ESTUDO DE FRATURAS NOS TALUDES DE CORTE, EM ROCHA VULCÂNICA, AO LONGO DA BR 158, SANTA MARIA, RS

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Transcrição:

ESTUDO DE FRATURAS NOS TALUDES DE CORTE, EM ROCHA VULCÂNICA, AO LONGO DA BR 158, SANTA MARIA, RS Andrea V. Nummer e Luis Eduardo S. Robaina Departamento de Geociências - CCNE UFSM - Santa Maria, RS Marcos Geovane Berger Mestrando - CCR UFSM - Santa Maria, RS RESUMO Os processos de alteração e o grau de fraturamento das rochas são fatores condicionantes à ocorrência de queda de blocos. Desse modo, estudou-se as características dos fraturamentos das litologias vulcânicas junto a subida da serra, BR 158, município de Santa Maria, RS. Para a aquisição de dados,utilizou-se o método da Scanline de BRADY & BROWN (1985). Os dados obtidos foram analisados por meio de estatística vetorial. Os principais grupos de fraturas definidos, associam-se com o resfriamento da rocha e estão representados pelas atitudes médias: Grupo 1: 348;83; Grupo 2: 174;82; Grupo 3: 85;76; Grupo 4: 265;75; Grupo 5: 300;42 e Grupo 6: 121;53. Rev. Ciência e Natura, Santa Maria, 21: 97-117,1999. 97

ABSTRACT Weathering processes and jointing degree are the conditioning factors for rock fali. The fractured volcanic lithologies from Santa Maria, RS, Brazil, were studied along the BR 158 road. Data was gathered through the Scanline method from BRADY & BROWN (1985) and analyzed by vector statistics. Six main jointing groups were defined, associated to rock cooling and shrinking. Main attitudes are: Group 1: 348;83; Group 2: 174;82; Group 3: 85;76; Group 4: 265;75; Group 5: 300;42 and Group 6: 121 ;53. 1. INTRODUÇÃO: As características do substrato rochoso, associadas a intensidade do intemperismo, a natureza da alteração e grau de fraturamento, condicionam a suscetibilidade do material à ação de processos geológicos, como movimentos de massa. Dessa forma, o estudo das características das fraturas nos maciços rochosos é fundamental para trabalhos de prevenção e controle. Os principais parâmetros que influenciam são: orientação espacial das famílias de descontinuidades (atitude); a abertura das descontinuidades; preenchimento; estado de alteração das paredes; espaçamento entre as descontinuidades e rugosidade. O estado tensional a que os maciços rochosos estão submetidos é perturbado quando se executa escavações para taludes traduzindo-se em deformações que podem atingir várias magnitudes e levar as rochas a romperem-se gradativamente (desplacamento de paredes). Diferentes problemas vem sendo registrados pelos meios de comunicação, no que refere- se a questões de segurança de rodagem em estradas, sejam elas rodovias federais, estaduais ou simplesmente estradas 98 Rev. Ciência e Natura, Santa Maria, 21: 97-117,1999.

