Avaliação da dor pós-operatória em dentes tratados endodonticamente em uma ou multiplas sessões Ademar Luiz Waskievicz (1), Flávia Baldissarelli (2), José Roberto Vanni (3) Mateus Silveira Martins Hartmann (4), Volmir João Fornari (5) (1) Aluno da Escola de Odontologia da IMED, Passo Fundo, Brasil. E-mail: ademaw@gmail.com (2) Professora da Escola de Odontologia da IMED e do Curso de Especialização em Endodontia CEOM/ IMED, Passo Fundo, Brasil. E-mail: flaviabaldissarelli@terra.com.br (3) Professor da Escola de Odontologia da IMED e do Curso de Especialização em Endodontia CEOM/ IMED, Passo Fundo, Brasil. E-mail: vanni@ceompf.com.br (4) Professor co-orientador, Escola de Odontologia da IMED e do Curso de Especialização em Endodontia CEOM/ IMED, Passo Fundo, Brasil. E-mail: mateushartmann@gmail.com (5) Professor orientador, Escola de Odontologia da IMED e do Curso de Especialização em Endodontia CEOM/ IMED, Passo Fundo, Brasil. E-mail: volmir@ceompf.com.br
RESUMO O sucesso do tratamento endodôntico está diretamente relacionado ao controle da infecção endodôntica. A avaliação depende de vários fatores, a técnica utilizada, a qualidade do reparo e, um dos fatores é a dor pós-operatória. Muitos Cirurgiões-Dentistas acham que após terem feito o tratamento endodôntico estão certos de que o problema foi sanado, mas esqu ecem da proservação do caso, sendo difícil saber se teve sucesso ou fracasso no tratamento. O tratamento endodôntico tem por objetivo oferecer condições para que o organismo possa reestabelecer a normalidade dos tecidos periapicais, bem como manter o dente em função, evitando assim a sua perda. Este trabalho teve como objetivo avaliar a dor pós-operatória em dentes que foram tratados endodonticamente em uma ou múltiplas sessões na Unidade de Pós-Graduação em Odontologia da Faculdade Meridional CEOM, no período de janeiro de 2010 a junho de 2013, independente da condição pulpar ou técnica realizada. Como resultados, verificou-se que em 3 anos e meio de reconsultas em 302 pacientes questionados 30,80 % tiveram dor pós-operatória, em contrapartida, 69,20% não sentiram dor alguma. Palavras-chave: Endodontia; Dor Pós-operatória; Canal Radicular. ABSTRACT The success of endodontic treatment is directly related to endodontic infection control. The evaluation depends on several factors, the technique used, the quality of repair and one of the factors is the postoperative pain. Many Dentists find that after making endodontic treatment are certain that the problem was resolved, but forget the proservation the case, it is difficult to know if you had success or failure in treatment. Root canal therapy is designed to provide conditions for the body to restore normalcy periapical tissue, as well as keep the tooth in function, thus preventing its loss. This study aimed to evaluate postoperative pain in teeth that were endodontically treated in one or multiple sessions in Unit Postgraduate Dental School South - CEOM, from January 2010 to June 2013, regardless of the condition pulp or technique performed. As a result, it was found that 3 and a half years in 302 patients questioned return visit 30,80% had postoperative pain, however, 69,20% did not feel any pain. Key words: Endodontics; Post-operative Pain; Root Canal.
