FORMAÇÃO DE PROFESSORES: A CONEXÃO DAS ABORDAGENS PEDAGÓGICAS NUM PARADIGMA EMERGENTE



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A prática pedagógica e o desafio do paradigma emergente

Transcrição:

FORMAÇÃO DE PROFESSORES: A CONEXÃO DAS ABORDAGENS PEDAGÓGICAS NUM PARADIGMA EMERGENTE Marilda Aparecida Behrens PUC-PR Eva Sueli Nasser Vidal PUC-PR Simone de Miranda PUC-PR RESUMO - Este trabalho foi construído dentro do grupo de pesquisa Paradigmas Educacionais e a Formação de Professores (PEFOP), ligado ao Mestrado em Educação, na linha de Teoria e Prática Pedagógica da Educação Superior. O desafio de buscar uma prática docente diferenciada que atenda as exigências da sociedade do conhecimento levou um grupo de professoras que atuam nas disciplinas de Didática e de Prática de Ensino a constituírem um projeto de pesquisa denominado: Paradigmas Emergentes e a Docência (PAED). O projeto tinha como objeto buscar referenciais que pudessem preparar licenciandos para atuarem como professores competentes nos diversos níveis de ensino. Nesse processo, optou-se por pesquisar as tendências pedagógicas que subsidiam a ação docente crítica, ética e transformadora. As reflexões do grupo durante a pesquisa levaram a produzir o texto denominado A Conexão das Abordagens Pedagógicas na Sociedade do Conhecimento. Neste texto, apresentam-se os referenciais teórico-práticos que nortearam a pesquisa. Enfatiza-se o Paradigma Emergente como uma aliança entre a Abordagem Progressista, a Visão Holística e o Ensino com Pesquisa (Behrens, 2002). A investigação do referencial teórico-prático permitiu, à luz das proposições de Freire, incluir nessa proposta a busca de uma prática pedagógica libertadora, democrática, crítica e reflexiva, tendo como foco à aprendizagem para a transformação da sociedade. A mudança paradigmática O novo século encontrou a ciência numa fase de transição em busca de um novo paradigma. O paradigma newtoniano-cartesiano que impregnou as áreas do conhecimento durante o século XIX, caracterizando uma época dominada pela fragmentação entre ciência e fé, razão e emoção, objetividade e subjetividade, homem e natureza, tende a ser superada por uma visão contextualizada do universo. No início do século XX, a ciência baseada nas certezas entra em crise, desafiando a sociedade a superar o princípio da ordem, o princípio da separação, o princípio de redução, o caráter absoluto da lógica dedutiva identitária (Morin, 2000, p.95). A visão determinista e conservadora que acompanhou grande parte do século XX contaminou a docência por atitudes eivadas de autoritarismo e de verdades absolutas. A nova visão de mundo desafia os docentes de todos os níveis de ensino a buscar metodologias que superem o autoritarismo, a fragmentação, a cópia e a memorização. A crise do paradigma conservador e dominante (Santos, 1987) caracterizado pela racionalidade científica, pela objetividade, pela disjunção, pela distinção e pela visão mecanicista de ver o universo começa dar lugar a um novo paradigma. O inicio do século XXI se fez acompanhar de grandes mudanças oriundas, especialmente, da transição observada na superação da sociedade de produção em massa para a sociedade do conhecimento. Com forte influência do mundo das informações, da era das relações e da informatização, a sociedade avança, passando da revolução industrial para a revolução tecnológica. As transformações sociais que acompanham a entrada deste milênio levam a repensar a prática pedagógica que vem sendo proposta na educação universitária. O processo de mudança paradigmática, acentuou-se nas últimas décadas do século XX, e nesse movimento de transição, também a educação, e, por conseqüência, a prática pedagógica precisa ser repensada.

