Discriminante, Ramificação e Diferente

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CRITÉRIO DE EISENSTEIN. Marília Martins Cabral Orientador: Igor Lima

Transcrição:

Discriminante, Ramificação e Diferente Ciléia Mazzei de Oliveira Orientador: Prof. Dr. Antonio Aparecido de Andrade Dissertação apresentada ao Departamento de Matemática - IBILCE - UNESP, como parte dos requisitos para a obtenção do Título de Mestre em Matemática. São José do Rio Preto - SP Fevereiro - 005

A hora em que Deus responde as nossas preces pode não ser a nossa hora. Mas Ele sempre responde. (Donald E. Kohlstaedt)

À minha família, Geni, Willer e Durval. E ao meu namorado, Orlando dedico.

Agradecimentos Ao concluir este trabalho, agradeço primeiramente a Deus. Ao Prof. Dr. Antonio Aparecido de Andrade, pelo incentivo, amizade e dedicação. À banca examinadora: Prof. Dr. Ali Messaoudi (IBILCE - UNESP - S.J.Rio Preto), Prof. Dr. Marcelo Muniz da Silva Alves (UFPR - Curitiba), Prof. Dr. Trajano Pires da Nóbrega Neto (IBILCE - UNESP - S.J.Rio Preto) e Prof. Dr. Raul Antonio Ferraz (IME - USP - São Paulo). À minha mãe, pela confiança, pelo incentivo e principalmente pelas palavras de amor e coragem nos momentos mais difíceis da minha vida. À minha família que entenderam a minha ausência em momentos importantes, em particular ao meu irmão e meu padrasto. Ao Orlando, pelo amor, incentivo, confiança e por estar sempre comigo nos momentos de alegria e nos de dificuldade. À Sabrina pela amizade e por compartilhar momentos importantes desde o início desta etapa. Aos amigos da pós-graduação pelo agradável convívio, em particular ao Juliano e a Carina. Ao Márcio, por estar sempre torcendo por mim. A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. À Capes, por parte do auxílio financeiro.

Resumo Os objetivos deste trabalho foram relacionar a ramificação com os conceitos de discriminante e diferente. Utilizando esses conceitos foram feitos aplicações em reticulados e códigos. Nessas aplicações, estudamos algumas maneiras de obtermos reticulados e também alguns códigos, chamados códigos de bloco espaço-tempo. Palavras-chave: Discriminante, ramificação, diferente, reticulado, códigos de bloco espaço tempo.

Abstract The aims of this work were to relate ramification with the concepts of different and discriminant. Using those concepts we made applications in lattices and codes. In those applications, we study some ways to get lattices and some codes, called block codes space-time. Keywords: Discriminant, ramification, different, lattices, block codes space-time.

Índice de Símbolos N: conjunto dos números naturais Z: conjunto dos números inteiros Q: conjunto dos números racionais R: conjunto dos números reais C: conjunto dos números complexos : produtório : somatório det A: determinante de A D(α 1,..., α n ): discriminante de uma n-upla N(I): norma de um ideal I φ(n): número de elementos de ( ) Z ou φ de Euler nz ξ n : e πi/n = cos π + isen π, uma raiz n-ésima primitiva da unidade n n T r L K : traço em relação à extensão L K N L K : norma em relação à extensão L K δ L K : discriminante em relação à extensão L K (B A): diferente do anel B sobre A < α 1,..., α n >: ideal gerado por α 1,..., α n

Sumário Introdução 10 1 Teoria dos Números Algébricos 1 1.1 Elementos inteiros................................... 1 1. Norma e traço..................................... 17 1.3 Corpos quadráticos.................................. 5 1.4 Corpos ciclotômicos.................................. 7 1.5 Anéis Noetherianos.................................. 9 1.6 Anéis de Dedekind.................................. 33 1.7 Norma de um ideal.................................. 36 1.8 Anéis de frações.................................... 38 Ramificação e Discriminante 44.1 Ramificação...................................... 44. Ramificação em corpos quadráticos......................... 51.3 Discriminante..................................... 53.4 Ramificação e discriminante............................. 60.5 Teorema de Kummer................................. 65.6 Reticulados...................................... 71.7 Reticulados via corpos de números......................... 74 3 Ramificação e diferente 83 3.1 Diferente........................................ 83 3. Ramificação e diferente................................ 90 4 Reticulados e códigos 104 4.1 Reticulados...................................... 104 8

4. Ideais reticulados................................... 109 4.3 Ideais reticulados rotacionados........................... 113 4.4 Códigos lineares.................................... 114 4.5 Código de bloco espaço-tempo............................ 116 4.5.1 Código B,φ.................................. 119 4.5. Código de Ouro................................ 11 Referências Bibliográficas 13

Introdução Neste trabalho apresentamos um estudo sobre ramificação, discriminante, diferente e também sobre reticulados. Considerando A um anel de Dedekind, K seu corpo de frações, L uma extensão finita de K e B o anel dos inteiros de L em relação a A, vimos a decomposição de um ideal primo P não nulo em L, onde consideramos a fatoração do ideal estendido PB em ideais Q i de B. Através do conceito de discriminante, caracterizamos os ideais primos de A que são ramificados em L, e com o conceito de diferente, caracterizamos os ideais primos do anel dos inteiros B que são ramificados em L. Forney em 1988 deu início a uma teoria que dado um reticulado conseguimos em cima dele obter reticulados equivalentes através de uma multiplicação por escalar, translação e rotação. Usando o diferente, Eva Bayer em 1999 obteve outro conceito de reticulados e por fim utilizando a idéia de Forney, Viterbo em 004 introduziu alguns métodos de se obter reticulados rotacionados. Deste modo, como uma aplicação da teoria algébrica dos números, apresentamos o conceito de reticulados no R n, a obtenção de reticulados via o método de Minkowski, onde a imagem do homomorfismo canônico de ideais do anel dos inteiros são reticulados, e também a obtenção de reticulados utilizando discriminante e diferente, via os trabalhos de Eva Bayer e Viterbo. Desta maneira, este trabalho está dividido nos seguintes capítulos. No Capítulo 1, abordamos a teoria algébrica dos números, onde vimos os conceitos de elementos inteiros, anel dos inteiros, corpos de números, corpos quadráticos e ciclotômicos, anéis Noetherianos e de Dedekind, norma de um ideal e anéis de frações. No Capítulo, apresentamos os conceitos de ramificação e discriminante, e também a relação entre eles. Apresentamos o Teorema de Kummer, que usamos para a decomposição de um ideal primo em uma extensão. Em seguida, apresentamos um breve estudo sobre reticulados, enfocando os seus principais parâmetros tais como região fundamental e volume. Também apresentamos o homomorfismo canônico de um corpo de números e a obtenção de reticulados via este homomorfismo. 10

No Capítulo 3, apresentamos os conceitos de diferente e ramificação enfocando suas principais propriedades. Também apresentamos as principais relações entre diferente e ramificação. No Capítulo 4, apresentamos outros métodos de se obter reticulados de um modo diferente dos obtidos no Capítulo, enfocando os trabalhos de Forney e Eva Bayer. Finalizando o Capítulo, apresentamos os códigos de bloco espaço-tempo e exemplos destes códigos, os quais são construídos em uma extensão de Q(i). Os anéis considerados neste trabalho são comutativos e com elemento identidade. 11