vicinais. A falta de segurança de rodagem, muitas vezes, está relacionada a problemas de erosão, quedas de barreiras, buracos, etc. Neste trabalho, avaliou-se as características estruturais das rochas vulcânicas que compõem diferentes taludes de corte na rodovia federal Br 158,no Rio Grande do Sul, entre os municípios de Santa Maria e Júlio de Castilho que apresentam risco de queda de blocos. Este trecho da Br 158, encontra-se sobre o Planalto Sul- Brasileiro, num percurso de aproximadamente 10 km sobre o Rebordo do Planalto ou Serra Geral, região mais íngreme. 2. METODOLOGIA 2.1. Levantamento Sistemático de Dados: As descontinuidades identificadas nas rochas dos taludes estudados formam fraturas que são estruturas geológicas com feições tabulares ou planares de reduzida capacidade mecânica, com propriedade e rigidez muito inferior às das rochas encaixantes. O levantamento sistemático possui caráter quantitativo. A descontinuidades foram agrupadas, segundo critérios geológicos, e descritas, para posterior tratamento estatístico. Foram escolhidas três "janelas" em diferentes taludes de corte, na BR 158, no Rebordo do Planalto, a partir da ponte "Garganta-do-diabo", até o local da Sociedade Concórdia Caça e Pesca (SOCEPE), na cidade de Itaara. Foram, portanto, analisadas três "janelas" ou taludes a saber: i)scanline 1: Garganta do diabo, ii) Scanline 2: Km 240, e iii) Scanline 3: Socepe de onde foram retiradas de 30 a 80 medidas estruturais em cada talude. O método da Scanline descrito em BRADY & BROWN (1985), consiste em uma trena de poliéster espichada a uma altura de 1m onde são analisadas todas as fraturas que interceptam esta trena. Na descrição de Rev. Ciência e Natura, Santa Maria, 21: 97. 117,1999. 99

cada descontinuidade foram analisados os seguintes parâmetros, conforme ISRM (1983): orientação espacial; continuidade da estrutura; quantidade das juntas; morfologia da superfície da fratura; forma e natureza dos preenchimentos. 2.2. Método de Estatística Vetorial Por meio do método de análise vetorial, de um banco de dados, de medidas de atitudes de fraturas, é possível determinar, graficamente, se essas medidas apresentam uma distribuição aleatória (randômica) ou preferencial. Neste último caso, obtém-se um vetor médio de orientação para o conjunto de fraturas medidas. Existem dois tipos de distribuição preferencial: tipo "cluster", que ocorre quando os pólos das fraturas concentram-se em pontos isolados no estereograma e tipo "girdle", onde os pólos ocorrem ao longo de um mesmo grande círculo no estereograma. A determinação do vetor médio é baseada no método de eigenvalue de análise de orientações, conforme proposto no trabalho de WOODCOCK & NAYLOR (1983). O método é aplicável para qualquer número de orientações e, a base teórica, consiste em obter para cada medida de fratura (direção e mergulho) um vetor que é calculado a partir de três parâmetros: I: cos (mergulho).cos (direção) m: cos (mergulho).sen (direção) n: sen (mergulho) O somatório dos produtos de cada conjunto de parâmetros, calculados a partir de uma matriz normalizada, é chamado "tensor de orientação", a partir do qual, são obtidos três eixos principais, denominados eigenvectors (V1, V2, V3) com suas respectivas dimensões (I.t, À2, À3), denominadas eigenvalues. S1, S2 e S3 são os eigenvaluesnormalizados 100 Rev. Ciência e Natura, Santa Maria, 21: 97-117. 1999.

onde os valores obtidos para À1, À2 e À3 são divididos pelo número de medidas (N). Os valores de 81, 82 e 83 são utilizados para cálculo dos parâmetros da forma de distribuição (cluster ou girdle) e grau de orientação preferencial (forte ou fraco). O parâmetro forma é expresso por: K = In (81/82)/ln (82/83). Para O ~ K ~ 1, a forma de distribuição é do tipo girdle, enquanto para K > 1, a forma de distribuição é do tipo cluster. O grau de orientação do conjunto de fraturas (forte ou fraco) é expresso pelo parâmetro C, conforme a equação: C = In (81/83). Os eigenvectors e eigenvalues, bem como os valores de 81, 82, 83 e a atitude média do plano das fraturas, foram obtidos por cálculo computacional através do software 8tereoNet. 3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A Br 158, no R8, encontra-se sobre o Planalto 8ul Brasileiro e o Rebordo do Planalto, que resultou da superposição de vários derrames de lava. O trecho estudado da rodovia está localizado sobre o Rebordo, que representa uma zona de transição entre a Depressão Central e o Planalto. Está representado por vales cujas vertentes, variam desde as mais íngremes (> 47%), até as vertentes mais suaves, com inclinação em torno de 5%, caracterizando-se por uma região com intensos processos fisiográficos sobre a superfície do Planalto. Do ponto de vista geológico, esta sucessão de derrames, compõem a Formação 8erra Geral. A estratigrafia dos derrames, revelou a existência de uma seqüência inferior básica e outra superior de composição ácida (8ARTORI et ai., 1975). Os derrames estudados compõem os três derrames da seqüência inferior, com a base, do primeiro, situado a uma Rev. Ciência e Narura, Santa Maria, 21; 97-117,1999. 101