A atuação docente na sociedade do conhecimento precisa manifestar-se em diferentes linguagens, ou seja, a linguagem oral, escrita e digital (Lévy, 1993; Kenski, 1998). A linguagem digital se expande na última década, por meio da comunicação por via eletrônica e informatizada. São novas modalidades de acessar a informação e o conhecimento. Portanto, a mudança da sociedade exige uma condução diferenciada do processo de ensinar e de aprender. Mantendo um eixo comum, ou seja, a visão de totalidade, a inter-relação e a complexidade, esse paradigma vem recebendo diferentes denominações, como: Emergente, Ecológico ou Sistêmico. Optou-se, neste momento, pela denominação: "Paradigma Emergente" proposto por Santos (1987), Capra (1996), Moraes (1997), Gutiérrez (1999), Behrens (2000) e Gadotti (2000). As dimensões que acompanham o paradigma emergente envolvem aspectos sociais, econômicos, políticos, ambientais, culturais, todos sustentados especialmente, pela dimensão ética. O docente precisa ter presente que a nova concepção da sociedade do conhecimento está centrada no aluno e na aprendizagem. Para tanto, o ensino, para ter sucesso e preparar o futuro profissional, deve reverter-se numa aprendizagem significativa para o aluno e para o professor. Segundo Morin e Moigne (2000), a reforma do método é inseparável de uma reforma do pensamento, ela própria inseparável de uma reforma do ensino. (p.137). Ao deparar-se com o novo paradigma, num primeiro momento, os professores procuram encontrar respostas prontas ou receitas a serem seguidas. No entanto, a proposição é alicerçar processos reflexivos na docência que permitam buscar pressupostos que venham a atender às exigências da Sociedade do Conhecimento. Num paradigma emergente cada docente terá que reconstruir sua prática pedagógica com uma visão crítica. Os professores que atuam nos diversos níveis de ensino, especialmente os professores da Educação Superior, precisam ser profissionais reflexivos sobre suas próprias ações pedagógicas. Esse processo de reflexão auxiliará na condução de um novo posicionamento quanto ao encaminhamento metodológico a ser percorrido pelos docentes universitários. Enfatiza-se que não se trata de oferecer um modelo prescritivo, mas de abrir caminhos para a concepção de um novo papel do professor. O entendimento da mudança dos paradigmas da ciência se torna imprescindível na reflexão do docente sobre sua ação pedagógica em sala de aula. O professor, ao optar por um novo paradigma, terá que optar por uma nova metodologia, que leve em consideração um ensino centrado na aprendizagem das competências e habilidades dos alunos. Neste processo metodológico inovador precisa visar à produção do conhecimento que alicerce uma formação profissional ética e competente, relevante e significativa. A reconceptualização da prática docente exige a investigação de abordagens pedagógicas que venham a atender às novas expectativas para a superação da reprodução, em busca da produção do conhecimento. Não se trata de uma única abordagem, mas de uma interconexão de várias proposições e de diversos autores. O risco de tomar uma única abordagem como referência pode comprometer a qualidade do trabalho docente a ser proposto. Com essa visão, Behrens (1999) propõe, para atuação do professor, uma aliança entre a abordagem progressista, a visão holística e o ensino com pesquisa. A grande aliança no paradigma emergente O paradigma emergente encontra-se neste momento histórico frente a um desafio da sociedade do conhecimento. Tem como missão à formação do profissional cidadão 2

