1 Participações Societárias no Simples Nacional 1. INTRODUÇÃO: Este tema tem sido objeto de constantes dúvidas de contribuintes e contabilistas no ato de abertura de novas empresas. O regime unificado de recolhimento de tributos também conhecido como Simples Nacional, é uma das modalidades ou regimes de recolhimento de tributos, porém com limitações que devem ser muito bem observadas para não atrapalhar a opção anual e majorar os tributos a serem recolhidos. O primeiro limite está no valor do faturamento acumulado dos últimos 12 (Doze) meses da empresa, que não poderá ser superior a 3.600.000,00 (Três Milhões e Seiscentos Mil Reais). Este limite é muito conhecido e até observado. O grande vilão dos limites do Simples Nacional que muitas vezes é esquecido, diz respeito a participações Societárias. Nesta oportunidade trataremos detalhadamente deste instituto e de suas conseqüências, caso não observados. É sabido que muitas vezes, por necessidade ou até mesmo por suposto planejamento tributário os contribuintes optam por constituição de novas empresas. 2. DOS CRITÉRIOS A SEREM OBSERVADOS NOS CASOS DE PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO Cabe tecer alguns comentários sobre a constituição de novas empresas para fins de planejamento tributário. Esta prática tem sido constantemente combatida pela Receita Federal do Brasil RFB, inclusive com inúmeras decisões pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF, declarando abusivas determinadas práticas.
2 Não é objeto deste artigo discutir a legalidade de determinados planejamentos tributários, porém para melhor entendimento do tema proposto imperioso elucidar algumas determinações legais e situações que podem prejudicar os contribuintes. Em nosso ordenamento jurídico pátrio existem algumas formas de planejamento tributário, onde as consideradas válidas são chamadas de elisão fiscal, ou seja, dentro das normas jurídicas e evasão fiscal, também chamado sonegação fiscal, quando o ato praticado está eivado de vícios por parte do contribuinte. Não obstante, o fisco com o intuito de reduzir ainda mais as práticas de determinados planejamentos tributários inseriu no artigo 116 do Código Tributário Nacional o Ùnico, que trouxe uma nova forma de conceituação sobre os planejamentos tributário, criando além da elisão e da evasão a chamada elusão fiscal ou abuso de forma. Tal dispositivo assim preleciona: Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária. (grifo nosso) Portanto, a simples prática de atos como a constituição de novas empresas com caráter único e exclusivo de redução de carga tributária, ante a dissimulação da ocorrência do fato gerador do tributo é considerada nula para todos os seus efeitos jurídicos. Segundo decisões do CARF, além da redução tributária, deverá sempre haver uma proposta negocial para esta nova constituição. Assim sendo, todas as empresas criadas no simples com CNPJ distintos, mas como os mesmos objetivos, para fins de livrar-se do somatório das receitas entre a matriz e as filiais para determinação da alíquota aplicável é de caráter eminentemente abusivo podendo a qualquer tempo, desde que respeitado o prazo prescricional, ser considerado inválido pela autoridade administrativa. Os sócios das empresas deverão estar atentos a esta prática a fim de evitar sanções futuras.
