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Transcrição:

Tribunal de Contas da União Número do documento: DC-0146-18/01-1 Identidade do documento: Decisão 146/2001 - Primeira Câmara Ementa: Aposentadoria por invalidez. Motivos da aposentadoria declarados insubsistentes por junta médica oficial. Ilegalidade. Retorno à atividade. Aplicação das Súmulas 106 e 74 do TCU. Grupo/Classe/Colegiado: Grupo I - CLASSE V - 1ª Câmara Processo: 013.110/1999-3 Natureza: Aposentadoria Entidade: Departamento Nacional de Estradas de Rodagem - DNER Interessados: INTERESSADO: Arlindo Nogueira dos Santos Dados materiais: ATA 18/2001 DOU 18/06/2001 INDEXAÇÃO Aposentadoria Por Invalidez Permanente; Junta Medica; Fundamento Legal; Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal - Sefip. Sumário: Aposentadoria por invalidez. Inexistência das condições estabelecidas em lei. Ilegalidade. Reversão à atividade. Aplicação da Súmula TCU 106. Contagem do tempo em que o servidor permaneceu inativo, nos termos do art. 103, VII, da Lei 8.112/90 e da Súmula TCU 74.

Relatório: Trata-se da aposentadoria do servidor Arlindo Nogueira dos Santos, do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem DNER, o qual requereu a aposentadoria em 16.2.1965, com fundamento nos artigos 176, III, e 178, III, da Lei 1.711/52, porque estava afastado de suas atividades a partir de 6.2.1963, por ser portador de "hipertrofia cardíaca global, provável infarto", diagnosticada em inspeção médica. O interessado permaneceu afastado do serviço de 1963 até 6.12.1985, ocasião em que, em nova inspeção médica, foi considerado apto ao serviço, tendo retornado à atividade profissional. Em março 1986, o servidor foi novamente afastado do serviço por problemas de saúde (CID 7221/4 - deslocamento de disco intervertebral torácico ou lombar sem mielopatia, vulgarmente conhecido como lombalgia) e, em 5.1.1989, mediante a Portaria 36/89 (fl. 74), foi aposentado por invalidez, nos exatos termos do requerimento apresentado em 16.2.1965. Em 23.1.1997, submetido a novos exames, junta médica oficial declarou insubsistentes os motivos da aposentadoria (fls. 170/1). À vista dessa manifestação, a Secretaria de Controle Interno do Ministério dos Transportes remeteu o processo para este Tribunal "uma vez que não consta dos autos que tenha havido a apreciação da legalidade e registro do ato de aposentadoria". A Secretaria de Fiscalização de Pessoal - Sefip, considerando que o laudo médico emitido em 23.1.1997 afasta a possibilidade de a aposentadoria ser concedida com fundamento nos artigos 176, III, e 178, III, da Lei 1.711/52 e, por omissão da Administração e não do servidor, o requerimento não foi analisado tempestivamente, propõe ao Tribunal: a) julgar ilegal o ato de aposentação fl. 74 porque o servidor Arlindo Nogueira dos Santos não é portador de doença especificada em lei; b) determinar ao DNER que anule a Portaria 36, de 5.1.1989, por falta de amparo legal; c) aplicar a Súmula 106; d) orientar o órgão de pessoal do DNER no sentido de que promova o levantamento do tempo de serviço do servidor Arlindo Nogueira dos Santos, devendo ser apurado o período em que o servidor permaneceu afastado até a data em que o mesmo completaria 30 anos de serviço, nos termos da Decisão 146/98-TCU-2ª Câmara e, assim, expeça novo ato concessório de aposentadoria, por tempo de serviço, na proporção de

