Os Sistemas de Informação em Saúde que registram as intoxicações por agrotóxicos

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Transcrição:

Os Sistemas de Informação em Saúde que registram as intoxicações por agrotóxicos Resumo Stephanie Sommerfeld de Lara 1, Denise Caluta Abranches 2 1. Bacharela em Enfermagem. Universidade do Estado de Mato Grosso. UNEMAT, Cáceres (MT), Brasil. 2. Professora Doutora. Universidade Aberta do Brasil, Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, São Paulo (SP), Brasil. Objetivo: Apresentar os Sistemas de Informação em Saúde (SIS) que registram as intoxicações por agrotóxicos no Brasil e suas vantagens e limitações na geração de indicadores de informação-decisão-ação. Método: Realizou-se uma revisão de literatura não-sistemática de artigos com palavras-chave Sistema de Informação em Saúde, Agroquímicos, Praguicidas, Envenenamento, Notificação de Doenças na base de dados LILACs e MEDLINE. Resultados: Dos 8 artigos encontrados, 3 foram selecionados para a análise e discussão. Os SIS encontrados que registram intoxicações por agrotóxicos foram do Ministério da Saúde (MS): SINAN, SIH/SUS, SIM, o da Vigilância Sanitária CIAT que informa seus registros ao SINITOX da Fundação Oswaldo Cruz e o CAT, da Previdência Social. Conclusão: Dentre os vários SIS oficiais que registram intoxicações por agrotóxicos, os dados não são suficientes para geração de indicadores para tomada de decisão, pois só registram os casos agudos e mais graves, não captando os casos crônicos em nenhum dos SIS. Descritores: Sistema de Informação em Saúde; Agroquímicos; Praguicidas; Envenenamento; Notificação de Doenças. Introdução Um sistema de informação serve para apoiar a aquisição e o armazenamento de dados, de modo que estes podem ser transformados em informação, gerando conhecimento (1). O Ministério da Saúde e a Vigilância Epidemiológica utilizam de dados para subsidiar o desencadeamento de ações e tomada de decisão. A qualidade da informação inserida no SIS é fundamental, e depende da adequada coleta de dados gerados no local onde ocorrem os agravos. Dessa forma, os dados

devem ser primariamente tratados e estruturados para se constituírem em um poderoso instrumento a informação, capaz de subsidiar um processo dinâmico de planejamento, avaliação, manutenção e aprimoramento das ações (2). Os dados em saúde são essenciais para conhecer o comportamento de um determinado agravo ou doença na população. O fortalecimento do SIS é necessário para que as informações geradas sejam consistentes para subsidiar políticas de saúde para os grupos populacionais envolvidos (3). No entanto, a literatura descreve como frágil o SIS que agrega os dados de intoxicações por agrotóxicos, pois a qualidade dos dados possui limitações. A primeira é a subnotificação do agravo, pois a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que para cada 1 caso registrado de intoxicação por agrotóxicos, 50 outros são subnotificados ou notificados de forma equivocada. Em geral, notifica-se apenas os casos mais graves e que demandam de atendimento hospitalar. Entre os casos notificados, depara-se com diferentes problemas existentes nos SIS como a não identificação de casos crônicos, dados incompletos, inadequados e informações que não possuem capacidade de subsidiar ações (3). O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos no mundo, e seu uso indiscriminado acaba gerando intoxicações em diferentes graus, em agricultores e consumidores, tornando-se um problema de saúde pública. Este modelo químicodependente de produção de alimentos expõe a população e ambiente a enormes cargas de agroquímicos com diferenciadas toxicidades e efeitos à saúde humana (4). O Ministério da Saúde tem proposto um Programa de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos, que um dos objetivos é a capacitação dos profissionais de saúde para notificar este agravo (2). A pergunta norteadora deste estudo baseia-se em quais são os sistemas de informação vigentes que registram intoxicação por agrotóxicos no Brasil e se estes são suficientes para gerar indicadores de informação-decisão-ação? Identificar os SIS que agregam informações de intoxicação por agrotóxicos contribui para que os gestores ou pesquisadores que desejam recuperar as informações em saúde visando o planejamento de ações em saúde em seu território de atuação encontre em cada um as vantagens e limitações da utilização dos dados. Desse modo, este trabalho visou apresentar os Sistemas de Informação em Saúde que registram as intoxicações agudas por agrotóxicos no Brasil, e suas vantagens e limitações para geração de indicadores de informação-decisão-ação.