que saiba considerar as dimensões filosóficas, sociais, econômicas, históricas e educacionais, num determinado contexto social. A possibilidade de reunir referenciais teórico-práticos de várias abordagens pedagógicas interconectadas permite propor uma nova proposta que venha caracteriza ações docentes inovadoras. Portanto, a proposição de um paradigma emergente empreende uma aliança entre: a) o paradigma progressista, que busca a transformação social e apregoa o diálogo e a discussão coletiva como forças impulsionadoras de uma aprendizagem significativa; b) o ensino com pesquisa, que procura a superação da reprodução, para a produção do conhecimento significativo e relevante. Instiga o aluno para a investigação continua e a elaboração das informações com autonomia e espírito crítico; c) a visão holística, que busca a superação da fragmentação para a visão do todo, o desenvolvimento dos alunos e dos professores, para a cidadania plena e a formação para a solidariedade e a justiça social. Na primeira tendência que compõe a aliança, encontra-se a abordagem progressista, que tem como precursor no Brasil o professor Paulo Freire. As obras deste autor são relevantes para um posicionamento crítico sobre a educação brasileira e internacional. Dentre seus escritos, optou-se para centrar as investigações nas obras de Freire: Pedagogia da Esperança (1992); Pedagogia da autonomia (1996) e a Pedagogia da indignação (2001) e de Freire e Shor (1986) intitulada, Medo e Ousadia. O cotidiano do professor. Cabe salientar que outros autores trazem contribuições significativas sobre a abordagem progressista, como: Saviani (1991), Giroux (1997), Libâneo (1986, 1998); Godotti (2000). Na segunda tendência que compõe a teia do paradigma emergente, encontra-se a abordagem holística ou sistêmica (Capra, 1996). Essa tendência vem sendo apresentada com maior ênfase nas duas últimas décadas do século XX e no início do século XXI. O paradigma holístico, proposto por Brandão e Crema (1991), Cardoso (1995), Laszlo (1999) e Gadotti (2000), vêm recebendo variadas denominações, como: Emergente por Santos (1987), Moraes (1997), Behrens, Moran e Masetto (2000), o Ecológico ou Sistêmico por Capra (1996) e por Gutierrèz (1999), da Complexidade por Morin (2000) e Gadotti (2000). Independente da nomeação adotada, o paradigma holístico, propõe a superação do pensamento fragmentado, linear e mecanicista que se apresentou no paradigma newtoniano-cartesiano e que impregnou as diferentes áreas do conhecimento. Essa contaminação paradigmática afetou a educação, a prática pedagógica e o processo de aprendizagem. Dentre os autores que propõe a superação do paradigma conservador, destaca-se Morin (2000) quando afirma que, o paradigma newtoniano-cartesiano pode ser superado pelo paradigma da complexidade. Na terceira tendência, encontra-se a proposição da abordagem do ensino com pesquisa, que trouxe para a ação docente a necessidade de buscar caminhos que levassem o aluno a aprender a aprender. O advento da sociedade do conhecimento e o acúmulo de informações passaram a desafiar os professores que não conseguem mais dar conta de oferecer todos os conteúdos que caracterizam uma certa problemática. Por isso, o docente precisa selecionar ou eleger os temas mais relevantes para trabalhar junto com os alunos. A abordagem do ensino com pesquisa, que tem sido apregoado por educadores, como Demo (1994), Behrens (1996) e Cunha (1997) que já vem se consolidando na última década. No entanto, poucos professores conseguiram ultrapassar a abordagem conservadora e oferecer abordagens pedagógicas inovadoras na ação docente em suas salas de aula. Alguns sequer lêem autores relacionados à educação, desconhecendo, total ou parcialmente, propostas contemporâneas. Permitem, assim, que sua ação 3

docente siga o modelo de seus professores, e se tornam meros repetidores de práticas educativas ultrapassadas. Segundo Demo (1994) a pesquisa deve adentrar a escola como princípio educativo. A pesquisa crítica e criteriosa, como pressuposto fundamental da produção do conhecimento, implica em considerar o aluno como aprendiz contínuo, que deve ser movido pelos caminhos da descoberta e da investigação. Para tanto, o aluno precisa ultrapassar o papel passivo e tornar-se um pesquisador atuante (Vidal, 1998). O desafio que se impõe aos professores na sociedade do conhecimento é buscar a aprendizagem efetiva dos seus alunos. Acredita-se que a abordagem do ensino com pesquisa venha a auxiliar os docentes nessa nova proposta, pois, ao optar por essa metodologia passam a trabalhar investigando os conhecimentos vinculados à prática e à realidade cotidiana. Os elementos norteadores da abordagem do ensino com pesquisa, cujos pressupostos sustentam este tipo de trabalho metodológico, oferecem uma sustentação teórica e prática. Nessa tendência, pretende-se que o professor em sua ação pedagógica leve em conta a problemática exposta em sala de aula, possibilitando a existência de vários caminhos para os alunos chegarem ao cerne de seu conhecimento. O professor, como orquestrador desse processo de investigação, precisa estar motivado a questionar seus alunos, para que juntos possam pesquisar e buscar conhecimentos por seus próprios meios. Nesse processo investigativo, deve-se ampliar os meios de acesso aos conhecimentos, seja pela literatura, seja pelos recursos informatizados ou eletrônicos. A experiência vivenciada e a investigação proposta por autores como: Demo (1996), Cunha (1996, 1998) e Behrens (1999, 2000) permitiram elaborar contribuições significativas para caracterizar o ensino com pesquisa como uma abordagem relevante na busca da produção do conhecimento crítico e relevante. Com a visão de interconexão e de inter-relacionamento das abordagens progressista, holística e a do ensino com pesquisa exigida pelo paradigma emergente, o grupo de pesquisadores passou a investigar o papel da escola, da metodologia e da avaliação, do professor e do aluno. Nessa caminhada investigativa, foi possível refletir que, o paradigma emergente exige o compromisso do professor como eterno provocador de qualidade na aprendizagem do aluno. Tomou-se como referencial teórico-prático as significativas contribuições da proposta de Paulo Freire. A partir desse referencial a pesquisa permitiu perceber que para se efetivar a mudança na escola, cabe aos gestores e professores, criarem espaços de discussão que levem à conscientização das pessoas que dela participam. As alterações paradigmáticas não se efetivam por decreto ou por leis oriundas de organismos nacionais. A transformação só ocorre a partir das mudanças de atitudes e de valores e, especialmente, da visão de homem e de mundo da comunidade acadêmica. Nesse contexto, a escola no paradigma emergente depara-se com uma sociedade emergente, que exige urgência em formar e preparar os cidadãos conscientes que superem a violência em todos os sentidos. O maior desafio da escola é acompanhar a sociedade emergente que desestabiliza o certo, o absoluto, o inquestionável, as verdades positivas, superando o pensamento reducionista pelas situações de questionamento, de problematizações a partir do incerto, da dúvida, de assumir riscos, de projetar com visão construtiva. Esse processo de transformação pressupõe não só conhecimentos diversificados, mas competências e habilidades diferentes daquelas que foram desenvolvidas no paradigma cartesiano. Para a escola desencadear um processo que proponha a formação de um homem em sua totalidade superando as supostas dualidades, faz-se necessário reconhecê-lo como consciente e como capaz de ser cidadão social e de expressar sua visão de mundo. 4

