Recorrente : MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO Procurador : Dr. Zulma Hertzog Fernandes Veloz Recorrido : CONSELHO REGIONAL DE CORRETORES DE IMÓVEIS - CRECI - 3ª REGIÃO/RS Advogado : Dr. César Augusto Boeira da Silva MCP/sq D E S P A C H O A C. 5ª Turma negou provimento ao Agravo de Instrumento do Ministério Público do Trabalho, que versava o tema conselho de fiscalização profissional - concurso público - obrigatoriedade. Assinalou que os conselhos profissionais não são obrigados a realizar concurso público para a contratação de seus empregados. O Parquet interpõe Recurso Extraordinário, com fundamento no art. 102, III, a, da Constituição da República. Aponta violação ao art. 37, II e 2º, da Carta de 1988 e invoca repercussão geral da matéria. admissibilidade. Contrarrazões apresentadas. É o relatório. Estão atendidos os requisitos extrínsecos de Discute-se a obrigatoriedade de concurso público para a contratação de pessoal pelos conselhos de fiscalização profissional e os efeitos da inobservância desse requisito. O E. STF, quando do julgamento da ADI nº 1.717/DF, considerou que os conselhos profissionais são dotados de personalidade jurídica de direito público, isso porque a interpretação conjugada dos artigos 5, XIII, 22, XVI, 21, XXIV, 70, parágrafo único, 149 e 175 da Constituição Federal, leva à conclusão, no sentido da indelegabilidade, a uma entidade privada, de atividade típica de Estado, que abrange até poder de polícia, de tributar e de punir, no que concerne ao exercício de atividades profissionais regulamentadas, como ocorre com os dispositivos impugnados (Rel. Min. Sydney Sanches, DJ 28/3/2003). A natureza autárquica foi reafirmada em outras oportunidades, como, por exemplo, no exame da obrigatoriedade da prestação de contas pelas entidades de classe, in verbis:
fls.2 EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. ENTIDADES FISCALIZADORAS DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL. CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA: NATUREZA AUTÁRQUICA. Lei 4.234, de 1964, art. 2º. FISCALIZAÇÃO POR PARTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. I. - Natureza autárquica do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de Odontologia. Obrigatoriedade de prestar contas ao Tribunal de Contas da União. Lei 4.234/64, art. 2º. C.F., art. 70, parágrafo único, art. 71, II. II. - Não conhecimento da ação de mandado de segurança no que toca à recomendação do Tribunal de Contas da União para aplicação da Lei 8.112/90, vencido o Relator e os Ministros Francisco Rezek e Maurício Corrêa. III. - Os servidores do Conselho Federal de Odontologia deverão se submeter ao regime único da Lei 8.112, de 1990: votos vencidos do Relator e dos Ministros Francisco Rezek e Maurício Corrêa. IV. - As contribuições cobradas pelas autarquias responsáveis pela fiscalização do exercício profissional são contribuições parafiscais, contribuições corporativas, com caráter tributário. C.F., art. 149. RE 138.284-CE, Velloso, Plenário, RTJ 143/313. V. - Diárias: impossibilidade de os seus valores superarem os valores fixados pelo Chefe do Poder Executivo, que exerce a direção superior da administração federal (C.F., art. 84, II). VI. - Mandado de Segurança conhecido, em parte, e indeferido na parte conhecida. (MS 21797, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 18/5/2001) Decerto, em nenhum dos precedentes supra está explícito o entendimento sobre a obrigatoriedade ou não de os conselhos profissionais realizarem concurso público. Todavia, ainda que em juízo monocrático, a jurisprudência da E. Suprema Corte parece sinalizar no sentido afirmativo: Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão de inadmissibilidade de recurso extraordinário que impugna acórdão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, o qual consignou que os Conselhos de Fiscalização Profissional possuem natureza jurídica de autarquia federal, motivo pelo qual se submetem ao regramento constitucional de contratação de pessoal mediante concurso público. No recurso extraordinário, interposto com fundamento no art. 102, III, a, da Constituição Federal, aponta-se violação aos arts. 5º, II; 37, II; e 114 da Carta Magna, ao argumento de que as entidades de fiscalização profissional têm natureza jurídica de