Capítulo 1 Teoria dos Números Algébricos Este capítulo tem como objetivo de introduzir conceitos importantes da Teoria Algébrica dos Números, os quais são utilizados nos capítulos posteriores, tais como elementos inteiros sobre um anel, norma e traço de elementos. Sobre um corpo de números, veremos os corpos quadráticos e corpos ciclotômicos. Para finalizar, veremos as principais propriedades dos anéis Noetherianos, dos anéis de Dedekind e dos anéis de frações. Utilizamos as seguintes referências [1] e []. 1.1 Elementos inteiros Nesta seção, apresentamos o conceito de elementos inteiros sobre um anel, onde veremos que o conjunto desses elementos é um anel chamado anel dos inteiros. Também apresentamos um estudo sobre as suas principais propriedades. Definição 1.1.1 Sejam A B anéis. Dizemos que um elemento α B é inteiro sobre A, se α é uma raiz de um polinômio mônico com coeficientes em A, ou seja, se existem a 0,, a n 1 A, não todos nulos, tal que α n +a n 1 α n 1 + +a 1 α+a 0 = 0. Essa equação é chamada de equação de dependência integral de α. Exemplo 1.1.1 Se α = 5+ 7 R, temos que α é inteiro sobre Z, pois α é raiz do polinômio x 4 4x + 4 Z[x]. Teorema 1.1.1 Sejam A B anéis e α B. São equivalentes as seguintes afirmações: i) α é inteiro sobre A. ii) O anel A[α] é um A-módulo finitamente gerado. iii) Existe um subanel R do anel B tal que R é um A-módulo finitamente gerado que contém A e α. 1

Demonstração: i) ii) Temos que A[α] = { i a iα i : a i A}. Por hipótese, temos que α é inteiro sobre A. Então existem a 0,, a n 1 A, não todos nulos, tal que α n + a n 1 α n 1 + + a 1 α + a 0 = 0. Seja M = 1, α,, α n 1 um A-módulo finitamente gerado. Vamos mostrar que A[α] = M. Temos que α n = (a n 1 α n 1 + + a 1 α + a 0 ), ou seja, α n 1, α,, α n 1. Agora, vamos provar por indução que α j 1, α,, α n 1, j N. Temos que α j 1, α,, α n 1, j n 1. Suponhamos, por hipótese de indução, que α j 1, α,, α n 1 e mostremos que α j+1 1, α,, α n 1. Por hipótese, segue que existem elementos b 0,, b n 1 A tal que α j = b n 1 α n 1 + + b 1 α + b 0. Assim, α j+1 = α j α = (b n 1 α n 1 + + b 1 α + b 0 ) α = b n 1 α n + + b 1 α + b 0 α = b n 1 ( a n 1 α n 1 a 1 α a 0 ) + + b 1 α + b 0 α = b n 1 a n 1 α n 1 b n 1 a 1 α b n 1 a 0 + + b 1 α + b 0 α = a 0 b n 1 + ( b n 1 a 1 + b 0 )α + + (b n b n 1 a n 1 )α n 1, ou seja, α j+1 1, α,, α n 1, para todo j N. Por outro lado, temos que 1, α,, α n 1 A[α]. Assim, 1, α,, α n 1 = A[α]. Portanto, A[α] é um A-módulo finitamente gerado por 1, α,, α n 1. Para ii) iii) temos que como α A[α] e A A[α], é suficiente tomar R = A[α]. Finalmente, para iii) i) seja R = y 1,, y n um A-módulo finitamente gerado tal que A R B e α R. Assim R = Ay 1 + + Ay n. Como α R temos que αy i R, para todo i = 1,, n. Assim, existem a ij A, com 1 i, j n, de modo que Logo, αy 1 = a 11 y 1 + + a 1n y n αy = a 1 y 1 + + a n y n. αy n = a n1 y 1 + + a nn y n. (α a 11 )y 1 a 1 y a 1n y n = 0 a 1 y 1 + (α a )y a n y n = 0. a n1 y 1 a n y + (α a nn )y n = 0. 13

Na forma matricial, temos α a 11 a 1 a 1n a 1 α a a n...... a n1 a n α a nn y 1 y. y n = 0 0. 0. Seja d o determinante da matriz dos coeficientes deste sistema linear. Pela regra de Cramer, n temos que dy j = 0, para j = 1,, n. Como 1 R, temos que 1 = c j y j, com c j A, e n n assim, d = d 1= d c j y j = c j dy j = 0. Observemos que d é uma equação de dependência j=1 j=1 integral de α, uma vez que d = α n + b n 1 α n 1 + + b 0 = 0, onde cada b i A. Portanto, α é inteiro sobre A. Corolário 1.1.1 Sejam A B anéis, e sejam α 1,, α n B. Se α 1 é inteiro sobre A, α é inteiro sobre A[α 1 ], e α n é inteiro sobre A[α 1,, α n 1 ], então A[α 1,, α n ] é um A-módulo finitamente gerado. Demonstração: Se α 1 é inteiro sobre A, então pelo Teorema 1.1.1, temos que A[α 1 ] é um A-módulo finitamente gerado. Assim, por indução, suponhamos que R = A[α 1,, α n 1 ] seja um A-módulo finitamente gerado pelos elementos {v 1, v,, v n } e que α n seja inteiro sobre R = A[α 1,, α n 1 ]. Pelo Teorema 1.1.1, temos que R[α n ] é um R-módulo finitamente gerado. Assim existe {w 1,, w s } R[α n ] tal que s R[α n ] = A[α 1,, α n ] = Rw i = j=1 j=1 ( s n ) a j v j w i = a j v j w i. j,i Logo, {v j w i }, para i = 1,, s e j = 1,, n, gera R[α n ] como um A-módulo. Portanto, A[α 1,, α n ] é um A-módulo finitamente gerado. Corolário 1.1. Sejam A B anéis. Se α, β B são inteiros sobre A, então α ± β, αβ são inteiros sobre A. Demonstração: Temos que α ± β, αβ pertencem a A[α, β]. Pelo Corolário 1.1.1, temos que A[α, β] é um A-módulo finitamente gerado e pelo Teorema 1.1.1, segue que α ± β, αβ são inteiros sobre A. Definição 1.1. Sejam A B anéis. Dizemos que B é inteiro sobre A se todo elemento de B é inteiro sobre A. 14

Definição 1.1.3 Sejam A B anéis. (1) O B = {α B : α é inteiro sobre A} é chamado anel dos inteiros de A em B, ou fecho inteiro de A em B. () Se A é um domínio e B = K o corpo de frações de A, dizemos que O B é o anel dos inteiros de A em K. Além disso, se A = O B dizemos que A é um anel integralmente fechado. Proposição 1.1.1 Se A B são anéis, então A O B B. Demonstração: Pelo Corolário 1.1., temos que O B é um subanel de B. Agora, se α A, então α é raiz do polinômio p(x) = x α, o qual tem coeficientes em A, e assim α O B. Portanto, A O B B. Proposição 1.1. Sejam A B R anéis. Assim, R é inteiro sobre A se, e somente se, R é inteiro sobre B e B é inteiro sobre A. Demonstração: Suponhamos que R é inteiro sobre A. Se α R, então existem a 0,, a n 1 A, não todos nulos, tal que α n + a n 1 α n 1 + + a 0 = 0. Como A B, segue que a i B, i = 0, 1,, n 1, ou seja, α é inteiro sobre B. Portanto, R é inteiro sobre B. Agora se, α B e como B R, segue que α R e então por hipótese α é inteiro sobre A. Portanto, B é inteiro sobre A. Reciprocamente, seja α R. Como R é inteiro sobre B, segue que existem b 0,, b n 1 B, não todos nulos, tal que α n + b n 1 α n 1 + + b 0 = 0. Seja C = A[b 0,, b n 1 ]. Logo, α é inteiro sobre C. Como B é inteiro sobre A, segue que os b is são inteiros sobre A. Pelo Corolário 1.1.1, segue que C[α] = A[b 0,, b n 1, α] é um A-módulo finitamente gerado. Pelo Teorema 1.1.1, temos que α é inteiro sobre A. Portanto, R é inteiro sobre A. Proposição 1.1.3 Sejam A B anéis, onde B é um domínio e inteiro sobre A. Então A é um corpo se, e somente se, B é um corpo. Demonstração: Suponhamos que A é um corpo. Seja α B, α 0. Logo, α é inteiro sobre A e pelo Teorema 1.1.1, segue que A[α] é um espaço vetorial finitamente gerado sobre A. Seja ϕ : A[α] A[α] uma aplicação definida por ϕ(b) = bα, b A[α]. Temos que ϕ é A-linear e bijetora, uma vez que b 1, b A[α], temos que ϕ(b 1 + b ) = (b 1 + b )α = b 1 α + b α = ϕ(b 1 ) + ϕ(b ) 15

