Campo com flores Vincent Van Gogh (1853-1890)



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Transcrição:

Campo com flores Vincent Van Gogh (1853-1890) A genialidade de Vincent Van Gogh somente foi reconhecida após a sua morte. Em vida, o artista holandês, que passou fome e frio, viveu em barracos e conheceu a miséria, vendeu apenas uma pintura _ "O Vinhedo Vermelho". Em maio de 1990, uma de suas mais conhecidas obras, "O Retrato de Dr. Gachet", pintado um século antes, justamente no ano de sua morte, foi comercializado por US$ 82,5 milhões. Maior expoente do pós-impressionismo, ao lado de Paul Gauguin e Paul Cézanne, Vi- cent Willen Van Gogh, foi sempre sustentado pelo irmão Theodorus, com quem trocou mais de 750 correspondências, documentos fundamentais para um estudo mais aprofundado de sua arte. Na sua fase mais produtiva (1880/90), Van Gogh foi completamente ignorado pela crítica e pelos artistas. Atualmente, os seus quadros estão entre os mais caros do mundo. Na infância, Van Gogh aprendeu inglês, francês e alemão. Mas, com apenas 15 anos, deixou os estudos para trabalhar na loja de

um tio, em Haia (Holanda). Com 24 anos, achou que a sua vocação era trabalhar com a evangelização, chegando a estudar teologia, em Amsterdã. Pouco tempo depois, dividiu os seus poucos bens com os pobres e passou a ser sustentado pelo irmão, ao mesmo tempo em que iniciava a carreira profissional como pintor. Van Gogh, que também morou na França e na Bélgica (onde conviveu com mineiros extremamente pobres), pintou mais de 400 telas _os três anos anteriores à sua morte foram os mais produtivos. Uma mudança fundamental na vida do pintor holandês aconteceu quando Van Gogh trocou Paris por Arles, mais ao sul da França. Na pequena cidade, Van Gogh aluga uma casa e intensifica o seu trabalho, ao lado de Gauguin. Após um período de ótima convivência, os dois pintores começam a discutir muito e Van Gogh ataca Gauguin com uma navalha em dezembro de 1888. Inconformado com o fracasso do ataque e completamente transtornado, Van Gogh corta o lóbulo de sua orelha esquerda com a própria arma. Em seguida, embrulha o lóbulo e o entrega a uma prostituta. Internado em um hospital, recebe a visita do irmão Theodorus. No começo de janeiro de 1889, Van Gogh deixa o hospital, mas apresenta sinais evidentes de disfunção mental _às vezes, aparenta tranqüilidade, em outras oportunidades, demonstra alucinações. Internado pelo irmão em um asilo, Van Gogh não deixa de pintar. Por ironia, à medida que a sua saúde fica ainda mais deteriorara, a classe artística começa a reconhecer o seu talento, expondo alguns de seus trabalhos em museus. Quando deixou o asilo, o pintor holandês foi morar nas imediações da casa de seu irmão. Nesta época, pinta, em média, um quadro por dia. Depois de ver os seus problemas mentais serem agravados, Theodorus decide que Van Gogh será tratado pelo médico Paul Gachet. Em maio de 1890, aparentando estar recuperado, Van Gogh passa a morar em Auvers-sur-Oise, a noroeste de Paris, onde pinta freneticamente. Em julho, uma nova recaída no estado de saúde do pintor holandês, que também demonstra inconformismo com as dificuldades financeiras enfrentadas pelo seu irmão. No dia 27, Van Gogh sai para fazer um passeio e toma uma decisão drástica _atira contra si mesmo, no tórax. Cambaleando, volta para a sua casa, mas não comenta com ninguém que tinha tentado o suicídio. Encontrado por amigos, Van Gogh passa as últimas 48 horas de sua vida, conversando com o seu irmão _os médicos não conseguiram retirar a bala do tórax. No dia 29, pela manhã, o pintor morreu e o seu caixão foi coberto com girassóis, flor que ele amava. Aliás, a tela "Os Girassóis" é uma das obras-primas de Van Gogh. Referências Uol Educação. Vincent Van Gogh. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u242.jhtm Acesso em 17 de Nov. de 2009.

