Prevalência de Doença Mental Numa População com Deficiência Intelectual. Centro de Recuperação de Menores D. Manuel Trindade Salgueiro

Documentos relacionados
Critérios para Admissão em Longo e Curto Internamento e Unidade de Dia

SECRETARIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO e cultura. Centro de Apoio Psicopedagógico. gico do Funchal

Você conhece a Medicina de Família e Comunidade?

Curso de Formação Cuidar da Pessoa com Doença de Alzheimer

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular PERTURBAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR Ano Lectivo 2015/2016

II ENCONTRO DA CPCJ SERPA

Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, Rua Camilo Castelo Branco, N.º4, a cerca de 100 metros do Marquês de Pombal, Lisboa

CONSTRANGIMENTOS DOS SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS NA ADMISSÃO DE PESSOAS IDOSAS DO FORO MENTAL

IDENTIFICAÇÃO DO CASO - ANAMNESE

Plano DOM. Mudanças. Peso da Régua, 26 Setembro 2008 Isabel Gomes

GUIA PRÁTICO APOIOS SOCIAIS - PESSOAS COM DOENÇA DO FORO MENTAL OU PSIQUIÁTRICO

Grupo de Trabalho para as Questões da Pessoa Idosa, Dependente ou Deficiente de Grândola REGULAMENTO INTERNO

Worldwide Charter for Action on Eating Disorders

GUIA PRÁTICO APOIOS SOCIAIS FAMÍLIA E COMUNIDADE EM GERAL

A violência doméstica é um problema universal que atinge milhares de pessoas, em grande número de vezes de forma silenciosa e dissimuladamente.

Lidando com o paciente oncológico C A M I L A M A N O S S O F U N E S J É S S I C A D E O L I V E I R A S T O R R E R

Curso de Técnico Auxiliar de Geriatria

UNIDADE MÓVEL DE APOIO DOMICILIÁRIO UMAD

Módulo 9. Cuidados na Saúde Mental

REGULAMENTO DE COMPETÊNCIAS ESPECIFICAS DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA EM ENFERMAGEM EM PESSOA EM SITUAÇÃO CRÓNICA E PALIATIVA

REGULAMENTO DO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE. (Aprovado na 23ª Reunião Ordinária de Câmara Municipal, realizada em 21 de Novembro de 2001)

Organização e Formação de Serviços para Pessoas com Duplo Diagnóstico A Experiência do CRM

QUESTIONÁRIO: VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS NOME: CLASSIFIQUE EM VERDADEIRO (V) OU FALSO (F) AS SENTENÇAS ABAIXO:

5º Congresso Internacional dos Hospitais Serviço Nacional de Saúde. (Re)Conhecer as Mudanças

ATENDIMENTO PESSOAL E TELEFÓNICO

A ACTIVIDADE FÍSICA F PREVENÇÃO DA IMOBILIDADE NO IDOSO EDNA FERNANDES

PLANO DE ATIVIDADES ANO LETIVO 2014/2015

PAI Vila Esperança Churrasco Dia dos Pais Pq. Ecológico do Tietê

EDITAL PROCESSO SELETIVO EXTERNO PROJETO QUIXOTE 2012

10 anos no papel de mãe

Consultoria em Treinamento & Desenvolvimento de Pessoas

GUIA PRÁTICO APOIOS SOCIAIS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Liderança.

Agrupamento de escolas de Vila Nova de Poiares

Contratualização em Cuidados Continuados

4.1. PLANO DE ACÇÃO TUTORIAL (Individual) - 1 a Fase

Maus -tratos. ACÇÃO DE FORMAÇÃO ANO de 2010 FÁBIA SOUZA

O VALOR DO BRINCAR NO HOSPITAL: A IMPORTÂNCIA E CONTRIBUIÇÃO ÀS CRIANÇAS HOSPITALIZADAS NO (HUJBB)

PROTEÇÃO DA SAÚDE MENTAL EM SITUAÇÕES DE DESASTRES E EMERGÊNCIAS (1)

C O M P E T Ê N C I A S A D E S E N V O L V E R :

AS TIC E A SAÚDE NO PORTUGAL DE HOJE

Abordagem familiar e instrumentos para profissionais da Atenção Primária à Saúde

ESCOLA DE MEDICINA FAMILIAR /Açores 2015

Levantamento Concelhio das pessoas em situação de semabrigo

CURSO: ENFERMAGEM. Objetivos Específicos 1- Estudar a evolução histórica do cuidado e a inserção da Enfermagem quanto às