ϕ(γb 1 ) = γb 1 α = γϕ(b 1 ). Se ϕ(b) = bα = 0 temos que b = 0, uma vez que B é um domínio. Portanto, ϕ é injetora. Como a dimensão de A[α] sobre A é finita segue que ϕ é bijetora. Assim, como 1 A[α], existe b A[α] tal que b α = 1. Portanto, B é um corpo. Por outro lado, suponhamos que B é um corpo. Seja α A. Assim α A B, e portanto α 1 B. Como B é inteiro sobre A, segue que (α 1 ) n + a n 1 (α 1 ) n 1 + a n (α 1 ) n + + a 0 = 0, com a i A, não todos nulos. Multiplicando por α n 1, temos ou seja, Assim, α 1 A. Portanto, A é um corpo. α 1 + a n 1 + a n α + + a 0 α n 1 = 0, α 1 = (a n 1 + + a 1 α n + a 0 α n 1 ). Proposição 1.1.4 Se A é um domínio, então O B é um anel integralmente fechado. Demonstração: Seja K o corpo de frações de A. Assim, K também é o corpo de frações de O B. Seja α K inteiro sobre O B. Como O B é inteiro sobre A segue da Proposição 1.1. que α é inteiro sobre A, e portanto α O B. Assim, O B é um anel integralmente fechado. Proposição 1.1.5 Se A é um domínio principal então A é um anel integralmente fechado. Demonstração: Seja K o corpo de frações de A. Seja α K inteiro sobre A tal que α = a b, com a, b A e mdc(a, b) = 1. Então existem a i A, i = 1,, n 1, não todos nulos, tal que α n + a n 1 α n 1 + + a 0 = 0. Substituindo α por a, temos que b ( a ) n ( a ) n 1 + an 1 + + a0 = 0. b b Multiplicando por b n, obtemos a n + a n 1 a n 1 b + + a 0 b n = 0, isto é, a n = b( a n 1 a n 1 a 0 b n 1 ). Logo b divide a n e como mdc(a, b) = 1, segue que b divide a, o que implica que a = bc. Usando novamente o fato de mdc(a, b) = 1, temos que existem x 0, y 0 A tal que ax 0 + by 0 = 1. Assim, bcx 0 + by 0 = 1 o que implica que b(cx 0 + y 0 ) = 1. Assim, b é inversível em A e α = ab 1 A. Portanto, A integralmente fechado. 16

1. Norma e traço Nesta seção, apresentamos os conceitos de norma e traço de elementos. Também apresentamos que o anel dos inteiros é um A-módulo livre, onde A é um anel principal. Sejam A B anéis, onde B é um A-módulo livre de posto finito n. Seja {e 1,, e n } uma base de B sobre A e seja θ : B B um homomorfismo. Assim, θ(e 1 ) = a 11 e 1 + a 1 e + + a 1n e n θ(e ) = a 1 e 1 + a e + + a n e n. θ(e n ) = a n1 e 1 + a n e + + a nn e n, θ(e 1 ) e 1 com a ij A, onde 1 i, j n. Assim,. = [a ij].. Definimos o traço de θ por θ(e n ) e n n T r B A (θ) = a ii, a norma de θ por N B A (θ) = det(a ij ) e o polinômio característico de θ por m B A (x) = det(xi θ). Assim, temos que: T r B A (θ + θ ) = T r B A (θ) + T r B A (θ ) det(θθ ) = det(θ)det(θ ) e m B A (x) = det(xi θ) = x n (T r B A (θ))x n 1 + + ( 1) n det(θ). Definição 1..1 Seja o endomorfismo θ α : B B definido por θ α (x) = αx, com α B. O traço de α B é definido por T r B A (α) = T r B A (θ α ), a norma de α B por N B A (α) = det(θ α ) e o polinômio característico de α por m B A (x) = det(xi θ α ). Observação 1..1 Se K L extensões de corpos, e se O K e O L os anéis dos inteiros de K e L, respectivamente, então usamos a notação T r L K (α) ou T r OL O K (α), N L K (α) ou N OL O K (α) com α L. Exemplo 1..1 Seja L = Q( 1). Sejam α = 3 + 1 Q( 1) e m α (x) = x 6x + 10 o polinômio minimal de α sobre Q. Então T L Q (α) = 6 e N L Q (α) = 10. 17

Sejam Q K L extensões de corpos finitos. Sejam α, α L e a K. Então vale as seguintes propriedades: 1. T r L K (α + α ) = T r L K (α) + T r L K (α ). T r L K (aα)=at r L K (α) 3. T r L K (a) = [L : K]a 4. N L K (a) = a [L:K] 5. N L K (aα) = a [L:K] N L K (α) 6. N L K (αα ) = N L K (α)n L K (α ) se K M L são extensões de corpos temos que 7. N L K (α) = N M K (N L M (α)) 8. T L K (α) = T M K (T L M (α)). Proposição 1..1 Seja K um corpo de característica 0 ou um corpo finito. Sejam L uma extensão algébrica de grau n de K, α um elemento de L e α 1,, α n as raízes do polinômio minimal de α sobre K. Então T r L K (α) = α 1 + + α n, N L K (α) = α 1 α n e o polinômio característico de α é m L K (x) = (x α 1 )(x α ) (x α n ). Demonstração: Primeiramente faremos a demonstração para o caso em que α é um elemento primitivo de L sobre K, ou seja, L = K[α]. Seja f(x) o polinômio minimal de α sobre K. Então L é K-isomorfo a K[x]/ f(x) e {1, α,, α n 1 } é uma base de L sobre K. Tomando f(x) = x n + a n 1 x n 1 + + a 0, com a i K, temos que a matriz do endomorfismo θ α com respeito a esta base é dada por 0 0 0 a 0 1 0 0 a 1 M =........ 0 0 1 a n 1 Assim, det(xi θ α ) é o determinante da matriz x 0 0 a 0 1 x 0 a 1 xi n M =........ 0 0 1 x + a n 1 18

Calculando o determinante da matriz acima, obtemos o polinômio característico de α, o qual é igual a f(x), o polinômio minimal de α. Por definição, m L K (x) = det(xi θ α (x)) = det(xi n M) = x n (T r L K (θ α ))x n 1 + + ( 1) n det(θ α ). Como α é primitivo temos que ( n ) ( n ) f(x) = (x α 1 )(x α ) (x α n ) = x n α i x n 1 + + ( 1) n α i. n n Logo, T r L K (θ α ) = T r L K (α) = α i e N L K (θ α ) = N L K (α) = α i. Para o caso geral, seja r = [L : K[α]]. Assim, é suficiente mostrarmos que o polinômio característico m L K (x) de α, com relação a L sobre K, é igual a r-ésima potência do polinômio minimal de α sobre K. Seja {y 1,, y q } uma base de K[α] sobre K e seja {z 1,, z r } uma base de L sobre K[α] com n = qr. Seja M = (a ih ) a matriz do endomorfismo de K[α] sobre K com relação a base {y 1,, y q }. Assim, αy i = ( ) (a ih )y h. Então, α(y i z j ) = a ih y h z j = a ih (y h z j ). Logo, h h h αy 1 z 1 = a 11 y 1 z 1 + a 1 y z 1 + + a 1q y q z 1 αy z 1 = a 1 y 1 z 1 + a y z 1 + + a q y q z 1. αy q z 1 = a q1 y 1 z 1 + a q y z 1 + + a qq y q z 1. Ordenamos a base {y i z j }, de L sobre K, de modo que a matriz do endomorfismo seja da seguinte forma M 0 0 0 0 M 0 0 M 1 =,....... 0 0 0 M isto é, M repete r-vezes na diagonal como blocos na matriz M 1. A matriz xi n M 1, consiste de r-blocos diagonais, onde cada um tem a forma xi q M, e assim, det(xi n M 1 ) = det(xi q M) r. Consequentemente, m L K (x) = det(xi n M) e det(xi q M 1 ) é o polinômio característico de α sobre K, de acordo com a primeira parte da demonstração. Observação 1.. Segue pela Proposição 1..1, que T r L K (α) = rt r K[α] K (α), N L K (α) = (N K[α] K (α)) r e m L K (x) = (m K[α] K (x)) r. 19