A dança da vida Edvard Munch (1863-1944) Exatamente como Leonardo da Vinci estudava a anatomia humana e dissecava cadáveres, assim procurso dissecar as almas. Edvard Munch Pintada entre 1899 e 1900, A Dança da Vida pertence ao Amor Nascente, uma parte do Friso da Vida. Originou-se de As Três Fases da Mulher, obra que mostrava três aspectos das feminilidade por meio de figuras da virgem, da prostituta e da viúva. Elas aparecem aqui, em que a imagem da mulher passional é um símbolo poderoso da atração sexual. O tema da dança é apropriado à natureza cíclica do Friso de Munch. Já o litoral curvilíneo e o mar em eterno movimento, motivos constantes, juntam as mágoas e os amores que ligam as gerações. A jovem inocente O vestido branco da jovem à esquerda do quadro denota sua inocência. Possivelmente inspirada em Tulla Larsen, a amiga de Munch, ela olha com expectativa para as figuras centrais e parece estar dando um passo adiante, como que ansiosa por juntar-se à dança da vida e do amor.

A mulher de preto Essa figura sugere viuvez e desilusão, podendo ser interpretada como a morte da sexualidade. Mulher idosa, ela está parada sozinha, com semblante amargurado, sem a miníma esperança de participar da dança. Um esboço preliminar Esse esboço de 1898 prova que a ideia de Munch era mostrar um jovem padre dançando com uma mulher de cabelo esvoaçante numa noite clara de verão. Os outros dançarinos ficaram menos animados na pintura final, onde as mulheres dominam o primeiro plano. mas a lua mantem-se como um poderoso símbolo de fertilida- de, banhando a composição numa mística luz dourada. Dançarinos libidinosos As figuras de fundo parecem caricaturas regalandose com a dança. O abraço desse casal lembra o vampirismo de O Beijo, porém aqui o homem assume um papel incomum de dominação, enquanto ela procura afastá-lo. Edvard Much Para Munch a passagem do estágio de menina para o de mulher, cujo destino obrigatório é amar, procriar e morrer, não é um acontecimento fisiopsicológico, mas um problema social: na literatura escandinava, de Ibsen e Strindberg, um dos temas mais frequentes é precisamente a condição social da mulher, o profundo vínculo que a liga à natureza e à espécie, mas limita ou impede sua participação na vida intelectual e ativa da sociedade moderna. Referências ARGAN, G. C., Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 256-58 (adaptado) Os grandes artistas modernos: Kandinsky, Munch e Klimt. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 40-41 (adaptado)

Elementos mecânicos Fernand Léger (1881-1995) Elementos Mecânicos (1918-23) Para ele, os objetos simbólico-emblemáticos da civilização moderna são as engrenagens, as tubagens, as máquinas, os operários da fábrica: sua finalidade é decorar, isto é, qualificar figurativamente o ambiente da vida com os símbolos do trabalho da mesma maneira que, antigamente, decorava-se a igreja com símbolos da fé. Fernand Léger (1881-1995) dedica-se à busca dos objetos simbólico-emblemáticos do espaço da vida moderna. Foi um admirador da pureza e da simplicidade das imagens de Rousseau; foi um dos primeiros a se associar, em 1910, à pesquisa cubista; é, e se mantém por toda a vida, um homem do povo, um trabalhador que acredita cegamente na ideologia socialista, a qual ingenuamente associa ao mito do progresso industrial. Para ele, os objetos simbólico-emblemáticos da civilização moderna são as engrenagens, as tubagens, as máquinas, os operários da fábrica: sua finalidade é decorar, isto é, qualificar figurativamente o ambiente da vida com os símbolos do trabalho da mesma maneira que, antigamente, decorava-se a igreja com símbolos da fé. Com Léger, enfim, o Cubismo tem um desenlace iconográfico, heráldico, decorativo, que em 1911 impressiona fortemente a Malevich. A tendência a reduzir o alcance revolucionário do Cubismo manifesta-se desde logo no interior do próprio movimento. Referências ARGAN, G. C., Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 309 (adaptado)

