DIREITO PROCESSUAL PENAL COMPETÊNCIAS Atualizado em 03/11/2015
4. Competência Material Ratione Materiae: Divide-se em competência da Justiça Estadual, Federal, Eleitoral e Militar (não falamos da Justiça do Trabalho porque ela não te competência criminal). Lembrar que a Justiça Federal também é uma justiça comum. A justiça comum pode ser estadual ou federal. As demais justiças mencionadas são justiças especializadas. 4.1. Competência da Justiça Comum Estadual: É a competência residual. 4.2. Competência da Justiça Eleitoral: A Justiça Eleitoral é competente para processar e julgar os crimes eleitorais e aqueles que lhes são conexos. Crimes eleitorais são aqueles em que a pessoa pretende atingir direta ou indiretamente o processo eleitoral. 4.3. Competência da Justiça Militar: a) Competência da Justiça Militar Estadual: é o juiz de direito que exerce essa função. Tem competência para processar e julgar os militares estaduais por crimes militares. Não possui competência para processar e julgar civis (em nenhuma hipótese). b) Competência da Justiça Militar da União: julga os militares das forças armadas por crimes militares e julga os civil que tenham praticado crimes contra as instituições militares da União (contra as forças armadas). 4.4. Competência da Justiça Federal: Vem definida no art. 109, CF (competência da Justiça Federal tanto em matéria cível quanto criminal). Art. 109, IV, CF: os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral. Há quem diga não existir crime político no Brasil, pois não haveria definição do que seria um crime político, já que a Lei de Segurança Nacional não teria sido recepcionada pela nova ordem constitucional (corrente minoritária). Corrente majoritária e jurisprudência, porém, afirmam que existe sim crime político, estando ele previsto em nossa Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/83) que foi sim recepcionada, embora, não totalmente (já
que ela diz que a competência para julgamento de crimes políticos seria da Justiça Militar = parte não recepcionada, pois a CF estabeleceu, para esses crimes, a competência da Justiça Federal). Particularidade: da sentença do juiz federal de primeiro grau julgando um crime político, caberá Recurso Ordinário Constitucional ROC (e não apelação) diretamente para o STF (e não para o TRF ou para o STJ) = previsão constitucional no art. 102, II, CF. Quando fala em infrações penais, leia-se crimes, pois ele diz excluídas as contravenções. Assim, a Justiça Federal não julgará as contravenções penais, pouco importando se forem em detrimento de bens, serviços e interesses da União. Ainda que seja conexa com um crime federal, a contravenção não será julgada pela Justiça Federal (nem mesmo pelos Juizados Especiais Federais). Crimes conexos (crime estadual e crime federal) = prevalece a competência da Justiça Federal (súmula nº 122, STJ). Crime de competência da Justiça Federal conexo com contravenção = separa. Exceção em que a Justiça Federal julgará contravenção (posicionamento doutrinário): quando o contraventor for detentor de foro por prerrogativa de função no TRF. Lembrar ainda que as fundações públicas de direito público têm natureza autárquica, estando também incluídas no inciso em análise. Como as sociedades de economia mista não foram citadas, não caberá à Justiça Federal julgar crimes praticados em detrimento de bens, serviços e interesses de sociedade de economia mista. Exemplo: roubo a uma agência do Banco do Brasil é crime estadual. Súmula nº 42, STJ. Quem irá dirimir o conflito de competência entre Justiça Estadual e a Federal é o STJ, por isso temos muitas súmulas do STJ acerca da competência da Justiça Federal. Vejamos: Súmula nº 122, STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, "a", do Código de Processo Penal. A regra mencionada no final da súmula é aquela que nos diz que, havendo conexão, prevalece a competência para processar e julgar o crime mais grave = essa regra não se aplica quando estamos diante de conexão entre crime federal e crime estadual, pouco importando a gravidade e a quantidade de crimes. Súmula nº 147, STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função. Relacionado ao exercício da função não significa
necessariamente que o funcionário esteja no exercício da função. Os crimes praticados por funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função, também serão de competência da Justiça Federal, pois afetam serviços e interesses da União. Se o crime cometido contra o funcionário público federal for um crime doloso contra a vida, será da competência do Júri na Justiça Federal (presidido por um juiz federal). Súmula nº 165, STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no processo trabalhista. Isso ocorre porque a Justiça do Trabalho é uma Justiça da União (há, assim, serviço e interesse da União envolvidos no crime de falso testemunho cometido no processo trabalhista). Lembrar ainda que a Justiça do Trabalho não tem competência para julgar crimes. Essa regra vale para qualquer crime cometido no bojo do processo trabalhista (e não apenas para o crime de falso testemunho). Súmula nº 208, STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal. Lembrar que o prefeito tem foro por prerrogativa de função, devendo ser julgado pelo TJ, em caso de crimes estaduais, ou no TRF, no caso de crimes federais. Se ele não for mais prefeito, não contará com foro por prerrogativa de função, devendo ser julgado pela justiça de primeiro grau. Súmula nº 209, STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal. Aqui, mesmo a verba já tendo sido transferida pela União, como ela já foi incorporada ao patrimônio municipal, a competência será da Justiça Estadual (de primeiro grau, se ele não for mais prefeito; ou do TJ, se ele ainda for prefeito). Art. 109, V, CF: os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; Para que seja crime federal, segundo esse inciso, é preciso que haja dois requisitos: a) Previsão em tratado ou convenção internacional de que o Brasil faz parte: o Brasil, por exemplo, obrigou-se a combater/reprimir o tráfico de drogas, de armas, de pessoas para exploração sexual, as discriminações de qualquer natureza, a exploração sexual de crianças e adolescentes. b) Internacionalidade na conduta criminosa: início no Brasil e resultado que ocorreu ou deveria ter ocorrido no estrangeiro ou vice-versa. Assim, o tráfico transnacional de drogas é crime federal, mas o tráfico interno não (o tráfico interno, ainda que interestadual, não é crime federal, pois não preenche esse segundo requisito).