Exemplo 1.. Sejam L = Q( 5, 1), K = Q( 1) e F = Q. Sejam α = 3 + 1 e r = [L : K]=. Pelo Exemplo 1..1, temos que N K F (α) = 10 e T K F (α) = 6. Assim, pela Observação 1.., temos que N L F (α) = (N K F (α)) = 10 = 100 e T L F (α) = (T K F (α)) = 6 = 1. Proposição 1.. Sejam A um domínio, K seu corpo de frações, K L uma extensão finita de grau n e α L um elemento inteiro sobre A. Então os coeficientes do polinômio característico de α são inteiros sobre A. Em particular, T r L K (α) e N L K (α) são inteiros sobre A. Demonstração: Pela Proposição 1..1, temos que o polinômio característico de α é m L K (x) = (x α 1 )(x α ) (x α n ). Como os coeficientes de m L K (x) são somas e produtos dos α i, é suficiente mostrar que os α i são inteiros sobre A. Pela Teoria de Galois, temos que existe um K-homomorfismo σ i : K[α] K[α i ], definido por σ i (α) = α i, para todo i = 1,, n. Como α é inteiro sobre A, então α n + a n 1 α n 1 + + a 0 = 0, com a i A, não todos nulos. Aplicando σ i, obtemos σ i (α) n + a n 1 σ i (α) n 1 + + a 0 = 0, ou seja, α i é inteiro sobre A. Corolário 1..1 Se A é um anel integralmente fechado, então os coeficientes do polinômio característico de α, T r L K (α) e N L K (α) são elementos de A. Demonstração: Seja m L K (x) o polinômio característico de α. Os coeficientes do polinômio m L K (x) são elementos de K e são inteiros sobre A. Como A é integralmente fechado, segue que os coeficientes de m L K (x) estão em A. Portanto, T r L K (α) e N L K (α) são elementos de A. Proposição 1..3 Sejam A um anel integralmente fechado, K seu corpo de frações, L uma extensão finita de K de grau n e O L o anel dos inteiros de A em L. Seja {α 1,, α n } uma base de L sobre K onde det(t r L K (α i α j )) 0. Seja α L. Se T r L K (αβ) = 0 para todo β L, então α = 0. Demonstração: Como α = a 1 α 1 + a α + + a n α n, onde a i K, para i = 1,, n, é suficiente mostrar que se T r(αα j ) = 0, para cada j = 1,, n, então α = 0. Assim, para cada j = 1,, n, temos que 0 = T r L K (αα j ) = a 1 T r L K (α 1 α j ) + a T r L K (α α j ) + + a n T r L K (α n α j ). 0

Na forma matricial, temos que T r L K (α 1 α 1 ) T r L K (α α 1 ) T r L K (α n α 1 ) T r L K (α 1 α ) T r L K (α α ) T r L K (α n α )...... T r L K (α 1 α n ) T r L K (α α n ) T r L K (α n α n ) a 1 a. a n = 0 0. 0. Como det(t r L K (α i α j )) 0 segue que a 1 = a = = a n = 0. Portanto, α = 0. Corolário 1.. Com as mesmas hipóteses da Proposição 1..3, segue que a aplicação ρ : L Hom K (L, K) definida por ρ(α) = S α, onde S α (β) = T r L K (αβ), com β L é um isomorfismo. Demonstração: Temos que ρ é homomorfismo, uma vez que se α 1, α L, então ρ(α 1 + α )(β) = S α1 +α (β) = T r L K ((α 1 + α )β) = T r L K (α 1 β) + T r L K (α β) = S α1 (β) + S α (β) = (ρ(α 1 ) + ρ(α ))(β) e ρ(aα)(β) = S aα (β) = T r L K (aαβ) = at r L K (αβ) = as α (β) = aρ(α)(β) para todo β L. Agora, seja α L tal que ρ(α) = 0. Então, ρ(α)(β)=s α (β) = T r L K (αβ) = 0, β L. Pela Proposição 1..3, segue que α = 0, provando assim que ρ é injetora. Finalmente, ρ é sobrejetora, pois dim K L = dim K (Hom K (L, K)). Portanto, ρ é um isomorfismo. Teorema 1..1 Sejam A um anel integralmente fechado, K seu corpo de frações, K L uma extensão finita de grau n e O L o anel dos inteiros de A em L. Então O L é um A-submódulo de um A-módulo livre. Demonstração: Seja {α 1,, α n } uma base de L sobre K. Como toda extensão finita é algébrica, segue que todos os α i são algébricos sobre K, ou seja, existem a i A, i = 0, 1,, n, não todos nulos, tal que a ni α n i i + a ni 1α n i 1 i + + a 0,i = 0. Supondo que a ni A, uma vez que 0 e multiplicando esta equação por a n i 1 n i, temos que a ni α i é inteiro sobre a n i 1 n i (a ni α n i i + + a 0,i ) = (a ni α i ) n i + a ni 1(a ni α i ) ni 1 + + a n i 1 n i a 0,i = 0. 1

Sejam a ni α i = z i O L, para cada i = 1,, n. Vamos mostrar que {z 1,, z n } é uma base de L sobre K. Suponhamos que b 1 z 1 + b z + + b n z n = 0, onde b i A, para i = 1,, n. Assim, b 1 a ni α 1 + b a ni α + + b n a ni α n = 0. Como {α 1,, α n } é uma base de L sobre K segue que b i a n = 0 e portanto b i = 0 para i = 1,, n. Portanto, {z 1,, z n } é linearmente independente e como possui n elementos segue que é uma base de L sobre K. Pelo Corolário 1.. existe uma base dual {y 1,, y n } tal que ρ(z i )(y j ) = S zi (y j ) = T r L K (z i y j ) = δ ij para i, j = 1,, n. Agora, se α O L então αz i O L, para i = 1,, n. Pelo Corolário 1..1 segue que T r L K (αz i ) A, para i = 1,, n. Como α = c 1 y 1 + + c n y n, com c i K, para i = 1,, n, segue que T r L K (αz i ) = c i A, para i = 1,, n. Portanto, O L é um submódulo de um A-módulo livre gerado por {z 1,, z n }. Corolário 1..3 Com as mesmas hipóteses do Teorema 1..1, se A é um anel principal, então O L é um A-módulo livre de posto n. Demonstração: Se A é principal temos que um submódulo de um A-módulo livre é livre de posto menor ou igual a n. Pelo Teorema 1..1, O L contém uma base de n elementos de L sobre K. Logo, O L tem posto n. Corolário 1..4 Com as mesmas hipóteses do Teorema 1..1, se A é um anel principal e se A O L é um ideal, então A é um A-módulo livre de posto n. Demonstração: Sejam {e 1,, e n } uma base de O L e α A, α 0. Assim, αe 1,, αe n A e são linearmente independente sobre A, uma vez que se α 1 αe 1 + + α n αe n = 0, com α i A, para i = 1,, n, então α i α = 0 para i = 1,, n, e como A é um domínio segue que α i = 0, para i = 1,, n. Teorema 1.. Sejam A um anel e K A um corpo tal que A é um espaço vetorial de dimensão finita sobre K. Seja θ : A A uma transformação K-linear. Seja uma cadeia estritamente decrescente de subespaços de A, de modo que, A = A 0 A 1 A k A k = 0 e que θ(a i ) A i, para i = 1,, k. Então m A K (θ) = m (Ai 1 /A i K)(θ i ), onde θ i = A i 1 /A i A i 1 /A i, para i = 1,, k, é uma transformação linear induzida por θ.