5 Nesse sentido, tanto os alunos quanto os professores têm liberdade para escolher e criar situações que favoreçam o desenvolvimento integral do ser humano, considerando a família, a sociedade, a comunidade, o planeta, o cosmos e a si mesmos, como integrantes de um sistema conectado como uma rede que procura uma melhor qualidade de vida (Capra, 1996). Compondo a aliança proposta no paradigma emergente, a escola precisa com urgência articular seus docentes e alunos, com o intuito de oferecer uma formação diferenciada que venha atender as novas exigências da sociedade do conhecimento, com criatividade, com espírito crítico e reflexivo. Nestas últimas décadas, a escola tem enfrentado o grande desafio de tentar reconstruir o posicionamento político dos seus gestores, professores, funcionários e alunos e buscar uma qualidade acadêmica de excelência. Portanto, aliada à proposição dos conhecimentos científicos, espera-se que a escola possa fornecer espaços dialógicos para construir posicionamentos políticos que levem a uma formação para a cidadania plena. Cabe desatacar que além do desenvolvimento da cidadania, a escola deve considerar os avanços da sociedade do conhecimento e os recursos informatizados. Esses recursos, utilizados de maneira crítica podem provocam novas possibilidades para acessar e produzir conhecimento. O avanço e o desafio imposto na sociedade do conhecimento O paradigma emergente em suas múltiplas abordagens propõe processos que levem os alunos a argumentar e problematizar, com intuito de buscar de respostas possíveis, desafiando o aluno a criar e a ousar. Num processo de investigação participativa, o aluno torna-se responsável pela sua própria aprendizagem e pela aprendizagem de seus pares. Com essa visão, aprende a enfrentar situações novas e torna-se mais aguerrido para enfrentar situações inesperadas. Neste contexto a disciplina de Didática e de Prática de Ensino tem papel fundamental na formação dos futuros professores. Acredita-se que a formação inicial dos alunos precisa desencadear um processo de busca de qualificação para toda a vida. Portanto, a Didática precisa ultrapassar propostas descritivas e passa a ter uma proposta crítica e reflexiva sobre o papel dos docentes na sociedade do conhecimento. O paradigma emergente acompanha o momento histórico da sociedade e tem como ênfase o desafio de propor a formação de profissionais e cidadãos mais éticos, mais humanos, mais solidários, para vivenciar a proposição de situações concretas que levem a população a adquirir uma melhor qualidade de vida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEHRENS, Marilda A. A formação pedagógica e os desafios do mundo moderno. In: Masetto, Marcos, org. Docência na universidade. Campinas: Papirus, 1998. BEHRENS, Marilda A. Formação continuada e a prática pedagógica. Curitiba: Champagnat, 1996. BEHRENS, Marilda A. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Curitiba: Champagnat,1999. BEHRENS, Marilda A. O paradigma emergente e a prática pedagógica.2ed. Curitiba: Champagnat. 2000. BEHRENS, M. Projetos de aprendizagem colaborativa num paradigma emergente. IN: BEHRENS, MORAN, J. M; MASETTO, M. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000.

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