Baco e Ariadne Ticiano Vicellio (1490-1596) Tiziano Vecellio nasceu em Pieve di Cadore por volta de 1490. Aos nove anos de idade foi enviado a Veneza para viver com um tio e tornou-se aprendiz de Sebastiano Zuccato, mestre de mosaico. Pouco depois ingressou no ateliê de Gentile Bellini. Seus maiores mestres, no entanto, foram Giovanni Bellini, irmão de Gentile, e Giorgione Castelfranco, renovador da pintura veneziana. Em 1508 colaborou com Giorgione na decoração do Fondaco dei Tedeschi, trabalho preservado em forma fragmentária. Durante os anos seguintes deu mostras de seu gênio versátil ao alternar a criação de cenas mitológicas de marcante sensualidade e luminosidade quente -- "Bacanal", "Baco e Ariana" -- com quadros religiosos caracterizados pela intensa dramaticidade, firme modelagem das figuras e tendência aos contrastes de luz e sombras, como a "Madona Pesaro" e "Descida ao túmulo".

Após a morte prematura de Giorgione em 1510, Ticiano encarregou-se de terminar vários dos quadros do mestre, como a "Vênus adormecida" e o "Concerto campestre", o que gerou polêmicas posteriores sobre a autoria principal dessas obras. Depois passou a trabalhar sozinho e provocou escândalo ao pintar nus em cenas bíblicas e em paisagens venezianas conhecidas. Ticiano consagrou-se em plena maturidade com a monumental tela "Assunção da Virgem". Durante os anos seguintes deu mostras de seu gênio versátil ao alternar a criação de cenas mitológicas de marcante sensualidade e luminosidade quente -- "Bacanal", "Baco e Ariana" -- com quadros religiosos caracterizados pela intensa dramaticidade, firme modelagem das figuras e tendência aos contrastes de luz e sombras, como a "Madona Pesaro" e "Descida ao túmulo". Nessa época, Ticiano passou a dedicar-se ao retrato, gênero em que alcançou profundidade psicológica ao procurar transmitir a personalidade de seus retratados pela escolha da atitude e intensidade do olhar, além da valorização das mãos. Pintura Mitológica A expressão indica um gênero pictórico - caracterizado pela representação de personagens e cenas da mitologia greco-romanas - que tem um longo trajeto "Trata-se de um conjunto de narrativas que falam de deuses e heróis, ou seja, de dois tipos de personagens que as cidades antigas cultuavam" na história da arte. Nasce na Grécia e em Roma, como pintura religiosa, e se desenvolve no Ocidente, sobretudo no Renascimento e no neoclassicismo, ora como exaltação da antiguidade, ora com sentido alegórico (por exemplo, Vênus como representação da beleza; Minerva, da sabedoria; Marte como personificação da guerra e assim por diante). Mas o que é chamado de mitologia grega?, pergunta-se o helenista Jean-Pierre Vernant. "Trata-se de um conjunto de narrativas que falam de deuses e heróis, ou seja, de dois tipos de personagens que as cidades antigas cultuavam". Além disso, continua ele, "a mitologia constitui, para o pensamento religioso dos gregos, um dos modos de expressão essenciais". Composta por uma pluralidade de deuses, sem igrejas, especialistas, nem textos sagrados, a religião grega se alimenta de narrativas míticas que não tem caráter de obrigação. Compreendem, em sua origem mesma, uma dimensão de "ficção" (mito, em grego, significa "fábula"), o que as relaciona também à literatura. Nesse sentido, a teologia antiga é essencialmente uma poesia: os relatos míticos contam aventuras lendárias e acontecimentos dramáticos que marcam a carreira dos deuses. Os deuses gregos são objeto de culto desde o século XV a.c. até o século IV da era cristã, quando o cristianismo se torna a religião oficial do Império Romano. A conquista e apogeu romanos, entretanto, não alteram os contornos mais gerais da produção artística. A maior parte dos artistas que trabalham em Roma é grega; em Pompéia, notam-se fortes marcas da arte helenística. Se as religiões de Grécia e Roma desapareceram, as divindades do Olimpo permanecem nas artes e na literatura, clássicas e também modernas. Os enredos mitológicos servem de inspiração aos poetas em seus cantos (Ilíada e Odisséia, de Homero), aos autores dramáticos na elaboração de suas tragédias (Sófocles, por exemplo) e às belas-artes em geral. Os frisos dos vasos gregos estão repletos de personagens e cenas mitológicos, assim como a estatuária, relevos, mosaicos, capitéis, pinturas murais e elementos decorativos de templos e construções antigos. A obra do escultor grego Fídias (ca.500 - ca.432 a.c.) é reveladora do interesse por tal repertório: sua estátua de Zeus, no templo dedicado ao deus em Olímpia, com 12 metros de altura, situa-se entre as grandes realizações artísticas da

