Proposta de Reestruturação do Sector Energético Português A Ministra de Estado e das Finanças, Manuela Ferreira Leite, e o Ministro da Economia, Carlos Tavares, anunciaram hoje a posição e recomendações do Governo Português para a reestruturação do Sector Energético Português, de acordo com as conclusões do Relatório estratégico efectuado. A orientação vai no sentido de que: - o Estado considera mais adequada a junção da fileira do gás à da electricidade, combinando numa mesma organização empresarial a gestão e oferta dos tipos de energia, permitindo uma melhor exploração das respectivas sinergias e complementaridades; - a Transgás (infraestrutura de transporte de gás) seja integrada com a REN, criando uma única empresa de transmissão de energia com a infra-estrutura aberta a todos os operadores; - a Galp assuma a prioridade estratégica de desenvolvimento e racionalização do negócio do petróleo; - o Estado accionista não irá impor aos restantes accionistas o modelo estratégico de reestruturação do sector energético. Todavia, está interessado e disposto a criar as condições normativas que permitam a concretização de propostas congruentes com o modelo que considera mais adequado aos interesses das empresas envolvidas e os interesses nacionais. O Governo Português anunciou hoje que o primeiro passo na concretização do processo de reestruturação passa pela venda à REN de 18,3% da sua participação na Galp, o que corresponderá aproximadamente ao valor estimado para a Transgás e permitirá beneficiar no gás da experiência que a REN já teve na separação da infraestrutura de transporte da electricidade. O Governo pretende criar a estrutura mais racional para a indústria energética e clarificar o quadro competitivo, com o objectivo de optimizar as condições de concorrência do sector e das empresas, maximizando os benefícios para os consumidores e accionistas. As recomendações do Relatório reuniram o apoio dos accionistas-chave e o Governo convida esses accionistas, os órgãos de administração das empresas envolvidas e outros agentes relevantes, a desenvolver o processo de reestruturação que conduza à realização dos objectivos pretendidos. 1
A liberalização do mercado do gás em Portugal será antecipada, em linha com a do mercado da electricidade, liberalizando totalmente o mercado do gás natural para os produtores de energia eléctrica partir de Julho de 2004. Portugal aproxima-se assim dos países Europeus mais avançados na liberalização dos mercados de energia. A indústria e os consumidores portugueses beneficiarão da liberalização através da melhoria de qualidade do serviço, da competitividade dos preços do gás e da electricidade e ainda da garantia de aprovisionamento e fornecimento. Segundo referiu Carlos Tavares, Ministro da Economia, os benefícios desta proposta de reestruturação do Governo irão fortalecer substancialmente a posição do sector energético português tanto ao nível Ibérico como Europeu. O Governo acredita que a solução proposta beneficiará os consumidores portugueses e melhorará a competitividade das empresas do sector. Neste sentido, incentivamos todos os importantes intervenientes e accionistas a fazerem desta proposta uma realidade. Recomendações O relatório estratégico do Governo Português, elaborado no âmbito da Missão de Reestruturação do Sector Energético por João Talone, e agora concluído, recomenda: - Os sectores do gás e da electricidade deverão ser combinados numa única organização empresarial com base na premissa de que o gás (input) é um requisito de importância crescente para a produção de electricidade (output) sendo esta a estrutura mais lógica para alcançar as exigências da liberalização, permitindo também servir o consumidor com uma oferta combinada de energia; - Esta combinação levará ao reforço da capacidade competitiva da EDP para actuar no futuro Mercado Ibérico de Energia (conhecido em Portugal como MIBEL); - A REN e a Transgás, infra-estrutura de transporte de gás, devem ser combinadas numa única empresa de transmissão de energia que detenha os activos regulados do sector. O primeiro passo neste processo será dado pelo Governo, com a venda à REN de 18,3% da sua participação na Galp, via privatização. A experiência da REN na separação da rede de electricidade da EDP, será chave para a separação da rede de gás; - Na sequência desta reorganização, a Galp continuará a focar-se no seu negócio tradicional, o petróleo, capitalizando a forte notoriedade da sua marca junto de retalhistas e consumidores, reforçando o seu desempenho através da clarificação do perfil dos negócios a desenvolver. - As conclusões do relatório sobre o sector revelam ainda que a configuração dos negócios presentes no portfolio da Galp não encontra paralelo na Europa uma vez que a Galp não tem 2