Demonstração: Os elementos do K-espaço vetorial A i 1 /A i são as classes z + A i, onde z A i 1, para i = 1,, k. Temos que θ induz uma transformação linear θ i : A i 1 /A i A i 1 /A i definida por θ i (z + A i ) = θ(z) + A i, para z A i 1. Por hipótese temos que A j são subespaços,e assim cada θ i está bem definida. Para cada índice i = 1,, k, seja B i = {z i1,, z imi } um conjunto de elementos de A i 1 tal que o conjunto das classes {z i1 +A i,, z imi +A i } forma uma base do espaço vetorial A i 1 /A i. Então para cada i = 1,, k, temos que B i B i+1 B k constitui uma base do K-espaço vetorial A i 1. Em particular, B = B 1 B B k é uma base do K-espaço vetorial A. Seja a matriz M(θ) com relação a base B. Esta matriz pode ser expressa em termos das matrizes M(θ i ) com relação a B i, da seguinte forma: M(θ 1 ) 0 0 M 1 M(θ ) 0 M(θ) =.,..... M k1 M k M(θ k ) onde M ij (i > j) são matrizes com coeficientes em K, pois como θ(z ij ) A i 1 então θ(z ij ) pode ser expresso em termos da base B i B i+1 B k uma vez que m i m i m i θ(z ij ) = a ihj z ih + a i+1,hj z i+1,h + + a khj z kh, h=1 h=1 h=1 m i m i onde coeficientes a thj K. Assim, θ i (z ij +A i ) = a ihj (z ih +A i )+A i = a ihj z ih +A i. Assim, o polinômio característico, das transformações lineares θ, θ 1, θ,, θ k é dado por h=1 h=1 m A K (θ) = k m (Ai 1 /A i K)(θ i ). Teorema 1..3 Sejam A um anel e K A um corpo tal que A é um espaço vetorial de dimensão finita sobre K. Seja θ : A A uma transformação K-linear. Seja uma cadeia estritamente decrescente de subespaços de A, A = A 0 A 1 A A k = 0 tal que θ(a i ) A i, para i = 1,, k e suponhamos que 1) A i é um ideal de A, para i = 1,, k. ) Para todo i = 1,, k não existe ideal I de A tal que A i 1 I A i. 3) Se y A 1 e z A i 1 então yz A i, para i = 1,, k. 4) Se y, z A, yz A i e y A 1 então z A i, para i = 1,, k. Se x A e θ = θ(x) então para i = 1,, k, temos que m (Ai 1 /A i K)(θ i ) = m A K (θ) e m A K (θ) = [m (A/A1 K)(θ 1 )] k. 3

Demonstração: Temos que para cada i = 1,, k, existe um isomorfismo de A-módulos λ i : A i 1 /A i A/A 1 tal que θ 1 λ i = λ i θ i, uma vez que se u A i 1 e u A i, então A i A i + Au A i 1. Por 1) e ) temos que A i 1 = A i + Au. Dado um elemento y + A i A i 1 /A i, seja y = y u + y, com y A e y A i. Definimos λ i (y + A i ) = y + A 1. A função λ i : A i 1 /A i A/A 1 esta bem definida, uma vez que se y + A i = z + A i com z A i 1 e z = z u + z, z A, z A i, então y z = (y z )u + (y z ). Assim, (y z )u A i. Como u A i, segue de 4) que y z A 1 e assim, y + A 1 = z + A 1. Temos também que λ i é um homomorfismo de A-módulos. Além disso, se y = y u + y, com y A 1 então por 3) temos que y A i. Portanto se λ i (y + A i ) = 0 A/A 1 então y + A i = 0 A i 1 /A i, e assim é injetora. Agora para provarmos que λ i é sobrejetora, seja y A. Assim, y = y u A i 1 é tal que λ i (y + A i ) = y + A 1. Portanto, λ i é um isomorfismo. Falta mostrarmos que θ 1 λ i = λ i θ i. Seja y A i 1. Se y = y u + y, com y A e y A i, então xy = (xy )u + xy, com xy A, xy A i. Assim, θ 1 (λ i (y + A i )) = θ 1 (y + A 1 ) = θ(y ) + A 1 = xy + A 1 = λ i (xy + A i ) = λ i (θ(xy) + A i ) = λ i (θ i (y + A i )). Pela demonstração do Teorema 1.., temos que se B é uma base do K-espaço vetorial A i 1 /A i e λ i ( B i ) é a base correspondente do espaço vetorial isomorfo a A/A 1 então as matrizes de θ i com relação B i e de θ 1 com relação a λ i ( B i ) são as mesmas. Assim, m (Ai 1 /A i K)(θ i ) = m A K (θ) e portanto m A K (θ) = [m (A/A1 K)(θ 1 )] k. Proposição 1..4 Sejam A um anel e B um A-módulo livre. Sejam ψ : B B um homomorfismo de B em um anel B e que ψ(a) = Ā. Suponha que existe uma base {z 1,, z n } do A-módulo B tal que { z 1,, z n } é uma base do Ā-módulo B onde z = ψ(z), z B. Se x B então ψ(m B A (x)) = m B Ā( x), ψ(t r B A (x)) = T r B Ā( x) e ψ(n B A (x)) = N B Ā( x). n Demonstração: Se x B então xz j = a ij z i, com j = 1,, n e a ij A. Logo x z j = n a ij z i, para j = 1,, n. Sejam as matrizes M = (a ij ), com relação a base {z 1,, z n }, e M = (a ij ) com relação a base { z 1,, z n }. Aplicando ψ aos coeficientes do polinômio característico m B A (x) = det(xi (a ij )), obtemos det(xi (a ij )) = m B Ā( x). O traço e a 4

n norma segue analogamente, pois T r B A (x) = a ii e assim se aplicarmos ψ temos que ( n ) n n ψ(t r B A (x)) = ψ a ii = ψ(a ii ) = a ii = T r B Ā( x) e como N B A (x) = det(a ij ) então ψ(n B A (x)) = ψ(det(a ij )) = det ψ(a ij ) = det (a ij ) = N B Ā( x), o que demonstra a Proposição. 1.3 Corpos quadráticos Nesta seção apresentamos o estudo dos corpos quadráticos juntamente com seu anel de inteiros. Definição 1.3.1 Um corpo de números é uma extensão finita de Q. Um corpo quadrático é uma extensão de grau de Q. Proposição 1.3.1 Um corpo quadrático é da forma Q( d), onde d é um inteiro livre de quadrados. Demonstração: Se K é um corpo quadrático, então todo elemento α K tal que α Q é de grau sobre Q. Pelo Teorema do Elemento Primitivo temos que K = Q(α). Seja m α (x) = x + bx + c, o polinômio minimal de α K = Q(α). Resolvendo a equação quadrática α + bα + c = 0, temos que α = b ± b 4c. Desta maneira, K = Q(α) = Q ( b 4c), e observando que b 4c é um número racional da forma u v =uv, com u, v Z, temos que v Q( b 4c) = Q( uv). Como uv Z, temos que uv é fatorado em produtos de primos. Assim, Q( uv)= Q( d), onde d é inteiro livre de quadrados. Observação 1.3.1 O elemento d é uma raiz do polinômio irredutível x d. O conjugado de d é - d, ou seja, existe um automorfismo σ : Q( d) Q( d) tal que σ(a + b d)= a b d. Lema 1.3.1 Seja O K o anel dos inteiros de K = Q( d), com d livre de quadrados, sobre Z. Se α = a + b d O K, então a Z e b Z. Demonstração: Pela Observação 1.3.1, segue que existe um automorfismo σ de K tal que σ(α) = σ(a + b d)= a b d. Como σ(α) também é raiz da mesma equação de dependência integral de α, segue que σ(α) O K. Como α e σ(α) O K, pelo Corolário 1.1., temos que α + σ(α) O K e ασ(α) O K. Além disso, α + σ(α) = (a + b d) + (a b d) = a Q e 5