Vou embora ou fico? É melhor ir embora Estratégias de Evitamento

Patrícia Zambone da Silva Médica Fisiatra

PROMOÇÃO DA SAÚDE ESCOLAR. Anabela Martins. Bragança, de 20 setembro de 2014

Receitas para a Escola e Família na. ou provocação? Orlanda Cruz

Rede Social no Concelho de Azambuja Plano de Ação 2014 PLANO DE ACÇÃO 2014

Cursos de Primeiros Socorros Inscrições Particulares

Resiliência. Capacidade para superar os desafios da vida

RH Saúde Ocupacional

PAR. Torne-se um PAR para que sua vida seja ÍMPAR ACELBRA-RJ

Normas de cuidados para as pessoas com osteoartrite

Programa Educativo Individual

Instituições. Módulo II Organizações de Apoio à Comunidade. Disciplina Ação Social VAS /15

DIREITOS DA PESSOA COM AUTISMO

Apêndice IV ao Anexo A do Edital de Credenciamento nº 05/2015, do COM8DN DEFINIÇÃO DA TERMINOLOGIA UTILIZADA NO PROJETO BÁSICO

Plano Gerontológico de Monchique Apresentação Pública 15 de Outubro de 2011

PLANO DE FORMAÇÃO. Cuidar da Pessoa com Doença de Alzheimer Cuidadores Formais Nível I

Saúde Mental do Trabalhador. Grazieli Barbier Barros Terapeuta Ocupacional Especialista em Saúde Pública e da família.

CENTRO DE REFERÊNCIA EM TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA CREAPP

BRINCAR É UM DIREITO!!!! Juliana Moraes Almeida Terapeuta Ocupacional Especialista em Reabilitação neurológica

Psicanálise: técnica para discernir e descobrir os processos psíquicos.

TREINO DE APTIDÕES SOCIAIS

ELABORAÇÃO DE SEMINÁRIO

UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE MEDICINA DE LISBOA

O PAPEL DA ENFERMAGEM NA REABILITAÇÃO CARDIACA RAQUEL BOLAS

PROCESSO SELETIVO PARA PROFESSORES SUBSTITUTOS EDITAL

Suplementar após s 10 anos de regulamentação

hospital de dia oncológico

25/03/2009. Violência Dirigida aos Enfermeiros no Local de Trabalho

Pequenas, mas com vontades próprias, as. crianças expressam as suas emoções de. formas muito distintas ao longo das várias fases

Definições. Classificação. Atendimento educacional especializado - Educação Especial. Escolas especializadas Escolas da rede regular de ensino

PERFIL PROFISSIONAL TÉCNICO/A AUXILIAR DE SAÚDE. PERFIL PROFISSIONAL Técnico/a Auxiliar de Saúde Nível 3 CATÁLOGO NACIONAL DE QUALIFICAÇÕES 1/9

PROCEDIMENTO DE GESTÃO

Gestão do Paciente com Deficiência Uma visão Prática da Terapia Ocupacional e da Fisioterapia

REGULAMENTO DO SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO DA QUALIDADE DO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO

REGULAMENTO DAS COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA EM ENFERMAGEM DE SAÚDE DA CRIANÇA E DO JOVEM

COMPETÊNCIAS CHAVE PARA O EMPREENDEDORISMO

ESTÁGIO DE INTEGRAÇÃO À VIDA PROFISSIONAL II 4.º ANO - ANO LECTIVO 2008/2009

Encontro de Empresas Mesa redonda: Programa de Assistência ao Empregado: para onde encaminhar. Ambulatório

Opções de tratamento. Desintoxicação e acompanhamento no Posto de Saúde; Desintoxicação no Domicílio;

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular PSICOLOGIA DA SAÚDE E CLÍNICA Ano Lectivo 2014/2015

GUIA PRÁTICO APOIOS SOCIAIS CRIANÇAS E JOVENS COM DEFICIÊNCIA

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Anais. III Seminário Internacional Sociedade Inclusiva. Ações Inclusivas de Sucesso

Coaching para um melhor desempenho. Duarte Araújo Laboratório de Psicologia do Desporto Faculdade de Motricidade Humana

O QUE É? A LEUCEMIA MIELOBLÁSTICA AGUDA

Serviço de Apoio ao Doente com EM

Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro Padre Alberto Neto CÓDIGO Sub-departamento de Educação Especial

Transcrição:

Prevalência de Doença Mental Numa População com Deficiência Intelectual Centro de Recuperação de Menores D. Manuel Trindade Salgueiro Outubro / 2012 Lisboa

Centro de Recuperação de Menores D. Manuel Trindade Salgueiro Localizado em Assumar, Concelho de Monforte, - É um centro de reabilitação, - Residencial, - Para 120 pessoas do sexo feminino, - Menores, - Com deficiência intelectual, - E outras patologias associadas, - Que integra serviços clínicos, sociais, e ocupacionais / pedagógicos

