Efeitos Alelopáticos do Azadirachta indica (Nim) na germinação de alface (Lactuca sativa L.) Júlia Maluf dos SANTOS NETA 1 ; Luciano Donizete GONÇALVES 2 ; Haroldo Silva VALLONE 3 ; Maria Cristina da Silva BARBOSA 4. 1 Aluna de Agronomia e bolsista do CNPq pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica do IFMG - Bambuí 2 Professor Drº do Instituto Federal de Minas Gerais Campus Bambuí 3 Professor Drº do Instituto Federal Do Triângulo Mineiro Campus Uberaba 4 Responsavel técnica do Laboratorio multidisciplinar de Biologia (LAMUBI) do Instituto Federal de Minas Gerais Campus Bambuí Bambuí MG Brasil RESUMO A alelopatia é definida como efeito inibitório ou benéfico, ocorrendo via produção de compostos químicos do metabolismo secundário, que são liberados no ambiente. São de grande importância as interações alelopáticas entre plantas, onde descobrem-se fatores que interferem ou auxiliam determinadas culturas, desde sua germinação a combate de insetos invasores, fungos, bactérias, dentre outras pragas. Esse fenômeno ocorre em comunidades naturais de plantas e pode também interferir no crescimento das culturas agrícolas. O nim (Azadirachta indica) é nativo de Bruma, sudoeste da Ásia, pertencente à família Meliáceae, conhecido há séculos e utilizado por mais de 2000 anos na Índia e em países da Ásia Meridional por suas propriedades medicinais. Possui componentes biologicamente ativos, sendo os principais a azadiractina, meliantriol, limoneno e odoratone; dentre os mais de 100 triterpenóides isolados, a azadiractina é a mais importante. A cultura da alface é uma hortaliça de grande importância econômica, porém, muito sensível a diversos fatores. Objetivou-se neste trabalho a avaliação do efeito do extrato de folhas de nim sobre a germinação de sementes de alface. Para isso, implantou-se um experimento em delineamento inteiramente ao acaso com 12 tratamentos e cinco repetições no Laboratório Multidisciplinar de Biologia do Instituto Federal de Minas Gerais, Campus Bambuí. Os tratamentos consistiram de três solventes (água, hexano e metanol) aplicados em quatro concentrações (0, 2,5; 5,0 e 10 %). Os dados obtidos foram submetidos a testes estatísticos utilizando o software Sisvar. Os resultados indicaram que existe efeito significativo dos extratos da folha de Nim sobre a germinação da alface e que os solventes orgânicos (hexano e metanol) apresentaram maior potencial de extração de substâncias alelopáticas com maior inibição da germinação. Palavras-chave: alelopatia, germinação, alface, nim.
INTRODUÇÃO A alelopatia pode ser definida pelo processo em que produtos do metabolismo secundário de uma determinada planta são liberados, estimulando ou impedindo a germinação e o desenvolvimento de outras plantas, através da liberação de substâncias pela decomposição do material vegetal, subterrâneas ou pelas partes aéreas (LORENZI, 2000). A conseqüência mais significativa da alelopatia provavelmente seria a alteração do desenvolvimento e da densidade populacional das plantas. A alelopatia assume grande importância quando são deixados sobre a superfície ou incorporados no solo resíduos vegetais, indicando assim que sua interferência é tão importante no plantio direto quanto no plantio convencional (LORENZI, 2000). Os efeitos alelopáticos são mediados por substâncias de compostos secundários, entre eles ácidos graxos de cadeia curta, compostos fenólicos, óleos essenciais alcalóides, esteróides e derivados de cumarina que podem ser liberados pela raiz, no ar, ou carreados até o solo pela água das chuvas que lavam as partes aéreas da planta (LARCHER, 2000), interferindo na conservação, na germinação e dormência das sementes, no