Este artigo é uma breve resenha da tese de mestrado em economia de Albernaz,



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Transcrição:

AMELHORIA DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO NO BRASIL: UM DESAFIO PARA O SÉCULO XXI Introdução ANGELA ALBERNAZ* Este artigo é uma breve resenha da tese de mestrado em economia de Albernaz, 2002, 1 cujo objetivo foi investigar os principais determinantes do desempenho educacional no ensino fundamental brasileiro. Esta investigação baseou-se em uma amostra representativa de alunos e de escolas do país, da 8º série do Ensino Fundamental, extraída a partir do Sistema de Avaliação da Educação Básica, o SAEB. 2 Primeiramente, este texto aborda a importância da educação no mundo de hoje, em seguida são apresentados os fatores que se mostraram relevantes para um melhor desempenho dos estudantes brasileiros. Por fim, a conclusão contém alguns dos aspectos que devem ser considerados na formulação de políticas educacionais que visem a melhoria da educação oferecida no nosso país. A Importância da Qualidade da Educação * Mestre em Economia pela PUC-Rio e pesquisadora do Departamento de Educação da PUC-Rio. 1 Albernaz, Angela. Determinantes do Desempenho Educacional no Ensino Fundamental Brasileiro. 2 Maiores informações a respeito do SAEB podem ser encontradas no site do INEP (www.inep.gov.br). 3 Castro, Maria Helena. Educação para o século XXI, o desafio da qualidade e equidade. Em um mundo globalizado, onde as fronteiras físicas não mais representam um obstáculo para a livre circulação tanto de mercadorias, como de pessoas e de pensamentos, a educação tornou-se crucial para a promoção do crescimento e para a melhor distribuição de riqueza. É neste contexto de crescente competitividade que tanto países desenvolvidos quanto aqueles em desenvolvimento buscam cada vez mais aprimorar seus sistemas educacionais. Se nas décadas de 80 e 90 o principal desafio do Brasil era garantir o acesso dos estudantes brasileiros à escola, hoje, completado o esforço da universalização do Ensino Fundamental, acompanhado da verificação de queda das taxas de distorção idade-série, que em 1991 era de 64,1% e caiu para 46,6% em 1998, 3 o principal desafio a vencer é elevar a qualidade do ensino ofertado pelas escolas brasileiras. Desse modo, é imprescindível conhecer os efeitos dos vários insumos escolares, como a escolaridade, a experiência dos professores e os fatores que compõem a infra-estrutura da escola, assim como as características próprias de cada aluno, sobre o aprendizado dos mesmos. Base de Dados e Metodologia A partir de 1990, foi implementado no Brasil o Sistema de Avaliação da Educação Básica, o SAEB. Sua concepção foi resultado de uma demanda por dados educacionais que permitissem avaliar a evolução da qualidade do ensino reali- 7

