Guia para uma vida mais SUSTENTÁVEL Pequenas acções para grandes mudanças Permitam-nos falar no plural. Todos sonhamos com uma cidade mais verde, onde temos um maior contacto com a Natureza e a paisagem não é revestida a cimento, atulhada de carros ou coberta por uma camada de poluição certo? Podemos esperar que a realidade das nossas cidades se altere por obra e graça das entidades responsáveis. Mas podemos, também, alterar os nossos hábitos e adoptar rotinas individuais que contribuam para uma redução da poluição urbana geral. Este guia foi criado para ajudar todos aqueles que acreditam ou querem acreditar que a mudança começa em cada um de nós, que querem partir para a acção, alterar pequenos (e grandes) hábitos e ter mais consciência do nosso impacto neste lindo planeta. +
Entre as pequenas acções que estão ao nosso alcance e que produzem alguma mudança ou melhoria estão, por exemplo: opções de mobilidade, como escolher a bicicleta em vez do carro; a gestão dos resíduos, como a separação do lixo; a diminuição do desperdício, como fazer compostagem de resíduos orgânicos; etc. E quanto às alterações da paisagem? Será que plantar um jardim no terraço ou começar uma horta na nossa varanda terá mesmo impacto na diminuição da poluição ou na melhoria do ambiente urbano? Somos dos que, como o Carlo Petrini do movimento Slow Food, consideram que ter uma horta em casa é um símbolo de resistência, mas arriscamos até a ir um pouco além e afirmar que esta é uma acção de combate à poluição! Está aberta a discussão, deixamos aqui alguns argumentos e, como sempre, estamos abertos a outras opiniões. As hortas urbanas no combate às alterações climáticas Mesmo se reduzíssemos significativamente as emissões de gases com efeito de estufa a partir de hoje, teríamos sempre que lidar com os efeitos dos erros que cometemos no passado. Não há muito a fazer, as alterações climáticas são uma realidade e não adianta muito a escolha entre mitigar ou adaptar-se ambas são necessárias, complementares, e as cidades têm um importante papel a desempenhar nesse sentido. Assim sendo, fenómenos como o aumento médio da temperatura, as ondas de calor ou as chuvadas fortes serão cada vez mais frequentes nas nossas cidades, que, para além destes novos problemas, terão que continuar a garantir o acesso adequado aos serviços urbanos básicos como água, alimentos ou energia. Substituir o betão, o asfalto ou o vidro por telhados verdes, jardins ou hortas urbanas pode ajudar a reduzir o superaquecimento dos edifícios no Verão e permitir o isolamento térmico no Inverno, resultando num menor consumo de energia. Além disso, as superfícies voltam a ser permeáveis possibilitando a infiltração natural da precipitação no solo e uma melhor drenagem, gestão e escoamento das águas, evitando as cheias.
Áreas urbanas ou periurbanas cultivadas, também trazem benefícios na redução de emissões e na gestão de resíduos orgânicos, já que estes podem ser utilizados como fertilizantes biológicos. Os impactos negativos das mudanças climáticas nas cidades exigem, ainda, uma perspectiva nova quanto à produção e abastecimento de alimentos. Aumentar a autonomia e subsistência das áreas urbanas para fazer face a possíveis interrupções de fornecimento de alimentos poderá vir a ser um problema real e, talvez por isso, muitas cidades estão já a definir programas municipais de agricultura urbana e segurança alimentar. Reduzir o desperdício e gerir melhor os recursos Podemos adjectivar o sistema de abastecimento de alimentos das cidades contemporâneas de global, distante, industrial e massificado com toda a carga negativa ou positiva que cada um deles tem. Mas, no que toca à poluição, um sistema altamente exigente do ponto de vista da produção, embalamento, transporte e conservação é, indiscutivelmente, um gigante consumidor de recursos e um constante gerador de resíduos. Em 1994, deu-se início à discussão sobre os food miles (https://www.sustainweb.org/publications/the_food_miles_report/), tendo em conta a distância percorrida pelos alimentos até serem consumidos e as implicações sociais e ecológicas do comércio internacional de alimentos. Embora a distância percorrida por aquilo que comemos seja um ponto a ter em conta, este não é o único valor a somar à conta da nossa pegada ecológica. Por vezes, a produção local não é sinónimo de menos emissões de gases com efeitos de estufa. Por exemplo, um tomate produzido em Espanha e enviado para a Dinamarca pode acabar por ser mais ecológico do que um tomate produzido num clima desapropriado, fora de época e recorrendo a luz e calor artificial. Há que ter em conta a