crescimento de plântulas e vigor das plantas adultas (OLIVEIRA et al., 2002). Como nos herbicidas, a busca de sucedâneos para os inseticidas sistêmicos, como os produtos naturais provenientes de plantas, pode ser uma alternativa no manejo das pragas chaves das culturas (MAREDIA et al., 1992). As principais pesquisas sobre a alelopatia é a busca de produtos naturais para o controle de plantas daninhas, tentando diminuir o uso de herbicidas sintéticos, preservando o meio ambiente e contribuindo assim para uma agricultura sustentável (CARVALHO et al., 2002; FERREIRA & ÁQUILA, 2000; SANTOS et al., 2004). O nim (Azadirachta indica A. Juss.) é nativo de Bruma, sudoeste da Ásia, tida como uma planta cosmopolita e uma árvore considerada importante economicamente (SILVA et al., 2007). O plantio do nim está crescendo rapidamente no Brasil, com o objetivo de exploração da madeira e também para a produção de folhas e frutos, de onde se retira a matéria prima para produtos inseticidas, para uso medicinal, veterinário ou na indústria de cosméticos. Silva et al. (2007) estudando os efeitos inibitórios de extrato de folhas de nim na cultura do feijoeiro, concluíram que a presença de tal extrato afetou a germinação e o desenvolvimento das radículas. Efeitos inibitórios de crescimento e de germinação de plantas são associados à alelopatia,
processo que é extremamente importante para compreender a interação de vegetais em ambientes naturais e agroecossistemas (FRITZ et al., 2007). Avaliou-se no presente trabalho o efeito do extrato de folhas de nim, obtidos em diferentes solventes e concentrações, sobre a germinação de sementes de alface. MATERIAL E MÉTODOS Conduziu-se um experimento no Laboratório Multidisciplinar de Biologia (LAMUBI), do Instituto Federal de Minas Gerais, Campus Bambui, utilizou-se o delineamento inteiramente ao acaso, com doze tratamentos e cinco repetições. Os tratamentos constituíram de três solventes (água, hexano e metanol) em quatro concentrações de matéria seca foliar de Nim (0%; 2,5%; 5% e 10%). O tratamento 0% foi considerado como testemunha. Folhas de nim foram coletadas em área de campo aberto e levadas ao Laboratório de Físicoquímica do IFMG Campus Bambuí, onde foram submetidas à secagem em estufa de circulação forçada de ar a 60 C por 24 horas. Após a secagem as folhas foram trituradas em cápsulas de porcelana e armazenadas. Obteve-se os extratos pela solubilização de 20 g de folhas secas e trituradas em 200 ml de cada solvente individualizados em Becker de 500 ml, sendo embalados com papel alumínio para impedir a fotodegradação e deixados em repouso por 24 horas. Após esse período as soluções obtidas foram filtradas em funil com algodão, obtendo-se assim cada solvente na concentração de 10 %. Posteriormente procedeu-se a diluição para obtenção das concentrações 2,5% e 5%. Os materiais utilizados no experimento (placas de petri e papéis de germinação) foram esterilizados no laboratório de Microbiologia, em estufa a 150 C por duas horas. As sementes de alface foram tratadas em solução de 1% de hipoclorito de sódio, para evitar a contaminação com agentes patogênicos. Cada parcela experimental consistiu de uma placa de petri contendo duas folhas de papel de teste de germinação (Germitest) e vinte sementes, perfazendo um total de 60 parcelas. Em cada parcela foram adicionados 4 ml de cada solução em suas respectivas concentrações. As placas foram cobertas com papel alumínio para impedir a interferência da luz na germinação. Após a instalação do experimento foram contadas diariamente as sementes germinadas. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística, utilizando-se o programa estatístico SISVAR.