RIO DE JANEIRO: TRABALHO E SOCIEDADE -Ano2-Nº4 zado nas escolas brasileiras. Desse modo, além de medir o desempenho escolar, o SAEB apresenta informações sobre o perfil socioeconômico e cultural dos alunos, sobre as características de seus professores e de suas escolas. Até os dias de hoje, foram realizados seis ciclos de avaliação do sistema educacional brasileiro através do SAEB. Estes foram realizados nos seguintes anos: 1990, 1993, 1995, 1997, 1999 e 2001. Os resultados aqui apresentados são baseados na amostra da 8º série do Ensino Fundamental do ano de 1999. Esta amostra inclui informações sobre o desempenho em Ciências, Geografia, História, Português e Matemática de 89.671 alunos e 2.588 escolas. No intuito de relacionar os rendimentos escolares dos alunos com as suas características, as de seus professores e as da sua escola, foi construída uma função de produção educacional brasileira. A função de produção educacional é o nome dado por economistas à relação existente entre uma série de insumos ao processo educacional e seu produto neste caso, o desempenho do aluno. A estimação dessa função de produção baseou-se no Modelo Hierárquico Linear (Bryk & Raudembush, 1992). O emprego desse modelo se justifica pela existência de relação hierárquica entre os alunos e a escola. Sua lógica é considerar simultaneamente o impacto das características dos alunos e das escolas no desempenho do primeiro, levando em conta também que alunos que pertencem à mesma escola não são independentes uns dos outros. Fatores que Afetam a Eficácia e a Equidade nas Escolas Brasileiras A partir da construção da função de produção educacional brasileira foi possível identificar uma série de fatores que impactam significativamente a eficácia e a equidade nas escolas do país. Neste contexto, entende-se por fatores que tornam a escola mais eficaz, aqueles que melhoram o desempenho médio dos alunos da escola. Enquanto que fatores que produzem uma maior equidade dentro da escola, são aqueles que reduzem a influência do nível socioeconômico do aluno no seu rendimento escolar. Ou seja, uma escola eficaz e equânime é aquela onde todos os seus alunos, independentemente de sua origem social, apresentam um elevado desempenho escolar. A seguir encontram-se listados os resultados encontrados no estudo: Quanto maior o atraso escolar dos alunos, medido através do número de vezes que ele repetiu, pior o seu desempenho, em média. Isto é, alunos que tiveram a experiência de repetência prévia ao ano de 1999, quando foram testados, apresentaram piores rendimentos do que os demais colegas, que até aquele momento não tinham repetido ano. Enquanto os meninos apresentam um melhor desempenho em Matemática, Geografia e Ciências, as meninas apenas os superam em Português. Mesmo após controle de nível socioeconômico dos alunos, os alunos negros apresentam um desempenho inferior em relação ao de seus colegas brancos. 8

Tanto alunos que apresentam um nível socioeconômico mais alto quanto escolas cuja clientela tem um nível socioeconômico médio mais elevado mostraram melhores desempenhos. Além disso, quanto maior o nível socioeconômico médio dos alunos da escola, em média, mais equânime é a escola. Isto é, as notas dos alunos estão mais uniformemente distribuídas ao redor de uma nota média, dos alunos da escola, mais alta. Cerca de 80% da variância do desempenho médio entre as escolas é atribuída à diferença na composição socioeconômica de seus alunos. Uma vez controlado o efeito do nível socioeconômico dos alunos, as escolas da rede pública ainda apresentam um pior desempenho médio, em comparação com as escolas particulares. 4 Apesar do aumento do nível de escolaridade e do salário dos professores da escola contribuírem para um melhor desempenho médio dos alunos, um aumento dessas variáveis faz com que a influência do nível socioeconômico dos alunos no seu desempenho escolar seja maior. Ou seja, estes fatores tornam, simultaneamente, a escola mais eficaz e menos equânime. A qualidade da infra-estrutura física da escola e a obtenção de recursos financeiros afetam o desempenho dos alunos de forma significativa. Enquanto que um maior nível de ruído, a escassez de recursos financeiros (constatada pelos professores) e a falta de aulas, por parte dos alunos, afetam negativamente o desempenho dos alunos, escolas que apresentam salas de aula arejada apresentam, em média, melhores desempenhos médios. Considerações Finais Podemos destacar quatro resultados dentre os encontrados no estudo dos determinantes do desempenho educacional do Ensino Fundamental Brasileiro. Os dois primeiros a serem comentados referem-se às características individuais dos alunos e de seus colegas; enquanto os dois restantes estão relacionados às características e práticas escolares. 4 Cabe investigar se existem aspectos de gestão, condições estruturais de ensino e/ou incentivos internos aos funcionários da rede pública que podem ser responsáveis por este pior desempenho. Este resultado também é verificado em modelos da economia política do financiamento à educação no Brasil (ver Ferreira, 2001). Primeiramente devemos destacar a enorme importância do nível socioeconômico do aluno sobre o seu desempenho. Não só o próprio nível socioeconômico do aluno impacta o seu resultado escolar, como também o nível socioeconômico dos seus colegas de escola também influencia de forma significativa o seu desempenho. Conforme esperado, alunos de nível socioeconômico mais alto apresentam, em média, um desempenho mais elevado (Barros, Mendonça e Santos, 1999; Franco, Mandarino e Ortigão, 2001). Além disso, alunos que estudam em escolas de nível socioeconômico mais elevado não só obtém, em média, um maior desempenho, como este maior desempenho é distribuído de forma mais uniforme entre os alunos da escola. Desse modo, como normalmente observa-se 9