3 3. DAS VEDAÇÕES DO SIMPLES NACIONAL Se não bastasse, temos que observar ainda com bastante critério os limites de participações societárias para as pessoas físicas quando se tem mais de uma empresa e uma ou todas elas forem participantes do regime unificado de recolhimento Simples Nacional. Existem algumas limitações de participações que o legislador fez questão de constar na Lei Complementar 123 de 14 de Dezembro de 2.006 em seu artigo 3º 4º. São elas: 4º Não poderá se beneficiar do tratamento jurídico diferenciado previsto nesta Lei Complementar, incluído o regime de que trata o art. 12 desta Lei Complementar, para nenhum efeito legal, a pessoa jurídica: I - de cujo capital participe outra pessoa jurídica; II - que seja filial, sucursal, agência ou representação, no País, de pessoa jurídica com sede no exterior; III - de cujo capital participe pessoa física que seja inscrita como empresário ou seja sócia de outra empresa que receba tratamento jurídico diferenciado nos termos desta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; (grifo nosso) IV - cujo titular ou sócio participe com mais de 10% (dez por cento) do capital de outra empresa não beneficiada por esta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; (grifo nosso) V - cujo sócio ou titular seja administrador ou equiparado de outra pessoa jurídica com fins lucrativos, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; VI - constituída sob a forma de cooperativas, salvo as de consumo; VII - que participe do capital de outra pessoa jurídica;
4 VIII - que exerça atividade de banco comercial, de investimentos e de desenvolvimento, de caixa econômica, de sociedade de crédito, financiamento e investimento ou de crédito imobiliário, de corretora ou de distribuidora de títulos, valores mobiliários e câmbio, de empresa de arrendamento mercantil, de seguros privados e de capitalização ou de previdência complementar; IX - resultante ou remanescente de cisão ou qualquer outra forma de desmembramento de pessoa jurídica que tenha ocorrido em um dos 5 (cinco) anoscalendário anteriores; X - constituída sob a forma de sociedade por ações. Diante destas previsões, imperioso destacarmos duas em especial (grifadas), a prevista no inciso III e IV do referido diploma legal. Na primeira a pessoa física que possuir duas ou mais empresas no Simples Nacional deverá observar o somatório das receitas de todos os estabelecimentos para verificação da possibilidade de permanência no regime sob pena de exclusão. O limite de R$ 3.600.000,00 (Três Milhões e Seiscentos Mil Reais) neste caso deverá ser para o somatório de todas as receitas de todos estabelecimentos do sócio pessoa física. Exemplo: João tem duas empresas no simples com o seguinte acumulado anual: Empresa A ---------------------------------- R$ 2.400.000,00 Empresa B ---------------------------------- R$ 1.500.000,00 Total ----------------------------------------- R$ 3.900.000,00 Nota-se que o excedente de R$ 300.000,00 equivale a 8,33% sobre o acumulado de R$ 3.600.000,00. Neste caso a empresa será excluída do Simples Nacional no ano seguinte, devendo escolher o novo regime de tributação, seja o Lucro Real ou Presumido. Lembrando que se o valor excedente ultrapassar 20% de R$ 3.600.000,00
5 (Três Milhões e Seiscentos Mil Reais), a empresa será desenquadrada no mês seguinte do excesso, sendo tributada já no novo regime dentro do próprio ano. Já na segunda, o sócio que possui uma empresa no Simples Nacional poderá participar do capital de outra empresa não optante no importe de até 10% sem somatório das receitas, ou acima de 10% caso o somatório das receitas não ultrapassem o limite de R$ 3.600.000,00 (Três Milhões e Seiscentos Mil Reais). Exemplo: João tem duas empresas, sendo uma do Simples Nacional com 5% do capital social e outra no Lucro Real com 50% do capital social. Neste caso deverá somar a receita acumulada da empresa do Lucro Real com a receita acumulada da empresa do Simples Nacional e se o valor ultrapassar o limite de R$ 3.600.000,00 (Três Milhões e Seiscentos Mil Reais) a empresa do Simples Nacional será excluída do regime unificado de apuração dos impostos. Lembrando que a exclusão se dará no ano seguinte se o valor do excesso for abaixo de 20% ou no mês seguinte se o valor for superior a 20%. 4. DAS CONSEQUÊNCIAS DA EXCLUSÃO Os efeitos da exclusão são: Caso ultrapasse em mais de 20% o limite de R$3.600.000,00 deverá comunicar a receita até o último dia útil do mês seguinte a ocorrência do fato e começar a tributar no novo regime já a partir do próximo mês ao da ocorrência do fato. Caso não ultrapasse em mais de 20% o limite de R$3.600.000,00 recolherá pela alíquota máxima até o final do ano calendário e a partir do próximo ano calendário estará desenquadrado devendo recolher sobre outro regime. Base Legal: Art. 30 da LC 123/2006