altitude próxima de 200m em contato com o arenito da Formação Botucatú. Segundo SARTORI & GOMES (1980), correspondem a basaltos toleíticos. Conforme KOPPEN, (apud PONTELLI, 1994), o clima da região centro do estado do Rio Grande do Sul que engloba a região de estudo (municípios de Santa Maria e Júlio de Castilhos), enquadra-se no tipo temperado, chuvoso e quente. Em relação a precipitação média anual, os índices oscilam entre 1750 e 2000 mm bem distribuídos ao longo do ano, sendo os meses de fevereiro, março, outubro a novembro os menos chuvosos e entre e os meses de junho e julho os mais chuvosos. A BR 158 foi construída sobre os interflúvios que separam as Bacias Hidrográficas do Jacuí, a leste e a do Ibicuí, a oeste, com altitudes que variam entre 350 e 450 metros. Um dos principais processos que põem em risco o tráfego pela região do Rebordo, são movimentos que consistem nos deslocamentos de blocos de rocha por gravidade e, que podem ser assim classificados: i. Queda de Blocos: envolvem materiais rochosos de volume e litologia diversos, que se deslocam em taludes ou encostas íngremes em movimento tipo queda livre; ii. Tombamento de Blocos: movimento que se dá pela rotação dos blocos rochosos, condicionados pela presença de estruturas geológicas no maciço rochoso, com grande mergulho; iii. Rolamento de Blocos: corresponde a movimentos de blocos rochosos ao longo de superfícies inclinadas. Estes blocos, geralmente, encontram-se parcialmente imersos em matriz terrosa, destacando-se dos taludes e encostas por perda de apoio. 4. RESULTADOS OBTIDOS Foram analisados três taludes ao longo da BR 158 pertencentes a derrames diferentes e que apresentavam alto risco de queda 102 Rev. Ciência e Natura. Santa Maria. 21: 97-117. 1999.

de blocos. A análise vetorial foi realizada e também, para o banco total de dados. para cada scanline separadamente 4.1. Scanline 1 Rochas vulcânicas básicas, pertencentes ao primeiro derrame, com descontinuidades do tipo juntas ou fraturas de resfriamento, mediamente alteradas (rocha descolorida) a praticamente sãs em alguns locais. Com base nas feições observadas, representam a parte central do derrame. As descontinuidades variam de próximas (6 a 20 cm) à medianamente afastadas (20 a 60 cm). Possuem abertura que varia de 0,5 a 1 cm, sem preenchimento. A superfície das descontinuidades são, na grande maioria, paredes com alteração incipiente com sinais de exsudação de água com aparência ondulada rugosa e ondulada lisa mais comumente. Predominam rochas coerentes, que quebram com dificuldade. A análise vetorial foi realizada para 82 dados desta scanline de 30m de comprimento (Tabelas 1 e 2). Foram definidos 7 conjuntos de dados designados de F1 a F7 (Figuras 1 e 2), tratados individualmente pela estatística vetorial com as seguintes atitudes médias: F1:311;77 F2: 170;82 F3: 159;85 F4: 282;81 F5: 241;44 F6: 177;37 F7: 120;57 Rev. Ciência e Natura, Santa Maria, 2 I: 97 - I 17,1999. 103

