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Transcrição:

PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO: UMA ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA DA DISCIPLINA DIMENSÕES E ESCALAS DO DESENVOLVIMENTO À LUZ DAS CONTRIBUIÇÕES DA OBRA DE BRANDÃO 1 DEVELOPMENT PERSPECTIVES: AN ANALYSIS OF PEDAGOGICAL EXPERIENCE OF DISCIPLINE DIMENSIONS AND SCALAS OF DEVELOPMENT IN THE LIGHT OF CONTRIBUTIONS OF BRANDÃO S WORK Juliana Da Fonseca Capssa Lima Sausen 2, Dilson Trennepohl 3, Martinho Luís Kelm 4, Nairana Radtke Caneppele Bussler 5, Daniel Knebel Baggio 6, Dieter Rugard Siedenberg 7 1 Estudo realizado na disciplina de Dimensões e Escalas do Desenvolvimento, do Doutorado em Desenvolvimento Regional da UNIJUÍ. 2 Doutoranda em Desenvolvimento Regional pela UNIJUÍ. 3 4 5 Doutoranda em Desenvolvimento Regional pela UNIJUÍ. 6 7 INTRODUÇÃO Em meio às transformações contextuais das diversas dimensões e escalas territoriais, os debates em torno das reflexões acerca do desenvolvimento territorial, de suas implicações para as dimensões históricas, culturais, econômicas, políticas e sociais, e também no que se refere às suas inter-relações com as diferentes escalas de desenvolvimento, acabam suscitando distintas abordagens teórico-conceituais nas esferas do meio acadêmico-científico, bem como por profissionais que tratam prioritariamente deste assunto. Com o propósito de promover uma discussão sobre a dimensão espacial do desenvolvimento capitalista no campo da economia política do desenvolvimento, o economista mineiro Carlos Brandão, em seu livro Território & Desenvolvimento: As Múltiplas Escalas entre o Local e o Global, apresenta uma visão crítica na medida em que se opõe às abordagens econômicas que negligenciam a dimensão espacial, contrapondo-se a diversos autores que enfatizam a escala local como principal referência das atividades econômicas. Se há forças endógenas que podem e devem ser acionadas, é preciso não negligenciar a existência de hierarquias, poderes, conflitos, macroeconomia, macroprocessos e decisões estratégicas que se encontram em outras escalas, exógenas à localidade (BRANDÃO, 2012). Tal obra aborda, ainda, conceitos e práticas interligados com a metodologia e as experiências

pedagógicas adotadas na disciplina de Dimensões e Escalas do Desenvolvimento, referente ao curso de Doutorado em Desenvolvimento Regional da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul UNIJUÍ/RS. Portanto, identificar estas similaridades, por meio da análise da experiência pedagógica desta disciplina à luz das contribuições da obra de Brandão é o objetivo principal deste trabalho, considerando que tais conceitos e práticas interligados podem abrir precedentes para uma possível reconstrução e reformulação de metodologias pedagógicas de ensino, de análise e de aplicação nos mais diversos espaços, ao se pensar em perspectivas de desenvolvimento. METODOLOGIA Este estudo é considerado de natureza social e aplicada. Social, pois tem como campo de investigação a realidade social; e aplicada, uma vez que tem por finalidade gerar conhecimentos para aplicação prática, direcionados à solução de problemas específicos, envolvendo realidades e interesses locais (GIL, 2008). Quanto à abordagem implementada, a pesquisa classifica-se como qualitativa, uma vez que busca aprofundar-se no mundo dos significados (MINAYO, 2009), utilizando uma metodologia não-estruturada, baseada em pequenas amostras, proporcionando insights e compreensão do contexto do problema (MALHOTRA, 2002). Referente aos objetivos, o estudo configura-se como pesquisa descritiva, na medida em que propõe descrever características de determinado fenômeno, estabelecendo relações entre variáveis e a natureza destas relações (GIL, 2008), utilizando como instrumento a pesquisa bibliográfica em livros e artigos sobre a temática. DIMENSÕES ESPACIAIS DO DESENVOLVIMENTO E PERSPECTIVAS As transformações ocorridas no Brasil nos anos 1980 e 1990, aliadas ao aumento das desigualdades estruturais internas nas diversas porções do território nacional fazem emergir novas formas de pensar e agir no campo das políticas públicas. Nesse contexto, especialmente as políticas públicas para o desenvolvimento passaram a ser mais descentralizadas, originando-se nos planos regional e local. A partir daí, se por um lado houve a revalorização do território e da dimensão espacial do desenvolvimento, por outro, consolidou-se uma visão claramente disseminada na literatura e criticada por Brandão, com foco em um pensamento único localista, que considera a concepção do local como espaço privilegiado de intervenção política e como solução dos problemas socioeconômicos, em detrimento das demais escalas intermediárias entre o local e o global na articulação para a promoção de estratégias de desenvolvimento. Partindo de uma revisão crítica das concepções teóricas estáticas, positivistas, liberais e utilitaristas, Brandão deixa claro a impossibilidade de uma teoria geral e abstrata dos fenômenos regionais e urbanos, destituídos de sua realidade histórico-concreta. Desta forma, o autor considera que as escalas são construções históricas, culturais, econômicas, políticas e sociais; sendo preciso repactuar relações, construir espaços públicos e canais institucionalizados de interesses, e estabelecer contratos sociais territorializados (BRANDÃO, 2012). Brandão considera ainda a divisão social do trabalho como categoria analítica de investigação