30/35, com fundamento na Súmula TCU 74, submetendo-o à apreciação desta Corte. O Ministério Público manifesta-se de acordo com a unidade técnica. É o relatório. Voto: Declarados, por junta médica oficial, insubsistentes os motivos da aposentadoria do servidor Arlindo Nogueira dos Santos, deve ser negado o registro do ato de aposentação fl. 74 e considerada ilegal a aposentadoria em exame. Em princípio, a ação imediata é a reversão do servidor à atividade, nos termos dos artigos 25 e 27 da Lei 8.112/90. Os motivos da aposentadoria foram declarados insubsistentes e o servidor ainda não completou 70 anos de idade. As peculiaridades deste processo deixam-no, todavia, com contornos surrealistas. A aposentadoria foi requerida em 16.2.65, com fundamento nos artigos 176, III, e 178, III, da Lei 1.711/52, porque o servidor se encontrava em licença médica por mais de dois anos consecutivos. Esse processo de aposentadoria foi concluído somente em 5.1.89, ou seja, praticamente 24 anos depois da apresentação do requerimento. O servidor permaneceu sem trabalhar, percebendo regularmente seus vencimentos, durante vinte e quatro anos e mais os dois em que já estava de licença médica. Entretanto, em inspeção médica, realizada em 6.12.85, o servidor foi considerado apto para a atividade profissional (fl. 40). Em 19.12.85, o servidor tomou ciência do resultado a inspeção médica (fl. 41. v.). Presume-se que a partir de então tenha o servidor regressado ao trabalho. Menos de três meses depois, em 1º.3.1986, foi afastado por 30 dias, para tratamento de saúde, CID 7221/4 - deslocamento de disco intervertebral torácico ou lombar sem mielopatia, vulgarmente conhecido como lombalgia. Registro que este diagnóstico não guarda nenhuma relação com o fundamento do requerimento de aposentadoria. Após esse afastamento, o servidor, por deliberação própria, não mais retornou ao trabalho.

O inquérito administrativo instaurado com o objetivo de averiguar a situação do servidor, concluiu, em 7.12.88 (fls. 136), que não teria havido abandono de emprego ao argumento de que o servidor se encontrava em casa aguardando a aposentadoria requerida em 1965. A conclusão do inquérito, que desconsiderou o laudo médico de 1985 (fl. 40), pelo qual estava apto para a atividade profissional, é a de que o servidor preenchia os requisitos necessários à aposentadoria na data do requerimento (1965), uma vez que somava mais de dois anos consecutivos de licenças médicas. A aposentadoria acabou sendo concedida em 5.1.89. No laudo médico homologado em 23.1.97 (fl. 170) está registrado que, desde 1985, não subsistem os motivos da aposentadoria por invalidez concedida ao sr. Arlindo Nogueira dos Santos. Merece destaque, do histórico exposto, o laudo médico expedido pela Junta Médica do 10º DRF, em 1985 (fl. 40v), que concluiu não haver evidências das doenças referidas nos laudos anteriores, bem como que o servidor estava apto, naquele momento, para o exercício de sua atividade profissional." E disso o interessado estava ciente, tanto é que retornou à atividade profissional. Destaco, também, excerto do laudo médico realizado em 22.8.1996 (fl. 173), em que é feito o seguinte registro; "Conta uma história [o paciente/interessado] organizada que resumidamente inicia-se há muitos anos atrás, quando teve uma suposta doença cardiovascular que trouxera impedimento ao trabalho. Ficou afastado do serviço por vários anos, quando por ocasião de uma revisão realizada em 1985 foi considerado apto ao trabalho, visto que não foi constatada qualquer anormalidade clínica que justificasse o afastamento continuado. Contrariado com esta situação, o periciando procurou auxílio jurídico para contestar aquela decisão, obtendo ganho de causa." A meu ver, é patente nos autos a má-fé com que se houve o servidor, buscando precocemente a aposentadoria no serviço público, com o fito exclusivo de ser remunerado sem trabalhar. Embora se suponha que o servidor jamais esteve incapacitado para o trabalho e seja absolutamente inaceitável que o DNER tenha deixado de tomar qualquer providência ao longo de duas décadas, entendo que a questão deve ser examinada a partir do laudo médico que o julgou apto à atividade profissional, em 1985, porquanto em relação ao período