4.2. Scanline 2 Maciço rochoso, composto de rocha vulcânica básica, pertencente ao segundo derrame, medianamente alterado (rocha descolorida) e medianamente fraturado (6 a 10 fim) onde as descontinuidades são, em geral, medianamente afastadas (20 a 60 cm) a afastadas (60 a 200 cm). A abertura das fraturas varia de 0,5 a 3 cm, mostrando paredes onduladas lisas, com alterações incipientes, sinais de percolação d'água e ausência de preenchimento. Neste ponto, ocorre o talude de corte de maior altura, aproximadamente 20m, onde pode-se observar fraturas de resfriamento que geram blocos de 1m de comprimento por 40-50 cm de largura e até de tamanhos maiores. Nesta porção, o risco de queda de blocos, individualizados pelas fraturas, é bastante grande. A análise vetorial foi realizada com 30 medidas de fraturas nesta scanline (Tabelas 1 e 2). O conjunto de fraturas definidos par esta scanline estão representadas nas figuras 3 e 4 e têm as seguintes atitudes médias: F1: 354;82 F2: 171;72 F3: 268;54 F4: 90;60 F5: 123;51 4.3. Scanline 3 Os dados de descontinuidades, foram coletados ao longo de uma scanline, medindo 20 m. O Maciço rochoso, de composição vulcânica básica, pertencente ao terceiro derrame, apresenta-se medianamente alterado (rocha descolorida) a muito alterado em alguns locais (mais da 104 Rev. Ciência e Natura, Santa Maria, 21: 97-117, 1999.

metade do material rochoso está decomposto). Quanto ao grau de fraturamento, mostra-se medianamente (6 a 10 fim) a muito fraturado (11 a 20 fim) com descontinuidades muito próximas «6 cm) e aberturas que variam de 0,5 a 2 cm. As superfícies das fraturas, mostram alteração incipiente com sinais de percolação d'água e preenchimento ausente. Têm aspecto ondulado liso, sendo planas rugosas, planas lisas e localmente planas polidas (em locais de escorregamento recente). Quanto ao grau de coerência as rochas apresentam-se medianamente a pouco coerentes, e em locais de maior alteração, completamente incoerentes. Ocorre a presença, significativa, de esfoliação esferoidal alterando o mergulho das fraturas. A estatística vetorial foi realizada com 49 dados (Tabelas 1 e 2). Com base na representação das figuras 5 e 6, os grupos definidos, apresentam as seguintes atitudes médias: F1: 358;79 F2: 175;85 F3: 320;71 F4: 302;84 F5: 83;78 F6: 209;38 Conforme os diagramas de isolinhas de pólos e rosetas, nas figuras 1, 2, 3, 4, 5 e 6, existem grupos principais de fraturas bem definidos em cada uma das scanlines. Plotando-se no gráfico modificado de WOODCOCK & NA YLOR (1983) os parâmetros C e K calculados com todos os dados de cada scanline, constata-se que eles apresentam fraca orientação preferencial e distribuição tipo cluster (Figura 7). Rev. Ciência e Naiura, Santa Maria. 21: 97-117,1999. 105

Tabela 1. Valores de Eigenvectors das scanlines 1, 2 e 3. Scanline 1 Scanline2 Scanline 3 V1 V2 V3 V1 V2 V3 V1 V2 V3 L 0.108-0.993-0.041-0.022-0.012 1.000-0.020 0.548-0.836 M 0.098 0.052-0.994-0.064 0.998 0.010-0.054 0.834 0.548 N 0.989 0.103 0.103 0.998 0.064 0.023 0.998 0.056 0.013 Dir. 42.451 177.00 267.62 251.22 90.674 0.591 249.74 56.698 146.74 Merg 81.615 5.904 5.933 86.117 3.660 1.296 86.690 3.255 0.746 Tabela 2: Eigenvalues das scanlines 1,2 e 3 8canline 1 8canline 2 8canline 3 À.1 70.081 26.854 40.779 À.2 6.869 2.343 4.685 À.3 5.030 0.813 3.536 81 0.084 0.895 0.832 82 0.855 0.078 0.096 83 0.061 0.027 0.072 C 2.634 3.509 2.445 K 7.374 2.279 7.692 N 82 30 49 81/82 10.173 11.463 8.705 82/83 1.370 2.916 1.325 81/83 13.934 33.425 11.532 InS1/S2 2.320 2.439 2.164 InS2/S3 0.315 1.070 0.281 \06 Rev. Ciência e Natura. Santa Maria. 2\: 97 - \ \7. \999.