ασ(α) = (a + b d)(a b d) = a db Q. Como Z é um anel de ideais principais, pela Proposição 1.1.5, temos que Z é integralmente fechado e portanto a Z e a db Z. (1.1) Pela equação (1.1) temos que (a) d(b) Z. Como a Z, segue que (a) Z. Por outro lado, se b Z, o seu denominador teria um fator primo p e este fator apareceria como p no denominador de d(b). Sendo d livre de quadrados, segue que d(b) Z, o que é um absurdo. Portanto, b Z. Teorema 1.3.1 Seja K = Q( d) um corpo quadrático, com d Z livre de quadrados, ou seja, d 0(modulo 4). a) Se d ou d 3(modulo 4), então o anel dos inteiros O K, consiste de todos os elementos da forma a + b d, com a, b Z. b) Se d 1(modulo 4), então o anel dos inteiros O K, consiste de todos os elementos da forma 1 (a + b d), com a, b Z, e de mesma paridade. Demonstração: Seja α = a + b d O K. Pelo Lema 1.3.1 temos que a = u e b = v, com u, v Z. Da equação (1.1) temos que u dv 4Z. a) Se d ou d 3(modulo 4), temos que u, v são pares, pois se v fosse ímpar, teríamos v 1(modulo 4). Como u dv 4Z temos que u d(4k + 1) 4Z o que implica que u d 4Z. Assim, u d(modulo 4). Portanto, d 1(modulo 4) ou d 0(modulo 4), o que contradiz a hipótese. Sendo v par, temos que v 0(modulo 4) e portanto u 4Z. Assim u também é par. Então a, b Z e α = a + b d Z[ d] e portanto, O K Z[ d]. Por outro lado, tomando α Z[ d], temos que α é raiz do polinômio Portanto, Z[ d] O K. Assim, Z[ d] = O K. x ax + a db Z[x]. b) Se d 1(modulo 4), temos que u, v tem a mesma paridade. Se u e v são pares então a, b Z, e portanto α = a + b d Z[ [ d]. Se u e v são ímpares, então α = u + v d 1 + ] d Z. [ 1 + ] d Portanto, O K Z. Por outro lado, se ( α = a + b 1 + ) [ d Z 6 1 + ] d

com a, b Z, temos que α é raiz do polinômio x (a + b)x + (a + ab [ ] [ pois d 1(modulo 4). Assim, Z 1 + d 1.4 Corpos ciclotômicos O K. Portanto, Z 1 + ] d =O K. ) (1 d)b Z[x], 4 Nesta seção apresentamos os corpos ciclotômicos Q(ξ p ), onde ξ p é uma raiz p-ésima primitiva da unidade, e p um número primo. Também veremos que Z[ξ p ] é o anel dos inteiros de Q(ξ p ). Definição 1.4.1 Seja K um corpo. Um elemento ξ K tal que ξ n = 1 é chamado uma raiz n-ésima da unidade. Dizemos que ξ é uma raiz n-ésima primitiva da unidade se ξ n ξ m 1 para 1 < m < n. = 1 e Definição 1.4. Um corpo ciclotômico é um corpo gerado por uma raiz n-ésima da unidade. Observação 1.4.1 Se p é um número primo e ξ p é uma raiz p-ésima primitiva da unidade, então [Q[ξ p ] : Q] = ϕ(p) = p 1, onde ϕ é a função de Euler, e {1, ξ,, ξ p } é uma base de Q[ξ p ] sobre Q. Definição 1.4.3 O polinômio xp 1 x 1 = xp 1 + x p + + x + 1 é chamado polinômio ciclotômico. Teorema 1.4.1 O polinômio x p 1 + x p + + x + 1 é irredutível sobre Q, onde p é um número primo. Demonstração: Considere x = y + 1. Assim, p y p + p y p 1 + + p y + p y 0 1 x p 1 x 1 = (y + 1)p 1 0 1 p 1 p = (y + 1) 1 y = yp + py p 1 + + py + 1 1 = y p 1 + py p + + p. y Notemos que p divide p i, para cada i = 1,, p 1 e p não divide p. Então pelo Critério de Eisenstein segue que este polinômio é irredutível sobre Q. 7

Lema 1.4.1 Sejam p um números primo e ξ uma raiz p-ésima primitiva da unidade. Então: 1) T r(ξ j ) = 1, para j = 1,, p 1. ) T r(1 ξ j ) = p, para j = 1,, p 1. 3) N(ξ 1) = ( 1) p 1 p e N(1 ξ) = p. 4) p = (1 ξ)(1 ξ ) (1 ξ p 1 ). Demonstração: 1) O polinômio ciclotômico de ξ é dado por f(x) = x p 1 + x p + + x + 1. Como ξ j, para j = 1,,, p 1 são as raízes de f(x), temos que T r(ξ j ) = 1, para j = 1,, p 1. Além disso, como [Q[ξ] : Q] = p 1 temos que T r(1) = p 1. ) T r(1 ξ j ) = T r(1) T r(ξ j ) = p 1 + 1 = p, para j = 1,, p 1. 1 3) Como ξ 1 é uma raiz do polinômio f(y) = y p 1 + p y j 1 segue que, j j=p 1 N(ξ 1) = ( 1) p 1 p e N(1 ξ) = N(( 1)(ξ 1)) = N( 1)N(ξ 1) = ( 1) p 1 ( 1) p 1 p = ( 1) (p 1) p = p. 4) Como x p 1 + x p + + x + 1 = (x ξ)(x ξ ) (x ξ p 1 ), temos para x = 1 que (1 ξ)(1 ξ ) (1 ξ p 1 ) = p. Lema 1.4. Com as mesmas notações do Lema 1.4.1 temos que 1) Se O K é o anel dos inteiros de K = Q(ξ p ), então (1 ξ p )O K Z= pz = p. ) T r(y(1 ξ)) pz, y O K. Demonstração: 1) Pelo item 4) do Lema 1.4.1, temos que p = (1 ξ)(1 ξ ) (1 ξ p 1 ). Então p (1 ξ)o K. Logo, p (1 ξ)o K Z. Por outro lado, suponhamos que o ideal pz (1 ξ)o K Z Z. Como pz é maximal, segue que (1 ξ)o K Z =Z. Logo, 1 Z, e então 1 = (1 ξ)a, com a O K. Assim, 1 ξ é inversível, e portanto 1 ξ j são inversíveis em O K. Então, (1 ξ)(1 ξ ) (1 ξ p 1 ) = p é inversível em Z, o que é um absurdo. Portanto, pz = (1 ξ)o K Z. ) Cada conjugado y i (1 ξ i ) de y(1 ξ) é um múltiplo de 1 ξ i em O K onde i = 1,,, p 1. Como 1 ξ i = (1 ξ)(ξ i 1 + ξ i + + ξ + 1), 8

segue que 1 ξ i é um múltiplo de 1 ξ em O K. Sendo o traço a soma dos conjugados, então T r(y(1 ξ)) = y 1 (1 ξ) + y (1 ξ ) + + y p (1 ξ p ) = α(1 ξ), com α O K. Portanto, T r(y(1 ξ)) O K. Como Z é integralmente fechado, segue que T r(y(1 ξ)) Z. Assim, T r(y(1 ξ)) (1 ξ p )O K Z=pZ. Teorema 1.4. Se p é um número primo e ξ p é uma raiz p-ésima primitiva da unidade, então Z[ξ p ] é o anel dos inteiros de K = Q(ξ p ) e {1, ξ,, ξ p } é uma base de Z[ξ p ] como um Z-módulo. Demonstração: Seja O K o anel dos inteiros de Q(ξ p ). Temos que Z[ξ p ] O K. Agora, vamos provar que O K Z[ξ p ]. Considere α O K Q(ξ p ). Assim, α = a 0 + a 1 ξ + + a p ξ p, com a i Q. Logo, α(1 ξ) = a 0 (1 ξ) + a 1 (ξ ξ ) + + a p (ξ p ξ p 1 ). Assim, T r(α(1 ξ)) = a 0 T r(1 ξ) + a 1 T r(ξ ξ ) + + a p T r(ξ p ξ p 1 ) pz, pelo Lema 1.4.. Então a 0 T r(1 ξ) = a 0 p pz e a 0 Z. De modo análogo, temos que ξ 1 = ξ p 1 O K, e assim (α a 0 )ξ 1 = a 1 + a ξ + + a p ξ p 3. Multiplicando por 1 ξ temos que (α a 0 )ξ 1 (1 ξ) = a 1 (1 ξ)+a ξ(1 ξ)+ +a p ξ p 3 (1 ξ) e assim T r((α a 0 )ξ 1 (1 ξ)) = a 1 T r(1 ξ) + a T r(ξ ξ ) + + a p T r(ξ p 3 ξ p ). Logo, a 1 T r(1 ξ) = a 1 p pz e a 1 Z. Prosseguindo, analogamente, temos que a i Z, para cada i = 1,, n. Assim, α Z[ξ p ]. Portanto, Z[ξ p ] = O K. 1.5 Anéis Noetherianos Nesta seção apresentamos os conceitos de módulos e anéis Noetherianos, enfocando suas principais propriedades. 9