RIO DE JANEIRO: TRABALHO E SOCIEDADE -Ano2-Nº4 que alunos mais pobres frequentam escolas de nível socioeconômico médio mais baixo; e, alunos mais ricos frequentam escolas de nível socioeconômico médio mais alto, o diferencial de desempenho alcançado pelos alunos ricos em relação ao obtido pelos alunos pobres tende a se perpetuar ao longo do tempo. Uma vez controlado o efeito do nível socioeconômico do aluno, outro resultado marcante foi o pior desempenho dos alunos negros na 8º série do Ensino Fundamental. Este resultado nos leva a refletir o que pode estar acontecendo nas escolas brasileiras para justificar este resultado. Será que existe alguma forma de preconceito por parte dos professores em relação ao aluno negro? Será que o material didático adotado não incentiva a aprendizagem dos negros? Essas e muitas outras questões podem estar por trás do resultado apresentado. Como elas vão muito além do escopo deste trabalho, apenas apontamos aqui que este é um tema interessante para pesquisas futuras. Passemos agora para os resultados ligados às características e práticas escolares. Um resultado encontrado que deve ser alvo de políticas públicas é a constatação de um pior desempenho dos alunos brasileiros pelo fato destes estudarem em escolas onde as salas de aula não são arejadas e o nível de ruído atrapalha o andamento das aulas. Além destas, escolas nas quais foi constatada a dificuldade na obtenção de recursos financeiros também apresentaram piores desempenhos médios. O último resultado a ser revisto trata dos efeitos de incrementos no nível de escolaridade e no nível salarial dos professores sobre a eficácia e a equidade nas escolas brasileiras. Apesar destes incrementos, aumentarem a eficácia das escolas, eles reduzem a equidade dentro das escolas. Isto é, enquanto que incrementos no nível educacional e salarial dos professores melhoram o desempenho médio dos alunos da escola, o melhor desempenho obtido por cada aluno é tanto maior quanto mais alto for o seu nível socioeconômico. Sem dúvida, aumentar a escolaridade e o salário dos professores é desejável, porém, não está claro para nós porque esses incrementos resultam em uma menor equidade. Portanto, sugerimos que sejam conduzidas pesquisas para elucidar esta questão. Referências Bibliográficas Albernaz, A., (2002): Determinantes do Desempenho Educacional no Ensino Fundamental Brasileiro, Tese de Mestrado em Economia, PUC-Rio. Barros, R., Mendonça, R. e Santos, D., (1999): Determinantes do Desempenho Educacional no Brasil, mimeo, IPEA. Bryk, S. e Raudembush, W., (1992): Hierarquical Linear Models: Applications and data analysis method, Newbury Park, Sage. Castro, M., (2000): Educação para o Século XXI, o Desafio da Qualidade e da Equidade, INEP, Ministério da Educação (http:www.inep.gov.br). Ferreira, F.H.G. (2001): Education for the Masses?: The Interaction between Wealth, Educational and Political Inequalities, Economics of Transition, 9 (2), pp.533-552. 10

Franco, C., Mandarino, M. e Ortigão, M.I., (2001): Projeto Pedagógico de Escola Promove Qualidade e Eqüidade em Educação?, Revista UNDIME-RJ, VII (2), pp.30-46. Relatório do SAEB 1999, Diretoria de Avaliação da Educação Básica, INEP, Ministério da Educação (http: www.inep.gov.br). 11