NewsLetter Boletim Científico ano 6 abril 2015 nº36 Biológica & Soluções Cardiovascular Eletromecânica Endovascular Oncologia PERFUSÃO INTRAPERITONEAL HIPERTÉRMICA 1 Nathália Paiva Pereira, MsC 2 Renata Gabaldi Glaucia G. Basso Frazzato, MsC 4 Domingo M. Braile, MD, PhD 3 Introdução 1 Bióloga nathalia.paiva@braile.com.br 2 Biomédica - Perfusionista renata.gabaldi@braile.com.br 3 Física Bióloga glaucia.basso@braile.com.br 4 Cirurgião Cardíaco domingo@braile.com.br A cirurgia citorredutora, associada à quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (QIPH), constitui uma nova modalidade para tratamento de pacientes com (1) disseminação de carcinomas na região peritoneal. Seus princípios são baseados na suposição de que a cirurgia possibilita a redução da doença peritoneal e permite a diminuição de aderências, criando condições para maior eficácia dos quimioterápicos. Estudos publicados em revistas científicas internacionais demonstraram aumento na sobrevida de pacientes, portadores de câncer de cólon, estômago e ovário, submetidos à (2-4) QIPH. Spratt et al. foram os primeiros a utilizar quimioterapia com hipertermia em estudos experimentais, com o objetivo de otimizar os efeitos citotóxicos dos quimioterápicos, e, em 1979 foi realizada a primeira (5) QIPH. Na quimioterapia hipertérmica, os efeitos do quimioterápico são potencializados pela ação do calor em virtude do aumento da permeabilidade celular, da alteração do transporte ativo de fármacos e da alteração do metabolismo. A hipertermia aumenta a liberação de macromoléculas dos agentes químicos nas células (6) neoplásicas. Braile Biomédica Ind. Com. Repres. Ltda São José do Rio Preto, SP, Brasil 1
A perfusão intraperitoneal pode ser realizada pela técnica aberta, também conhecida como Técnica de (7) Coliseu, ou pela fechada. Em ambas, os cateteres são conectados a uma máquina de circulação extracorpórea, cujo rolete propulsor permite a perfusão. O circuito é composto também por um aquecedor, um trocador de calor e um monitor de temperatura. O trocador de calor mantém a solução a ser infundida entre 43 e 44 C, de modo que na cavidade peritoneal, quando é atingida a temperatura de (8) 41-42 C, a perfusão é iniciada e então mantida por 90 minutos (Figura 1). Trocador de Calor Aquecedor de água Reservatório Figura 1. Esquema de um circuito de quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (QIPH). Algumas vantagens específicas da QIPH são: evitar a hipotermia induzida pela quimioterapia intraperitoneal, aumentar o contato do quimioterápico com a superfície peritoneal, permitir a remoção de células tumorais flutuantes e aumentar o desprendimento das células aderidas à superfície, além da potencialização do efeito dos agentes quimioterápicos e do próprio efeito citotóxico do calor. Estas propriedades conferem à QIPH vantagens sobre a quimioterapia intraperitoneal sem hipertermia(9). O Sistema para Perfusão Intraperitoneal da Braile Biomédica é integralmente confeccionado em material polimérico biocompatível e atóxico, resistente à pressão, ao impacto, às variações de temperatura e à ação de agentes químicos e biológicos. É composto por um reservatório para armazenamento de solução, um trocador de calor de alta performance e cânulas multiperfuradas para infusão e drenagem (Figura 2). 2
(b) Trocador de calor (a) Reservatório (c) Cânulas multiperfuradas Figura 2. Sistema para Perfusão Intraperitoneal. 3
Resultados do Uso do Sistema para Perfusão Intraperitoneal Devido a variabilidade da técnica de citorredução combinada com QIPH, não há um consenso relativamente ao tempo e temperatura de perfusão, ao uso da técnica aberta ou fechada e à dosagem de quimioterápicos(10). Sendo assim, apresentaremos alguns resultados obtidos durante procedimentos de QIPH com a utilização do Sistema para Perfusão Intraperitoneal da Braile Biomédica (Tabela 1), a fim de demonstrarmos sua segurança e eficácia. Tabela 1. Resultados de procedimentos em pacientes submetidos à quimioterapia com Sistema para Perfusão Intraperitoneal hipertérmica da Braile Biomédica. Paciente Patologia Quimioterápico (dose) Idade (anos) Peso (kg) T i - T f (ºC) T máx Abd (ºC) 1 Câncer de ovário Cisplatina (125 mg) 78 67 35,3-37,8 42,2 2 Câncer de rim Mitomicina (64 mg) 45 74 36,2-39,2 42,0 3 Câncer de ovário Mitomicina (51 mg) 61 60 35,9-38,1 42,2 4 Pseudomixoma Mitomicina (60 mg) 26 70 36,4-38,5 43,0 5 Câncer de