1 INTRODUÇÃO O tratamento endodôntico tem por objetivo oferecer condições para que o organismo possa reestabelecer a normalidade dos tecidos periapicais. Tais condições são alcançadas através da limpeza, modelagem e obturação do sistema de canais radiculares, que promovem a manutenção da desinfecção. Assim, pode-se alegar que o tratamento endodôntico baseia-se em dois princípios fundamentais: domínio da anatomia e controle da infecção (SORIANO et al., 2005). É muito importante o conhecimento sobre as causas da dor pós-operatória, e se elas podem estar envolvidas com o número de sessões do tratamento, para que se possa adotar medidas preventivas adequadas para reduzir significativamente a incidência desse fenômeno altamente perturbador e clinicamente indesejável (SIQUEIRA, 2003). O desenvolvimento da dor pós-operatória após o tratamento é geralmente devido à inflamação aguda, resposta dos tecidos perirradiculares. Começa dentro de poucas horas ou dias após o tratamento endodôntico. Além disso, não é um indicador confiável de sucesso a longoprazo (BACKER; LIEWEHR, 2004). A capacidade técnica e experiência clínica do operador são questões importantes para a sintomatologia pós-operatória, muitos pacientes também podem associar a dor pós-operatória a falta de confiança para com o profissional e isso poderia minar a confiança do paciente no seu cirurgião-dentista e causar a insatisfação com o tratamento. Sendo assim o objetivo deste estudo foi avaliar a dor pós-operatória de dentes tratados endodonticamente, independentemente de uma ou múltiplas sessões ou técnica utilizada, por alunos do Curso de Especialização em Endodontia da Faculdade Meridional/IMED - CEOM. 2 MÉTODOS 2.1 Delineamento e tamanho da amostra A presente pesquisa é um estudo quantitativo do tipo comparativo, cuja amostra foi de 302 prontuários de pacientes submetidos a tratamento endodôntico a partir de uma amostragem não probabilística. A avaliação foi feita por exame das fichas clínicas de reconsulta dos pacientes,
utilizando como critérios de inclusão todas as fichas de pacientes da clínica com dentes tratados endodonticamente independente do número de sessões ou técnica utilizada, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Meridional/IMED sob número de protocolo CAAE 08988612.4.0000.5319. 2.2 Procedimentos Foram coletadas todas as fichas dos pacientes com dentes tratados endodonticamente no Curso de Especialização da Faculdade Meridional/ IMED CEOM, que fizeram a reconsulta de Janeiro de 2010 até Junho de 2013 respondendo se tiveram dor e a sua intensidade. Os dados coletados foram lançados em uma tabela e analisados quantos pacientes tiveram dor pósoperatória. A coleta e avaliação das fichas foi feita pelo pesquisador e computadas para avaliar a porcentagem do total. 3 RESULTADOS Os resultados estão expressos nas Tabelas 1 a 4. Tabela 1 Estratificação dos dentes tratados endodonticamente e sua situação pós -operatória: Fatores analisados Total (%) Sintomático (%) 93 (30,80) Assintomático (%) 209 (69,20) Total (%) 302 (100) Do total de 302 fichas coletadas no período, 93 (30,80%) continham o relato de que os pacientes apresentaram-se com sintomatologia e 209 (69,20%) não apresentaram sintomatologia alguma.
Tabela 2 Estratificação dos dentes tratados endodonticamente e sua situação pós-operatória considerando-se a condição pulpar: Condição pulpar Fatores analisados Polpa viva (%) Polpa morta (%) Sintomático (%) 47 (34,80) 46 (27,54) Assintomático (%) 88 (65,20) 121 (72,56) Total (%) 135 (100) 167 (100) Na Tabela acima, levando-se em consideração a condição pulpar nota-se que 135 tratamentos endodônticos (T.E.) foram em polpa viva, com 47 pacientes sintomáticos (34,80%) e 88 (65,20%) assintomáticos. Em polpa morta houveram 167 T.E., dos quais 121 (72,56%) assintomáticos e 46 (27,54%) sintomáticos. Tabela 3 Estratificação dos dentes tratados endodonticamente que apresentaram sintomatologia dolorosa e a sua intensidade: Dor Total (%) Tolerável (%) 77 (82,80) Insuportável (%) 16 (17,20) Total (%) 93 (100) Na Tabela 3, pode-se observar que dos 93 casos que apresentaram sintomatologia (dor), a mesma foi de 77 casos, ou seja, 82,80% tolerável e somente em 16 casos (17,20%) foi relatada dor insuportável.