Centro de Recuperação de Menores D. Manuel Trindade Salgueiro

Apresentação de Caso Comportamentos que colocam desafios Outubro / 2012

Tem ideias místicas que incluem vampiros e bruxas, Discute-se em equipa se será confabulação ou delírio. Fuga; Auto e heteroagressividade; Discurso alterado; Esconde-se por baixo da cama; Coloca-se sempre no papel de vítima; Não segue as regras (grande parte das vezes). estica os limites, confrontando de forma desafiadora quem a envolve Não aceita a autoridade É temperamental Culpa os outros pelos seus problemas 5

- Disciplina inadequada? - Demasiada permissividade? - Falta de tempo passado com ambos os pais? - Aparecimento de outra pessoa Madrasta? - Sentimento de Não Pertença? - Patologia de Base? 6

Discussão em equipa dos comportamentos da utente, de forma a definir uniformização de actuação e diálogo. Muitas vezes a utente tenta manipular os membros da equipa, colocando-se no papel de vítima. 7

Designação de técnico de referência É um técnico em quem ela confia e fala dos seus problemas, preocupações, expectativas. Tenta-se sempre encaminhá-la para essa pessoa, quando existe algum problema. 8

Respostas Rápidas Controle de ambiente quer a nível de fuga, auto/hetero-agressão, quer a nível de situações desencadeadoras de conflito com outras utentes. (embora seja necessário que a utente desenvolva os seus próprios métodos e estratégias de defesa para lidar com a adversidade e frustração) 9

Respostas Rápidas Humor sem sarcasmo. 10

Plano de intervenção objectivos / intervenção -Promover estabilidade emocional e comportamental, e melhorar comportamento social (Enfermagem) -Controlo do ambiente -Monitorização efeito da medicação -Despiste de sintomas alucinatórios -Directividade nas indicações dadas 11

Plano de intervenção objectivos / intervenção -Aumentar a participação nas actividades, mantendo o controlo postural do joelho direito (Fisioterapia) -Treino de actividades lúdicas -Fortalecimento muscular -Correcção postural 12

Plano de intervenção objectivos / intervenção -Promover estabilidade emocional e comportamental, e melhorar comportamento social (Psicologia, Assistente Social) -Intervenção cognitivo-comportamental -Manter articulação com o meio escolar, através de reuniões trimestrais. 13

-SV, 17 anos, Lisboa -Nascida em família disfuncional, mãe toxicodependente, pai com consumos privilegiados de álcool, agressivo de forma muito violenta. -Pais separados desde a primeira infância, fica a viver com o pai, com negligência e maus-tratos. A principal sequela é osteomielite crónica da tíbia direita, implica múltiplas intervenções cirúrgicas e deformação permanente. 14

-Depois de sinalização, institucionalização para apoio social, e problemas sistemáticos em diferentes instituições, é internada no CRM. -Apresenta DI Ligeira, com boa compreensão da linguagem verbal oral e escrita, capacidade de elaboração das situações de vida, e modelo relacional manipulador onde a vitimização e a sedução imperam. 15

-Estruturado programa de intervenção onde predominam : o acompanhamento constante por um colaborador, : actividades estruturadas e variadas tentando integrar a sua instabilidade comportamental, : identificação de técnico de referência para acompanhamento regular, discutindo e negociando todas as decisões do plano de intervenção, 16

- A intervenção farmacológica é pouco valorizada inicialmente: a doente apresenta capacidade de participar na negociação das medidas terapêuticas, crítica para as situações difíceis, sabe aproveitar os recursos organizados para a apoiar. 17

- Acabamos por ser confrontados com situações de agressão grave, auto e hetero dirigida, que ultrapassam todas as medidas organizadas de suporte e contenção, que nos obrigam a reforçar a intervenção farmacológica. - A medicação sofre uma escalada no número de fármacos e doses utilizadas, sendo previsíveis efeitos secundários significativos 18

- A equipa é surpreendida por uma estabilização gradual do humor e comportamento da doente, sem efeitos secundários importantes. - A capacidade de gestão adequada de situações que anteriormente se tornavam facilmente disruptivas, a elaboração das suas dificuldades de forma honesta e adequada, levam a negociar redução gradual da medicação. 19

- Após algumas semanas, e gradualmente, reiniciam-se episódios de descontrolo emocional e comportamental. - Aumentamos de novo a medicação da doente, assumindo definitivamente o diagnóstico de Perturbação do Humor SOE. 20

Obrigado.