Definição 1.5.1 Sejam A um anel e M um A-módulo. Dizemos que M é um A-módulo Noetheriano se satisfaz uma das seguintes condições: 1) Toda família não vazia de A-submódulos de M tem um elemento maximal. ) Toda sequência crescente de A-submódulos de M é estacionária. 3) Todo A-submódulo de M é finitamente gerado. Dizemos que um anel A é Noetheriano se A considerado como um A-módulo for Noetheriano. Proposição 1.5.1 Todo anel principal A é Noetheriano. Demonstração: Considere a sequência crescente de A-submódulos de A, I 1 I I n. Como A é principal, todos os ideais de A são principais e como os submódulos de A são exatamente os ideais de A, segue que os submódulos de A são principais. Temos que I = I n n N é um ideal de A. Agora, notemos que I n I = a, n N e a I n0, para algum n 0 N, pois a a = I = I n. Como a I n0 e a a então I = a I n0. Portanto, I = I n0. Assim, n N n 0 N tal que n n 0 temos que I n = I n0. Proposição 1.5. Sejam A um anel, M um A-módulo e L um submódulo de M. Então M é Noetheriano se, e somente se, M/L e L são Noetherianos. Demonstração: Suponhamos que M é Noetheriano. Seja (M n ) n 0 uma sequência crescente de A-submódulos de L. Então (M n ) n 0 também é uma sequência crescente de A-submódulos de M. Como M é Noetheriano, segue que (M n ) n 0 é estacionária. Portanto, L é Noetheriano. Para mostrar que M/L é Noetheriano, sejam S = { conjunto dos submódulos de M que contém L} e T = { conjunto dos submódulos de M/L}. A aplicação ϕ : S T definida por ϕ(n) = N/L, com N S, é uma bijeção de S em T. Assim, se (M n ) n 0 é uma sequência crescente de A-submódulos de M/L, então ϕ 1 (M n ) n 0 também é uma sequência crescente A-submódulos de M. Como M é Noetheriano, segue que ϕ 1 (M n ) n 0 é estacionária, e portanto (M n ) n 0 é estacionária. Assim, M/L é Noetheriano. Reciprocamente, suponhamos que M/L e L são Noetherianos. Seja (M n ) n 0 uma sequência crescente de A-submódulos de M. Então (L M n ) n 0 é uma sequência crescente de A-submódulos L. Como L é Noetheriano, segue que (L M n ) n 0 é estacionária, ou seja, k N tal que M n L = M n+1 L, n k e M n L = M n+1, n k. L 30

Sabemos, que M n M n+1 n k. Seja x M n+1, então existe y M n tal que x + L = y + L. Assim, x y L M n+1 = L M n. Logo, x y M n e como y M n segue que x M n. Portanto, M n = M n+1, n k e assim, M é Noetheriano. Corolário 1.5.1 Se M 1,, M n são A-módulos Noetherianos então o produto M 1 M n é um A-módulo Noetheriano. Demonstração: Faremos a prova por indução sobre n. Para n =, identificamos M 1 M 1 {0} M 1 M e definimos a função ϕ : M 1 M M tal que ϕ(0, y) = y. Como ϕ é um homomorfismo sobrejetor, temos que M 1 M M, onde ker ϕ = M 1 {0}. Logo, ker ϕ M 1 M M 1 {0} M. Como M é Noetheriano, temos que M 1 M M 1 {0} M é Noetheriano e pela Proposição 1.5., segue que M 1 M é Noetheriano. Suponhamos agora, por hipótese de indução, que M = M 1 M n 1 é Noetheriano. Como M n é Noetheriano, segue do caso n =, que M = M 1 M n é um A-módulo Noetheriano. Corolário 1.5. Se A é um anel Noetheriano e M é um A-módulo finitamente gerado, então M é um A-módulo Noetheriano. Demonstração: Seja {e 1,, e n } um conjunto de geradores do A-módulo M. A aplicação ϕ : A n M definida por ϕ(a 1,, a n ) = a 1 e 1 + + a n e n, é um homomorfismo sobrejetor. A n Assim, ker ϕ M. Como A é Noetheriano, pelo Corolário 1.5.1, segue que An é Noetheriano. Pela Proposição 1.5., segue que M é um A-módulo Noetheriano. Proposição 1.5.3 Seja A um anel Noetheriano e integralmente fechado. Sejam K o corpo de frações de A, K L uma extensão finita de grau n e O L o anel dos inteiros de A em L. Então O L é um A-módulo finitamente gerado e O L é um anel Noetheriano. Demonstração: Pelo Teorema 1..1, temos que O L é um submódulo de um A-módulo livre de posto n. Pelo Corolário 1.5., temos que O L é um A-módulo Noetheriano e portanto finitamente gerado. Como os ideias de O L são A- submódulos de O L, segue que satisfazem a condição de maximilidade da Definição 1.5.1. Portanto, O L é um anel Noetheriano. Lema 1.5.1 Se A B são anéis e P B é um ideal primo, então P A é um ideal primo de A. Demonstração: Consideremos a aplicação ϕ : A π é a projeção. i B π B/P, onde i é a inclusão e A função ϕ = π i é um homomorfismo, pois π e i são homomorfismo e 31

ker(ϕ) = A P, pois ϕ(x) = π i(x) = π(x) = x + P e ϕ(x) = 0 se, e somente se, x P A. Portanto, pelo Teorema do Homomorfismo, A/P A Im(ϕ) B/P. Como B/P é um domínio, segue que A/P A é um domínio. Portanto, P A é um ideal primo de A. Lema 1.5. Sejam A um anel e P um ideal primo de A. Se P contém um produto de ideais A 1,, A n de A então P contém alguns deles. Demonstração: Se A j P, j = 1,, n, então existe α j A j e α j P. Como P é primo, segue que α 1 α n P. Mas α 1 α n A 1 A n P, o que é um absurdo. Portanto, P contém A j para algum j = 1,, n. Lema 1.5.3 Em um anel A Noetheriano, todo ideal contém um produto de ideais primos. Demonstração: Sejam A um anel Noetheriano e F o conjuntos dos ideais de A que não contém um produto de ideais primos. Suponhamos F. Como A é Noetheriano, F tem um elemento maximal M. Temos que M não é um ideal maximal, pois caso contrário, M seria primo e assim, M F. Assim, existem x, y A M tal que xy M. Notemos que M x + M e M y + M. Logo, x + M e y + M não pertencem a F. Assim, P 1 P P n x + M e Q 1 Q Q n y + M, onde P i, Q j são ideais primos de A. Portanto, (P 1 P P n )(Q 1 Q Q n ) ( x + M)( y + M) M, o que é um absurdo. Portanto, F =. Corolário 1.5.3 Em um domínio Noetheriano, todo ideal não nulo contém um produto de ideais primos não nulos. Demonstração: Análoga ao Lema 1.5.3. Definição 1.5. Seja K um corpo de números. Um O K módulo I de K é um ideal fracionário se existe d O K não nulo tal que di O K. Em particular, os ideais inteiros de A são ideais fracionários com d=1. Proposição 1.5.4 Se A é um domínio Noetheriano, então todo ideal fracionário I de A é um A-módulo finitamente gerado. Demonstração: Como I é um ideal fracionário de A, então existe d A {0} tal que di A. Assim, I d 1 A. A aplicação ϕ : A d 1 A, tal que ϕ(x) = d 1 x, x A, é um isomorfismo. Assim, A é isomorfo a d 1 A. Como A é Noetheriano, temos que d 1 A é Noetheriano. Logo, I é um A-módulo finitamente gerado. 3