Tabela 4 Estratificação dos dentes tratados endodonticamente que apresentaram sintomatologia dolorosa e a sua intensidade relacionados com a condição pulpar: Condição pulpar Dor Polpa viva (%) Polpa morta (%) Tolerável (%) 35 (74,47) 42 (91,30) Insuportável (%) 12 (25,53) 4 (8,70) Total (%) 47 (100) 46 (100) Acima, nota-se que dos 47 casos de T.E. em polpa viva 35 (74,47%) relataram dor pósoperatória tolerável e 12 (25,53%) insuportável. Já em polpa morta, dos 46 casos, 42 (91,30%) relataram que a dor foi tolerável e 4 (8,70%) insuportável. O total das fichas de reconsultas coletadas no período foi de 302 fichas sendo 69,2% assintomático e 30,8%, sintomático. 4 DISCUSSÃO O presente trabalho teve o objetivo de avaliar a dor pós-operatória em dentes tratados endodonticamente em uma ou múltiplas sessões independente da condição pulpar. Foram analisadas 302 fichas de reconsulta de pacientes que foram submetidos a tratamento endodôntico, onde os mesmos pacientes respondiam a uma escala de 1 a 4 (dor tolerável) e 5 a 9 (dor insuportável). Destes 93 pacientes (30,80%) relataram algum tipo de dor pós-operatória e 209 (69,20%) relataram não terem sentido dor alguma. Destes 93 pacientes que sentiram dor analisando a condição pulpar 47 dos tratamentos endodônticos (50,54%) foram em polpa viva e 46 (49,46%) executados em polpa morta. Já no quesito intensidade da dor, no geral 77 pacientes (82,80%) tiveram dor tolerável e, 16 (17,20%) relataram dor insuportável. Relacionando-se a intensidade da dor com a condição pulpar, dos 47 pacientes com tratamentos endodônticos em polpa viva, 35 referiram dor tolerável (74,47%) e 12 dor insuportável (25,53%). Já em dentes tratados com polpa morta dos 46 casos de dor, em 42 (91,30%) houve dor tolerável e em 4 casos (8,70%) dor insuportável. Destes 93 pacientes que relataram alguma sintomatologia dolorosa pode-se notar que a dor considerada insuportável que necessitou medicação, a mesma esteve mais presente em polpa viva.
Segundo Richard e Walton (2002), certos fatores podem influenciar o progresso da dor pós-operatória, como o histórico de dor pré-operatória e a necessidade de retratamento endodôntico. Os autores afirmam que devido a interação entre os tecidos periapicais e microrganismos, o flare-up ocorre mais facilmente em casos de polpa necrosada. Os autores afirmam também que o tratamento do canal radicular em sessão única tem se tornado uma prática comum e oferece muitas vantagens incluindo a redução da taxa de flare-up. Os autores avaliaram 141 prontuários, onde um total de 49 (34,8%) apresentaram algum tipo de dor. Obviamente, o tratamento endodôntico com menor índice de dor pós-operatória é usualmente o tratamento de escolha, desde que não comprometa a efetividade e os custos da Endodontia (SILVEIRA et al., 2007). Este estudo tem resultados semelhantes a Risso et al.,(2008) que analisaram em seu estudo a intensidade de dor pós-obturação em adolescentes submetidos a um tratamento endodôntico em uma ou duas visitas. Avaliaram 121 pacientes com idade entre onze e dezoito anos que apresentavam molares com necrose pulpar e foram distribuídos entre os dois grupos aleatoriamente. Todos os elementos dentários foram preparados utilizando um pré-alargamento cervical e uma técnica de instrumentação padronizada em toda extensão do canal radicular. A dor pós-operatória foi avaliada em uma escala visual analógica de 0-5. Nos resultados os autores observaram que a frequência de dor era de 10,5% (6 de 57 casos) no grupo de uma única visita, e 23% (14 de 61 casoa) no grupo de duas visitas. Constatou-se que não havia diferença significativa entre os grupos. A intensidade da dor foi semelhante nos dois casos, particularmente quanto aos flare-ups, com prevalência de 1,75% no grupo de visita única e 1,67% no grupo de duas visitas. Os autores puderam concluir que a dor pós-obturação esteve mais presente no grupo submetido a duas sessões, mas sem diferenças significativas. Wang et al., (2010) realizaram um estudo clínico randomizado controlado, com o objetivo de comparar a incidência e a intensidade da dor pós-obturação, após uma ou várias visitas no tratamento endodôntico de dentes unirradiculares com polpas vitais. Cem pacientes que necessitavam de tratamento de canal radicular em dentes permanentes anteriores com polpas vitais foram incluídos. Os pacientes foram aleatoriamente distribuídos em dois grupos de 50 pacientes cada. Foi feita anestesia local, acesso, isolamento e extirpação da polpa, os canais radiculares de todos os dentes foram preparados utilizando instrumentos rotatórios de níquel-titânio, técnica coroa-ápice e irrigados com hipoclorito de Sódio (NaOCl) a 2,5%. Os dentes do grupo 1 (n = 50) foram preenchidos com cimento AH Plus e cones de guta-percha utilizando condensação lateral, na primeira visita, enquanto os dentes do grupo 2 (n = 50) foram medicados com pasta de
