MPE Direito Penal Aplicação da Lei Penal no Tempo e no Espaço Emerson Castelo Branco

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "MPE Direito Penal Aplicação da Lei Penal no Tempo e no Espaço Emerson Castelo Branco"

Transcrição

1 MPE Direito Penal Aplicação da Lei Penal no Tempo e no Espaço Emerson Castelo Branco 2013 Copyright. Curso Agora eu Passo - Todos os direitos reservados ao autor.

2 1. APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS MALÉFICA E DA RETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS BENÉFICA De acordo com o inciso XL, do art. 5.º, da Constituição Federal de 1988, a lei penal somente retroagirá para beneficiar o acusado. No mesmo sentido, dispõe o art. 2.º do Código Penal. De acordo com o art. 2.º do CP: Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único. A lei posterior que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Fundamento constitucional: o art. 5.º, no inciso XL. Importante saber: Em regra a Lei penal não pode retroagir Exceção: a lei penal retroagirá quando trouxer algum benefício para o agente no caso concreto. TEMPO DO CRIME Art. 4.º do CP: Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Teorias: - da atividade (adotada pelo CP) Considera praticado o crime no momento da ação ou omissão. - do resultado O momento do crime é o da ocorrência do resultado delitivo. - da ubiquidade (ou mista) É tanto o momento da atividade como o do resultado. Abolitio criminis. Verifica-se sempre que lei posterior deixa de considerar uma conduta como sendo criminosa. Se a lei posterior não considera mais crime o fato anteriormente praticado, deve a mesma retroagir para extinguir a punibilidade. Caso o réu esteja preso, deve imediatamente ser liberado. A lei penal mais benéfica possui extra-atividade (retroatividade e ultraatividade). Assim, sempre retroagirá quando for mais benéfica. Quando for maléfica, jamais retroagirá. A lei penal nova mais favorável deve ser aplicada pelo juiz. Se o processo se encontra na fase de recurso, deve ser aplicada pelo Tribunal. Por fim, no caso de sentença penal condenatória transitada em julgado, a incumbência é do juiz da execução criminal. Prof. Emerson Castelo Branco 2

3 Importante saber: A irretroatividade atinge também as medidas de segurança. Súmula 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. LEIS DE VIGÊNCIA TEMPORÁRIA O art. 3.º do CP estabelece: A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. Característica principal: a ultratividade. Significa que a lei será aplicada a um fato cometido no período de sua vigência, mesmo após a sua revogação. Espécies: a)lei excepcional É aquela que vigora por tempo indeterminado, enquanto durar a situação excepcional. Ex.: guerra. b)lei temporária É aquela que surge para vigorar por tempo previamente estabelecido, isto é, com começo e com fim pré-fixado. APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO - Princípio da territorialidade (art. 5.º do CP) Territorialidade é a aplicação das leis brasileiras aos delitos cometidos dentro do território nacional (art. 5.º, caput, do CP). Importante saber: A territorialidade é a regra geral. O Brasil adotou a territorialidade temperada em relação aos princípios da territorialidade. - Alguns elementos do território nacional: solo ocupado pela nação; os rios, os lagos e os mares interiores e sucessivos; os golfos, as baías e os portos; a faixa de mar exterior, que corre ao largo da costa e que constitui o mar territorial; a parte que o direito atribui a cada Estado sobre os rios, lagos e mares fronteiriços; os navios nacionais; o espaço aéreo correspondente ao território; as aeronaves nacionais. PRINCÍPIOS DA EXTRATERRITORIALIDADE - Princípio da defesa (real, ou de proteção) Aplica-se a lei penal brasileira, independentemente de fronteiras, se o bem jurídico for de proteção especial (art. 7.º, inciso I, alíneas a, b, c, do CP). Prof. Emerson Castelo Branco 3

4 - Da nacionalidade (ou da personalidade) Aplica-se a lei nacional do autor do crime, qualquer que tenha sido o local de sua prática (princípio da personalidade ativa). E ainda quando o crime é cometido por estrangeiro contra brasileiro, fora do Brasil, desde que atendidas certas condições (princípio da personalidade passiva - 3., do art.7., do CP). - Da justiça penal universal É o direito de punir determinados delitos, mesmo que praticados fora do território nacional, face à gravidade do mesmo, desde que existam tratados e convenções internacionais estabelecendo dessa maneira, como os crimes de genocídio e de tráfico ilícito de drogas (art. 7.º, inciso I, alínea d e inciso II, alínea a). - Da representação A lei penal aplica-se aos crimes cometidos no estrangeiro em aeronaves e embarcações privadas, desde que não julgados no local do crime (art. 7.º, inciso II, alínea c, do CP). Formas de extraterritorialidade: Incondicionada: são as hipóteses previstas no inciso I do art. 7.º. Diz-se incondicionada, porque não se subordina a qualquer condição para atingir um crime cometido fora do território nacional. Condicionada: são as hipóteses do inciso II e do 3.º. Nesses casos, a lei nacional só se aplica ao crime cometido no estrangeiro se satisfeitas as condições indicadas no 2.º e nas alíneas a e b do 3.º. LUGAR DO CRIME De acordo com o art. 6.º do CP: Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou devia produzir-se o resultado. Teorias: - da atividade Considera-se como lugar do crime o local em que se praticou a ação ou omissão. - do resultado Lugar do crime é o local em que acontece o resultado delitivo. - da ubiquidade (ou mista) É tanto o lugar da atividade como também o do resultado. Teoria adotada pelo sistema brasileiro. Questões estilo CESPE: Prof. Emerson Castelo Branco 4

5 1-Considere que um dos integrantes de determinada quadrilha especializada em desviar dinheiro público tenha contribuído para a prisão de seus comparsas e que, após sua prisão, o Congresso Nacional tenha aprovado uma lei que estabelecesse a isenção de pena para partícipes em crimes contra a administração pública que contribuíssem para a prisão de seus comparsas. Nesse caso, dado o princípio da irretroatividade da lei penal, o referido integrante da quadrilha não seria beneficiado pela isenção de pena. 2- De acordo com o que dispõe o Código Penal acerca de lei excepcional ou temporária, a conduta de um comerciante que tenha criminalmente transgredido os preços estipulados em tabela fixada por órgão do Poder Executivo deve ser avaliada pelo juiz com base na tabela vigente ao tempo da transgressão, porquanto constitui complemento da norma penal em branco, com efeito ultraativo. 3- Considere que Maria seja condenada ao pagamento de multa por crime praticado no estrangeiro, e, pelo mesmo delito, seja igualmente condenada no Brasil a pena privativa de liberdade. Nessa situação, a pena de multa executada no estrangeiro tem o condão de atenuar a pena imposta pela justiça brasileira. 4- A lei penal que, de qualquer modo, beneficie o agente deve retroagir, desde que respeitado o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. 5- Considere que Paul, cidadão britânico domiciliado no Brasil, em visita à Argentina, tenha praticado o delito de genocídio contra vítimas de nacionalidade daquele país e fugido, logo em seguida, para o Brasil. Nesse caso, será possível a aplicação da lei penal brasileira. Gabarito 1-E 2-C 3-C 4-E 5-C Prof. Emerson Castelo Branco 5