1.6 Anéis de Dedekind Nesta seção apresentamos o conceito de um anel de Dedekind juntamente com suas principais propriedades. Observamos que a fatoração não é única para elementos do anel dos inteiros, pois se considerarmos Z[ 5] o anel dos inteiros do corpo Q( 5), teremos que 6 = 3 = (1 + 5)(1 5). Mas veremos, nesta seção, que a fatoração é única para ideais de um anel de Dedekind. Definição 1.6.1 Dizemos que um domínio A é um anel de Dedekind se satisfaz as seguintes condições: 1) A é integralmente fechado. ) A é Noetheriano 3) Todo ideal primo não nulo de A é maximal. Teorema 1.6.1 Sejam A um anel de Dedekind, K seu corpo de frações, K L uma extensão finita de grau n e O L o anel dos inteiros de A em L. Então O L é um anel Dedekind. Demonstração: Pelas Proposições 1.1.4 e 1.5.3, temos que O L é integralmente fechado e noetheriano, respectivamente. Assim, falta mostrar que todo ideal primo não nulo de O L é maximal. Seja P O L um ideal primo não nulo. Como A O L então pelo Lema 1.5.1, segue que P A é um ideal primo de A. Vamos mostrar que P A é não nulo. Seja α P e α 0. Como P O L segue que α O L. Assim, existem a i A, i = 0,, n 1, não todos nulos tal que α n + a n 1 α n 1 + + a 0 = 0 e que n seja mínimo. Logo, a 0 0, pois caso contrário, obteríamos uma equação de grau menor. Assim, a 0 = α( α n 1 a n 1 α n a 1 ) αo L A P A. Portanto, P A 0. Como P A é um ideal primo de A e A é Dedekind segue que P A é um ideal maximal de A e assim A/P A é corpo. Seja a aplicação ϕ : A onde i é a inclusão e π é a projeção. Assim, A/P A Im(ϕ) O L /P. i O L π O L /P, Como O L é inteiro sobre A, segue que O L /P é inteiro sobre A/P A. Pela Proposição 1.1.3, temos que O L /P é um corpo. Portanto, P é maximal. 33

Lema 1.6.1 Sejam A um anel de Dedekind que não é um corpo e K o seu corpo de frações. Então todo ideal maximal M de A é inversível. Demonstração: Seja M um ideal maximal de A. Como A não é um corpo, segue que M = {0}. Consideremos N = {x K : xm A}. Temos que N é um ideal fracionário, pois N é um A-módulo tal que N K e se c M, c 0, temos que cn A. Vamos mostrar que N M = A. Pela definição de N temos N M A. Por outro lado, A N, pois M é um ideal de A. Assim, M = MA MN A. Como M é maximal, segue que M = N M ou N M = A. Suponhamos que M = N M e consideremos α N. Então αm M, α M αm M e α n M M, para todo n N. Seja d M, d 0. Então, dα n A. Portanto, A[α] é um ideal fracionário. Como A é noetheriano, pela Proposição 1.5.4, segue que A[α] é um A-módulo finitamente gerado. Pelo Teorema 1.1.1, segue que α é inteiro sobre A. Sendo A integralmente fechado, segue que α A. Assim, N A e como A N segue que N = A. Falta mostrar que esta igualdade é impossível. Seja a M. Pelo Lema 1.5.3, temos que a = aa P 1 P P n, onde os P is são ideais primos não nulos de A, com n o menor valor possível. Assim, M aa P 1 P P n. Pelo Lema 1.5., M contém um dos P i, para algum i = 1,, n. Sem perda de generalidade, digamos que seja P 1, isto é, M P 1. Como A é Dedekind, segue que M = P 1, pois P 1 é maximal. Agora, consideremos Q = Q Q n. Então aa MQ e pela minimalidade de n segue que aa Q. Logo, existe b Q com b a tal que Mb a. Logo, b a M A e assim b a N. Como b a segue que b A. Assim, a N A. Portanto, MN = A. Teorema 1.6. Seja A um anel de Dedekind, que não é um corpo. Então: 1) Todo ideal fracionário B não nulo de A é um produto de ideais primos de A, de modo único, n isto é, B = P e i i, onde e 1,, e n são inteiros positivos. ) O conjunto dos ideais fracionários de A formam um grupo. Demonstração: 1) Se B é um ideal fracionário de A, então existe d A {0} tal que db A. Notemos que, B = (db)(d 1 A), assim, é suficiente mostrar o resultado para ideais inteiros. Seja F a família dos ideais inteiros de A, não nulos, que não são um produto de ideais primos de A. Suponha que F. Como A é noetheriano, segue que F tem um elemento maximal M. Temos que M A, pois A é o produto da coleção vazia de ideias primos. Assim, M P, onde P é um ideal maximal de A. Pelo Lema 1.6.1, temos que Q = {x K : xp A} é tal que PQ = A. Como M P segue que MQ PQ = A. Além disso, como A Q, segue que M = MA MQ A. Temos que M MQ, pois se M = MQ e se α Q, então αm M, 34

α M αm M e α n M M, para todo n N. Assim, se d M {0}, então dα n M A. Portanto, A[α] é um ideal fracionário de A. Como A é noetheriano, pela Proposição 1.5.4, segue que A[α] é um A-módulo finitamente gerado. Pelo Teorema 1.1.1, segue que α é inteiro sobre A, e sendo A integralmente fechado, segue que α A. Portanto, Q A e assim Q = A. Mas isto é impossível, pois se Q = A, então P = PA = PQ = A, o que é um absurdo, pois P é um ideal primo. Pela maximalidade de M e como M MQ temos que MQ F, ou seja, MQ = P 1 P n, onde P i, i = 1,, n, são ideais primos de A. Multiplicando por P ambos os lados, temos que M = P 1 P n P, o que é um absurdo, pois M F. Portanto, F =. ) Pelo Lema 1.6.1, temos que todo ideal M de A é inversível. Além disso, A é o elemento neutro e a multiplicação de ideais é associativa. Definição 1.6. Sejam A um domínio e K seu corpo de frações. Sejam B e C ideais fracionários de A. Dizemos que B divide C se existe D um ideal inteiro de A tal que C = BD. Lema 1.6. Sejam A um domínio e K seu corpo de frações. Sejam B e C ideais fracionários de A. Então B divide C se, e somente se, C B Demonstração: Se B divide C então existe um ideal D A tal que C = BD B. Por outro lado, se C B então CB 1 BB 1 = A. Isto implica que CB 1 é um ideal inteiro tal que (CB 1 )B = C. Portanto, B divide C. Definição 1.6.3 Sejam A um anel de Dedekind e K seu corpo de frações. O grupo quociente C(A) = I(A)/F (A) é chamado grupo das classes de ideais de A, onde I(A) é o grupo dos ideais fracionários não nulos de A, e F(A) é o subgrupo dos ideais fracionários principais de A. Notação: h = #C(A). Observação 1.6.1 Seja A um domínio de Dedekind. Então, A é principal se, e somente se, h = 1. Proposição 1.6.1 Se J é um ideal fracionário de um anel A de Dedekind então J h é um ideal fracionário principal de A. Demonstração: Notemos que h é a ordem do grupo C(A) = I(A)/F (A) das classes de ideais de A. Pelo Teorema de Lagrange segue que J h F (A). 35