Método Trata-se de um estudo de Revisão Bibliográfica da Literatura, do tipo não sistemático. Foram levantados estudos contidos nas Bases de Dados Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE) utilizando os seguintes descritores Sistema de Informação em Saúde, Agroquímicos, Praguicidas, Envenenamento e Notificação de Doenças. O critério de inclusão foram artigos completos disponíveis, logo, foram excluídos os estudos que apresentarem somente resumo e os que não trataram do objeto de estudo e também as repetições de Sistema de Informação em Saúde que registram intoxicação aguda por agrotóxicos. O período de abrangência dos artigos fora dos últimos 10 anos, referindo-se ao período de 2006 a 2015. A busca dos artigos foi realizada na data de 3 de outubro de 2016. Após a seleção dos artigos para a leitura, foram consultados cada Sistema de Informação em Saúde informado pelos autores e analisado suas limitações e vantagens e suas vantagens para geração de indicadores de informação-decisãoação. Resultados Foram encontrados 8 artigos completos nas bases de dados, destes, selecionou-se 3 estudos que descrevem os Sistemas de Informação em Saúde que registram intoxicações por agrotóxicos. A tabela 1 apresenta os estudos selecionados, seus objetivos e respectivos resultados. Tabela 1 Artigos localizados nas bases de dados LILACs (2006-2015) e MEDLINE (2006-2015), sobre os sistemas de informação em saúde que registram o agravo intoxicação por agrotóxicos. Título do Artigo/Referência Sistemas de informação em saúde e as intoxicações por agrotóxicos em Pernambuco (3) Objetivo Analisar a contribuição dos Sistemas de Informação em Saúde na caracterização das intoxicações por agrotóxicos por meio do SINAN, CEATOX e SIM em Pernambuco. Resultados Os dados revelaram incompletitude e inconsistências nas informações. Com relação ao perfil, os casos acometem com mais frequência pessoas do sexo feminino no perfil de morbidade e os homens apresentaram maior letalidade. As intoxicações apresentaram-se mais frequentes em adultos jovens e de baixa escolaridade. Com relação às circunstâncias, a maioria dos casos foram tentativas de suicídio, casos agudos únicos e não relacionados ao trabalho. Apesar de sugerir subnotificação, os dados mostraram que pessoas ocupadas na agricultura são

Vigilância das intoxicações por agrotóxicos no estado do Mato Grosso do Sul: uma proposta de relacionamento entre banco de dados (5) Intoxicação por agrotóxicos no Brasil: os sistemas oficiais de informação e desafios para realização de estudos epidemiológicos (6) Traçar o perfil epidemiológico das intoxicações por agrotóxicos registrados no Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 1998 a 2007, e propor um método de pareamento dos bancos de dados com o intuito de melhor estimar o número total de casos ocorridos Avaliar os dados sobre intoxicações por agrotóxicos, obtidos em fontes oficiais de registro, dimensionando a frequência, comparando resultados e discutindo as limitações das várias fontes. Também examinou as informações sobre consumo de agrotóxicos, contidas no Receituário Agronômico, a partir de dados do Rio Grande do Sul. Além disso, a partir de uma revisão de estudos brasileiros, o artigo se propõe a discutir algumas dificuldades metodológicas, tais como questões sobre a classificação toxicológica e a confirmação laboratorial de intoxicação, a serem consideradas em estudos epidemiológicos sobre agrotóxicos mais comumente acometidas Nos dois bancos de dados foram encontrados: predominância de intoxicações notificadas em indivíduos do sexo masculino; idade produtiva; profissões que envolvem o trabalho rural; presença de trabalho infantil; predomínio de intoxicações com inseticidas de uso agrícola; maior percentual de intoxicações na circunstância não intencional e de óbitos na circunstância intencional; No CIVITOX foi encontrado maior número de casos registrados, maior proporção de municípios notificantes e de campos preenchidos adequadamente. O SINAN, apesar de apresentar maior número de registros duplicados, possui um instrumento de coleta de dados mais detalhado para a questão ocupacional. Esse estudo detectou falhas no sistema de notificação, e pode contribuir como um alerta para a necessidade de reestruturação das ações da Vigilância em Saúde das populações expostas aos agrotóxicos A avaliação dos vários sistemas oficiais de informação que notificam os casos de intoxicações concluiu que nenhum deles responde adequadamente ao papel de sistema de vigilância. Na prática, só se registram os casos agudos e mais graves. Uma importante lacuna é a informação de exposição a agrotóxicos: a avaliação da única fonte oficial (os Receituários Agronômicos) revelou muitas limitações. A revisão das publicações brasileiras aponta um crescimento quantitativo e qualitativo dos estudos nesta área, com vários tipos de abordagens. O impacto da intensa carga química e o enorme contingente de trabalhadores expostos são duas importantes razões para o desenvolvimento da pesquisa epidemiológica sobre intoxicações por agrotóxicos, que no Brasil ainda tem um vasto campo para se desenvolver. Discussão Ambos estudos citaram o SIS oficial que o Brasil utiliza, do Ministério da Saúde, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). As limitações da utilização destes está na fragilidade dos profissionais de saúde em detectar e notificar de casos de intoxicação por agrotóxicos, consequentemente, há uma enorme subnotificação. Desde 2011, a notificação deste agravo tornou compulsória e obrigatório em todo território nacional na rede de saúde, pública e privada (2). As