actividades de upstream exploração que permitam alcançar sinergias entre as fileiras do gás e do petróleo, como se verifica nas empresas oil & gas do sector. Sem margem para dúvida, a reestruturação proposta permitirá reforçar a flexibilidade e o posicionamento estratégico das empresas energéticas portuguesas no contexto do MIBEL, estimando-se que uma combinação dos operadores de electricidade/gás obtenha directa e indirectamente uma quota de mercado, ao nível Ibérico, de cerca de 19% em ambos os sectores, passando a ser o segundo em dimensão, o que lhe confere uma posição competitiva importante. Face a estas quotas de mercado não é de esperar que existam questões regulatórias ao nível Ibérico ou Europeu. O Governo acredita que a implementação destas recomendações permitirá dotar o sector do nível de competitividade desejado, particularmente no contexto da liberalização, e que beneficiará Portugal, os consumidores finais e os operadores portugueses do sector energético. Venda da participação na Galp O Governo planeia prosseguir a redução da sua participação nas holdings do sector energético. No entanto, considera inadequado realizar uma oferta pública de venda nas actuais condições de volatilidade do mercado pelo que o seu primeiro passo, no âmbito da reestruturação, passará pela redução da sua participação na Galp, através da venda de 18,3% à REN (correspondente aproximadamente ao valor estimado da Transgás), de forma a avançar com a fusão da REN com a Transgás. O valor de mercado desta participação será definido após a condução de um processo formal que solicitará a avaliação a duas entidades independentes com credibilidade nacional e internacional. Espera-se que este processo esteja completo até ao final do actual semestre. O Processo de Reorganização proposto As recomendações do Governo visam estabelecer a estrutura adequada para a reorganização do sector e clarificar o cenário competitivo onde se moverão os vários intervenientes da indústria - com um enfoque que, salvaguardando os interesses dos consumidores, privilegie a criação de valor para os accionistas. O papel do Governo será estritamente o de apresentar as soluções que o Estado, enquanto accionista, considera mais adequadas, mas não imporá a sua posição aos outros accionistas. Todos os accionistas relevantes estiveram envolvidos no debate sobre a restruturação e agora caber-lhes-á equacionar, decidir e propor as opções de negócio que consideram mais apropriadas, sendo que o Estado, enquanto accionista, as apoiará nos órgãos próprios. O Governo reitera a sua intenção de separar a Transgás até ao final de 2003 e nunca depois da primeira metade de 2004. 3
Programa de privatização para o Sector Energético Português O Governo está empenhado em reduzir a intervenção estatal na Economia portuguesa, mas só o fará quando atingidas as condições que permitam a maximização do valor para os accionistas. A Política Energética do Governo Português A reorganização proposta centra-se em três áreas decisivas para o futuro de Portugal, enquanto país desenvolvido da União Europeia, reflectindo os três pilares estratégicos da Política Energética Governamental, conforme anunciado a 19 de Março: - garantir a segurança do abastecimento nacional - fomentar o desenvolvimento sustentável - promover a competitividade nacional A combinação dos negócios do gás e electricidade consubstanciará os eixos estratégicos da Política Energética na medida em que: - o fornecimento constante e estável de energia será assegurado ao optimizar o input (gás) de forma a garantir o output (electricidade) e ao diversificar os recursos energéticos. Com um maior controlo sobre o input, conseguem-se economias significativas de operação, que serão repercutidas na indústria e no consumidor final. Esta realidade permitirá à indústria portuguesa um reforço da sua base competitiva. - Ao aumentar a importância da energia eléctrica baseada no gás obtém-se uma energia mais limpa e ecológica. O gás é menos poluente e mais económico do que o petróleo e o carvão, matérias-primas dominantes na actual produção energética portuguesa e Ibérica, em linha com os objectivos do Protocolo de Quioto. - Permite melhorar a posição competitiva da EDP no mercado Ibérico; permite prosseguir uma estratégia de dual fuel, o que corresponde a disponibilizar aos clientes um package conjunto de gás e electricidade, aumentando a venda cruzada; e diminui os custos de aquisição de Gás por parte da EDP, permitindo que esta economia seja repercutida no preço para o consumidor final. O Mercado Ibérico de Energia 4
Portugal e Espanha fizeram já progressos significativos na preparação do Mercado Ibérico de Electricidade - o MIBEL - o qual evoluirá em várias etapas, iniciando-se já este ano e completando-se em 2006. O mercado da electricidade em Portugal estará totalmente liberalizado a partir de Julho de 2004. O mercado do gás, por ser um sector em desenvolvimento, tinha a sua liberalização prevista para o período entre 2008 e 2012. No entanto, o Governo tenciona antecipá-la de forma a que os produtores de energia possam actuar num mercado totalmente liberalizado em Julho de 2004. Face ao reforço da relação entre as indústrias do Gás e da Electricidade, o Governo considera esta antecipação como um imperativo que, ao criar um ambiente mais competitivo, beneficiará quer a indústria quer os consumidores. A electricidade gerada a partir do gás representa, hoje, apenas 10% da produção total do mercado ibérico. No entanto, espera-se que, em 2005, esta percentagem venha a atingir os 20%, o que representará a maior taxa de crescimento em toda a Europa. Lisboa, 3 de Abril de 2003 Para mais informações: Dalila Carvalho: 21 322 88 27 (Min. Economia) Nuno Jonet: 21 881 69 37 (Min. Finanças) 5