época. As obras mitológicas de Praxíteles (Hermes com o Jovem Dionisio, 350 a.c., e Vênus de Milo, século I a.c.), permitem aferir a liberdade grega nas representações dos corpos nus (de acordo com a idéia de que "o corpo é o espelho da alma") e o ideal de beleza, perfeição, harmonia e graça que os artistas procuram atingir pela simetria e proporção das formas. A idéia de um renascimento ocorrido nas artes e na cultura relaciona-se, justamente, à revalorização do pensamento e da arte da Antigüidade clássica e à formação de uma cultura humanista, o que se dá entre os séculos XIV e XVI na Itália, no bojo do movimento intelectual e artístico conhecido como Renascimento ou Renascença. À concepção medieval do mundo se contrapõe uma nova visão, empírica e científica, do homem e da natureza. Do ponto de vista artístico, as representações se orientam agora pelos parâmetros ditados pelo Belo clássico. As temáticas mitológicas estão entre os tópicos preferenciais dos artistas do período, seja em detalhes de composições maiores - por exemplo, Estudo para uma das Sibilas no teto da Capela Sistina - ou em esculturas como Baco (Bargello, Florença, ca. 1496/1497), ambas de Michelangelo Buonarroti (1475-1564). A realização do modelo clássico e de seus padrões de beleza por meio da representação de personagens mitológicos conhece exemplos variados na produção renascentista: A Ninfa Galatéia, ca.1514, de Rafael (1483-1520); O Nascimento de Vênus, ca.1482, de Sandro Botticelli (ca.1444-1510) - autor de outras célebres pinturas mitológicas, como Palas e o Centauro, ca.1483 -; as composições mitológicas de Ticiano (ca.1488-1576), realizadas entre 1518 e 1523, Adoração de Vênus e Baco e Ariadne. Ainda em solo italiano, é possível mencionar os personagens mitológicos de Caravaggio) - O Jovem Baco, ca.1595, as paisagens mitológicas de Niccolò dell'abate (ca.1509-1571) - a Paisagem com a Morte de Eurídice - e obras de Paolo Veronese (1528-1588), como Vênus e Adônis, ca.1580. Os ideais renascentistas encontram seguidores por toda a Europa, o que significa a disseminação de temas mitológicos em obras como as do alemão Albrecht Dürer (1471-1528), do flamengo Jan van Scorel (1495-1562), do holandês Jacob Jordaens (1593-1678), entre muitos outros. Da escola espanhola, a obra tardia de El Greco (1541-1614) e o célebre Laocoonte, ca.1610. Se as expressões do barroco contrariam os ideais renascentistas, isso não quer dizer que tenham descartado a mitologia. Ela reaparece, por exemplo, em trabalhos do artista flamengo Peter Paul Rubens (1577-1640) - Diana e Suas Ninfas Surpreendidas por Sátiros, ca.1635/1640, e O Julgamento de Páris, ca.1638/1639 - e do escultor italiano Gianlorenzo Bernini (1598-1680): O Rapto de Prosérpina, 1621/1622, e Apolo e Dafne, 1622/1625. Não há como esquecer, além disso, as célebres obras mitológicas de Diego Velázquez (1599-1660): O Triunfo de Baco, 1629, a Forja de Vulcano, 1630, Vênus e Cupido, ca.1648, A Fábula de Aracne, ca.1656/1658, entre outras. Mas é no contexto do neoclassicismo que a pauta clássica e a arte antiga, especialmente greco-romana, são retomadas, como modelo de equilíbrio, clareza e proporção. A Luta entre Teseu e o Minotauro, 1781/1783, constitui o tema daquela que é considerada a primeira grande obra do escultor Antonio Canova (1757-1822). O nome de John Flaxman (1755-1826) pode ser lembrado pelas gravuras realizadas para a Ilíada e a Odisséia, 1793, que lhe valem fama internacional. Se o centro irradiador da escultura neoclássica é Roma, na pintura, o epicentro do neoclassicismo desloca-se para a França. Aí, diante da Revolução Francesa, o modelo clássico adquire sentido ético e moral, associandose a alterações na visão do mundo social, flagrantes na vida cotidiana, na simplificação dos padrões decorativos e nas modas despojadas. Do ponto de vista das temáticas retiradas da mitologia, a obra de Nicolas Poussin (1594-1665) se destaca pelos personagens de Céfalo e Aurora, Midas, Selene (Diana), além de ninfas e sátiros, que povoam as suas telas. O pintor, gravador e designer francês François Boucher (1703 -