anterior, não há nos autos elementos que permitam aferir objetivamente o estado de saúde do servidor. Em 1985, quando realizada a inspeção médica que determinou ser regresso ao trabalho, não havia ainda uma aposentadoria. Aliás, a aposentadoria por invalidez é compulsória, é uma ação imposta pela administração ao servidor, prevista pelo Estatuto dos Servidores Públicos. Não há vontade das partes. Não há requerimento. O que há é o atendimento a condições estabelecidas em lei. No caso, houve a concessão de licenças médicas sucessivas por período superior a 24 meses, o que, comprovada a incapacidade para regresso ao trabalho, determinaria a aposentação compulsória do servidor (art. 176, 1º, da Lei 1.711/52). O fundamental entretanto não foi observado: para que a aposentadoria ocorresse validamente, era necessário que o servidor, após esse período de licenças, fosse considerado inválido para o serviço público ( 2º). Os fatos, no entanto, comprovam o contrário. O servidor estava apto para o exercício da atividade profissional. Essa verificação afasta qualquer possibilidade de a aposentadoria ser concedida com base em licenças médicas concedidas no período compreendido entre 1963 a 1965. Não há, por isso, que se falar em aposentadoria. Mais, mesmo que tivesse ocorrido aposentadoria na época correta, fosse qual fosse a doença, desde que legalmente prevista, causa da aposentadoria por invalidez, essa aposentadoria não é definitiva, mas precária. As aposentadorias por invalidez estão sujeitas a exames posteriores e periódicos, realizados por juntas médicas oficiais que irão atestando a permanência das causas da aposentação ou, inversamente, que elas não mais subsistem. Se não subsistirem, já não existirá razão para se manter a aposentadoria do servidor e, nesse caso, ocorrerá sua reversão à atividade. Sempre que algum atestado indicar a cessação das causas da aposentadoria por invalidez, precisa a Administração promover a reversão do servidor respectivo ao serviço ativo, sob pena de responsabilização de quem, incumbido dessa atribuição, não a desempenhe. Neste caso específico, verificou-se em 1985, antes da elaboração do ato de aposentadoria, a insubsistência das causas de aposentação. Tal aposentadoria é causa de estupefação e jamais poderia ter ocorrido.

A questão foi submetida à apreciação do Poder Judiciário, como informado pelo interessado. Mas ao contrário do que afirma, a decisão judicial apenas reconheceu o direito do autor da ação à percepção dos proventos, suspensos no período de 1986 a 1988, uma vez que a Portaria 36/89 lhe concedeu aposentadoria a partir de 5.1.1965. Sobre a legalidade da aposentadoria, o Juiz Federal que proferiu a sentença afirmou (fl. 157): "(...) Não cabe a este Juízo, face aos restritos termos em que posta a causa, analisar se o autor procedeu com má-fé, se houve favorecimento ilícito a que permanecesse durante tão longo período sem regularização da situação funcional, com a concessão da aposentadoria ou o retorno ao trabalho. Pelo que dos autos consta, tais fatos realmente ocorreram, o que repugna ao sentimento mais íntimo do cidadão (...)". O sr. Arlindo Nogueira dos Santos tomou ciência do laudo médico que o considerou apto ao desempenho da atividade profissional em 19.12.985 (fl. 41v) e retornou ao serviço. Neste momento estava encerrado o processo. Já não subsistiam as condições que o afastaram de suas atividades laborais, em relação às quais guardava expectativa de aposentadoria. A licença médica subseqüente (fl. 42) não tem nenhuma relação com os motivos que o levaram a ficar afastado do serviço no período de 1963 a 1985. Por isso, a sua ausência ao local de trabalho, a partir de 1º.4.1986, deve ser examinada como abandono do cargo. Não havia justificativa para ficar em casa aguardando aposentadoria. O que se impunha à administração do DNER era o reconhecimento de uma situação concreta de abandono do cargo, cuja pena, nos termos do art. 207, II e 2º, da Lei 1.711/52, vigente à época, era a demissão. Mas não foi isso o que ocorreu. O inquérito administrativo instaurado para apurar o caso, contra todos os elementos constantes dos autos, desconsiderando o laudo médico de 1985, propôs a aposentadoria do interessado, efetivada mediante a Portaria 36, de 5.1.1989. Ressalto que o DNER não observou o que dispunha o art. 186 da 1.711/52: a aposentadoria dependente de inspeção médica só será decretada depois de verificada a impossibilidade de readaptação do funcionário. Assim, embora presentes elementos suficientes que recomendassem a demissão do servidor, a administração absurdamente o aposentou. Observo, com pesar, que a transgressão disciplinar punível com pena de demissão, pelo art. 213, II, letra "a", da Lei 1.711/52, vigente à