vesícula Mitomicina (66 mg) 46 70 36,3-38,1 44,9 6 Câncer de apêndice Mitomicina (65 mg) 56 75 36,4-38,0 42,3 7 Câncer de ovário e cólon Mitomicina (36 mg) 37 91 35,3-37,4 42,0 8 Câncer de apêndice e adenocarcinoma Mitomicina (12 mg) 54 60 36,3-38,4 42,0 9 Câncer de cólon Mitomicina (67 mg) 57 78 36,0-38,8 43,0 10 Câncer de ovário Paclitaxel (288 mg) 60 50 36,2-38,5 42,6 11 Câncer de apêndice e pseudomixoma Mitomicina (60 mg) 68 83 37,0-40,4 43,0 12 Câncer de cólon e apêndice Cisplatina (130 mg) e Mitomicina (28 mg) 68 65 36,0-39,7 42,5 13 Adenocarcinoma Mitomicina (60 mg) 40 65 36,3-38,4 42,3 14 Câncer de ovário e pseudomixoma Mitomicina (53 mg) 59 52 33,7-37,9 42,3 15 Mesotelioma Cisplatina (81 mg) e Doxorrubicina (24 mg) 24 53 35,4-39,3 43,0 16 Câncer de ovário Plastistina (68 mg) e Adriblastina (20 mg) 60 48 34,7-38,0 43,3 17 Tumor colorretal Mitomicina (70 mg) 50 112 36,0-37,2 40,7 18 Câncer de estômago Mitomicina (60 mg) e Cisplatina (240 mg) 50 82 36,5-38,2 43,0 19 Câncer de colo retal Mitomicina (61 mg) 44 80 35,5-38,3 42,2 20 Câncer de peritônio Mitomicina (52 mg) 59 54 35,8-37,8 41,1 Média ± Desvio Padrão 52,1±13,6 69,4±15,8 35,9±0,7-38,4±0,8 42,4±0,8 T i = temperatura inicial; T f = temperatura final; T máx Abd. = temperatura máxima abdominal. 4
Considerações A utilização da perfusão intraperitoneal associada à cirurgia citorredutora mostra-se um procedimento viável, oferecendo benefícios para pacientes com disseminação de doença restrita ao peritônio. Para os tumores com características invasivas, de maneira geral, o prognóstico depende fundamentalmente da possibilidade de citorredução completa, da extensão da disseminação peritoneal e da ausência de comprometimento linfonodal ou de metástases. Para os tumores não-invasivos, esta abordagem terapêutica tem sido adotada como conduta (1) padrão. Os resultados observados durante a utilização do Sistema para Perfusão Intraperitoneal da Braile Biomédica comprovam sua qualidade e demonstram, a curto prazo, sua segurança e eficácia. Ensaios clínicos com seguimento são necessários para o melhor julgamento dos reais benefícios da citorredução associada à QIPH, tanto com finalidade "preventiva" como terapêutica, e do próprio Sistema para Perfusão Intraperitoneal. Referências 1. Lopes A, Carneiro A. Cirurgia citorredutora associada a quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (QtIPH) no tratamento da carcinomatose peritoneal. Onco&. 2011:26-35. 2. Chan DL, Morris DL, Rao A, Chua TC. Intraperitoneal chemotherapy in ovarian cancer: A review of tolerance and efficacy. Cancer Manag Res. 2012;4:413-22. 3. Suo T, Mahteme H, Qin XY. Hyperthermic intraperitoneal chemotherapy for gastric and colorectal cancer in Mainland China. World J Gastroenterol. 2011;17(8):1071-5. 4. Bree E, Witkamp AJ, Zoetmulder FA. Peroperative hyperthermic intraperitoneal chemotherapy (HIPEC) for advanced gastric cancer. Eur J Surg Oncol. 2000;26(6):630-2. 5. Dunnick ND, Jones RB, Doppman JL, Speyer J, Myers CE. Intraperitoneal contrast infusion for assessment of intraperitoneal fluid dynamics. ARJ. 1979;133(2):221-3. 6. Roviello F, Caruso S, Marrelli D, Pedrazzani C, Neri A, Stefano A, et al. Treatment of peritoneal carcinomatosis with cytoreductive surgery and hyperthermic intraperitoneal chemotherapy: State of the art and future developments. Surg Oncol. 2011;20(1):38-54. 7. Esquevel J, Angulo F, Bland RK, Stephens AD, Sugarbaker PH. Hemodynamic and cardiac function parameters during heated intraoperative intraperitoneal chemotherapy using the open coliseum technique. Ann Surg Oncol. 2000;7(4):296-300. 8. Glehen O, Osinsky D, Cotte E, Kwiatkowski F, Freyer G, Isaac S, et al. Intraperitoneal chemohyperthermia using a closed abdominal procedure and cytoreductive surgery for the treatment of peritoneal carcinomatosis: Morbidity and mortality analysis of 216 consecutive procedures. Ann Surg Oncol. 2003;10(8):863-9. 9. Portilla AG, Cendoya I, Tejada IL, Olabarría I, Lecea CM, Magrach L, et al. Carcinomatosis peritoneal de origen colorrectal. Estado actual del tratamiento. Revisión y puesta al día. Rev Esp Enferm Dig. 2005;97(10):716-37. 10. Abreu J, Serralva M, Fernandes M, Santos L, Guerra P, Gomes D. Citorredução seguida de quimioperfusão intraperitoneal hipertérmica no tratamento da doença peritoneal maligna: Estudo de fase II com reduzida toxidade e morbilidade. Rev Port Cirurgia. 2008;II(4):15-21. 5