1770), ligado ao rococó nos primeiros tempos, adere ao neoclassicismo e aos temas mitológicos no fim da carreira: O Triunfo de Vênus, 1740 e O Descanso de Diana, 1742. A pintura mitológica deixa rastros em toda a história da arte, associando-se freqüentemente à pintura alegórica, ao grotesco e à pintura histórica. Uma das "pinturas negras" de Francisco de Goya (1746-1828), em que figuram cenas de pesadelo em tons escuros, volta à mitologia em sua face trágica e grotesca: Saturno Devorando os Seus Filhos, 1820. Na Inglaterra, a obra do ilustrador e designer inglês Walter Crane (1845-1915) lança mão de motivos e personagens mitológicos, como Pandora Abre a Caixa e Belerofonte no Pégasus. No século XX, temas mitológicos são retrabalhados sobretudo por artistas ligados ao simbolismo. A "pintura literária" de Gustave Moreau (1826-1898), por exemplo, focaliza civilizações e mitologias antigas (A Galatéia). Odilon Redon (1840-1916), que na década de 1890 se volta para a pintura, explora, vez ou outra, cenas mitológicas (Nascimento de Vênus, ca.1912). Nas obras metafísicas de Giorgio de Chirico (1888-1978), personagens mitológicos reaparecem em composições irônicas e patéticas, como manequins (Heitor e Andrômaca, 1917). A pintura mitológica - entendida como a representação de personagens e cenas da antiguidade e mitologia greco-romanas - não conhece grande desenvolvimento na arte brasileira. No período colonial, encontram-se exemplos esporádicos desse gênero de pintura em residências particulares, como no forro do Solar do Ferrão, em Salvador, de autor anônimo. Vale lembrar também as esculturas Ninfa Eco e Caçador Narciso, realizadas por Mestre Valentim (ca.1745-1813) para ornamentar o Chafariz das Marrecas, no Rio de Janeiro. Entretanto, se a noção de mito for ampliada para englobar mitologias religiosas africanas e indígenas, seria possível pensar na mitologia dos orixás tal como representada na chamada arte afro-brasileira ou nos mitos indígenas incorporados ao folclore e à arte nacional. os relatos míticos contam aventuras lendárias e acontecimentos dramáticos que marcam a carreira dos deuses. Referências Pitoresco. Ticiano Vicellio. Disponível em: http://www.pitoresco.com.br/universal/tiziano/tiziano. htm Acesso em 17 de Nov. de 2009. Itaú cultural. Pintura Mitológica. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=3822 Acesso em 17 de Nov. de 2009. CRÉDITOS Essa coletânia de textos foi elaborada por Juliana Gomes de Souza Dias para ser utilizado como material de apoio na aula A história da arte e a história das cidades, disponível no Portal do Professor. Os textos são responsabilidade de seus autores indicados nas referências. Projeto Gráfico e Diagramação Juliana Gomes de Souza Dias juliana.gsouza@gmail.com