4.4. Análise das scanlines em conjunto A análise do conjunto dos dados obtidos nas três scanlines permitiu identificar 6 grupos principais de fraturas (Figuras 8 e 9) cujas atitudes dos planos médios são determinadas pela análise vetorial apresentada nas Tabelas 3 e 4. Tabela 3:. Valores de Eigenvectors dos grupos Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 Grupo 6 V1 V1 V1 V1 V1 V1 L 0.117-0.125 0.012-0.026 0.372-0.319 M -0.27 0.017 0.234-0.254-0.631 0.511 N 0.993 0.992 0.952 0.967 0.681 0.798 Dir. 347.002 172.146 87.089 264.075 300.525 121.996 Merg 83.095 82.753 76.471 75.193 42.888 52.963 V2 V2 V2 V2 V2 V2 L -0.949 0.992 0.109 0.400 0.776 0.909 M -0.298-0.015-0.967 0.883 0.614 0.402 N 0.104 0.125 0.231 0.243 0.145 0.106 Dir. 197.434 359.110 276.413 65.617 38.385 238.73 Merg 5.961 7.194 13.357 14.076 8.348 6.086 V3 V3 V3 V3 V3 V3 L -0.293-0.017 0.994-0.916-0.0510 0.267 M 0.954-1.000-0.103 0.394 0.474-0.760 N 0.0611 0.015 0.037 0.078 0.718 0.593 Dir. 107.071 269.000 185.911 156.748 137.095 289.370 Merg 3.472 0.870 2.113 4.501 45.903 36.365 Rev. Ciência e Natura, Santa Maria, 21: 97-117,1999. 107

Tabela 4: Eigenvalues dos grupos Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 Grupo 6 À1 21.809 44.514 19.545 37.484 30.442 7.922 À2 0.124 0.247 0.412 2.636 0.643 2.868 À3 0.067 0.060 0.043 0.87 0.114 0.210 81 0.991 0.989 0.977 0.914 0.811 0.720 82 0.006 0.009 0.021 0.064 0.161 0.261 83 0.003 0.001 0.002 0.021 0.029 0.019 C 5.803 6.614 6.127 3.752 3.344 3.631 K 8.6787 2.364 1.702 2.418 0.936 0.389 N 31 45 30 41 4 11 81/82 175.960 104.324 47.447 14.218 5.030 2.762 82/83 1.853 7.143 9.657 2.998 5.623 13.662 81/83 325.266 745.1665 458.183 42.627 28.332 37.740 In(81/82) 5.170 4.648 3.860 2.654 1.617 1.016 In(82/83) 0.617 1.966 2.268 1.095 1.727 2.615 108 Rev. Ciência e Natura. Santa Maria. 21: 97-117. 1999.

5. CONCLUSÕES A aplicação do método de análise estatística vetorial de WOODCOCK & NAYLOR (1983), permitiu as seguintes conclusões: a) as fraturas medidas nos três taludes (scanlines 1, 2 e 3) têm orientação preferencial fraca e forma de distribuição do tipo cluster; b) a análise das principais famílias de fraturas de cada scanline possibilitou que fossem trabalhadas com um único conjunto de dados determinando-se grupos de fraturas; c) foram registrados 6 grupos principais de fraturas nos três taludes ao longo da rodovia, cujas atitudes dos planos médios são: Grupo 1: 348;83 Grupo 2: 174;82 Grupo 3: 85;76 Grupo 4: 265;75 Grupo 5: 300;42 Grupo 6: 121 ;53 d) As fraturas medidas para os grupos 1, 2, 3, 4, apresentam fraca orientação preferencial e distribuição tipo cluster. Os grupos 5 e 6 apresentam fraca orientação preferencial e distribuição tipo girdles (Figura 10), podendo ser considerados como um único grupo. Neste trabalho, as atitudes das estruturas em campo permitiram estabelecer dois grupos bem definidos. As fraturas estudadas, são originadas por processo de resfriamento, o que confere o aspecto colunar aos blocos dos taludes das scanlines 1 e 2, referentes à porção central dos derrames. As descontinuidades variam de medianamente afastadas na scanline 2, muito Rev. Ciência e Natura, Santa Maria, 21: 97-117,1999. 109