da dimensão espacial do desenvolvimento capitalista, visto que permeia todos os seus processos e em todas as escalas. Neste contexto, o autor afirma que se há forças endógenas que podem e devem ser acionadas, é preciso não negligenciar a existência de hierarquias, poderes, conflitos, macroeconomia, macroprocessos e decisões estratégicas que se encontram em outras escalas, exógenas à localidade. Também, qualquer perspectiva para o avanço econômico, político e social de um país deve reconhecer suas especificidades e heterogeneidades, lembrando que construir o desenvolvimento requer ações de construção e desconstrução contínuas de processos, intrinsecamente marcados por tensões. Essa nova direção deve resgatar o potencial das diversidades sociais, regionais, produtivas e culturais (BRANDÃO, 2012). Valorizando a escala nacional enquanto espaço de influência nos territórios regionais e urbanos, assim como a relevância de análise por meio de processos e dinâmicas histórico-contextuais, Brandão recorre à história para compreender a formação espacial brasileira, suas heterogeneidades e vulnerabilidades estruturais e o processo que fez do Brasil um país subdesenvolvido, destacando no processo de desenvolvimento urbano-regional brasileiro os fatores de continuidade, inércia e rigidez das desigualdades sociais e econômicas. Brandão defende, ainda, a adoção de uma abordagem transescalar como modelo de desenvolvimento que considera o trabalho conjunto e articulado das múltiplas escalas entre o local e o global, ao mesmo tempo em que devem ser identificadas as dimensões referentes às desigualdades inter e intrarregionais. Em suma, Brandão afirma que países caracterizados por territórios continentais, heterogeneidades estruturais e em situações de desigualdade e subdesenvolvimento similares ao Brasil, só sairão das condições de malformação estrutural a partir de uma reformulação estratégica de políticas nacionais de desenvolvimento similar ao modelos europeus com foco na descontrução e posterior reconstrução das escalas nacionais que visem a elaboração de políticas públicas e ações transversais nas demais escalas. EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA À LUZ DAS CONTRIBUIÇÕES DE BRANDÃO A visão crítica de Brandão ao localismo é retomada na metodologia da disciplina Dimensões e Escalas do Desenvolvimento que, além da relevância das escalas de âmbito local para o seu contexto específico e para os demais contextos apresentados, considera a relevância de serem discutidas, analisadas e trabalhadas as mais variadas escalas de desenvolvimento. Espaço e território não se restringem, portanto, ao fenômeno local, regional, nacional ou mesmo continental, podendo exprimir simultaneamente todas essas dimensões (VEIGA, 2002). Outro aspecto similar é que, além do positivismo e do materialismo histórico como paradigmas do conhecimento enquanto métodos de análise de dimensões e perspectivas de desenvolvimento, a valorização dos processos históricos-contextuais é evidenciada nas discussões e reflexões realizadas, na medida em que tais práticas pedagógicas consideram a relevância dos processos históricos na delimitação da contextualização e no entendimento de potencialidades e de desafios de desenvolvimento das diversas escalas territoriais. Da mesma forma, tais processos utilizados nas análises de desenvolvimento, bem como a própria ordem de estudo e de análise das escalas (da escala universal à escala local) igualmente remetem aos impactos da macroeconomia e dos macroprocessos inerentes às escalas maiores, para os contextos de desenvolvimento das escalas