vantagens é que apesar da subnotificação, ainda é o que abrange todo o território brasileiro, refletindo na completude das informações sobre este agravo a saúde. Outro sistema do Ministério da Saúde citado foi o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), que agrega várias causas de mortes em brasileiros de acordo com a Classificação Internacional de Doenças CID-10, e dentre elas, utilizam as causas: envenenamento acidental por exposição a pesticidas (X48), envenenamento por exposição a pesticidas, de intenção não determinada (Y18), autointoxicação por exposição intencional a pesticidas (X68) e agressão por pesticidas (X87) para estudar a mortalidade por este agravo. A informação deste sistema é sólida e confiável, no entanto, informa apenas as mortes por intoxicações agudas, e não contempla as intoxicações crônicas que os agrotóxicos podem gerar diante uma exposição contínua aos produtos (3). O estudo de Oliveira (5) complementa as informações de Albuquerque et al. (3), acerca do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS), que contém informações que viabilizam efetuar o pagamento dos serviços hospitalares prestados pelo SUS; seus dados estão disponíveis por morbidade e para relacioná-los com intoxicação por agrotóxicos faz-se necessário consultar vários capítulos do CID-10 (5). A limitação das informações é referente as internações apenas pelo SUS, não contemplando os hospitais privados. Além dos SIS do Ministério da Saúde, existe no Brasil os Centros de Informação e/ou Assistência Toxicológica (CIAT), que são unidades vinculadas a uma rede (Renaciat) coordenada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que atualmente está alocado em 19 Estados do Brasil, com 36 CIAT (6). Os registros sobre casos de intoxicações por agrotóxicos são, na maioria, decorrentes de consultas telefônicas, oriundas de pessoas que solicitam informações e também de várias unidades de saúde dos vários municípios do estado. Os registros também são referentes aos atendimentos realizados pela equipe de profissionais da Assistência Toxicológica de modo presencial à equipe de saúde que assistia o paciente intoxicado (5). Desse modo, a limitação ao utilizar os dados dos CIAT está na abrangência parcial dos municípios e Estados brasileiros. As vantagens das unidades toxicológicas é a prestação de informações e seu papel de potencial vigilante de surtos na população. Os registros realizados pela Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica são enviados para o Sistema Nacional de Informações

Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) que tem como principal atribuição coordenar a coleta, a compilação, a análise e a divulgação dos casos de intoxicação e envenenamento notificados no país (5). O estudo de Albuquerque et al. (3) e Faria et al. (6) citam a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), que trata-se de um documento emitido juntamente com a notificação pelo SINAN para reconhecer a intoxicação por agrotóxicos como um acidente de trabalho ou quando evoluída, uma doença ocupacional. Tais registros irão para a Previdência Social, onde as notificações servem para processos administrativos, como por exemplo afastamentos, benefícios, entre outros. Uma das maiores limitações da CAT citado por Albuquerque et al. (3) é o fato de ser restrita a segurados do INSS. Por várias razões, a utilização da CAT como fonte de informação em acidentes de trabalho rural traz um importante subregistro, que é ainda mais grave nas intoxicações por agrotóxicos, cujo diagnóstico muitas vezes não é realizado (6). Um dos problemas na rotina de uso dos sistemas de informação em saúde no Brasil é o fato de eles não se comunicam entre si, o que impossibilita a integração de informações parciais originadas em cada sistema em um único arquivo, influenciando na informação-decisão-ação (5). Apesar de serem sistemas oficiais de informação que notificam os casos de intoxicações, a avaliação de estudos vem concluindo que nenhum responde adequadamente ao papel de sistema de vigilância, pois na prática, só se registram os casos agudos e mais graves (6, 7). Alerta-se para a subnotificação dos casos crônicos, que poderiam ser superiores aos casos agudos. Esta subnotificação pode estar relacionada a baixa percepção dos profissionais de saúde das unidades ambulatoriais e da atenção básica em reconhecer as características clínicas e epidemiológicas da intoxicação crônica por agrotóxicos, a ausência de treinamento para diagnóstico e notificação; baixa ou nenhuma capacidade laboratorial; e a distância dos serviços de saúde do meio rural (6, 7). Desse modo, o atual sistema de controle de notificações de intoxicações por agrotóxicos é considerado por vários autores como vulnerável, sujeito a lacunas de comunicação e registro e não vem sofrendo auditorias por parte dos órgãos de saúde com a finalidade de identificar a gravidade ou não da situação no território nacional. Encontra-se uma enorme dificuldade de se mensurar os impactos dos