fls.3 direito privado, não havendo que se falar em submissão ao concurso público. Decido. No caso, discute-se a natureza jurídica dos Conselhos de Fiscalização Profissional, mais especificamente do Conselho Regional da Ordem dos Músicos do Brasil na Paraíba, e a necessidade de observância do concurso público para contratação de seu pessoal. O entendimento exarado pelo Tribunal de origem está em consonância com a jurisprudência desta Corte. Assinalo que, conforme decido na ADI 1.717/DF, Relator o Ministro Sydney Sanches, DJ de 28.3.2003, este Supremo Tribunal Federal assentou que a interpretação conjugada dos artigos 5, XIII, 22, XVI, 21, XXIV, 70, parágrafo único, 149 e 175 da Constituição Federal, leva à conclusão, no sentido da indelegabilidade, a uma entidade privada, de atividade típica de Estado, que abrange até poder de polícia, de tributar e de punir, no que concerne ao exercício de atividades profissionais regulamentadas. No mesmo sentido, no julgamento da Questão de Ordem na ACO 684, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 30.9.2005, reafirmou-se a natureza de autarquia federal das entidades fiscalizadoras de profissões. Nesses termos, tendo em vista o disposto no art. 37, II, da Constituição Federal, que determina a obrigatoriedade do respeito à regra do concurso público para investidura em cargo ou emprego público, não assiste razão ao recorrente. Ante o exposto, nego seguimento ao recurso. (AI 791759, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe-147, divulgação 1º/8/2011 e publicação 2/8/2011) Trata-se de recurso extraordinário contra acórdão que possui a seguinte ementa: PROCESSUAL CIVIL. CONSTITUCIONAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSELHO PROFISSIONAL. NATUREZA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO. NULIDADE DE CONTRATAÇÃO DIRETA. NECESSIDADE DE CONCURSO PÚBLICO. 1. É pacífico o entendimento de que os Conselhos Regionais de Fiscalização Profissional possuem personalidade jurídica de direito público, estando submetidos às exigências constantes no art. 37 da CF. 2. O art. 58 da Lei 9.649/98 que conferia natureza jurídica de direito privado as entidades de fiscalização de profissões, permitindo a contração direta de pessoal, foi declarado inconstitucional pelo STF no julgamento da ADIn nº 1717. 3. Desde a publicação da concessão da liminar (25.02.2000) pelo STF, em sede de ADIn nº 1.717, que suspendeu a eficácia do art. 58 da Lei nº 9.649/98, os Conselhos Profissionais estão obrigados a realizar suas
fls.4 contratações mediante concurso público. 4. É nulo qualquer ato de contratação de pessoal efetuado pelo Conselho Regional de Psicologia da 13ª Região CRP-13 PB/RN sem a observação do disposto no art. 37 da CF. 5. Apelação improvida (fl. 322). Neste RE, fundado no art. 102, III, a e b, da Constituição, alegou-se, em suma, ofensa ao art. 102, 2º, da mesma Carta, ao argumento de que não foi observado o efeito vinculante da decisão proferida pelo STF na ADI 3.026/DF. Sustentou-se que o acórdão recorrido, com apoio na ADI 1.717/DF, incorreu em equívoco ao considerar que os conselhos profissionais têm natureza jurídica de direito público. Para tanto, afirmou-se que esse entendimento foi superado no julgamento da ADI 3.026/DF, ocasião em que se assentou a natureza de direito privado dos aludidos conselhos. O Subprocurador-Geral da República Wagner de Castro Mathias Netto opinou pelo desprovimento do recurso. A pretensão recursal não merece prosperar. (...) Além disso, não prospera a pretensão de estender-se os efeitos da ADI 3.026/DF aos conselhos de fiscalização profissional. É que, nesse julgamento, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a natureza especial da Ordem dos Advogados do Brasil e a distinguiu dos órgãos de fiscalização profissional, consoante se observa nos seguintes trechos da ementa da mencionada ação direta de inconstitucionalidade: (...) 