época, prescrevia em 4 anos. Pela Lei 8.112/90, prescreve em 5 anos (art. 142, I). Verifico que, em razão da incompreensível inércia do DNER, o servidor contava, até a inspeção médica de 1985, com cerca de 24 anos de serviço. Considerando que do ato de aposentadoria proferido em 1989 até agora já decorreu mais de uma década, não resta outra alternativa que adotar a proposta apresentada pela unidade técnica, com a qual se manifestou favorável o Ministério Público, de negativa de registro e de retorno do servidor à atividade e de que à situação em exame pode-se aplicar o disposto na Súmula TCU 74, que admite a contagem do período de inatividade para efeito apenas de aposentadoria - e não para acréscimo por tempo de serviço ou qualquer outra vantagem - com o objetivo de suprir lacuna deixada pela exclusão de tempo de serviço não computável em face de lei e o de evitar a reversão à atividade de antigos servidores, cujas concessões foram tardiamente submetidas a exame e julgamento pelo Tribunal de Contas da União. Essa é, também, a orientação do art. 103, VII, da Lei 8.112/90, com a redação dada pela Lei 8.527/97, que permite contar, mas apenas para efeito de aposentadoria ou disponibilidade, o tempo de licença para tratamento da própria saúde que exceder a 24 meses. A jurisprudência do Tribunal, para os casos em que a morosidade da administração pode acarretar prejuízo irreparável ao servidor, é no sentido de oferecer alternativas que, obedecidos os limites constitucionais e legais vigentes, assegurem ao servidor a aplicação da legislação anterior à Emenda Constitucional 20/98. Por isso, com fundamento no art. 25 da Lei 8.112/90, deverá ser proposta a reversão do servidor ao serviço ativo e, na linha do entendimento firmado nas Decisões 193/2000, 413/2000 e 486/2000, todas da 2ª Câmara, poderá o interessado requerer aposentadoria por tempo de serviço que, observando-se o disposto no art. 103, VII, da Lei 8.112/90 e a redação original do art. 40, III, da Constituição Federal, combinado com a Súmula TCU 74, poderá ser deferida na proporção de 30/35 avos. Por essas razões, VOTO por que o Tribunal de Contas da União adote a DECISÃO que ora submeto à apreciação desta Primeira Câmara. Sala das Sessões, em 5 de junho de 2001. Walton Alencar Rodrigues

Ministro-Relator Assunto: V - Aposentadoria Relator: WALTON ALENCAR Representante do Ministério Público: UBALDO CALDAS Quórum: Ministros presentes: Guilherme Palmeira (na Presidência), Walton Alencar Rodrigues (Relator) e o Ministro-Substituto Benjamin Zymler. Sessão: T.C.U., Sala de Sessões, em 5 de junho de 2001 Decisão: A Primeira Câmara, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE: 8.1. considerar ilegal o ato de concessão de aposentadoria de Arlindo Nogueira dos Santos e negar-lhe registro; 8.2. determinar ao Departamento Nacional de Estradas de Rodagem - DNER para, no prazo de quinze dias, a contar da ciência desta Decisão, cessar o pagamento dos proventos correspondentes à aposentadoria ora declarada ilegal, sob pena de responsabilidade solidária, nos termos dos artigos 39 da Lei 8.443/92 e 191 do Regimento Interno deste Tribunal; 8.3. aplicar a Súmula TCU 106 em relação às importâncias indevidamente recebidas de boa-fé; 8.4. determinar o retorno à atividade, nos termos do art. 25 da Lei 8.112/90, do servidor de que trata este processo, podendo o servidor requerer aposentadoria por tempo de serviço, aplicando-se, nessa hipótese, a legislação anterior à Emenda Constitucional 20/98, devendo o tempo em que o servidor permaneceu inativo ser computado na forma prevista no art. 103, VII, da Lei 8.112/90 e na Súmula TCU 74, mas somente para atingir a proporção de 30/35 avos; e 8.5. determinar que a nova concessão, se requerida, seja submetida a exame pelo Tribunal nos moldes da IN/TCU 16/97.