intensidade das emissões geradas, não só pela distribuição, mas também pela produção. No entanto, quanto menos intermediários e quanto maior a proximidade e comunicação entre produtor e consumidor maior a confiança e garantia de saúde e sabor. Controvérsias (https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/s0306919208000997) à parte, uma coisa é certa: se produzirmos parte dos nossos alimentos em casa de forma biológica e se os partilharmos entre vizinhos ou família, reduzimos certamente o consumo de fertilizantes químicos, de combustíveis fósseis ou de plásticos e embalagens! A biodiversidade está sob ameaça O ar que respiramos, a água que bebemos e aquilo que comemos: todos dependem da biodiversidade. A comunidade científica está verdadeiramente preocupada com o declínio massivo da vida selvagem e a forma como isso coloca em risco o nosso planeta. A perda da biodiversidade é, no mínimo, tão preocupante quanto o aquecimento global. Posto isso, como podemos ou devemos agir no nosso dia-a-dia? Conhecemos cerca de 1,8 milhões de outras espécies, mas a estimativa é que esta diversidade seja ainda maior e sejamos cerca de 100 milhões de espécies a partilhar o mesmo planeta. A taxa de espécies que têm vindo a desaparecer é, hoje, de 100 a 1000 vezes superior à taxa natural de extinção. Alguns cientistas falam de um processo que poderá levar a uma sexta extinção em massa, sendo a última a dos Dinossauros. Esta velocidade de erosão da diversidade biológica deve-se em grande parte à actividade humana: urbanização, desmatamento, pesca predatória, poluição da água, do ar, do solo, introdução de espécies evasivas, mudanças climáticas, etc.
Quer no campo como na cidade, a biodiversidade é primordial. Como poderemos viver sem plantas, sem a polinização das abelhas, sem frutos, sem oxigénio? É urgente agir em favor desta diversidade, mesmo quando os tratados internacionais ou as políticas parecem estar a mudar. Cada um de nós deve estar consciente deste problema e agir pelos seus próprios meios e à sua escala, alterando comportamentos e promovendo mudanças. Eis 10 sugestões de como podemos agir à escala individual: 1. Reutilizar, reciclar e doar o que já não precisa! Reduzir o consumo de uma forma geral e fazer compostagem dos restos orgânicos. Este é um processo biológico em que a matéria orgânica (folhas, papel, mas também restos de comida) é transformada pelos microrganismos num material a que se chama composto. O composto pode, depois, ser usado como fertilizante orgânico. 2. Comprar produtos locais e sazonais. Priorizar circuitos curtos e produtos de origem biológica ou ecológicos. 3. Banir o plástico! Optar, por exemplo, por uma garrafa de água reutilizável. 4. Restaurar, tanto quando possível, vida selvagem no seu quintal, pátio ou varanda! Começando a cultivar legumes, aromáticas e flores ou instalando um abrigo para aves, por exemplo. Quanto mais o seu espaço exterior se parecer com um ecossistema natural, melhor! 5. Banir pesticidas ou fertilizantes químicos! Seja deixando de os utilizar, ou mesmo evitando consumir produtos que os utilizem na sua produção. 6. Poupar energia. Pode fazê-lo de duas formas simples: usar apenas as luzes estritamente necessárias (se está no sofá com o computador, se calhar não precisa de mais luz nenhuma para estar confortável); e ligar os aparelhos electrónicos a uma extensão, que desliga completamente quando não os está a usar. 7. Minimizar ao máximo a impressão de papel. Se precisa de se lembrar de alguma coisa que viu online, escreva-a num caderno ou num documento do Word. Outro bom conselho é fazer os possíveis para que todas as suas contas sejam pagas sem ser necessário imprimir nada. 8. Aproveitar todos os recursos naturais disponíveis. Antes de gastar energia (e dinheiro) em aquecimento e ar condicionado, pense que tapetes e carpetes podem ajudar a manter a casa quente de uma forma eficaz. 9. Estar atento aos gastos de água. Desligar a água sempre que não a está a usar nos duches e enquanto lava a loiça, por exemplo é uma acção simples, que pode ter um grande impacto. 10. Fazer vistorias regulares às diferentes zonas da sua casa. Consertar canos rotos, trocar equipamentos ou lâmpadas por soluções mais eficientes pode significar poupar recursos facilmente.
Links interessantes: www.noocity.com https://www.noocity.com/ https://www.slowfood.com/ https://www.sustainweb.org/publications/the_food_miles_report/ https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/s0306919208000997 Créditos das imagens: 1. Dezeen - https://www.dezeen.com/2013/11/08/mo-house-in-the-woods-by-frpo/ 2. Noocity 3. Noocity