3. A OAB não é uma entidade da Administração Indireta da União. A Ordem é um serviço público independente, categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro. ( ) 7. A Ordem dos Advogados do Brasil, cujas características são autonomia e independência, não pode ser tida como congênere dos demais órgãos de fiscalização profissional. A OAB não está voltada exclusivamente a finalidades corporativas. Possui finalidade institucional. ( ) Corroborando esse entendimento, destaco do parecer da Procuradoria Geral da República: Com efeito, na ADI 3026, o STF posicionou-se pela possibilidade de contratação direta de pessoal, pela OAB, em face da sua natureza institucional, jurídica e independente. No entanto, o próprio precedente confirma que não se pode equiparar a OAB às autarquias especiais e agências, que são pertencentes à administração indireta, e estão obrigadas a realizar concurso público para a contratação de pessoal. Os Conselhos Profissionais são nítidas autarquias, que atuam em atividade típica do Estado, sob delegação, e têm poder de polícia, de punir de tributar, razão por que se lhes aplicam os princípios da administração pública, dentre
fls.5 os quais, o da legalidade e da necessidade de concurso público (...) (fl. 445). Assim, contrariamente ao que sustentado pela recorrente, o que foi decidido na ADI 3.026/DF, Rel. Min. Eros Grau, não se aplica à hipótese dos autos, que envolve conselho de fiscalização profissional. Por fim, o acórdão recorrido, apoiado no entendimento firmado na ADI 1.717/DF, Rel. Min. Sydney Sanches, não destoa da jurisprudência desta Corte no sentido da natureza autárquica dos conselhos de fiscalização profissional. Nesse sentido, cito o MS 21.797/RJ, Rel. Min. Carlos Velloso, cuja ementa segue transcrita: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. ENTIDADES FISCALIZADORAS DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL. CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA: NATUREZA AUTÁRQUICA. Lei 4.234, de 1964, art. 2º. FISCALIZAÇÃO POR PARTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. I. - Natureza autárquica do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de Odontologia. Obrigatoriedade de prestar contas ao Tribunal de Contas da União. Lei 4.234/64, art. 2º. C.F., art. 70, parágrafo único, art. 71, II. II. - Não conhecimento da ação de mandado de segurança no que toca à recomendação do Tribunal de Contas da União para aplicação da Lei 8.112/90, vencido o Relator e os Ministros Francisco Rezek e Maurício Corrêa. III. - Os servidores do Conselho Federal de Odontologia deverão se submeter ao regime único da Lei 8.112, de 1990: votos vencidos do Relator e dos Ministros Francisco Rezek e Maurício Corrêa. IV. - As contribuições cobradas pelas autarquias responsáveis pela fiscalização do exercício profissional são contribuições parafiscais, contribuições corporativas, com caráter tributário. C.F., art. 149. RE 138.284-CE, Velloso, Plenário, RTJ 143/313. V. - Diárias: impossibilidade de os seus valores superarem os valores fixados pelo Chefe do Poder Executivo, que exerce a direção superior da administração federal (C.F., art. 84, II). VI. - Mandado de Segurança conhecido, em parte, e indeferido na parte conhecida. No mesmo sentido, menciono as seguintes decisões, entre outras: RE 364.750/RS, Rel. Min. Dias Toffoli; RE 559.814/SP, RE 434.297/PB e RE 607.571/PE, Rel. Min. Cármen Lúcia; RE 419.797/MG, Rel. Min. Ellen Gracie; AI 791.759/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes; MS 26.803-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio. Isso posto, nego seguimento ao recurso (CPC, art. 557, caput). (RE 611947, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1º/9/2011; divulgação em 5/9/2011 e publicação em 6/9/2011)
fls.6 Assim, a despeito do posicionamento do Eg. Tribunal Superior do Trabalho sobre a questão, convém que a matéria seja submetida à consideração da E. Suprema Corte. Ante o exposto, admito o Recurso Extraordinário e determino a remessa dos autos ao E. Supremo Tribunal Federal. Publique-se. Brasília, 06 de dezembro de 2012. Firmado por assinatura digital (Lei nº 11.419/2006) MARIA CRISTINA IRIGOYEN PEDUZZI Ministra Vice-Presidente do TST