próximas na scanline 3 e próximas na scanline 1.A abertura das fraturas varia entre 0,5 e 3cm. O processo de desconfinamento e quedas de blocos, se dá pela ação dos agentes superficiais que atuam nas descontinuidades do maciço rochoso. Estes agentes, isolam blocos, definidos pelo arranjo dos fraturamentos que variam de 1 a 2m de comprimento por 40 a 60 cm de espessura. O talude referente à Scanline 2, foi considerado o de maior risco. Isto deve-se ao fato dele representar um corte superior a 15m, muito verticalizado, associado a uma região de centro-base de derrame, com intenso fraturamento vertical e horizontal, que configuram as disjunções colunares. O talude referente à Scanline 3, apresenta o maior grau de alteração que, juntamente com as diferentes famílias de fraturas, individualiza blocos de aproximadamente 50cm de diâmetro por 1 a 1,5m de comprimento. Neste local ocorre intensa esfoliação esferoidal. 110 Rev. Ciência e Natura, Santa Maria. 21: 97-117. 1999.

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Figura 1. Diagrama de Rosetas (83 dados) - Scanline 1 N ( ) F7 F3 12% @F6 -I- F2,S 9% ;:%~~ f11~i 6 % 3% F4 Figura 2:. Diagrama de Isolinhas de Pólos (83 dados) - Scanline 1 112 Rev. Ciência e Natura. Santa Maria. 21: 97 - I 17. 1999.

N Figura 3:. Diagrama de Rosetas (30 dados) - Scanline 2 N ([@7F4 Figura 4: Diagrama de Isolinhas de Pólos (30 dados) - Scanline 2 Rev. Ciência e atura, Santa Maria. 21: 97 - I 17. 1999. 113

Figura 5: Diagrama de Rosetas (49 dados) - Scanline 3 F5 N F3 12% F2 + 8% F6 O 4% Figura 6: Diagrama de Isolinhas de Pólos (49 dados) - Scanline 3 114 Rev. Ciência e Natura, Santa Maria, 21: 97-117,1999.

8 '( ~~ 7 K:=.t.O ~~~ / )(:oa1. o /f;' 6 ~ J'1>b N ~~ 5 d' ~... (Iḻ 4 c- 3 2 K-o.2 1 6 Figura 7:. Gráfico mostrando a forma de distribuição (parâmetro K) e o grau de orientação preferencial das fraturas (parâmetro C). Os pontos 1, 2 e 3 representam respectivamente Scanline1, Scanline 2 e Scanline 3. Rev. Ciência e Natura, Santa Maria, 21: 97-117, 1999. 115

N 9.2%... G5 + 8.0% 6.7'% 5.5% 4.3% 3.1 % 1.8% Figura 8:. Diagrama de Isolinhas de Pólos (162 dados) Figura 9: Diagrama de Rosetas (162 dados) 116 Rev. Ciência e Natura, Santa Maria, 21: 97-117, 1999.

8 7 6 5 N o» ;::::4 Cf) C 3 2 Figura 10: Gráfico mostrando a forma de distribuição (parâmetro K) e o grau de orientação preferencial dos grupos de fraturas (parâmetro C). Rev. Ciência e Natura, Santa Maria, 21: 97-117,1999. 117

118 Rev. Ciência e Natura, Santa Maria. 21: 97-117,1999.