menores sem, contudo, desconsiderar suas ações endógenas potenciais. Os discentes também constataram o cenário brasileiro de subdesenvolvimento e desigualdades, ao mesmo tempo em que Brandão prioriza a escala nacional como espaço de análise e o resgate histórico para o entendimento mais aprofundado acerca das perspectivas brasileiras de desenvolvimento que permitiram chegar a tais constatações. Diversidades territoriais também foram evidenciadas na disciplina, por meio da apresentação e análise de várias situações de desenvolvimento e seus contrastes intra e interterritoriais, constatados nas escalas continentais (América, Ásia, Europa, Oceania, Oriente Médio), nacionais (Chile, Venezuela, México, Bangladesh, Espanha) e regionais (Piauí, Cerrado, Macrorregião Nordeste, além da Mesorregião Noroeste, Região Funcional 7 e município de Alvorada, pertencentes ao estado do Rio Grande do Sul). Neste contexto, o continente americano reflete suas diversidades e heterogeneidades estruturais, sendo notável a assimetria entre o mercado interno amplo e consistente nos EUA e o mercado interno restrito e excludente no Brasil. A abordagem transescalar também foi evidenciada durante a disciplina, ao serem consideradas as análises das inter-relações contextuais e de causa-efeito das escalas, proporcionando a reflexão e elaboração de ações efetivas para a promoção de um desenvolvimento positivo e sustentável, considerando as distintas dimensões, por meio de uma articulação estratégica entre as escalas. Verifica-se, por fim, significativas conformidades entre os pressupostos reflexivos da obra de Brandão e os modelos de ações estratégicas de otimização de desenvolvimento propostos para as escalas analisadas em aula, uma vez que ambos consideram o desenvolvimento como parte de um todo; sendo que, em meio aos vários interesses convergentes, o desafio é o de se buscar articular horizontalmente os atores institucionais de uma mesma região, integrar verticalmente as diferentes escalas político-administrativas, configurando investimentos públicos e privados e integrando agentes públicos e sociais no sentido de viabilizar modos de pensar e agir adequados para cada localidade, porém igualmente capazes de produzir efetivas transformações nas estruturas econômicas, políticas, sociais e culturais em todas as escalas. Sendo assim, a definição de novos rumos para o desenvolvimento dos territórios depende de uma reconfiguração socioterritorial que busque construir consensos mínimos, pela articulação dos diferentes atores e de suas diferentes propostas e visões de mundo (DALLABRIDA, 2011). Nesse contexto, as políticas públicas devem ser universalizadoras de cidadania e regionalizadas em suas ações para apreenderem as heterogeneidades territoriais, através da desconstrução, reconstrução e construção de escalas, contribuindo para uma reconfiguração positiva das políticas públicas territoriais de desenvolvimento. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base na experiência pedagógica proporcionada pela disciplina Dimensões e Escalas do Desenvolvimento do curso de Doutorado em Desenvolvimento Regional da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ/RS, percebe-se que sua metodologia está estreitamente vinculada com as propostas teóricas e práticas da obra de Brandão, na medida em que considera na análises a igual relevância de todas as escalas, suas inter-relações (abordagem transescalar), os impactos de suas interações com as diversas dimensões do desenvolvimento

(cultural, econômica, política e social), bem como a importância dos contextos históricos e também das hegemonias, hierarquias, diversidades e peculiaridades de cada território para a análise de situações passadas, atuais e futuras de desenvolvimento, contribuindo para a reflexão sobre perspectivas de desenvolvimento em diversas instâncias de atuação. De fato, muito há que se desconstruir e construir (BRANDÃO, 2012). Portanto, romper com as forças desarticuladoras e pactos de dominação interna e estabelecer estímulos à identidade/diversidade/diferenciação é tarefa difícil, mas que deve, em seu percurso, ser pedagógica, seja no sentido de orientar as classes subalternas e reestruturar as administrações públicas nos espaços políticos e sociais, como também com o intuito de incentivar a desconstrução de teorias estritamente positivistas e utilitaristas nos espaços acadêmicos, em prol de teorias construtivistas e de práticas alicerçadas em processos histórico-contextuais de desenvolvimento que permitam reflexões e resultados efetivos e favoráveis às diversas escalas e dimensões do desenvolvimento. Palavras-chave: Dimensões Espaciais; Perspectivas de Desenvolvimento; Métodos Pedagógicos. Keywords: Space Dimensions; Development Perspectives; Pedagogical Methods. REFERÊNCIAS BRANDÃO, Carlos. Território e desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o local e o global. 2. ed. São Paulo: Unicamp, 2012. DALLABRIDA, Valdir Roque. Governança territorial e desenvolvimento: as experiências de descentralização político-administrativa no Brasil como exemplos de institucionalização de novas escalas territoriais de governança. In: I Circuito de Debates Acadêmicos, 2011, Brasília. Anais eletrônicos... Brasília: Circuito de Debates Acadêmicos, 2011. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3.ed. Porto Alegre: Bookman, 2002. MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 28. ed. Petrópolis: Vozes, 2009. VEIGA, José Eli da. A face territorial do desenvolvimento. Interações Revista Internacional de Desenvolvimento Local, v. 3, n. 5, p. 5-19, set. 2002.