hidróxido de cálcio, bolinha de algodão estéril e Caviton. O paciente era agendado para uma segunda visita sete dias depois. A escala modificada de descrição verbal foi usada para medir dor pré-operatória e pós-obturação em 6, 24, 48 horas e uma semana após a obturação. 11 pacientes foram excluídos da amostra. Os dados foram obtidos pelos 89 pacientes restantes. 43 pacientes foram submetidos a obturação na primeira visita (Grupo 1) e 46 submetidos a obturação na segunda visita (Grupo 2). A maioria dos pacientes em ambos os grupos relataram nenhuma dor ou apenas ligeira dor dentro de cada intervalo, apenas uma no Grupo 1 e uma do Grupo 2 tiveram flare-ups com ligeiro edema. Não houve diferença estatisticamente significativa na incidência e intensidade de dor pós-obturação se comparados os dois grupos. Conforme El Mubarak et al. (2010), o tratamento endodôntico é um procedimento comum na Odontologia que pode levar a dor pós-operatória, independente do número de sessões. A prevalência da dor pós-operatória ou flare-ups são fatores relevantes no momento da decisão clínica. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após análise dos dados dos prontuários dos pacientes que fizeram tratamentos endodônticos no Curso de Especialização em Endodontia da Faculdade de Meridional/IMED CEOM de Passo Fundo, no período de janeiro de 2010 a junho de 2013, observou-se que: - Do total de 302 fichas coletadas no período, 209 (69,20%) não apresentaram sintomatologia alguma; - Um percentual de 30,8%, ou seja, 93 pacientes de 302 questionados em reconsulta tiveram dor pós-operatória, destes 82,8% (77 pacientes) de intensidade tolerável e, 17,2% (16 pacientes) de intensidade insuportável. - Outro aspecto que pode ser notado foi que dos 47 casos de tratamentos em polpa viva 35 (74,47%) relataram dor pós-operatória tolerável e 12 (25,53%) insuportável. Já em polpa morta, dos 46 casos, 42 (91,30%) relataram que a dor foi tolerável e 4 (8,70%) insuportável. Assim constatou-se que a dor insuportável, quando presente, esteve associada a polpa viva.
6 REFERÊNCIAS BACKER, N. E.; LIEWER, F.R. Antibacterial efficacy of calcium hydroxide, iodine potassium iodide, betadine, and betadine scrub with and without surfactante against E faecalis, in vitro. Jounal of endodontics. Baltimore. v. 98, n. 3, p. 208-301. Sep 2004. ELMUBARAK, H. et al. Postoperative pain in multiple-visit and single-visit root canal treatment. Journal of Endodontics, Baltimore, v. 36, n. 1, p. 36-39, Jan. 2010. RICHARD E.; WALTON. I. Interappointment flare-up: incidence, related factors, prevention, and management. Endodontic Topics, Blackwell Munksgaard, v.3, n.1, p. 67-76, 2002. RISSO, P. A. et. al. Postobturation pain and associated factors in adolescente patients undergoing one- and two-visit root canal treatment. Journal of dentistry. Guildford. v. 36, n. 11, p. 928-934. Sep 2008. SIQUEIRA, J.F. J. Microbial causes of endodontic flare-ups. International Endodontic Journal. Oxford.v. 36, n. 7, p. 453 463. Jul 2003. SORIANO, C.A. et. al. Endodontic therapy associated with calcium hydroxide as an intracanal dressing: microbiologic evaluation by the checkerboard dna-dna hybridization technique. Journal of Endodontics. Baltimore. v. 31, n. 2. Feb 2005. SILVEIRA, A. M. V. et al. Repair after two-visit endodontic treatment using two different intracanalmedications compared to single-visit. endodontic treatment. Brazilian Dental Journal. São Paulo, v. 18, n. 4, p. 299-304, 2007. WANG, C. et. al. Comparisonof post-obturation pain experience following one-visit and two-visit root canal treatment on teeth with vital pulps: a randomized controlled trial. International Endodontic Journal. Oxford. v. 43, n. 8, p. 692 697, aug 2010.