RESULTADOS E DISCUSSÃO III Semana de Ciência e Tecnologia IFMG - campus Bambuí O teste de médias do número de sementes germinadas detectou diferenças significativas entre os diferentes tratamentos aplicados (Tabela 1). Tabela 1: Médias de germinação de sementes de alface sob diferentes extratos de folhas de Nim. Tratamentos ** N Médio de Sementes germinadas* Hexano (0%) 6.400 a Metanol (0%) 6.400 a Água (0%) 8.600 a Água (10%) 3.800 b Água (2,5%) 3.800 b Água (5%) 4.000 b Metanol (10%) 0.000 c Hexano (5%) 0.200 c Metanol (5%) 0.200 c Hexano (10%) 0.400 c Metanol (2,5%) 0.400 c Hexano (2,5%) 1.800 c *Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p 0,01). ** Refere-se às diferentes concentrações de Nim. Todos os tratamentos com 0% de Nim, independente do solvente utilizado, apresentaram maiores valores de germinação de sementes de alface e não diferiram entre si estatisticamente. Os tratamentos que possuíam diferentes concentrações de Nim 2,5; 5 e 10% utilizando água como solvente teve efeito significativo sobre a germinação das sementes de alface, acarretando em menor número de sementes germinadas, porém, com médias ainda maiores do que os tratamentos das mesmas concentrações com os solventes hexano e metanol. Estes resultados indicam que os extratos das folhas de Nim interferiram negativamente na germinação de sementes de alface, e que os solventes hexano e metanol apresentaram maior potencial de extração de substâncias alelopáticas das folhas, uma vez que sua aplicação promoveu maior inibição do que o extrato obtido com água. Diante destes resultados, pode-se inferir que plantas de Nim apresentam potencial para exploração de suas potencialidades alelopáticas, no entanto, sua utilização na cultura da alface deve ser feita com cuidados, uma vez que interfere em sua germinação. CONCLUSÕES
As folhas de nim apresentam efeito alelopático sobre a germinação de sementes de alface. Os solventes orgânicos (hexano e metanol) apresentam maior potencial de extração de substâncias alelopáticas em folhas de Nim. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CNPq pela concessão de bolsa na modalidade PIBIT, ao IFMG- Campus Bambuí pelos recursos e espaços cedidos e aos funcionários dos laboratórios usados, pela paciência e atenção. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, G. J.; FONTANETTI, A.; CANÇADO, C. T. Potencial alelopático do feijão de porco (Canavalia ensiformes) e da mucuna preta (Stilozobium aterrimum) no controle da tiririca (Cyperus rotundus). Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 26, n. 3, p. 647-651, mar./abr. 2002 FERREIRA, A.G.; AQUILA, M.E.A. Alelopatia: uma área emergente da ecofisiologia. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, v.12, (Edição Especial), p.175-204, 2000. FRITZ, D. et al. Germination and growth inhibitory effects of Hypericum myrianthum and H. polyanthemum extracts on Lactuca sativa L. Brazilian Journal of Pharmacognosy, v.17, n.1, p.44-48, 2007. LARCHER, W. Ecofisiologia vegetal. Rima: São Carlos/SP, 2000. 531p. LORENZI, H. Manual de identificação e controle de plantas daninhas: plantio direto e convencional. 4. ed. Nova Odessa: Plantarum, 2000. 383 p. MAREDIA, K. M.; SEGURA, O. L.; MIHM, J. A. Effects of neem, Azadirachta indica, on six species of maize insect pests. Tropical Pest Management, London, v. 38, p. 190-195, 1992. OLIVEIRA, M.N.S. et al. Efeitos alelopáticos do extrato aquoso e etanólico de jatobá do cerrado. Unimontes Científica. v.4, n.2, p.143-151, 2002. SANTOS, C. C.; OLIVEIRA, D. F.; ALVES, L. W. R.; SOUZA, I. F.; FURTADO, D. A. S. Efeito de extratos orgânicos, associados ao surfactante TWEEN 80, na germinação e crescimento de plântulas de alface. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 28, n. 2, p. 296-299, mar./abr. 2004. SILVA, J. de P. da; CROTTI, A. E. M.; CUNHA, W. R. Antifeedant and allelopathic activities of the hydroalcoholic extract obtained from Neem (Azadirachta indica) leaves. Revista Brasileira de Farmacognosia Brazilian Journal of Pharmacognosy. 17(4): 529-532, Out./Dez. 2007.