No processo penal, não há hipótese em que juiz estadual exerça competência da Justiça Federal por delegação (como existe no processo civil em questões previdenciárias) isso existia até 2006, em casos de tráfico internacional de drogas, em razão de previsão na antiga Lei de Drogas. Art. 109, V-A, CF: as causas relativas a direitos humanos a que se refere o 5º deste artigo; Com a EC nº 45/2004, criou-se um Incidente de Deslocamento de Competência, que a doutrina chama de Federalização dos Crimes contra os Direitos Humanos. Os crimes contra direitos humanos, que, regra geral, é de competência da justiça estadual, pode ter sua competência deslocada para a justiça federal. Esse deslocamento é possível porque, nos casos de grave violação dos direitos humanos, o Brasil poderá vir a ser condenado, cabendo à União arcar com essa condenação (percebe-se, pois, o interesse da União envolvido no caso). Para que isso ocorra, é necessário que o Procurador-geral de República ingresse com esse incidente perante o STJ, requerendo que o STJ retire o crime da competência da Justiça Estadual e mande para a Justiça Federal. Esse incidente é possível mesmo que ainda esteja na fase de inquérito. O deslocamento de competência só será cabível quando o processo ou inquérito não contar com trâmite regular no âmbito da estadual. Há quem considere (pensamento minoritário) que essa norma (que é fruto do poder constituinte derivado) é inconstitucional, por afrontar o princípio do juiz natural (já que haveria um deslocamento de competência após o fato). A doutrina majoritária, porém, não entende assim, pois a regra de deslocamento é prevista antes do fato, aplicando-se esse aos casos ocorridos após a EC nº 45/2004. Art. 109, VI, CF: os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; Primeira parte: crimes contra a organização do trabalho. Os crimes contra a organização do trabalho estão previstos entre os arts. 197 e 207, CP. A jurisprudência, ao interpretar esse dispositivo, cria um limite: se o crime contra a organização do trabalho afetar interesse meramente individual, a competência não será da Justiça Federal, mas sim da Justiça Estadual. Apesar disso, o crime de redução à condição análoga a de escravo (art. 149, CP é um crime contra a liberdade individual) é crime federal, mesmo sem previsão constitucional expressa nesse sentido, pois indiretamente toda a organização do trabalho é atingida.
Segunda parte: e, nos casos determinados por lei, os crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira. Aqui há uma delegação constitucional ao legislador ordinário. É a constituição permitindo que o legislador infraconstitucional estabeleça competência federal nos casos de crimes contra o sistema financeiro e contra a ordem econômico-financeira. Lei 7.492/86 afirma a competência da Justiça Federal nos crimes contra o sistema financeiro nacional. Lei 8.137/90 (fala em crime contra a ordem econômica) e Lei 8.176/91 (também fala em crime contra a ordem econômica) não afirmam a competência da Justiça federal. Dessa forma, os crimes contra o sistema financeiro são da competência da Justiça Federal, mas os crimes contra a ordem econômica podem ou não ser da competência da Justiça Federal (serão se caírem na regra do inciso IV, art. 109, CF). VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição; IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar; Será federal o crime praticado a borde de navio (embarcação de grande porte) e não de qualquer embarcação. Qualquer crime cometido a bordo de um navio será crime federal (mesmo o tráfico de drogas interestadual ou o porte de drogas para consumo próprio), salvo se o navio for militar. Já o crime cometido em aeronave de qualquer porte será crime federal, salvo se a aeronave for militar. O crime cometido a bordo de aeronave será federal ainda que a aeronave esteja em solo. X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; Não há um crime tipificado como ingresso ou permanência irregular de estrangeiro. O crime que mais se aproxima disso é o crime de reingresso de estrangeiro expulso, que não deixa de ser uma hipótese de ingresso irregular. XI - a disputa sobre direitos indígenas.
Crimes cometidos no bojo de disputas sobre direitos indígenas são crimes federais. Súmula nº 140, STJ: "compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima". Assim, não é o fato de o crime ter um indígena como autor ou vítima que o tornará um crime federal. Aos autores não referenciados, todos os direitos reservados.