agrotóxicos na saúde humana decorrentes da exposição a estes produtos. Soma-se a este fato que nenhum sistema apresenta dados de intoxicações crônicas (8). Conclusões Existem vários sistemas de informação oficiais que registram o agravo intoxicação por agrotóxicos, hospitalização e até morte por estes produtos. No entanto, a ênfase da notificação é dada para as intoxicações aguda, tornando invisível as intoxicações crônicas que os agrotóxicos geram na saúde humana. A subnotificação das intoxicações crônicas tem sido relacionada a ausência de capacitação profissional para detectar o caso, bem como o próprio SIS não possui a capacidade de incluir informações clinicas na ficha de notificação quando se trata de casos crônicos. Conclui-se que os dados de intoxicação por agrotóxicos são frágeis para geração de indicadores para tomada de decisão, pois não representam a realidade deste agravo na população. Os sistemas também não contribuem para melhoria da informação, pois são dispersos e não integrados entre si, podendo sofrer duplicação de notificação. Uma solução para auxiliar nas tomadas de decisão é a utilização de dados de exposição química, que podem ser obtidos pelo uso ou vendas de agrotóxicos. Tanto os dados exposição química quanto de casos de intoxicação deve ser utilizada em conjunto para geração de indicadores de informação-decisão-ação. Referências 1. Marques Paulo Mazzoncini de Azevedo. Sistemas de Informação em Saúde. Apostila do curso de Especialização em Informática em Saúde. Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 2016. 21 p. 2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental Documento Orientador para a Implementação da Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos. 1. ed. Brasília : Ministério da Saúde, 2012. 3. Albuquerque Pedro Costa Cavalcanti de, Gurgel Idê Gomes Dantas, Gurgel Aline do Monte, Augusto Lia Giraldo da Silva, Siqueira Marília Teixeira de. Health information systems and pesticide poisoning at Pernambuco. Rev. bras. epidemiol. [Internet]. 2015 Sep [cited 2016 Oct 02] ; 18( 3 ): 666-678. 4. Carneiro, Fernando Ferreira (Org.) Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde / Organização de Fernando Ferreira Carneiro, Lia Giraldo da Silva Augusto, Raquel Maria Rigotto, Karen Friedrich e André Campos Búrigo. - Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão Popular, 2015. 624 p.

5. Oliveira Claudia Santini de. Vigilância das intoxicações por agrotóxicos no estado do Mato Grosso do Sul: uma proposta de relacionamento entre banco de dados. Dissertação (Mestrado) Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Rio de Janeiro: s.n., 2010. 104f. 6. Faria Neice Müller Xavier, Fassa Ana claudia Gastal, Facchini Luiz Augusto. Intoxicação por agrotóxicos no Brasil: os sistemas oficiais de informação e desafios para realização de estudos epidemiológicos. Ciênc. saúde coletiva [Internet]. 2007 Mar [cited 2016 Oct 03] ; 12( 1 ): 25-38. 7. Bochner Rosany. Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas SINITOX e as intoxicações humanas por agrotóxicos no Brasil. Ciênc. saúde coletiva [periódico na Internet]. 2007 Mar [citado 2010 Ago 30] ; 12(1): 73-89. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1413-81232007000100012&lng=pt. 8. Tosetto Eleonora Escobar, Christoffoli Pedro Ivan. Agrotóxicos, saúde pública e os limites dos atuais sistemas de notificação: Análise preliminar sobre o estado do paraná. 2º Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente 19 a 23 de Outubro de 2014, Belo Horizonte. 10 p. Disponível em: http://www.sibsa.com.br/resources/anais/4/1410295200_arquivo_artigoabrascov_1versaofinal_2_. pdf