EDUCAÇÃO E CONCRETIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS: PERSPECTIVAS. P R O F. A D I R V A L D E M A R G A R C I A
DIREITOS HUMANOS: Se constituíram como uma bandeira contra a arbitrariedade dos governos e das elites dominantes. EDUCAÇÃO: Prática social que, na inculcação de tipos de saber, reproduz tipos de sujeitos sociais. Se em um determinado momento foi feita de um jeito, pode, em outro, ser feita de modo completamente diferente e mesmo, oposto (BRANDÃO, 1981). Neste sentido, a função reprodutiva da educação não esgota a sua significação total, podendo se constituir em espaço de construção de contra-ideologia (SEVERINO, 1986). POBREZA: Se caracteriza pela falta (DIMENSÃO POLÍTICA - DIMENSÃO ECONÔMICA). Ela se expressa de forma determinante na condição material. A pobreza em si é a medida (esta medida é estabelecida socialmente).
DIREITOS HUMANOS
Os direitos humanos são compreendidos como direitos naturais existem mesmo antes de sua declaração pública formal. Artigo Primeiro da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos [...]. Daí decorre a compreensão que as pessoas são livres e iguais por natureza.
Aqui cabe uma primeira pergunta: Podemos trabalhar efetivamente com a noção de direito natural, ou seja, como algo existente antes do estabelecimento de qualquer decisão humana, configurada como lei?
Os direitos humanos não se limitam a um território: são universais e naturais (Declaração de Viena, 1993). Os direitos do cidadão não são direitos naturais. São criados e devem estar especificados em um ordenamento jurídico determinado. Considerando uma sequência, temos:
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DISREITOS HUMANOS DIREITOS TIDOS COMO NATURAIS UNIVERSAIS DIREITOS POSITIVOS UNIVERSAIS DIREITOS POSITIVOS PARTICULARES
Todos os direitos humanos são universais, interdependentes e interrelacionados (Declaração de Viena, 1993) A igualdade econômica não pode sacrificar os direitos de liberdade. Os direitos civis e políticos, não podem, em nome da liberdade de iniciativa, sacrificar os direitos econômicos.
Direitos de primeira geração (Liberdade como referência) Direitos civis (liberdade de expressão, de culto religioso, de ir e vir, de privacidade, de proteção legal etc.) Direitos políticos (votar e ser votado, participação no governo, liberdade de associação política e de luta contra a tirania etc.) Considerados direitos do indivíduo.
Direitos de segunda geração (Igualdade como referência) Direitos econômicos (valorização do trabalho, remuneração justa, direito de associação trabalhista, direito de greve, defesa do consumidor etc.) Direitos sociais (educação, saúde, previdência, moradia, trabalho etc.) Direitos culturais (proteção da cultura e do patrimônio cultural da comunidade, direito de usufruir da cultura socialmente produzida, etc.) A titularidade não é apenas do indivíduo, mas de uma determinada coletividade.
Direitos de terceira geração (Fraternidade como referência) Direitos ao desenvolvimento, ao meio ambiente equilibrado, à conquista da paz, etc. Voltados a toda humanidade.
POR QUE REFLETIR SOBRE DIREITOS HUMANOS E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO?
Retomando a compreensão de educação: Como prática social que, na inculcação de tipos de saber, reproduz tipos de sujeitos sociais. Que foi feita de um modo, podendo ser feita de modo diferente e até mesmo, oposto. e Que pode se constituir em espaço de construção de contraideologia. Devemos perguntar
É possível fazermos escolhas: como será esta prática social? A escolha feita é determinante no sentido da participação na construção do modelo social que defendemos. Que modelo é este? Defendemos uma sociedade onde os direitos humanos podem, efetivamente, se materializar? A escola que temos tem se constituído em um espaço de direitos? O que dizer das determinações curriculares, das condições físicas de funcionamento, do tratamento dado aos/às trabalhadores(as) da educação, da aplicação de princípios como democracia, participação, autonomia...? A educação tem colaborado mais para reproduzir ou para transformar a sociedade?
Considerando o direito a uma vida digna como condição inegociável da existência, entendemos a pobreza como uma violação aos direitos humanos. É possível erradicar a pobreza no modelo social em que vivemos? Os direitos humanos podem, efetivamente, se concretizar?
Se é possível acabar com a pobreza e garantir os direitos humanos nesta sociedade, por que isso não ocorre, mesmo que tenhamos avançado tanto na constituição de direitos de todas as ordens e conseguido atingir um grau de produção material suficiente para proporcionar melhores condições de vida para todos os seres humanos? Istiván Mészáros, em um texto intitulado Marxismo e Direitos Humanos diz que:
Para Marx, os direitos humanos (liberdade, fraternidade, igualdade) são problemáticos, não por si próprios, mas em função do contexto onde se originam, pois neste contexto são postulados ideais abstratos e irrealizáveis. Numa sociedade regida pelas forças desumanas da competição antagônica e do ganho implacável, junto à concentração de riqueza e poder, tais direitos são irrealizáveis.
Os direitos humanos são devidos a todos. Neste sentido, Mèszàros (2004) diz que: Em sociedades de classe, o interesse de todos define-se como o funcionamento tranquilo da ordem social, não pondo em risco os interesses dos setores dominantes. Portanto, o interesse de todos é um conceito ideológico vazio, cuja função é a legitimação e a perpetuação do sistema de dominação dado (p.214).
Por isso, é necessário que tenhamos clareza e compreensão do sistema social em que vivemos. É necessário que nos reconheçamos dentro dele. Este curso tem como mote central o direito do pobre a saber-se O que é realmente a pobreza? Por que muitos seres humanos, sujeitos de direitos humanos, são pobres? Que respostas estão sendo dadas a essas perguntas? E o que a educação tem a ver com isso?
A educação, e a escola como locus privilegiado, juntamente com outras instituições, com os movimentos sociais organizados, deve se preocupar com a luta pela efetiva garantia dos direitos humanos e, consequentemente, pela superação da degradação humana. Para tanto, precisa fazer a opção e defender um modelo social que permita a realização dos direitos já consagrados, considerando todos os seres humanos. É necessário que a escola possibilite o acesso aos conhecimentos necessários para que haja a compreensão do funcionamento dessa sociedade e que participe da construção da consciência de cada um como sujeito de direito.
TERMINO COM UM POEMA DE BERTOLD BRECHT: Há homens que lutam um dia e são bons Há aqueles que lutam um ano e são melhores Há aqueles que lutam muitos anos e muito bons Porém, há aqueles que lutam toda a vida Esses são os imprescindíveis MUITO OBRIGADO
REFERÊNCIAS: BRANDÃO, C. R. O que é educação. 28 ed. São Paulo: Brasiliense, 1981. MÉSZÁROS, István. O poder da ideologia. São Paulo: Boitempo, 2004. SEVERINO, A. J. Educação, ideologia e contraideologia. São Paulo: E.P.U., 1986.