contribuem com o preconceito, com a ideia de perfis de vítimas e agressores, contaminando a percepção, dificultando o enfrentamento e atendimento.

Conseqüências do abuso sexual Diferentes fatores envolvidos: - Idade da criança/adolescente no início do abuso; - Grau de violência ou ameaça de violência; - Vínculo entre a criança/adolescente e a pessoa que cometeu o abuso; - Duração do abuso na vida da criança/adolescente; - Forma de manifestação do abuso sexual; - Postura das pessoas próximas diante da situação de abuso sexual (acreditar, confiar, proteger, negar...); - Percepção da criança sobre o abuso vivido; - Atendimento especializado, em rede, eficaz.

Enfrentamento - Posicionamento baseado nos princípios dos Direitos Humanos; - Busca de mudanças nas estruturas institucionais, nos valores e ideologias dominantes; - Trabalho em 6 eixos (Plano Nacional): Análise de Situação; Mobilização e articulação; Prevenção; Defesa e responsabilização; Atendimento; Protagonismo infanto-juvenil. A razão controla, a paixão move (Toro, 1997 apud Hazeu, 2004)

Atendimento - Necessidade de atenção especial; - Atendimento em Rede: envolvimento de diferentes atores da rede de atenção e proteção; - Atenção deve envolver toda a família, e não apenas a criança ou adolescente e a pessoa que abusa; - Atendimento terapêutico: realizado a partir de um diagnóstico; pode ocorrer em diferentes abordagens; - Possibilidade de re-significar a violência sofrida; retomar o desenvolvimento; busca de bem-estar físico e psíquico; - Respeito ao tempo da criança e do adolescente (muitas vezes, diferente do tempo das instituições...).

Atendimento - Atendimentos em diferentes enquadres: individual, grupal, familiar; - Re-construção da possibilidade de confiar, no outro e em si mesmo; - Trabalho com os sentimentos ambíguos que envolvem as situações de abuso sexual, em especial, o abuso incestuoso; - Cuidado para não re-vitimização da criança, do adolescente e da família; - Importância do atendimento à pessoa que abusa sexualmente; - Busca da interrupção de um ciclo.